Quarta-feira, 17 de abril de 2024 - 16h52
Nos últimos dez anos, o Ministério Público Federal
(MPF) atuou em diversos casos de conflitos no campo, questões fundiárias e
reforma agrária em Rondônia. Foram 167 investigações, 29 recomendações
expedidas a órgãos públicos ou instituições e mais de 310 peças judiciais,
entre ações civis públicas e manifestações em processos judiciais. Os casos
envolveram áreas que, somadas, resultam em número superior a 300 mil hectares
de terras, com valor estimado de mais de R$ 1,5 bilhão.
De
2014 a 2024, foram ajuizadas oito ações civis públicas. Dessas, três pediam
reintegração do Incra na posse de imóveis rurais em terras da União, em
Machadinho do Oeste, e outra pedia à Justiça Federal a anulação de processo de
desapropriação irregular.
Também
ocorreram centenas de manifestações em ações judiciais de grande impacto na
questão agrária e fundiária de Rondônia. As manifestações do MPF contestando
valores de indenização por desapropriação de imóvel rural para fins de reforma
agrária resultaram em economia de milhões de reais aos cofres públicos. O MPF
conseguiu demonstrar à Justiça que as avaliações de imóveis que seriam
desapropriados estavam acima do real. Em apenas três desses casos, os valores
estavam R$ 56 milhões acima do correto.
O
MPF também demonstrou a propriedade pública de áreas ou irregularidade na titulação
de um total de 157 mil hectares em Rondônia. Isso impediu diversas
reintegrações de posse e usucapião em benefício de latifundiários e em desfavor
de pequenos ocupantes de lotes de terras, bem como o pagamento de indenizações
de desapropriação irregulares.
Conflito no campo – A
pedido do MPF, o Superior Tribunal de Justiça concedeu em 2023 a federalização
(incidente de deslocamento de competência) de seis investigações que tramitavam
na estrutura de segurança pública estadual, com várias vítimas de assassinato e
tentativas de assassinato. A investigação passou a ser feita pela Polícia
Federal e a Justiça Federal passou a ser a responsável pelo processamento e
julgamento de mandantes, intermediários e executores dos assassinatos de
lideranças de movimentos de trabalhadores rurais que denunciavam grilagem de
terras e extração ilegal de madeira em Rondônia.
Outras
atuações do MPF resultaram em operações policiais contra organizações
criminosas de fraude e grilagem de terras públicas. Um exemplo é a Operação
Amicus Regem, que desarticulou uma das organizações especializadas em
falsificação de documentos.
Recomendações - Dentre
as 29 recomendações expedidas, duas se destacam. O primeiro exemplo é do Sítio
Beira Rio, em Nova Mamoré, sobre o qual havia, em 2020, dois processos
possessórios e um incidente de conflito agrário na Justiça Estadual. O MPF
recomendou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
identificasse a área como sendo de terras públicas federais e deslocasse os
processos para a Justiça Federal. Além de cumprir a recomendação, o Incra
revogou uma norma que impedia a vistoria em imóveis. A área de 6.500 hectares
tinha valor estimado de R$ 45 milhões.
O
Incra também acatou outra recomendação do MPF para fazer um mapa delimitando as
áreas públicas (terras indígenas, parques etc) e os imóveis particulares
próximos ao projeto de assentamento Nova Floresta, no município de Governador
Jorge Teixeira. Havia suspeita de que latifundiários pretendiam incorporar
irregularmente áreas públicas, sendo algumas ocupadas por trabalhadores rurais
sem-terra. Tramitavam, na Justiça Estadual, diversas ações possessórias
disputando por áreas entre 4 a 5 mil hectares do projeto de assentamento,
estimadas em torno de R$ 40 milhões.
Procedimentos – Atualmente,
o MPF trabalha em 67 procedimentos relacionados à reforma agrária e questões
fundiárias de ocupação e grilagem de terras públicas em Rondônia. Dentre estes
procedimentos, estão investigações sobre ações violentas contra trabalhadores
rurais sem-terra em Ariquemes, Machadinho do Oeste, Theobroma, Rio Crespo,
Cujubim, Itapuã do Oeste, Nova Mamoré, entre outros municípios rondonienses. Os
procedimentos versam sobre morte de trabalhador rural sem-terra, conflito
armado, ameaças de morte, ameaças diversas, milícia armada, apuração de medidas
adotadas pelo Incra para identificação e regularização fundiária de áreas e
acompanhamento de processos de desapropriação para fins de reforma agrária.
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