Terça-feira, 25 de julho de 2017 - 00h03
Pensava ser uma geração que só olha para baixo. Agora tenho certeza: é uma Era que só olha para baixo, para o celular, o próprio umbigo. Extasiados, tomados por um autismo pós-moderno, ficamos focados no mundo desfocado e virtual, contabilizando coisas que não têm importância e estão ao alcance apenas das pontas dos nossos dedos. Não sentimos mais o relevo, apenas clicamos. Tudo robotizado, quase um mundo separado, onde não se pode olhar para os lados, estender a mão, dar um abraço demorado. Tão pequeno que cabe na tela de um telefone.
Assim tem sido esse tempo virtual, em nuvem, nebuloso, sem o cheiro das coisas simples ou de um carinho preguiçoso. As casas se tornaram imensas lan houses, cada um em seu compartimento, seu mundo on line, falando com todos, menos com nós mesmo. É um tempo das coisas vãs, das conversas vazias, fugazes, da ausência do afago, da pergunta simples de quem olha nos olhos e lança um despretensioso “como você está?”. Estamos todos abduzidos por esse ‘tempo do tudo’ e não ‘do todo’.
Nas redes sociais, onde deveria ser o mundo das interações e trocas de experiências, encontramos os guetos virtuais, multiplicados e compartilhados em suas muitas versões e possibilidades. Tudo direcionado, reto, quando o aberto fica delimitado e se torna, espontaneamente, quase que privado. Nossas prisões internas, nossa primitiva necessidade de grupo, de pertencimento, exercem seu poder primitivo e nos conduzem ao mais amplo, planetário e intransponível encarceramento virtual.
Pelas ruas, caminhamos em linha reta, deixando claro que não queremos ir muito longe, pois o mundo raso que cabe em nossas mãos nos basta! É pouco, é desprovido de sentimento, de sutilidades, povoado apenas pelas coisas que não vivemos e que fazem nenhuma falta. Não estendemos mais as mãos por que elas seguram o celular. Falta poesia, falta cumplicidade, falta o abraço amigo em campos de trigo.
Um dia vi em uma cidade do interior, tarde da noite, jovens espalhados pela calçada de um pequeno prédio, à meia luz, olhando fixamente para o chão. Achei estranha a cena, pensei ser uma legião de drogados naquela pacata cidade. Quando alguém alertou: “eles estão utilizando o wi fi do escritório”. Estavam mesmo entorpecidos por aquele momento de viagens e conexões. Usavam assim sua solidão para falar com todos, falar com o mundo, o que não conseguem dizer para os que estão próximos. Esse é um tempo de silêncio e de insuperáveis distâncias. Assim os sentidos vão regredindo na mesma proporção que as palavras e suas descrições. É um tempo de contração do sentimento, do verbo e do verso.
É preciso ser livre para olhar para os lados, sentir o vento bater no rosto, escolher um caminho e seguir apreciando as cores da estrada. É preciso ser livre para exercer o poder da contemplação, com tempo para o coração. É preciso ser livre para sentir as coisas boas das horinhas de descuido e que enchem nossas vidas de sintilâncias e inutilidades. Além desse tempo, a vida vai, por dentro de nós, com nossos sonhos e carências mais infantis. Para nossa sorte, a vida não é touch screen.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
Tive acesso, sábado, dia 16 de novembro, a uma cópia do relatório da Polícia Federal, enviado pela Diretoria de Inteligência Policial da Coordenaçã
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