Quinta-feira, 28 de março de 2019 - 10h39
, Bagé, RS, 27.03.2019
“Dificilmente haverá personalidade mais rica e mais completa
do que a do Presidente Castello Branco, que aliava a energia do chefe à visão
do estadista. Era dos que conservavam autoridade inata, embora havendo bebido o
leite da ternura humana”. (Luís Viana Filho)
Revista O Cruzeiro, n° 000
Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 10.04.1964
Saber Ganhar
(David
Nasser)
A |
gora, eles sabem que a sua espada não é de pau, meu velho Capitão, e eu volto o pensamento até aquele quarto da casa paulista, onde as suas mãos trêmulas escreviam a história deste País, dizendo-me. “Péter pius haut que son cul”.
A |
gora, eles sabem que a sua doença democrática só tinha este remédio. Deputado João Calmon, quando você, na sua admirável teimosia, recusava todo e qualquer acordo e desfraldava a bandeira suicida. Se teríamos que morrer vergonhosamente amanhã, que morressemos com honra, hoje.
A |
gora, eles sabem que as suas palavras não eram simples
filigranas verbais. Governador Carlos Lacerda, homem afirmativo, líder másculo,
democrata autêntico, brasileiro enlouquecido de amor à sua Pátria – e que se
desesperava ao vê-la conduzida ao curral das nações arrebanhadas. Meses a fio,
exposto na primeira linha, combatente de vanguarda, sabendo que a cada esquina
um novo perigo o esperava, você, meu bravo companheiro, só teve um
guarda-costas: Deus. O capanga divino, que com a sua infinita sabedoria
enguiçava o carro do Faz-Tudo, iluminava o espirito dos coronéis, cobria de
lucidez a decisão dos pára-quedistas, evitava a sua eliminação, o caminho
aberto, supunham eles para a fácil conquista de um resto de Pátria. Mas eles estavam
enganados, sempre estiveram enganados, continuam enganados. Nenhum de nós era essencial,
qualquer de nós, bem ou mal, seria substituído, mesmo você, grande e insubstituível
Carlos Lacerda. Não se matam ideias.
A |
gora, eles sabem que a sua intransigência democrática
jovem Adhemar de Barros, moço governador de uma terra indomável, agora eles sabem
que a fé o rejuvenesceu, o espírito de luta o retemperou, e você, moço Adhemar,
sejam quais forem os erros do passado, a todos redimiu na bravura de sua última
jornada. Mil vezes você, com todos os pecados, Adhemar, diabo velho! Mil vezes
você que aquele falso honrado, Jânio Quadros, até agora escondido debaixo da
cama, à espera de que a última cidadela se renda, que o último homem se defina.
Ah, tivéssemos nós ensarilhado as armas, tivéssemos nós tido piedade dos
canalhas, tivéssemos nós permitido com o nosso silêncio que eles voltassem – e
quem se encontraria, agora, no governo de São Paulo? A cachaça cívica, o fauno
de Adelaide, o entreguista Jânio Quadros, responsável primeiro pela guinada do
Brasil para o Oriente, aliado dos comunistas, traidor de sua Pátria. Graças a
Deus à Providencia de que nos fala Adhernar, como o instrumento divino, foi
buscar no museu dos canastrões, o canastrão maior – você, velho, passado,
cansado, desonrado, reabilitado, contestado, esquartejado, encarcerado,
processado, libertado, envergonhado, ressuscitado, reabilitado – e agora nunca
demais exaltado Adhemar de Barros. A História, se alguma verdade houve no
balanço dos seus erros, a história o passou por seu banheiro carrapaticida. E o
futuro o julgará pela importância de sua luta na redemocratização de sua
Pátria.
A |
gora, eles sabem que a sua coragem não se conta pelos fios de cabelo, ó indecifrável Magalhães Pinto, mineiro silencioso, patriota humilde, General sem farda de um dos movimentos mais perfeitos da história revolucionária. O Brasil nunca se esquecerá que o primeiro grito foi seu, o primeiro gesto de um “ballet” inesquecível, o primeiro passo da longa marcha democrática.
A |
gora,eles sabem que os três anos de silêncio do General Mourão não significavam três anos de capitulação, mas três anos de conspiração, três anos de prudência, três anos de silêncio – para o grande despertar da nacionalidade. Alguns Generais que pareciam anestesiados – hoje o sabemos – estavam apenas de vigília. Luiz Guedes, Castello Branco, Costa e Silva, Décio Escobar, Correia de Melo, tantos Generais, tantos Brigadeiros, tantos Almirantes jurados na intransigente defesa da democracia brasileira.
