Por trás da escuridão

Olhando as folhas das samambaias pela janela da minha sala eu posso também ver o céu azul e infinito. Em um átimo de segundo uma vida inteira passou em minha mente: minha infância com vontade de ser grande; minha adolescência cheia de descobertas e sonhos; minha realidade adulta descortinada pela dureza da vida. 

Minha mente foi para além da minha história e pude divisar as dores, as vezes inenarráveis da vida! Dores humanas, dos bichos irracionais, das plantas cortadas sem razão, dos animais abatidos por diversão, do planeta agonizando por salvação!! 

Vi humanos esqueléticos e famintos, torturas, holocaustos, guerras, sangue, fome, escuridão!! Fui tomada de uma angústia d'alma. Chorei... 

Do rádio da vizinha ouvi uma canção "quanta paz, quanta luz nesse ambiente pairando sobre nós..." 

Foi aí que comecei uma conversa pelo Whatsapp com um muito querido amigo e quase como um sussurro ele me disse:

"Só posso dizer pra você. 

Não tenho outra pessoa pra contar isso. 

Mas, preciso ouvir, ver, saber de coisas boas. 

Do que é possível fazer, que tenhamos que fazer, de ações honestas. 

Tô no limite de receber relatos de coisas e pessoas nefastas. 

Há de ter pessoas e trabalhos dignos nesse país. 

Te falo faz tempo que não olhamos o que presta. 

De tanto olharmos para o monstro, ou ficamos iguais a isso ou não vemos o que pode ser bom. 

Queria muito, muito mesmo, ouvir algo honesto, decente, pra divulgar, como um espírito que nasce da luz. 

Esse Espírito seríamos nós, nossa maior comunhão de amores, saberes.

Uma divindade em Terra, viva, como ainda estamos. 

Mas, precisamos nos descobrir, rever, reavivar, fora desse espetáculo do mal.

Há algo bom em nós, há algo bom em algum de nós. 

Então, olhemos pra isso, para essas pessoas e suas intenções. 

Não falemos só do mal.

Vejamos o que há de bom, o que é bom. 

Divulguemos o que é bom, honesto, limpo de más intenções. 

Essas pessoas precisam de muito mais apoio do que nós. 

Estão esquecidas por nós, por todos. 

Ninguém se lembra do que presta, do que faz bem. 

O mal vende muito mais. 

E isso explica muito de quem somos - acostumados a ver o monstro, não vemos mais a nós mesmos. 

Precisamos ver o Outro, a Outra.

Ou seremos assim também, monstros atormentados".

Até que fui lembrando das comunidades quilombolas e suas lutas gloriosas e cidadãs por vida digna, suas realizações coletivas e isso é lindo!!! Das hortas coletivas espalhadas pelo Brasil, das ações de cidadania, do esforço voluntário de professores vocacionados em deixar  um saber libertador para seus pupilos. Fui pensando em inúmeras e variadas formas de vencer a escuridão. Percebi que da minha janela já não havia mais o sol,  a escuridão da noite já se fazia presente e nela o magnifico brilho das estrelas; e para intensificar ainda mais a luz na escuridão a lua estava cheia, imensa, reluzindo a luz em meio à noite escura. Por fim, sorri e pensei: também há luz na escuridão!!!!!