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Dante Fonseca

A Augusta, Cruz da Perfeição Maçônica, Respeitável Loja Simbólica União e Perseverança, número 947, 103 anos erguendo Templos à Virtude


Amanhã, dia 24 de janeiro de 2021, um domingo que, esperamos, seja luminoso, comemoraremos os 103 anos de instalação da Loja Simbólica União e Perseverança em Porto Velho. A desejada luminosidade do próximo domingo é para combinar com a luz interior que busca e almeja todo o maçom. Teremos então um domingo plenamente iluminado. A edificação, onde são ministrados os preceitos desta busca, em breve também comemorará seus 100 anos de existência. O prédio onde hoje funciona a referida oficina é um dos mais antigos do Centro da cidade, um patrimônio histórico que não pertence apenas aos maçons, mas, simbolicamente, à urbe.

Impossível deixar de comemorar sua data natalícia. Na correria do cotidiano, que nem esses tempos pandêmicos conseguiu abrandar, não tivemos oportunidade para escrever um trabalho que especificamente comemorasse os 103 anos de aniversário. Vale lembrar que nos meses finais daquele ano de 1918, outra epidemia assolou Porto Velho, a gripe espanhola, ao que dizem parente da atual. Daqui espalhou-se pela província de Vaca Diez, na Bolívia, fazendo sentir seus efeitos inclusive na cidade de Riberalta. Enfim, algo teria que ser publicado, a data não pode passar em branco.

Destarte, segue um extrato da obra de minha autoria intitulada “Em Abunã nasceu a luz: a ARLS União e Perseverança número 947, cem anos de história (1918-2018)”, publicada no seu ano centenário (2018). Trata o excerto (com algumas adaptações) da construção do Templo Maçônico hoje quase centenário, que ergue-se ainda altaneiro, apesar dos arranha-céus que estão próximos dele. Continua excelso, apesar da pequenez de seu tamanho quando comparado com esses arranha céus. Comporta a grandeza de seu tempo e da sua função. Antes de prosseguir quero confraternizar, na figura do atual dirigente da Loja, o irmão Douglacir Antonio Evaristo Santana, com todos os maçons pelo transcurso desta data.

Até a construção do Templo, as reuniões da Loja União e Perseverança foram realizadas em diversos imóveis em Porto Velho como: lojas comerciais, residências, clubes e dependências da ferrovia, que para esse fim foram emprestados. A primeira reunião, de 8 de julho de 1917 foi, como já vimos, realizada na casa Pai da Pátria. Contudo, a ata dessa reunião, lavrada no mesmo dia, informa que ocorreu na residência do irmão Manoel Ferreira da Silva Guimarães. Como sabemos que esse cidadão era comerciante, podemos então supor que o imóvel lhe servia como residência e comércio, como sugere o anúncio do jornal. Supomos, tratar-se, portanto, do mesmo local.

Já a reunião realizada no dia 24 de janeiro de 1918 transcorreu na residência do irmão Martinho Ribeiro Pinto. Teria sido esse endereço, talvez, aquele que Cantanhede informa como localizado na chamada rua dos Doidos, em um beco paralelo à Av. Fraqhuar? (CANTANHEDE, 1950, p. 213). Já a ata da sessão ocorrida em 18 de janeiro de 1919 informa que foi realizada em compartimento de um dos imóveis da Madeira & Mamoré Railway Company.

O Alto Madeira de setembro de 1918 registrou que após o recebimento da documentação que regularizou a Loja a mesma passaria a funcionar em imóvel cedido pela Madeira & Mamoré Railway Company” (Alto Madeira, Porto Velho, 05/09/1918). Assim, podemos ver que as sessões da Loja União e Perseverança ocorreram em diversos locais em Porto Velho até a construção do seu Templo, havendo mesmo Sessões de Posse no Clube Internacional. Era necessário um imóvel apropriado às sessões maçônicas e providências foram então tomadas.

Primeiramente era preciso obter um lote de terras urbano. Como resultado das iniciativas em busca desse objetivo a ata da sessão de 3 de maio de 1919 registra em seu expediente o seguinte:

 

Foi lido um officio do Exmo. Ilmo. Dr. Joaquim Augusto Tanajura, Superintendente deste Município, communicando que em data de 10 do corrente foi deferida a petição do Pod irmão Ven José Jorge Braga Vieira em que requer uma quadra de terra para construção de um Templo e que de accordo com a Lei no. 62 de 30 de Março do anno presente designou o lote no. 7 da quadra XI, situado a Rua José do Patrocinio, para digo e marcara o prazo de 3 annos para construir seu Templo, mas podendo alienal-o e utilizal-o para qualquer outro fim, e que será expedida a carta de aforamento tão logo seja requerida.” (Ata UP de 20 de junho de 1919).