A |
gora, eles sabem que aquelas medalhas exibidas pelo General Amaury Kruel não eram de lata nem foram conquistadas noutro campo que não fosse o de honra. Eles sabem, meu bravo Kruel, que, acima de sua fidelidade a um homem, você colocava a lealdade à sua Pátria ameaçada por um bando de canibais políticos.
S |
abíamos, todos que estávamos na lista negra dos apátridas – que se eles consumassem os seus planos, seríamos mortos. Sobre os democratas brasileiros não pairava a mais leve esperança, se vencidos. Uma “razzia” de sangue. vermelha como eles, atravessaria o Brasil de ponta a ponta, liquidando os últimos soldados da democracia, os últimos paisanos da liberdade. Onde estaria Carlos Lacerda a esta hora? Onde estariam Adhemar, Calmon, Armando Falcão, Castello Branco, Mourão, Gustavo Borges, Anísio Rocha, Alkimin, Magalhães Pinto, Ney Braga, Costa e Silva, Décio Escobar, tantas, tantas vozes e tantas espadas que não se calaram, não se embainharam em todos esses longos meses da comunização do Brasil? Se outros fossem os vencedores, não haveria contemplação.
A |
virtude da democracia está em saber ganhar. Em seu nome, em nome da Democracia, não se pode permitir que a injustiça se pratique em nome da justiça. que sejam anulados, sem processo legal, os mandatos populares, que a Constituição seja rasgada em nome da Constituição.
T |
odos sabem o despreso vegetariano que voto a certos homens que compunham o cerne desse Governo que caiu. Mas – advertiu na sua cristalinidade política o próprio Governador da Guanabara – um democrata autêntico não odeia um homem, odeia uma ideia. Odeia, não a figura ridícula de um Ministro comendo feijoada e bebericando enquanto a lama corria sob os pés de um regime vilipendiado. Odeia, não os gestos febris de um adolescente político saído de uma taba espiritual para a Casa Civil da Presidência. Odeia, não aquelas figuras tenebrosas do CGT ([1]), aqueles pobres moços ensandecidos da UNE ([2]), aqueles sargentos equivocados, mas tudo o que a ideia que eles defendiam, honesta ou estupidamente, representava.
N |
ão é porque eram criminosos, que em criminosos vamos nos transformar. Não é porque representavam o totalitarismo, a radicalização, o que de mais vergonhoso, mais sórdido, mais brutal e mais brasileiro pudesse existir no Brasil que devemos nós, os democratas, pedir-lhes as armas e às usar com a mesma ausência de liberalidade democrática. O que nos diferencia deles é justamente isto. O mesmo que diferencia a carniça que eles são do abutre que não somos.
N |
ão significa que os criminosos não devam ser punidos nem os responsáveis irresponsabilizados. Significa que cada um pague pelo que fez, não pelo que foi. Ninguém tem culpa de ter sido Ministro de um Governo legalmente eleito, constitucionalmente organizado. Ninguém tem culpa de ter sido Ministro de João Goulart, nem mesmo o Senhor Abelardo Jurema.
O |
que me enoja não é ver os ratos fugirem do navio que se afunda, mas aqueles que ontem lhes comiam a comida, ajudar a matá-los.
P |
arte o Senhor João Goulart para Porto
Alegre, para o Uruguai, para a Espanha, sem o meu ódio. Nunca consegui odiá-lo
– e até hoje – permita-se a um adversário de suas ideias e de seus métodos confessar
após o crepúsculo de um deus que tinha os pés de barro – não o consigo odiar.
Vejo-o ainda, no seu pequeno trono do Alvorada, como um pobre homem, incapaz
de governar, de distinguir amigos de aproveitadores, inimigos de oponentes
C |
aiu porque em seu espírito engarrafado pela mediocridade mais positiva deste País, nunca deixou de existir o estancieiro que contava os aliados como quem conta o gado no curral.
C |
aiu porque acreditou que aqueles que lhe faziam planos de continuismo, acenando com o poder sindical, com o dispositivo militar, acreditavam no que diziam. E lutariam por tudo aquilo que o Senhor João Goulart acreditava. Mas o Senhor João Goulart não acreditava realmente em nada. A não ser na sua boa estrela, que era a estrela vermelha.
R |
ecuso-me a pisar sobre os cadáveres morais desses homens sobre os quais, com o risco da própria vida, dentro das limitações que me eram impostas par uma organização que eles ameaçavam destroçar, tantas vêzes caminhei pela estrada que nos conduzia ao imprevisto de um fim melancólico ou de uma liberdade sonhada.
