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Vinício Carrilho

Mulher negra no STF


Mulher negra no STF - Gente de Opinião

Fake News racista 

O que acontece quando o nonsense evapora da garrafa do gênio?

Resposta simples: vira teoria da conspiração. 

Neste caso, nosso caso, neste momento, ao invés de combater o racismo, o pensamento escravista (pior ainda quando inoculado na inconsciência social da pequena burguesia de esquerda), atacam quem denuncia o racismo estrutural ou defende a inclusão de negros e negras nas hostes do poder aburguesado do Estado brasileiro. 

Atacam Gregório Duvivier, por defender uma mulher negra no STF. 

Na teoria da conspiração da pequena esquerda aburguesada, conspiram contra quem colocou um outdoor em Nova Deli, pedindo pela indicação de uma mulher negra no STF. 

Os gênios da lâmpada, nesta modalidade conspiratória perguntam: "quem pagou por esse outdoor na cidade pobre e lascada de Nova Deli (governada por castas)?

Eu respondo: 

1.   Eu pagaria se soubesse que iriam fazer isso. 

2.   A maioria dos homens brancos, escolarizados e empregados, poderia pagar. 

3.   A minoria dos homens negros, escolarizados e empregados, poderia pagar. Isso porque há enorme discrepância salarial entre homens brancos e negros, no exercício da mesma função (mesmo no setor público raramente os negros chegam aos postos de comando).

4.   Uma ínfima parcela das mulheres negras poderia custear o tal outdoor que, insisto, preconiza ações institucionais efetivas contra o racismo e a hipocrisia da pequena esquerda aburguesada por demais.  

Por que só uma ínfima parte das mulheres negras poderia pagar por um outdoor na tresloucada Nova Deli? Óbvio, na cadeia alimentar da sociedade brasileira, racista, misógina, patriarcal, as mulheres negras ganham menos do que os homens negros, e esses menos ainda do que os homens brancos (em funções similares).

Será que se responde ao nonsense da Fake News que virou teoria da conspiração, no mote da pequena burguesia disfarçada de esquerda?

Ou seria preciso fazer um desenho preto e branco?

         Porém, pode ser pior, pois, das duas, uma: ou reaprendemos do zero toda a teoria social e política, ou quem vota contra pautas de inclusão (neste "país respeitoso") não é, nunca foi, nunca será de esquerda. 

Quando sugerimos, lutamos, para que seja indicada uma mulher negra para o STF, que fique claro, nós concordamos que tenha que ser uma pessoa com visão da sociedade brasileira, que conheça inclusive sociologia e história brasileira, que tenha militado em prol dos direitos fundamentais sociais para, efetivamente, mudar nossa realidade. 

Ou seja, o argumento é histórico e não geográfico.

Também é um argumento de estratificação social: na cadeia alimentar do escravismo brasileiro (renitente), quem está no topo e quem está no rodapé? Lembremos que 80% da população identifica o Brasil como um país racista. Mas, é muito curioso que ninguém se veja como racista. 

Pergunte-se: quem está no rodapé da história? Quem sempre foi objeto na nossa fabulosa miscigenação? Essa é a linha de raciocínio e não outra teoria da conspiração. Falei isso tudo numa carta que fiz pro Lula. Só estou esperando ser publicada. 

* Só não falei da nova teoria da conspiração porque essa é muito nova. 

         Como disse, pode ser pior: é contra as cotas inclusivas que a bancada do PT quer dizer sim[1]. Como diz o povo, naquilo que está errado, tem alguma coisa que não está certa. Imagino que alguns desses parlamentares, inclusive do PT, mantenham em suas residências aquele famoso "quartinho da empregada". Só o PSOL deve votar contra. A tal da curvatura da vara está bem à direita, né não? 

Uma coisa é aguentar o Centrão, outra coisa é se alinhar com o Centrão. Como diria o filósofo popular: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E a coisa agora diz que toda a direita (revelada) votará contra as pautas progressistas. 

         Por fim, para coroar de vez, a magnânima justiça brasileira (nada racista) determinou a volta para casa do desembargador que escravizou por décadas uma mulher – ela (negra e surda) deve voltar à mesma situação, ao status quo ante escravizador[2]. É desse modo que a justiça nacional, por ser tão magnânima, acaba por transformar as vítimas do racismo em algozes de si mesmas. E foi assim que se acolheu a decisão do STF e do STJ – bem embranquecidos.

         Também é assim que caminha a “nova” teoria da conspiração – esquecida de ser o Brasil um país profundamente racista.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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