Sexta-feira, 25 de setembro de 2020 - 08h13
Recebi
ontem do amigo, professor ms. Saulo Gomes de Sousa (IFRO), a notícia que um
trabalho de minha autoria será publicado (https://rcbolivia.com/los-reinos-dorados-de-homero-carvalho-es-traducido-al-portugues/).
Trata-se, na verdade, de um ensaio. O artigo integrará o volume da ode à terra
e aos povos originários do Beni que compôs o escritor e poeta boliviano Homero
Carvalho Oliva. Certamente notícias desse tipo agradam a qualquer um que comete
o disparate de dedicar-se a escrever nas terras tupiniquins. O que é o escritor
sem o leitor? Nada. Publicações desse tipo dão-nos, ao menos, a satisfação de
sermos lidos. Além do mais, penso que o volume a ser lançado tem um valor
simbólico, pois cumpre a aspiração de integrar escritores bolivianos e
brasileiros desta parte da fronteira. A banda brasileira cumpre o esforço de
entendimento da produção intelectual boliviana, competentemente realizado,
entre outros, pelo professor Saulo Souza. Quanto à ode, trata-se de belíssima
peça, carregada de poesia e encantamento que meu ensaio procura interpretar.
Aproveito a ocasião para agradecer a distinção do autor de “Los Reinos Dorados”.
Segue então abaixo a peça publicitária do livro, que se encontra no endereço
acima citado.
Dante Ribeiro da Fonseca
"Os Reinos Dourados" do escritor boliviano
Homero Carvalho Oliva foi traduzido para o português
"Os
Reinos Dourados" é uma ode aos povos originários do Oriente Boliviano
composta pelo poeta Homero Carvalho Oliva. Foi publicada na Bolívia em 2010,
depois na Espanha em 2015 e agora chegará ao Brasil pelas Editora Cintra e ARC Edições,
de São Paulo (o livro estará em breve disponibilizado para venda na Amazon).
Compõe a obra uma coleção dirigida pelo poeta brasileiro Floriano Martins e
será lançada em edição bilíngue português / espanhol nos próximos dias. A
tradução foi realizada pelo poeta e escritor Saulo Gomes de Sousa. O tradutor é
professor de Língua e Literatura Espanhola, cuja graduação e mestrado foram
cursados na Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Exerce o
magistério no Instituto Federal de Rondónia e também é tradutor e investigador
da literatura amazônica. Sousa dedicou parte da sua dissertação de mestrado
intitulada "Literatura na Amazônia, Cultura e Modernidade na Literatura no
Oriente boliviano" a este livro do poeta boliviano.
Neste
trabalho, Sousa aponta, entre outras observações:
“A
perspectiva do leitor ao ler "Os Reinos Dourados" é de um reencontro
com um ambiente remoto e nostálgico, que ainda está em construção no presente e
no futuro. O poema de Carvalho traça um caminho que mistura o irreal e o real,
apreendendo contextos baseados na realidade, como a incursão inca no território
de Mojos e a invasão espanhola. A poesia estabelece-se como documento da
identidade mitológica e cultural dos povos do Beni, configurando-se também como
legado para as futuras gerações que habitam este espaço cultural e mitológico.
[...] Este encontro não ocorre no campo real, mas no mundo dos sonhos, da
memória, a partir desse encontro de memórias e memórias, nas tantas vozes que
falam desse reino inesquecível de dualidade real e mitológica. Para compreender
a importância da poesia de Carvalho no contexto cultural e histórico da região
amazônica é necessário, conforme afirma Dante Fonseca:
[...] que entendamos essa síntese entre a ficção, a
poesia, o mito e a história, é necessário nos deixemos incorporar pelo espírito
da Pátria das Águas. É preciso admitir o encanto de um atavismo que permite
compreender a herança e a origem do homem oriental, especialmente do homem
beniano.
