Quarta-feira, 10 de novembro de 2021 - 11h11
Na bancada espalhei diversas
caixas de morangos. “– Que fruta mais linda!” – pensei. Esse contraste perfeito
do vermelho intenso e das pequenas folhas verdes são um encantamento da
natureza. Cuidadosamente lavei um a um, tentando imaginar como se fez essa
fruta libidinosa, que ornamenta tão saborosamente diversas sobremesas.
Ali me vi com tantos morangos e
simplesmente sorri. Lembrei que quando
estava em meu processo de alfabetização, lá pelos idos dos anos 60,
havia uma cartilha que trazia essa fruta como referência ortográfica para nosso
aprendizado. Todas às vezes que pronunciava e via a fotografia ou desenho do
morango eu ficava pensando: “– O que é isso!?!?”. Depois de saber que se
tratava de uma fruta, eu passei a me perder na possibilidade de sentir seu
cheiro, apreciar seu sabor ou, mais simplesmente, vê-la. Eu, que nasci às
margens do Rio Jaguaribe, convivendo com peixes, siris, caranguejos e camarões;
que comia milho verde cozido, pamonha, canjica, melancia e cajus, queria mesmo
era dar de cara com esse tal morango vermelho e de folhas tão verdes.
Cresci e só encontrei o morango
por volta dos meus 25 anos. Pasmem!!! Certamente, nesse nosso imenso Brasil do
século XXI, muitas e muitas crianças, como eu nos anos 60, nunca viram ou
comeram um morango. Mas que doce ironia! Agora me vejo todos os dias às voltas
com morangos, morangos e morangos. Depois de aprender a ler e, nunca esquecer
das cartilhas com morangos no litoral nordestino, sempre me perguntei por que
morangos, e não cajus, melancias, milhos, tamarindos, jacas, seriguelas, atas
(pinhas), feijões, camarões ou tapiocas?
Nossa cartilha não era regional. Ela migrava do Sudeste para nossa região,
quiçá todo Brasil; desconsiderando para o processo de aprendizagem todas as
características regionais, o modo de viver, a identidade cotidiana às margens
do rio, do lado do mar, das conversas nas calçadas, das brincadeiras de rua com
os pés no chão; dos banhos de chuva debaixo das biqueiras. Até que um dia
encontrei Paulo Freire – não o cara, mas a sua obra – e finalmente entendi
minha inquietação: estava tomando consciência de quem Eu era, da minha
identidade nordestina, me libertando da opressão inquisidora de nos igualar,
todos desrespeitando nossas diferenças.
Hoje, depois de 31 anos no
Sudeste do Brasil – outra grata ironia –, ainda me perguntam de onde eu sou,
pois meu sotaque denuncia minha “nordestinez”. Respondo: “– Sou do Ceará!”.
Minha fala sempre teimou em me lembrar minha origem, por isso sempre volto; e
nessas idas e vindas, aprecio o sol quente das ondas do mar e o frio no estado
da garoa. Ao final, o que costumo dizer é que nasci no Nordeste, mas, antes de
tudo, eu sou brasileira.
Continuo com morangos e cajus, entendendo seus sabores e belezas; sempre pensando nesse ícone da educação que foi e é Paulo Freire, que sabiamente soube ver tão bem que a opressão é tão sorrateira que temos sempre que bem lembrar quem somos, onde estamos e de onde viemos.
Ao primeiro gato da minha vida eu dei o nome de Tunder. Uma referência ao desenho animado Tunder Cats. Tunder parecia um tigre e surgiu em minha casa
Olhando as folhas das samambaias pela janela da minha sala eu posso também ver o céu azul e infinito. Em um átimo de segundo uma vida inteira passou e
A rede amanhecia estendida na sala principal; chinelos novos em folha, e arrumados, demonstravam que alguém andou com eles. Fôra papai Noel!!! Sim!!
Quando lembro da minha infância, a mente voa e me vejo sob o céu estrelado do Ceará; sob a luz do candeeiro e das noites que começavam às 17 horas. Re