Sábado, 30 de julho de 2022 - 09h17
Um dia desses deram-me um alerta: “você é muito feminista
em seus artigos!”. Obviamente neguei! Não por ser antifeminista como pode
parecer, mas sim por lutar todos os dias da minha vida para não cometer
preconceito nenhum! E, quem me conhece sabe que sou dura, sistemática e
“honestazinha”, seguidora dos mandamentos divinos e morais e tudo mais...
Revi a dezenas de textos que fiz nos últimos 10 anos no
portal de notícias Gente de Opinião e fui obrigada concordar - faltavam artigos
sobre homens, e, por favor, não vou dar margem para qualquer discussão de cis-gênero,
homossexual, bissexual e demais denominações obrigatórias para passarmos por
uma pessoa destituída de qualquer traço de homofobia. Tenho amigos em todas
essas esferas e quem me conhece, já sabem o que penso e sinto sobre isso! Vida
é vida, merecedora de respeito independente de nascimento, denominação e
escolha sexual. Para finalizar isso, leiam o artigo sobre o Doce para Fada
Madrinha.
Voltando aos indivíduos do sexo masculino, deixados de
escanteio por essa pseu- articulista - houve muitos textos sobre os
profissionais do sexo masculino durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19,
no entanto mulheres também foram citadas.
Oportunizando a chegada do Dia dos Pais e o fato de ver na
madrugada um stories na rede social
de “meu filho mais velho”, da atuação do pai no ramo da advocacia, tive o
famoso insight do tema que deveria
abordar. O texto conciso de apresentação do profissional que ele é hoje trouxe
recordações do ser humano e amigo incrível que ele era ainda na adolescência,
formando certamente seu caráter. Márcio Santana de Oliveira, pós-graduado em
processo penal foi membro da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados
do Brasil – seccional Rondônia, de 2016 a 2018.
Nós conhecemos no mercadinho do bairro, na periferia de
Porto Velho, em 1992. Eu era recém-chegada e ele um morador antigo que
trabalhava nesse local, quando não estava na escola. Fui recebida com um largo
sorriso de dentes perfeitos e seus olhos da cor de âmbar denunciado que igual a
mim, Márcio era fruto de muita mistura racial. Aha, e ele tinha sotaque mineiro,
igual minha mãe!
Tornamos-nos amigos uns dois anos depois, quando estudamos
na mesma turma do ensino médio, do colégio estadual Orlando Freire. Em 1994, o
transporte coletivo era extremamente deficiente para os moradores das zonas
Leste e Sul, por isso era reconfortante para meus pais (sou filha única) eu
desfrutar da companhia dele para retornarmos para casa. Éramos estudantes do período
noturno, ambos trabalhávamos durante o dia. Frequentemente acontecia do
transporte coletivo do bairro quebrar ou não passar no último horário das 23
horas. Quando isso ocorria vínhamos caminhando os mais de sete quilômetros de
distância da escola do nosso bairro. Eu nunca tive medo estando com ele!
Naquela época eu participava de alguns concursos literários
pelo Brasil e quando ocorreu uma seletiva no Estado, recebi o apoio do Márcio
para reproduzir as mais de 100 cópias do conto que escrevi. Felizmente “A Vela”
conquistou o 1º lugar no Primeiro Concurso de Revelação Literária de Rondônia.
Eu não teria conseguido seu o apoio do Márcio. Ele trabalhava no DETRAN-RO e
era pai do seu primogênito: Marlon Brendo.
Eu havia iniciado minha carreira como repórter no jornal “O Estadão do Norte”. Fiquei grávida meses depois e após a licença da maternidade, a esposa do Márcio foi à pessoa responsável por cuidar da minha filha por um período. Então, Marlon Brendo e Victória Libertad foram criados nos primeiros dois anos de vida como irmãos e o “pai” de ambos era o Márcio, pois não diferenciava em amor e cuidados um do outro. Esse gesto foi fundamental para criar um laço de amizade e respeito entre nossas famílias que é inquebrantável, não importa à distância nem a pouca convivência que temos na atualidade!
Vi inúmeras vezes o Márcio abraçando o Marlon e minha filha ficar com os olhos lacrimejantes da ausência paterna biológica, sem deixar que uma lágrima rolasse pelo rosto dela, ele a pegava também no colo e saía brincando com os dois. Um ser humano tão sensível, que não é perfeito – reconheço e tenho liberdade para dizer mesmo em brincadeira pessoalmente ou por telefone isso, capaz de um gesto tão magnânimo com uma criança e sua mãe solteira se torna inesquecível!
Abro aqui, uma observação pertinente, nessa ocasião ele era casado com um ser iluminado da mesma proporção, ou talvez maior que não tinha ciúmes desse relacionamento torto. Ao contrário, até hoje, a Mari diz que a Victória é a filha que ela não gerou no ventre, só teve filhos homens: três!
Nesse momento eu pensei que se fosse possível denominar um único homem para homenagear e reconhecer os pais de todos os tipos de cores, credos, situação financeira que habitam esse mundo você, Dr. Márcio Santana de Oliveira seria uma escolha muito viável!
Sua dedicação em proporcionar aos seus filhos tudo que você não teve, e digo o quesito educação; por exagerar nos presentes materiais, mesmo quando eles não deveriam tê-los – os estragando um “pouco”; por incentivá-los diariamente a crescerem como profissionais e não poupar esforços para que eles não sofram discriminações raciais e sociais como nós sofremos algumas vezes, na adolescência e não se obrigando a ser um pai “bom” o tempo todo - te desejo o melhor Dia dos Pais nesse ano e nos demais que virão!
Tenho certeza que minha Victória Libertad, no íntimo, te mantém no mesmo patamar que hoje o pai biológico, Alexsandro ocupa! Feliz Dia dos Pais, primeiro pai da minha filha - você já sabe, eu te disse algumas vezes, no entanto reforçarei afinal gratidão é ilimitada: você foi muito importante para nós duas!
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