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Viviane Paes

O atalho não é o melhor caminho nunca! Por Viviane Paes


 

Você percebe que está ficando experiente... opa, velha mesmo, desencanada da idade desde sempre, quando vê com olhos de seus avós e pais, algumas atitudes e pensa: “Na minha época, o honesto não roubava nada, nem pouco nem muito; fidelidade era de corpo, alma e pensamento; aluno respeitava e até “temia” professor em sala de aula; um simples olhar de recriminação do pai e da mãe valia mais que mil palmadas”... Enfim, pegar atalhos para chegar a algum lugar é um negócio arriscado com consequências, na maioria das vezes, terríveis!

Mas, vamos lá. Esta semana fui surpreendida com o seguinte comentário da mãe de um colega de escola de meu filho: “Logo, iremos tirar fulano daqui – escola particular, porque senão ele não vai conseguir entrar no Infro – Instituto Federal de Rondônia!”.

Sou bem “lentinha” nas conclusões de uma conversa, principalmente quando ela vai acabar em algo que sou contra, mesmo defendendo o direito do outro de ter opinião e sentimentos contrários aos meus! Kardecista, rosacruz, católica desde pequena.

Aí perguntei o motivo e ela justificou, sem a ajuda das cotas para quem estudou em escola pública, a concorrência seria muito grande!?

Céus que mundo é esse que vivemos, atualmente no Brasil, em que a geração Y, mais conhecida como a dói-dói, está sendo criada para acreditar que não consegue nada sem “aquela ajudinha”. Mensagem subliminar, e olha que nem fiz psicologia, fulano não tem capacidade para disputar ampla concorrência. Tem que apresentar as notas de português e matemática do ensino médio, aquelas que ele consegue fazendo um monte de trabalho, peso 10, e peso cinco para a avaliação, onde ele nem escreve e pensa muito, pois marca X...

Falei da letra garrancho que poucos entendem, porque afinal a tal caligrafia é desnecessária na Internet das Coisas, onde tudo e todos estão conectados! “Bora teclar e deixar o corretor ortográfico corrigir o que não sabemos e nem queremos saber”...

Como não me aguento mesmo, nessas situações - olha a criatura que está tentando evoluir espiritualmente – disse: - Ficando por aqui ele terá condições de ser aprovado no Ifro, no Enem, em Harvard, na PUC, no ITA... Sei lá, nesses locais em que desde sempre se sabe, só os esforçados e inteligentes são aprovados!

E aí aconteceu aquele silêncio constrangedor e tratei logo de mudar de assunto.

Passei o dia, indignada com essa opinião, da maneira mais fácil de ingressar em algum lugar. Lembrei a época, em que ser aprovado em uma universidade federal ou um instituto federal era motivo de orgulho familiar, sem cotas, sem aquela ajudinha, por puro esforço.

Tenho uma prima médica por determinação, não por amor apenas a profissão, que logicamente tem verdadeira paixão. Ela conclui o ensino médio com 16 anos e levou mais quatro anos para ser a aprovada. Eu tinha 12 anos e acompanhei uma vez, sua apreensão enquanto ouvia os nomes dos aprovados na rádio e decepção por não ter conseguido ingressar na federal de Montes Claros (MG), cidade natal de minha mãe.

O que ela fez?! Foi tentar em outra cidade, Barbacena e foi aprovada de primeira, em uma universidade católica, tão concorrida quanto a federal. Inteligência acima da média ela sempre teve, no entanto, sua força de vontade e inteligência emocional foi fundamental.

Venho de uma família de agricultores, médicos, escritores com descendência negra, indígena, portuguesa, holandesa, mais brasileira impossível. É sou uma da poucas negras de cor e traços, entre meus primos da minha geração; óbvio que tanta mistura iria resultar em brancos não tão loiros, negros não tão escuros, índios não tão indígenas e por aí vai...

Sou contra a utilização de cotas e outras “facilidades”, não pelo objetivo delas que é fantástico: dar oportunidade de igualdade para as minorias que não recebem a mesma educação que os demais; sou contra o uso facilitado delas por muitos... Já vi cada ser humano racista de carteirinha utilizar cotas para ingressar numa federal e conseguir aprovação em concurso público que dói na alma!

Sou contra, e para infelicidade ou, melhor, felicidade e autoconfiança de meus dois filhos, dos atalhos da vida. Na maioria das vezes, esses atalhos considerados facilidades acabam levando a caminhos não imaginados e suportados.

E, sabe o que acontece quando a geração dói-dói se confronta com um problema, lá dentro do Instituto Federal, onde entrou pela porta mais cômoda, fugindo da ampla concorrência?! Entra em parafuso e pede para sair, na verdade, foge sem concluir o curso, porque imagina que foi tranquilo para entrar seria mais ainda para finalizar. Não estou exagerando. As estatísticas comprovam que mais de 40% dos aprovados nos cursos tecnológicos não concluí. São vários os motivos, sabemos, um deles a ausência maturidade emocional e objetivo.

O que não está nas entrelinhas do regimento seletivo por avaliação simples, é que o nome da instituição tem peso e é Federal! Ninguém porta um diploma desses locais sem ter aprendido realmente e para isso, o estudo, os sacrifícios e principalmente a fuga dos atalhos é base.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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