A aceitação deste espírito da Pátria das Águas ou Cultura das Águas permite-nos compreender os aspectos da herança e da origem do beniano como descendente dos Reinos Dourados. O Eldorado, o reino perdido, nunca encontrado pelos incas e pelos espanhóis. O país de inúmeras riquezas, que está em toda parte, mas não faz fronteira com parte alguma. A poesia de Carvalho situa este reino, no território de Mojos, no Beni, na Amazônia boliviana. Este Eldorado, um mito criado pelos índios ainda na época da colonização espanhola e portuguesa, que atraiu inúmeros aventureiros europeus, um mito em constante mudança, em constante renovação. O autor propõe em sua poesia uma nova visão do Eldorado, do campo cultural, reavivando a luz com detalhes esquecidos. Detalhes intangíveis que transcendem a riqueza que enchia os olhos e a ganância do explorador. Carvalho apresenta pela memória do falecido pai este reino comparável em grandeza a tantos outros reinos mitológicos (...) A propriedade da construção poética que se apresenta nos Reinos Dourados é também uma construção social, por invocar antecedentes que restabelecem conceitos de formação cultura e identidade da região de beniana, possível local, segundo a poesia, do grande Paititi. A poesia de Homero Carvalho agrega elementos de outras épocas, elementos que interagem com a realidade histórica local, mas ao mesmo tempo possibilita um reencontro com a cultura em diálogo com o universal, assumindo a posição de documento que atesta a importância da cultura na região".
O
livro contém ainda ensaio de Dante Ribeiro da Fonseca, Professor Associado do
Departamento de História, do Programa de Mestrado História da Amazônia da
Universidade Federal de Rondônia e pesquisador em História da Amazônia. Num
longo e acadêmico ensaio intitulado "Los Reinos Dorados, poesia, história,
ficção e mito ", Fonseca destaca:
“Com
sua belíssima ode intitulada “Los Reinos Dorados” Homero Carvalho Oliva
apresenta, de forma única e fascinante, a compreensão poética e mítica da
herança pré-hispânica presente no Oriente Boliviano. Da mesma forma que o poeta
grego, seu homônimo, transferiu a tradição oral para a escrita os poemas que
narram as peripécias de Ulisses, o autor descreve a gênese, o sentido e o
apocalipse dos reinos dourados. [...] De quais “reinos” nos fala Carvalho Oliva
em sua poesia? Reinos cujo espírito e inteligibilidade herdou através das
palavras de seu pai. Reinos aos quais buscou ansiosamente reviver no universo
dos seus próprios sonhos e lembranças. E é nesse infinito universo dos
devaneios que reencontra seu pai, sentado em sua casa no Beni, na pequena
localidade de Yacuma. Ali seu pai, cercado de flores, faz com um sopro, como
fez o Criador ao dar alma ao homem, surgir para ele os antigos reinos que hoje
já não mais existem.
De
que nos fala a poesia de Carvalho Oliva? Das grandes civilizações imaginárias,
das culturas poeticamente consideradas. Mas fala-nos também de uma história
concreta, tão concreta quanto pode ser o real pensado ou como as várias
dimensões do real o são. Fala-nos de reinos que muitos consideram fantasiosos,
como a Lemuria, a Atlântica, a Thule e
... o Eldorado. Fala-nos de seus homens, suas relações, de um ambiente social
imerso na floresta com a qual forma sua unidade, como que em simbiose. [...] É
uma poesia da gênese ao descrever a ocupação primeva do homem nessas terras.
Tão incipiente que quando os incas vieram do altiplano para intentar dominá-las
perceberam então que tudo ali era novo. Chamaram-na então Terra Nova (musus em
quéchua). Como a terra era nova, e o homem primevo, foram nela revelados também
pela primeira vez os nomes das árvores e dos animais. [...] Essa eterna
esperança de permanecer nos reinos dourados, à Terra sem Males, somente é
possível porque está contida em cada um daqueles que descendem de homens e
mulheres que possuíam um coração muito além do próprio coração. Os movimas,
mojenhos, sirionós, itonomas, canichanas, cavinenhos, chacobos, baures,
cayubabas, chimanes, pacaguaras, otuquis, pausernas, yuracarés e muitos outros
até além do rio Amazonas.”
O ensaio que segue foi elaborado para ser apresentado na cerimônia de abertura do Seminário Integrado de Ensino e Pesquisa e a Semana de História –
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