Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Viviane Paes

Mortes de crianças no trânsito: a irresponsabilidade que mata



No início desta semana a ONG Criança Segura divulgou dados que demonstram que o trânsito tem sido o maior responsável, em 40%, pela morte de crianças em acidentes. Esse percentual sobe a partir dos cinco anos, quando outras causas perdem participação, como sufocamento, doenças infecciosas ou de má-formação. Estes números são referentes ao ano de 2013. Fiquei curiosa por ter sido criada na Região Norte é por aqui ser muito comum o transporte de bebês e crianças em motocicletas ou mesmo em veículos na poltrona de passageiro, claro sem cinto.

Em Altamira, onde resido atualmente é espantoso ver pais transportando seus filhos menores de quatro anos em cima do tanque da moto?! O pai – interessante vai com capacete, o filho não utiliza nem aqueles capacetes bonitinhos que vemos crianças usando para proteger das quedas ao andar de patinete, skate, patins... Claro que como acontece muito nos municípios de nossas grandes cidades, estes mesmos motoristas audaciosos e irresponsáveis não tem habilitação!

Os integrantes da ONG Criança Segura defende que para reduzir a quantidade de morte de crianças em acidentes de trânsito é necessária ampliação do tempo de utilização das cadeirinhas e boosters – aqueles assentos elevadores. Hoje, a lei obriga o transporte de crianças em assentos de segurança até os 7,5 anos, a partir daí, devem ser levadas no banco traseiro com cinto de segurança. A ONG pediu ao Contran (Conselho Nacional de Trânsito) que essa idade seja elevada para 10 anos. Segundo a Criança Segura, nem toda criança de 7,5 anos atingiu altura suficiente para que o cinto de segurança passe pelo meio do peito para que fique segura.

Muito boa realmente à intenção da ONG. Eu como repórter que nunca deixarei de ser – resolvi pesquisar um pouco mais para escrever este artigo, pois cansei de apenas ficar indignada com a situação que vejo diariamente. Resultado: é muito pior do que pensamos!

No site do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes - DNIT, onde estão concentradas as estatísticas detalhadas dos acidentes no Brasil, link http://www.dnit.gov.br/rodovias/operacoes-rodoviarias/estatisticas-de-acidentes/quadro-0401-numero-de-vitimados-por-faixa-etaria-ano-de-2011.pdf, pode se constatar que estamos perdendo nossas crianças na tenra infância por sermos irresponsáveis com elas no trânsito.

Em 2011, ocorreram 3.936 acidentes entre leves, moderados e graves com menores de oito anos, que provocaram 208 mortes em todas as cidades brasileiras. Neste período o maior número de acidentes ocorreu em Minas Gerais: 441, sendo que 20 resultaram em mortes. Em seguida vem o estado de Santa Catarina, 238 acidentes envolvendo menores de oito anos, com 06 mortes; o Paraná com 189 acidentes e 03 vítimas fatais. Em quarto lugar vem Goiás, onde nasci e não virei estatística, com 133 acidentes e 09 mortes somente em 2011!

Na região Nordeste, a Bahia lidera este triste ranking com 104 acidentes em 2011 e 07 mortes de menores de oito anos.  Em São Paulo foram 108 acidentes, com 04 mortos. Claro que estamos até agora falando de estados com grande número populacional, mas mesmo assim não existe justificativa para esta tragédia! Lógico que a quantidade de pessoas com veículos aumentaram nas ultimas décadas, mas nem isto me convence de que são “normal” ou aceitável estas mortes.

O mesmo Pará que resido teve no período de 2011, 27 acidentes com 01 morte de menor de 0ito anos. Acho incrível realmente este número, pois acredito que os anjos da guarda do restante do país não trabalhem menos nos demais estados do que aqui! Recente vi uma família inteira em uma moto: pai, mãe e três filhos. Estava atrás deles quando vi no cruzamento um guarda de trânsito. Pensei e agora que eles irão se dar muito mal. O guarda gritou: “Ei...Fala para dona Fátima que eu vou passar com vocês mais tarde. Vou levar umas periquetes” – aqui uma explicação, periquete por estas bandas é aquelas cervejas pequenas de 269 ml... Ele não deu a menor importância, advertência ou multa por aquela família de conhecidos levarem crianças menores de idade na moto, somente o pai que pilotava com capacete, em plena 10 horas da manhã...

Em Rondônia que não é tão diferente assim do Pará, neste quesito, ocorreram 54 acidentes que resultaram em 05 óbitos de menores de oito anos!

E acreditem só fica pior quando se olha com atenção os dados registrados no site do DNIT. Acidentes envolvendo crianças maiores de oito anos até 11 anos, não fica menos preocupante. Em 2011 foram 2.189, com 208 mortes. Novamente Minas Gerais lidera o ranking com 235 acidentes e 11 mortes. Em Santa Catarina foram 127 e 08 óbitos; Paraná com 120 acidentes e 02 mortes; Goiás 60 acidentes e 02 mortes; Pará 08 acidentes e 01 vítima fatal...

Enfim, mais que utilizar capacete quando eles tiverem a idade correta para serem transportados na moto, usar cadeirinha ou elevador de assento, cinto de segurança e só as poltronas da frente a partir dos 10 é necessário sermos menos irresponsáveis como pais, tios, avós, primos e amigos. Criança é responsabilidade de adulto sempre e como dizem nas aulas de gestão quando se mensura resultados para avaliar a utilidade de determinados processos, os números não mentem nunca. Estamos sendo irresponsáveis, admitamos!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Histórias da Energia de Rondônia, vale muito conhecer!

Histórias da Energia de Rondônia, vale muito conhecer!

Iniciei há três semanas em meu podcast: o VivicaCast – Sistematizando à Vida, uma série de leituras do livro “Memória da Energia Elétrica em Rondôni

Estiagem Amazônica, a conta já chegou?! Meio Ambiente

Estiagem Amazônica, a conta já chegou?! Meio Ambiente

O Rio Madeira é um dos maiores rios do mundo e passa por três países: Brasil, Bolívia e Peru. Sua profundidade varia de acordo com as estações seca

Estiagem Amazônica: a conta já chegou?! Consumidor

Estiagem Amazônica: a conta já chegou?! Consumidor

Sim!  A famigerada cobrança dos danos ambientais: desmatamento, poluição desenfreada, do homem contra o meio ambiente tem chegado, nas últimas décad

Estiagem Amazônica: a conta já chegou?!

Estiagem Amazônica: a conta já chegou?!

A fumaça tóxica das queimadas tomou conta da cidade de Porto Velho, na primeira semana de setembro deste ano. O que vinha se tornando quase parte da

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)