 

Em ata de 01 de agosto daquele mesmo ano foi acusado o recebimento da carta de aforamento desse terreno, emitida pela Intendência Municipal.

Daquele momento em diante foram tomadas as providências para a construção do Templo. Registraram as atas seguintes diversas doações de materiais e serviços para essa finalidade. Por exemplo, uma cunhada doou três barricas de cimento, outro irmão dois milheiros de tijolos. O irmão Cunha, português, proprietário da José do Rozário Cunha & Cia. (Jornal do Commercio, Manaus, 17/12/1911), iniciado na Loja Aurora Lusitana, de Manaus em 31 de janeiro de 1919 e filiado na União e Perseverança em 18 de janeiro de 1920, ofereceu o transporte de materiais de construção de Manaus para Porto Velho gratuitamente em seus vapores. Outra ação para obter recursos para a construção foi a arrecadação, partir do ano de 1919 até a conclusão das obras, de numerário entre os irmãos em algumas Sessões para a Construção do Templo. Essas doações se prolongaram pelos anos afora. Pelo menos até o final da década seguinte.

Posteriormente esse terreno, originalmente doado pela municipalidade, o lote no. 7 da quadra XI situado a rua José do Patrocínio, foi objeto de permuta, pois a lei que o concedeu permitia sua alienação. Inicialmente foi aceita a proposta da troca do terreno da Loja por outro, pertencente ao irmão Francisco Casciano da Rocha, iniciado na Loja União e Perseverança em 21 de agosto de 1920. O lote objeto da proposta está situado à rua José Bonifácio. Contudo, posteriormente, a proposta de outra permuta aparece na ata no. 107 de 15 de outubro de 1920, onde se informa estar em negociação a troca de dois lotes de terra doados pelas Cartas de Aforamento número 4 e 5 de 11 de março de 1916, de propriedade do Dr. José de Mendonça Lima. Essas Cartas de Aforamento foram assinadas ainda na administração Guapindaia e encontram-se em exposição na Loja União e Perseverança.

O dr. Mendonça Lima era médico, formado no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, Manaus, 31/12/1911) e a partir de 1916/17 se encontrava em Porto Velho (Jornal do Commercio, Manaus, 07/10/1917). Na negociação Mendonça Lima aceitava a troca de um dos seus lotes pelo terreno da rua José do Patrocínio mais o valor de 400$00, pelo outro terreno (lotes 7 e 8). Esses terrenos eram contíguos, e ficavam ao lado do terreno do irmão Francisco Casciano da Rocha (lote 9).

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Croqui da localização da Loja União e Perseverança, Porto Velho, Capital do Estado de Rondônia com base em planta da M.M.R.C.. *Centro de Desenvolvimento Humano da UP.

Fonte: M.M.Ry Co., Planta parcial de Porto Velho de 1924. In: CARVALHO, 2009, p. 41.

 

A transação foi bem-sucedida, pois na sessão de 10 de dezembro foram apresentadas as duas cartas de aforamento dos terrenos pertencentes a loja. Mas, pela leitura das Cartas de Aforamento, além do lote onde foi construído o prédio da Loja (lote 7), também fazem parte do seu patrimônio os outros dois terrenos, de números 8 e 9, antes pertencentes respectivamente a Mendonça Lima e Casciano da Rocha. Não sabemos como foi a aquisição do terreno do irmão Francisco Casciano da Rocha, mas sabemos que também foi efetivada a aquisição.

Tal constatação baseia-se no fato de que o lote número 7, o único que fazia limite com as ruas D. Pedro II e José Bonifácio simultaneamente, pertencia a Mendonça Lima e era contíguo ao lote de número 8, também do mesmo proprietário, que por sua vez era vizinho ao lote 9 de Casciano da Rocha. Sabemos que o lote de Casciano foi agregado àqueles de Mendonça Lima em razão da metragem da frente do terreno à rua José Bonifácio. Também em razão de que a lateral desse terreno, oposta à rua Pedro II, encontra os fundos dos terrenos que têm sua frente na rua José do Patrocínio. Ficou então a área da Loja, como podemos ver no croqui acima. Na ata da sessão de 29 de novembro de 1920 consta que as obras de construção do Templo iniciaram no dia 23 passado.

