Domingo, 30 de julho de 2017 - 20h23
Desde sexta-feira as caixas postais eletrônicas dos deputados, especialmente os da base governista, começaram a ficar abarrotadas de mensagens de eleitores exigindo que votem a favor da licença para que Temer seja processado por corrupção passiva. Eles avisam aos deputados que estão sendo vigiados – “estamos de olho em você” – e que haverá ampla divulgação, na campanha eleitoral do ano que vem, dos nomes daqueles que votarem a favor de Temer. A votação está marcada para quarta-feira, dia 2, e a própria oposição concorda com os prognósticos dos governistas, no sentido de que Temer vai escapar, graças aos votos do PSDB, do PMDB, do DEM e dos partidos fisiológicos do Centrão. Neste último bloco estão as bancadas evangélica, ruralista e de segurança. Ou a bancada 3 B – Bíblia, boi e bala.
Segundo funcionários de gabinetes de deputados (pois eles mesmos estão fora de Brasília, curtindo o recesso), desde sexta-feira está havendo uma verdadeira “tempestade de e-mails” pedindo votos contra Temer. Alguns dizem que estão tendo muito trabalho para deletar as mensagens, depois de imprimi-las para mostrar ao chefe, porque a caixa eletrônica travou, abarrotada. Esta tempestade eletrônica deixa duas perguntas. Primeira: tão forte manifestação dos eleitores terá alguma influência sobre o voto dos deputados? Segunda: Se há tanto engajamento virtual, porque os atos contra Temer continuam sendo pouco expressivos.
É claro que eu não tenho as respostas mas a experiência com os políticos me permite alguns vislumbres. As manifestações por email não sensibilizarão deputados que neste momento só têm duas preocupações: Garantir benefícios e vantagens junto ao governo e renovar o mandato no ano que vem. Uma coisa leva à outra. Mas eles acham que estes manifestantes virtuais são pessoas engajadas, talvez até filiados ao PT ou a partidos de oposição, e não seus eleitores. E se estivessem preocupados com a opinião pública geral, já teriam sido convencidos pelas pesquisas que apontam a oceânica rejeição a Temer, aprovado por apenas 5% dos brasileiros. O que eles podem levar em conta são as manifestações de seus eleitores locais, em visitas aos redutos onde são votados. Devem estar fazendo isso no recesso. Mas é difícil saber se estes eleitores irão mesmo se manifestar presencialmente junto aos deputados em quem votaram, até porque no Brasil o vínculo entre votado e votante é muito tênue. As pesquisas já mostraram que a grande maioria nem se lembra em que votou na eleição passada.
A segunda pergunta é intrigante. Por que é que, embora milhões de pessoas se manifestem contra Temer nas redes sociais, pedindo que seja processado e afastado, que seu governo desastroso seja interrompido e que sejam convocadas eleições diretas, o comparecimento aos protestos é tão pouco expressivo, o que deixa o governo à vontade para comprar votos e passar o trator sobre a vontade popular? Não havendo povo na rua, o governo sente-se liberado para seguir neste jogo em que a bola rola apenas entre eles, do mundo político.
Há muitas explicações: o cansaço com tudo, a descrença, o ceticismo. Alguns não querem ir a atos chamados pelo PT, outros descobriram que a corrupção não era só do PT e jogaram a toalha. Tem tudo isso mas parece haver algo mais, próprio dos tempos modernos. O cientista político de Harvard Eitan Hersh criou o conceito de “political hobbyism”, ou hobyismo político. Política como hobby. O sujeito milita politicamente não poder dever cívico mas como hobby, nas horas livres, e do modo mais fácil. As redes sociais vieram incentivar este hobyismo. Quem vai às redes, posta mensagens, bate boca com o oponente etc sente que já fez sua parte, e ainda tirou algum prazer nisso. E sente-se dispensado de ações políticas mais consequentes mas que custam mais, como ir a uma manifestação.
Coisas deste tempo estranho, em que a democracia não está sendo apenas posta à prova mas verdadeiramente ameaçada pelas mudanças profundas que estão ocorrendo na cultura humana. O tempo dará as respostas.
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