Quarta-feira, 4 de setembro de 2024 - 17h53
Reza a lenda que o metafísico
foi golpeado numa pequena aula de história. Como advogado de Nárnia, deve ser
pensado: “que diabos eu fiz para estar nesta sala de aula?”. Se eu tivesse que
responder, coisa que não farei, seria para dizer o que o metafísico não fez.
Isto é, não esteve na aula de história, então, depois de cascudo, teve que
voltar ao ensinamento básico.
Na aula, no entanto, o
professor de história cortou o caminho do papo furado e foi logo ao ponto
nervoso da coisa toda. Começou assim:
“ – O Brasil é um país
golpista, um celeiro de mortes políticas. Leia a história. Ponto!”.
Como o metafísico nada tinha a
declarar, dada sua ignorância conceitual, o professor continuou com a exposição
de motivos:
...
“Inegavelmente, a não ser que movidos
pelo negacionismo da história (fática), é muito válido confirmar que o Brasil é
um celeiro de golpes, sejam civis ou militares (ou ambos, combinados).
Vamos do presente ao passado:
hoje, com a Câmara dos Deputados menos republicana de nossa história (equivale
à corrupção), na prática do poder legislativo golpista, vigora uma bizarrice de
“parlamentarismo esculachado”.
Nosso regime de poder, desde a
confirmação de 1993 (e posta em 1988), é o presidencialismo. Somos reféns dos
piores tipos humanos, esses que invocam a bíblia, a bala, o boi, o banco, e, em
nome de algum senhor iluminado, não só violam, atacam a Constituição e a
República (nos princípios), como trazem escolas cívico-militares, ensino
religioso, educação financeira – em oposição à Ética, sociologia e filosofia.
No país golpista, ataca-se a lógica, o conhecimento, a ciência, o Bom Senso
mínimo.
Vimos o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moares agir contra o X e a Starlink
(do grupo Musk: aqule que disse: “Darei golpe quando eu quiser”). O ministro bloqueou,
impôs graves multas diárias até para usuários em condição negadora da lei e apreendeu
bens da Starlink. Muitos entreguistas da soberania nacional ameaçaram surpresa
com a dependência de nossa “segurança”, esquecendo-se de que a soberania
nacional já tinha sido rifada por essa plataforma e seu oligopólio econômico.
Muitos desses desafetos da
soberania nacional estiveram presentes na tentativa de golpe de Estado, no
famoso 8 de janeiro de 2023. Ainda há investigações (ou deveria haver) sobre a
participação direta da “elite da força”: os “kids pretos”.
Muito se reclama das decisões
monocráticas do Ministro Alexandre de Moraes – a exemplo de 2022 quando
determinou a derrocada de Fake News no miolo da campanha presidencial, sem
nomear o Ministério Público (MP). Oras, se esperasse um mês para as análises do
MP a campanha teria acabado e a sorte da democracia seria o nosso azar: a
continuidade do Fascismo Nacional.
Os mesmos golpistas de hoje
alegam que o ministro teria sido advogado criminalmente para pessoas
não-honestas – incluindo-se aí faccionados de São Paulo. Pois bem, se isso se
deu desse modo, a nomeação nos processos nada mais é do que o cumprimento de uma
obrigação da advocacia: a garantia do contraditório e da ampla defesa. Se
dissessem que “agir fora da Constituição para assegurar a integridade
constitucional” deve ter um limite, obedecer a algum sistema de freios e
contrapesos, lhes daria razão. Porque concordo com os tais freios e
contrapesos.
Todavia, a fim de que alguns
se lembrem, esse recurso monocrático do chamado “estado de coisas
inconstitucional” (agir fora para garantir o que está dentro) foi o mesmo que
obrigou o Fascismo Nacional a comprar vacinas em 2022, bem como evitou a
derrota da democracia em 2022.
Muita gente se incomoda com o
STF de modo geral, especialmente os que gostariam de dar golpes todo dia, ao
“arrepio da lei”, em total desacordo com a lei.
Quem tanto reclama do ministro
Alexandre de Moraes, em especial, deveria consultar a memória (quando essa se
apresentar) para lembrar que foi Temer quem o indicou ao STF. Temer, para
lembrar a memória fraca, chegou ao poder palaciano após o Golpe de Estado de
2016. Vejam a ironia da história: os golpistas reclamam do ministro, mas
esquecem que ele foi indicado após um doloroso golpe...irônico, não? Ou só
hipocrisia? Talvez burrice, como se dizia no século XX.
Então, queridos e queridas,
alunos e alunas da 5ª série E, somente para citar alguns casos bem suspeitos de
ação golpista, antes do Temer, tivemos as mortes estranhas de Tancredo Neves, Ulysses
Guimarães e de Teori Zavascki (outro ministro do STF). Além dos bebianos da
vida.
Na longa lista golpista, que
só nomeamos parcelas, tivemos o confisco da poupança por Collor: a ação levou a
uma mudança na Constituição (artigo 62, § 1º, II), impedindo-se atos golpistas futuros
do mesmo gênero.
Sob o regime militar pós-1964,
um golpe civil-militar, podemos confirmar que cada Ato Institucional (até
chegar ao famoso AI-5) foi um golpe dentro do golpe anterior: um looping da
exceção.
A caçada a João Goulart,
Brizola e tantos outros – inclusive quem desapareceu sob a tortura e o
assassinato – também nos permite lembrar da morte misteriosíssima do general Castelo
Branco (em 1967), e do fim trágico de Juscelino Kubitschek (1976). Assim
chegamos a Getúlio Vargas – morto com um tiro fatal.
E no final, voltamos ao início
de nossa história institucional: a declaração da República, em 1891, foi
possível graças a um golpe militar. Nós nascemos num golpe. O primeiro
presidente foi o Marechal Deodoro da Fonseca, um marechal e não um civil.
Enfim, quem tanto se queixa
das decisões monocráticas do ministro Alexandre de Moraes, sobretudo, quando se
volta contra os mais variados e múltiplos “atos antidemocráticos”, não se
esqueça: foram vocês que o indicaram, quando adularam ou participaram do Golpe
de 2016. Lembre-se também do voto de 2018, do atentado a facada mais mentiroso
do mundo. Lembre em quem votou ou aplaudiu ou ainda aplaude – será que você não
é golpista?
Dizem que a chibata do corpo e
da alma é a língua, pois então, no Brasil golpista o verde-amarelismo é a cor
da chibata ... prontamente racista, militarista, entreguista e, é claro,
golpista. Chibata muito golpista”.
Assim concluiu o professor de história.
No final da aula, visivelmente em estado de hibernação
mental, o metafísico apontava o dedinho para Nárnia...sua cabeça deveria estar
sofrendo de alguma falha catastrófica. Quem sabe.
A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes
A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez
Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci
Todos os golpes no Brasil são racistas. Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas. É a nossa história, da nossa formação
Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a