É interessante observar que embora muitos possam pensar que o nome da José Bonifácio, tenha influência da Maçonaria, em razão desse que foi intitulado Patriarca da Independência ser notoriamente maçom, aliás um dos mais notórios da História Nacional, essa influência nunca existiu. A rua foi assim batizada pela Lei Municipal n.º 03, de 09 de março de 1915, assinada pelo superintendente Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, antes mesmo da fundação da Loja em Abunã e bem antes da negociação dos terrenos. (SILVA FILHO, 2011, p. 179).

Consta que as obras ficaram a cargo do mestre de obras português Pedro Renda, que participou a construção de diversos prédios nesta capital, entre eles a Catedral do Sagrado Coração de Jesus. A ata relativa à sessão de 16/01/1928 já indica que a reunião ocorreu: [...] na sede do Templo desta officina, situada à rua José Bonifácio, canto da R. Pedro II [...]. Apesar dessa utilização, há indicações claras que as obras não estavam totalmente concluídas, na medida em que a arrecadação para a Construção do Templo continuou circulando e também das menções sobre a continuidade da obra nos anos seguintes.

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Loja Maçônica União e Perseverança em perspectiva, foto do século passado

Foto: Veiga.

 

A Loja Maçônica União e Perseverança, no século passado e atualmente. Pode-se observar algumas diferenças: a) originalmente as portas e janelas eram confeccionadas em cedro amazônico, hoje são de ferro; b) era coberta com telhas francesas hoje são telhas de amianto, e c) muro que a cercava era baixo.

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Loja Maçônica União e Perseverança em perspectiva, foto atual (2018)

Foto: Francisco das Chagas Mota Medeiros.

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Loja Maçônica União e Perseverança foto frontal do século passado

Foto: fotógrafo desconhecido.

 

Observem que: a) na foto acima as portas e janelas são de madeira ainda, mas de modelos diferentes da foto anterior, do ´século passado e b) a modificação da cidade com a ocupação do entorno por edifícios e do terreno da Loja com outra edificação ao fundo.

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Loja Maçônica União e Perseverança em foto frontal atual (2018)

Foto: Francisco das Chagas Mota Medeiros.

 

O artista plástico Júlio Carvalho, em sua obra intitulada Um Olhar Sobre o Urbanismo e a Arquitetura de Porto Velho descreve as características arquitetônicas do prédio da Office

 

Caracterizada pelo ecletismo com influência da mão-de-obra estrangeira, principalmente a portuguesa. Com volumetria retangular, com três tramos bem definidos, um frontão cimbrado, duas janelas em madeira macheada, com arcos planos, estilo romano, com bandeiras fixas; duas janelas também em madeira macheada, com arco de volta elevada ou lancetada, estilo gótico, com bandeiras fixas e balcão de ferro fundido. Acima das janelas de balcão ó símbolo da maçonaria ladeado por dois pavilhões. Completando o ornato quatro colunas de três- quartis com acrotérios, uma régua interrompida e no frontão suas almofadas retangulares. Piso elevado com elementos vazado para ventilação do porão. Apresenta-se com uma bossagem de reboco predominante liso com exceção das faixas, no nível das janelas, que são ressaltadas. Sua cobertura é em quatro águas com telhas de capa canal e suas cores originais são brancas com detalhes em azul-claro. (2009, p. 137).

 

Além do contexto arquitetônico o prédio tem ressaltada pela ilustre escritora e acadêmica Yêdda Pinheiro Borzacov sua importância em outros contextos:

 

Esse prédio é considerado patrimônio histórico material de Porto Velho, testemunha da presença da história e de sua importância em nossa vida. Ali ocorreram decisões significativas que contribuíram para o desenvolvimento sociocultural e político da cidade, bem como o exercício da prática de atos humanitários tem sido uma constante. (2007, pp. 121-122).

 

Desde sua conclusão o prédio tem passado por transformações. Essas modificações foram feitas apenas quando absolutamente necessárias, primando as sucessivas administrações da Loja pela manutenção de suas características originais. Mantém, também, a guarda dos documentos Maçônicos da Loja desde o início de sua história.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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