Terça-feira, 22 de janeiro de 2019 - 13h07
Assistimos a cada
dia, a cada semana, a cada mês, há mais de dois anos, capítulos de uma novela
que não termina, como tantas outras, sobre as mudanças que salvarão o Brasil da
miséria, da fome, do desemprego, da violência, do sucateamento da saúde, da
precariedade da educação básica e superior, das polícias, dos presídios.
Lamentavelmente as mudanças parecem se resumir em uma só: “Reformar a Previdência Social”.
A declaração é atribuída a entidade fantasma: o mercado, seja os que tem muito dinheiro e aplicam em ações e títulos públicos e privados.
Ora, meus senhores, já vimos esse filme várias vezes, com Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e agora Bolsonaro, querendo usar a reforma “Frankenstein” de Michel Temer.
FHC, Lula e Dilma fizeram reformas em nome de reduzir privilégios e déficit e nada disso aconteceu. Só ampliaram o favorecimento de um mercado que não quer saber de programas sociais, só de lucros em aplicações financeiras.
Não há no mundo civilizado uma linha sobre o Brasil, a economia brasileira.
Dizer que as bolsas de Nova Iorque, Paris, Frankfurt, Xangai, Hong Kong, Tóquio, exigem a reforma da Previdência é uma farsa do engodo que dimensiona a tragédia nacional.
Ninguém fala em reduzir a dívida pública que suga a poupança nacional, beneficiando justamente total mercado de um neoliberalismo perverso e não tem paralelo em economias capitalistas modernas.
Ninguém fala que o
problema principal da Previdência Pública (RGPS) está no seu financiamento, não
fiscalização e cobrança dos que se beneficiam como o agronegócio (que deixa de
pagar R$ 100 bilhões/ano), bem como os as renúncias (principalmente de
filantrópicas, agronegócio, Supersimples e Mei), as desonerações, os Refis e os
subsídios, com contribuição de 50% e benefícios de 100%.
É certo que a
Previdência da União, Estados e Municípios (os chamados regimes próprios) está
no fundo do poço, mas os militares nunca pagaram. Estados e Municípios recolhem
dos servidores e não pagam o INSS, ou transferem por seus fundos.
Preocupo-me, como
previdenciário há 40 anos, com o RGPS, com o INSS.
Todos que fizeram a reforma da reforma da Previdência não economizaram um tostão. Pelo contrário, escancararam os ralos com os Refis e mais Refis para honrar seus compromissos com os financiadores de seus partidos e políticos os caloteiros públicos (mais de R$ 100 bilhões para estados e municípios, uns R$ 500 bilhões para indústria, comércio, transformação e serviços, e R$ 20 bilhões para o agronegócio).
O novo ministro fala que a inadimplência é de 40%. Por que não cobra deles, primeiro? Por que não cobra a dívida ativa que cresce exponencialmente e ainda entrega a PGFN, que deveria cobrar a dívida ativa, a parasitas e incompetentes?
O novo ministro fala em 40 milhões de informais. Porque não buscar mecanismos para que paguem corretamente, se sonham em se aposentar? Que paguem 50% e tenham um benefício de 50%. É correto. Não como fizeram Lula e Dilma que em nome da inclusão previdenciária criaram seis novos funrurais que, se não forem revistos com urgência, vão implodir o RGPS mais adiante.
O ministro fala em ralos. Por que que não acabar com renuncias, desonerações, Refis. Benefícios criados sem o devido custeio, para agradar a base política na base do toma lá dá cá?
O modelo previdenciário brasileiro é ímpar no mundo contemporâneo. O ministro não fala nos R$ 1,5 trilhão dos ativos da previdência complementar aberta dos planos e fechada dos fundos. Nenhum país como nosso tem ativos que financiam 100% a dívida pública a paga 31 milhões de aposentados e pensionistas; 4,5 milhões de benefícios assistenciais e financia quase 70% dos municípios e ainda é a maior redistribuidora de renda.
O novo ministro fala em copiar o modelo chileno totalmente falido e com os aposentados na miséria. Modelo criado pelo irmão do atual presidente na ditadura chilena e que ele está revendo. Lembremo-nos que o Chile não tem 20% da população do Brasil (são 18.5 milhões para 205 milhões!).
O novo ministro fala
em instituir o regime de capitalização, mas na realidade é instituir a
previdência sem contribuição patronal, (sonho de todo empresário é deixar que o
trabalho se vire) o que inexiste no mundo. Se existe diga onde.
Fala em mudar o
modelo alemão, modelo perverso, um sistema orientado somente pela remuneração,
privilegiando somente os de alta remuneração, sem o regime de solidariedade. Os
alemães pobres, com remuneração baixa dependem na velhice de ajuda social do
governo.
O ministro erra
redondamente quando acha que o regime de repartição simples está superado. Nem
a Escola de Chicago acha!
O grande engodo foi nos enganar que fariam a reforma necessária, com quem entende de Previdência, os previdenciários, mas me parece que já vem um prato feito e requentado para atender os interesses de banqueiros e de seguradoras e de investidores ávidos e sequiosos pelos rendimentos de ações.
Nosso novo presidente pregou durante sua campanha esperança, mudanças, doa a quem doer, acabar com as desigualdades, acabar com a violência, sem roubar e sem mentiras.
Prefiro admitir que quem mente também rouba, corrompe, pois rouba o direito de se saber a verdade do que está por trás da reforma da Previdência, RGPS e Regimes Próprios.
(*) Paulo César Régis de Souza é vice-presidente
Executivo da Associação Nacional dos Servidores Públicos, da Previdência e da
Seguridade Social - Anasps.
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