Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013 - 18h20
De certo modo, infelizmente, parece-me que casos como o de Gil Rugai e Suzane Richthofen, filhos matadores de seus pais, deverão se multiplicar. São jovens criados em famílias de classe média alta “que se fizeram”, como se diz; são filhos de pais trabalhadores, inteligentes, de sucesso em suas atividades de profissionais liberais ou de envergadura na função pública. O erro mais grave desses pais foi o de não ter conseguido repassar aos filhos, exatamente, o valor com que se sagraram bem sucedidos em suas vidas: o trabalho criativo, competente, diuturno. Na criação de jovens mimados, acostumados a receber tudo o que queriam, ambos nunca puderam ouvir um Não ou apenas ouviram o Sim para adquirir mais bens. Quando ouviram este Não, especialmente depois de alguma outra frustração, como crianças mimadas, fizeram muitas birras e logo foram remover o que estava em seu caminho. No caso de ambos, o que estava no caminho não era uma pedra que se chuta, mas a vida dos pais. São filhos do capital, não do trabalho. Seus pais são vítimas de si mesmos e do capital que angariaram. Os jovens não herdaram dos pais a mesma inclinação “para se fazerem”, a dignidade para trabalhar, porque sempre encontraram tudo pronto. Eram herdeiros do capital dos pais e à menor ameaça de perder o vil metal foram às vias radicais. Se o que ameaça o capital é a vida (dos pais), remova-se tudo sem medo, culpa ou consciência. A classe média, por sua estratificação social, no contexto das sociedades de classe, em si, já é problemática, pois se recusa a associação à classe trabalhadora (salvo se julgar obter vantagens); sonha em ser classe dominante, possuidora dos meios de produção; mas, na prática, tem de se satisfazer com o que seus talentos, competências e habilidades podem conquistar. Geralmente, a classe média acaba reduzida à consciência do profissional liberal. Se bem que, neste aspecto, tem uma vantagem ontológica. Como depende de si mesmo, o profissional liberal (motor da classe média) aposta todas as suas fichas em sua liberdade, uma vez que precisa de amplo campo de ação para conquistar seu espaço de atuação. Em geral, o profissional liberal é mais aberto às mudanças sociais, menos dirigido pela conservação do status quo, pois precisa batalhar todos os dias para transformar o espaço público (político) em arena social produtiva. É no contato com o espaço público que irá articular suas iniciativas e ferramentas de produção. O profissional liberal tem origem na iniciativa privada, mas se realiza com eficiência social no espaço público. Esta relação é obvia para o advogado, mas vale para todos: o consultório e o escritório são locais públicos, mas mantidos pela iniciativa privada. Este dilema de responsabilidade social, ainda que não propriamente política, como mediador do espaço público, não foi repassada pelas famílias aos dois jovens. Para mim, os dois são culpados, independentemente da decisão final. Seus pais foram vítimas de si mesmos, da educação que (não)deram aos filhos. Seus pais não conseguiram educar para o trabalho necessário à vida social, repassando-se apenas o apego ao dinheiro, ao consumo, à acumulação. E este é outro sinal da falência do modelo social adotado.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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