Quarta-feira, 19 de abril de 2017 - 10h54
Não. Sê você pelo título acima imaginou que defenderei a maior envolvida no escândalo da Lava Jato! Até porque minha formação não é em Direito e também para isso esta multinacional tem diversos escritórios de advocacia espalhadas pelo mundo.
Sim. A defesa será da construtora, a qual nunca negarei, fiz consultoria por dois anos, desde a primeira semana de obra, da construção da usina hidrelétrica Santo Antônio – a do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, em Porto Velho (RO).
Apresentarei a Construtora Norberto Odebrecht que conheci. A instituição de 128 mil funcionários, em 2016 – no início de 2017 esse número caiu para menos de 80 mil, com seus quase 80 anos de existência.
Gostaria que os brasileiros conhecessem a empresa que trouxe meu pai, na década de 80 ao Norte brasileiro, para trabalhar na construção de um banco e mais centenas trabalhadores oriundos de todas as regiões para a construção da usina Samuel, no rio Jamari.
O Brasil dos brasileiros honestos, sim nós existimos, que não pagam por fora médicos dos SUS para receber atendimento rapidinho em cirurgias de altíssimo risco ou aquelas ditos simples como partos; que devolvem o dinheiro a mais que o caixa do supermercado passa; que não fazem “gatos” para diminuir o consumo real de energia; que acham que o famoso” jeitinho brasileiro” de resolver tudo é legal; que acreditam: estudar em uma universidade Federal é uma conquista e não um castigo de quem não tem recursos para bancar uma paga e que pessoas com preconceito contra indígenas, negros e mestiços não deveriam se declarar de minoria... E por aí vai!
A Odebrecht que o Brasil não conheceu...
Essa mesma Odebrecht que repassou por quase uma década uma “mesada” para o irmão e o filho do ex-presidente Lula, uma das poucas privadas do País, a não ter dívidas no repasse de FGTS para seus contratados. E é claro que não merece nenhuma condecoração... Agora me digam qual trabalhador de mais de 30 anos não teve a infeliz surpresa de descobrir ao sair de uma empresa que não havia FGTS depositado, apesar dos descontos mensais?
Ah... Saibam, o Marcelo Odebrecht que num momento infeliz e de arrogância de herdeiro, de um dos maiores grupos empresariais do Brasil esnobou a justiça brasileira, no início da Lava Jato, foi criado no canteiro de obras no meio dos ditos “peões” de barragem! Convivi com gerentes e encarregados dessa construtora que o viram crescer comendo nos refeitórios como todos os trabalhadores.
Ele não é daqueles novos ricos filhos de empresários, ou políticos, ou “cantores”, ou jogadores de futebol, ou videotubers que não de uma hora para outra se tornam milionários e passam por cima das pessoas como se elas não existissem!
Expressão corporal é uma arma que podemos usar a nosso favor ou contra e a do advogado do pai do Marcelo Odebrecht durante o depoimento na semana passada é abusiva! Eu não percebi esta atitude nos últimos depoimentos do Marcelo Odebrecht... Tudo bem! Quem saberá o que passa na cabeça dele depois de dois anos preso?!
Ok, voltando à empresa que poucos brasileiros conhecem.
Do grupo das maiores construtoras: Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que juntamente com a Odebrecht tinham um acordo de “cavalheiros” nas grandes obras aqui e fora, a última era responsável pelos melhores salários e valorização profissional! Procure algum conhecido que trabalhou nela aqui ou fora que reclame de salário, que não tenha feito um bom pé de meia, que não tenha uma geração da família ainda trabalhando nessa corporação!
Na UHE Santo Antônio, o CSAC – Consórcio Santo Antônio Civil, responsável pela construção da usina – parceria da Odebrecht com a Andrade Gutierrez, onde a primeira era a líder, fui contratada com a missão de “amaciar” os responsáveis pelas palestras de ambientação: um dia de aulas sobre segurança no trabalho, saúde; meio ambiente, legislação – obrigatórias pela Delegacia Regional de Trabalho, a NR10.
O “amaciar” entre aspas era moldar os profissionais com mais de 20 anos de empresa, as novas diretrizes da construtora que a levaram a criar o Capacitar, responsável pela profissionalização de centenas de jovens e trabalhadores da região para aproveitamento na própria usina. Esse Capacitar, criado pelo gerente administrativo-financeiro do CSAC, Antônio Cardilli, acabaria adotado pelo governo federal passando a ser obrigatório para as demais obras do gênero. Na usina Belo Monte ele recebeu o nome de Acreditar.
Eu basicamente reformulava as palestras para uma linguagem acessível aos novos trabalhadores e orientava os palestrantes. Ali começou a comunicação interna dos mais de 26 mil trabalhadores da usina Santo Antônio.
E ai contra ou a favor?!
Sou a favor da condenação de todos os envolvidos na Lava Jato, sejam eles quem pagou, quem recebeu e até os familiares desses beneficiados pela propina.
Lembrei uma “surra”, foram uns 10 lapadas de corda de couro de máquina de costura, que levei de minha mãe, por haver pegado uma borracha de uma coleguinha na escola. Exagero, maus tratos?! Realmente, no meu corpo sim, mas na minha mente não. O que guardei foi a justificativa da minha mãe: “pega uma borracha agora, depois tá pegando um caderno, depois roupa, depois dinheiro e isso se chama roubo! Você quer ser virar uma ladra, ser presa”?!
Amo Voltaire que disse: “Não concordo com uma palavra do que dizeis, mas defenderei até o último instante, seu direito de dizê-la” e tem sido meu lema para manter amizade com petistas, pemedebistas, e dos demais partidos! No entanto, tenho engasgado quando ouço comentários que caracterizam o tamanho e o tempo do esquema da propina no Brasil... Sério?!
Provavelmente após todos os julgamentos da Lava Jato, e da assinatura do maior acordo de leniência do mundo, esse grupo jamais seja o mesmo. Talvez os seus trabalhadores espalhados em 12 países, tenham salários reduzidos; direitos trabalhistas negados e ela encerre o famoso TEO – Tecnologia Empresarial Odebrecht – normas e princípios que nortearam até aqui à relação entre empresa e trabalhadores...
Enfim...
Ela pode ter até institucionalizado o maior – no momento – sistema de corrupção no Brasil e em 12 países, mas dizer que a empresa inventou a propina é um pouco de mais para engolir. Não aceito, não aceitem!
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