Sexta-feira, 7 de agosto de 2015 - 08h25
O escritor Carlo López Vaca, presidente de sociedade congênere à nossa, situada na cidade de Guayaramerin, na Bolívia, urbe fronteira às margens que compartilham do caudaloso rio Mamoré, lançou recentemente seu mais novo livro intitulado “Antologia Poética de Guayaramerin”. Segundo o autor:
“O departamento do Beni, mais especificamente a cidade de Guayaramerin, tem inspirado a todos que possuem veia poética e dedicado belas odes exaltando não somente a beleza da mulher guayarina, mas também a hospitalidade de sua gente e além disso teve a inspiração para cantar-lhe a vida e a natureza.
Esta obra somente quer resgatar aqueles versos que exaltam a beleza natural desse jardim paradisíaco que marcou profundamente aqueles que se sentem orgulhosos de serem guayarinos ou que adotaram, como sua pequena pátria esta pujante cidade portenha. Todavia, quis mostrar também aquelas obras poéticas ricas de inspiração que não se referem a Guayaramerin, pois foram escritas com esse véu que envolve com um manto mágico a todos que, ainda que brevemente, passaram por Guayaramerin.
O que pretende essa antologia é mostrar ao Mundo que por este solo passaram muitos poetas inspirados que deram o melhor de si. Auguro que, de certo modo, sirva ela de reconhecimento e prova de gratidão a todos aqueles que sentem que pelas suas veias, mais que sangue, corre o néctar da inspiração poética, com o qual cantaram suas belas mulheres, mais belas que um raio de sol nas margens do majestoso Mamoré.
É meu maior desejo que, com a mesma paixão com que elaborei essa obra seja também ela acolhida por todos os amantes da literatura, sobretudo aqueles que possuem alma de poeta.”
Carlos Lopez Vaca, Guayaramerin, 2015.
Transcrevo abaixo o prefácio, que a pedido do autor escrevi em 2013 para a Antologia Poetica de Guayaramerin:
“Convidou-me o ilustre intelectual beniano Carlos Lopez Vaca a prefaciar a sua mais recente obra intitulada Antologia Poetica de Guayaramerin. Devo aqui agradecer a tão subida distinção e declarar que tentarei colocar-me à altura dela.
Primeiramente falarei um pouco sobre o autor. Conheci Carlos Lopez faz alguns anos e não por acaso, mas pelo interesse comum que nos desperta a História da Amazônia, dessa Amazônia fronteiriça, boliviana e brasileira particularmente. Estava eu em Guayaramerin e dispunha-me, diferentemente de muitos de meus conterrâneos, a comprar livros de autores bolivianos, ao invés de adquirir esses importados que tanto fascínio exercem sobre as pessoas.
Num dia de domingo, já hospedado em um balneário dessa cidade, passei a ler um desses livros e observei que o autor havia citado uma modesta obra de minha autoria. Perguntei à atendente do balneário se conhecia o autor daquele livro e respondeu-me que sim, que sempre ia àquele estabelecimento e que se eu quisesse ela poderia telefonar para ele. Aceitei a simpática oferta da moça. Entramos em contato telefônico onde agradeci a citação, convidei-o a almoçamos juntos e conversamos muito.
Vieram os encontros da Fronteira, promovidos pela Academia Guajaramirense de Letras (AGL), pela Sociedad de Escritores de Guayaramerín, pela Sociedad Cultural y Literaria “Guayaramerín” e pela Academia de Letras de Rondônia (ACLER). Esses encontros garantiram a consolidação da amizade. Depois conheci seus dois filhos, o médico Saul e a advogada Amélia, contaram-me da origem humilde de seu pai e do orgulho que sentiam por ele ter se tornado um intelectual autodidata. Percebi então que isso também temos em comum, nossa origem, refletida nos seguintes versos:
Mejor un pedregoso caminho
de una dolorosa existência
que el florido atajo
de una enganosa mentira
Tipógrafo de profissão sabe trabalhar as letras tanto em sua materialidade como no seu sentido mais abstrato. Além disso, Carlos Lopez é desses intelectuais atuantes. Presidente da Sociedad Cultural y Literaria “Guayaramerín” é também acadêmico da Academia de letras de Rondônia (ACLER).
Carlos Lopez é daqueles escritores multifacetados. Autor de inúmeras obras sobre a história, como a Historia de GuayaramerÍn, de ficção, como a novela Como dedo tras la oreja, brinda-nos também com sua verve poética em trabalhos como La vida es poesia, Poemas em rojo y negro e Arco íris poético. E é sobre esse gênero que Carlos Lopez generosamente se debruça para compilar uma antologia dos melhores poetas de sua terra.
Essa poesia atávica, herança de uma natureza pródiga em inspirações. Essa poesia amazônica que tanto amamos, desfrutamos em muitos momentos de magistral inspiração no livro que ora prefaciamos.
Da terra e da vida que, como disse o imortal poeta português Camões “a antiga musa canta”, cantarão também as musas inspiradoras desses contemporâneos poetas guayaramirenses. Cantarão a terra, como Carlos Lopes:
A orillas del Mamoré
hay un hermoso jardin,
que gustoso le mostrar é
se llama guayaramerín
Cantam aos sentimentos nobres, como Gerson Fernandes a gratidão homenageando uma mestra:
No comprenden que la escuela fue su vida
Su família, su meta, su ambición
Le ha dejado juventude, dicha vivida
Y em cada aula um pedazo de su corazón
Cantam a natureza, o amor, as festas, o pitoresco e o engraçado. Sobretudo cantam aquilo que temos em comum, pois a poesia acorrenta-nos em uma prisão da qual não podemos fugir que é a nossa própria humanidade. Doce cadeia, nos faz compartilhar dos mesmos sentimentos independentes da língua e da pátria. Assim é que senti um enorme prazer ao ler as poesias desse maravilhoso livro. Identifiquei-me com elas e, por extensão, com seus autores. Gostaria de citá-las todas, mas temo tornar-me enfadonho, deixo que o leitor interessado procure.
Com que alegria escrevi esse prefácio, certo de que é mais um passo para a união e o intercâmbio permanente entre nós, escritores da fronteira, bolivianos e brasileiros, que deveremos em futuro próximo desfrutar. Aos professores e jovens de Guayaramerín ouso uma recomendação, leiam essa obra, desfrutem dos poetas de vossa terra, eles vos ajudarão a amá-la ainda mais. Encerrarei esse prefácio com a poesia de Daboberto Subirana, pois lembra o sentimento que inspirou-me a escrever esse prefácio:
Cuando trates a um amigo
hazlo siempre con franqueza
procura que sea contigo
la expresión de la certeza
Porto Velho, 07 de agosto de 2013.
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