Quarta-feira, 1 de julho de 2015 - 17h01
Por Dante Ribeiro da Fonseca
A História dos jornais do Brasil é anterior à História da imprensa no Brasil. Isto porque os primeiros jornais produzidos para a circulação em nosso país foram impressos no estrangeiro. Como explicar esse fato? Diz-se que era proibida pelo governo português a manutenção de oficinas gráficas no Brasil. O jornalista Matías Molina, que no presente ano publicou sua “História dos jornais no Brasil: da era colonial à Regência”, declara que duas razões impediam a existência de oficinas gráficas nessas terras tupiniquins: primeiramente evitar a concorrência com as gráficas instaladas em Portugal e em segundo lugar a possibilidade de melhor controlar (e censurar quando fosse o caso) daquele país os impressos com destino ao Brasil. A primeira oficina gráfica de que se tem comprovação foi instalada pelo português Antonio Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro em meados do século XVIII. Após imprimir várias obras foi ordenado pelo governo português que ele desmontasse sua oficina e a transportasse para Portugal. Curiosamente, Matias Molina não encontrou: “[...] nenhum documento nos arquivos de Lisboa proibindo a instalação de tipografias no Brasil no início do período colonial. (p. 36). Isto permite-nos supor que não havia uma lei específica que proibisse a instalação de oficinas gráficas no Brasil, mas que essa proibição se dava na prática.
Daí porque os primeiros jornais do Brasil foram impressos no exterior. Embora participem da proto-história de nossa independência e de nosso jornalismo é importante que façamos o registro deles. O primeiro jornal que conhecemos foi o “Correio Braziliense” cujo primeiro número foi impresso em Londres em junho de 1808. Lembro que em março de 1808 a corte portuguesa chegou e instalou-se no Rio de Janeiro, passando o nosso país a ser sede do governo português. Foi então criada no Rio de Janeiro a Imprensa Régia. Em setembro do mesmo ano surgiu a “Gazeta do Rio de Janeiro”, jornal não oficial apesar de ser impresso na Imprensa Régia no Rio de Janeiro. É que a Imprensa Régia aceitava também encomendas de particulares, além de publicar os atos oficiais de governo. Circulou, como o primeiro jornal, até 1822.
Na Amazônia 13 anos depois, em 1821, passou a circular a “Gazeta do Pará” (Belém), primeiro jornal que encontrei dirigido a essa região, embora elaborado e impresso em Lisboa. Explica-se porque em Lisboa, já que existia a Imprensa Régia no Brasil naquele momento. É que os contatos da Amazônia com Lisboa sempre foram mais eficientes do que com o Rio de Janeiro por questão de proximidade e facilidades náuticas. Há sobre esse jornal uma menção publicada na obra “O Jornalismo – Esboço Histórico da Sua Origem e Desenvolvimento Até aos Nossos Dias ampliado com a Resenha chronologica e alfabética do jornalismo brasileiro desde 1808 a 1900” de Alberto Bessa, publicada em Lisboa em 1904, mencionada nos “Annaes da Imprensa Periódica Brazileira” e também nos catálogo “Jornais PARAoaras” publicado em Belém em 1985.
Em Belém também circulou “O Paraense” entre 1822 e 1823. Substituiu-o “O Luso Paraense”, criado no mesmo ano em que finou o primeiro. Comungaram ambos os propósitos jornalísticos e políticos, de defesa da manutenção dos laços entre o Brasil e Portugal, ante as proposições separatistas que finalmente vingaram com a Independência. Assim é que ostentava “O Paraense” em sua primeira página o escudo de armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Refletiam esses jornais a reação da elite vinculada a Portugal na província do Grão-Pará, contrária à Independência do Brasil. De fato, foi a última província brasileira a reconhecer a Independência e fazer parte do Império do Brasil em 1823. Ainda assim, o fez sob a mira dos canhões de Lord Grenfell, enviado por D. Pedro I para submete-la.
A capitania de São José do Rio Negro, atual Amazonas, somente foi emancipada em 1850, quando da criação da província do Amazonas, às vésperas do início do Primeiro Ciclo da Borracha. Em 3 de maio de 1851 surgiu o primeiro jornal dessa província o “Cinco de Setembro”, tomando no ano seguinte o título de “Estrella do Amazonas”, que circulou até 1866. Também há menção em alguns artigos ao jornal “A Província do Amazonas” que iniciou a circular em 1850 e era impresso fora daquela província. Contudo, não conseguimos ainda obter maiores informações sobre esse periódico.
São eles os primeiros títulos da incipiente atividade jornalística na Amazônia. Em “A Tarde”, edição de 19 de fevereiro de 1939, o jornalista Raul de Azevedo publicou um artigo no qual afirmava: “A imprensa, dentro do Amazonas, e fora de Manaus, sempre foi pobre.” De fato, podemos dizer que naquele estado a atividade jornalística somente passa a crescer significativamente a partir da segunda metade do século XIX, com a explosão do surto gumífero.
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O ensaio que segue foi elaborado para ser apresentado na cerimônia de abertura do Seminário Integrado de Ensino e Pesquisa e a Semana de História –
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