N |
ão será em nome dessa liberdade conquistada que iremos tripudiar sobre os vencidos. Aqueles que eram comunistas, continuarão a sê-lo, talvez com menos esperança. Aqueles que eram os pobres enganados dessa República – talvez abram os olhos, se os vencedores não procederem com a mesma fúria, o mesmo despotismo, a mesma insensibilidade daqueles que nem por isto deixaram de ser brasileiros e possivelmente democratas equivocados. A compreensão e a justiça talvez os ajudem a abrir os olhos.
W |
ilson Figueiredo conta que, em plena ocupação do velho órgão da Condessa, um fuzileiro pediu para telefonar para a mulher a quem não via há três dias de longa e sofrida prontidão. Não apenas deixaram o invasor telefonar, mas lhe serviram um cafezinho bem brasileiro. Nesse momento, também, o Brasil estava voltando a ser brasileiro.
P |
ois é esse cafezinho brasileiro que devemos servir aos que erraram por acreditar demais ou erraram por acreditar de menos. Respeitemos as suas famílias, as suas ideias falsas, e apuremos apenas os possíveis crimes. A menos que voltem a ser inimigos, a se se constituirem em vírus vivos – os inimigos vencidos deixam de ter nomes.
Um Milhão na Marcha com Deus na Vitória
(Texto:
José Belém Fotos: José Belém,
Geraldo Viola, João Fontes e Hélio Passos)
Cerca de um milhão de pessoas compareceram à “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”,
na tarde do dia 2 de abril. A foto mostra a enorme massa humana concentrada em
frente ao Ministério da Fazenda. Nunca houve manifestação igual. Nunca houve
deter-minação igual.
Jamais se viu tanta gente nas ruas do Rio, de tôdas as
profissões, de todos os credos religiosos, de todas as categorias sociais,
irmanada nos mesmos propósitos: defender a família, os princípios cristãos do
nosso povo, a liberdade do Brasil.
Liberdade que havia sido conquistada algumas horas
antes por uma revolução democrática e popular. Um milhão de pessoas comemorou,
então, a vitória da causa brasileira.
A Marcha Marcada Para Conquistar a Liberdade Comemorou a Liberdade Conquistada
O |
povo carioca atendeu ao chamado dos que pediam sua
presença maciça às praças públicas, na “Marcha
da Família com Deus pela Liberdade”. Um milhão, aproximadamente, de
cariocas, fluminenses das cidades vizinhas e representações dos Estados mais
próximos [como uma comitiva de doze mil pessoas de Petrópolis], reuniu-se, um
dia após o término da grande crise nacional, numa das maiores demonstrações
populares já vistas no Rio.
A ausência completa de qualquer policiamento ostensivo
deu a nota de pacifismo que caracterizou a Marcha. Os poucos policiais
presentes, da Polícia Militar do Estado da Guanabara, montados em cavalos e
portando bandeirolas, mais pareciam ter ido à praça pública para receber os
aplausos intermináveis da multidão, que neles via os representantes dos
defensores do Palácio da Guanabara durante a crise. Os cavalarianos, ao
chegarem à esquina das Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas para abrirem o
desfile que se deslocou para a Praça do Expedicionário, em frente ao Ministério
da Fazenda, Já encontraram a Avenida Rio Branco totalmente tomada, até a
esquina da Avenida Almirante Barroso, com o povo se dirigindo para o local da
manifestação.
Representantes de diverisos credos [católicos,
ortodoxos, umbandistas, protestantes, espíritas etc.] levaram sua palavra de
apoio à Marcha, bem como outros oradores. A cada momento era anunciada a
chegada de personalidades, como o Marechal Eurico Gaspar Dutra, Marechal
Magessi, Presidente do Clube Militar, Marechal Mendes de Morais, Monsenhor
Francisco Bessa, secretário e representante do Cardeal Câmara, as esposas dos
Govemadores Carlos Lacerda e Correia da Costa.
Ocupavam o palanque também os Deputados Raul Brunini,
secretário sem pasta da Guanabara, Levi Neves, Gama Lima e outras
personalidades. Após o discurso da Presidente da Camde [Campanha da Mulher pela
Democracia] e organizadora da Marcha, os alto-falantes anunciaram a chegada do
General Olímpio Mourão Filho, comandante das tropas mineiras rebeladas e que
acabava de chegar ao Rio.
De braços abertos e braços levantados, os dedos
formando o “V” da Vitória, o General
Mourão Filho dirigiu-se ao povo, que o aplaçdiu demoradamente.
Solicito publicação
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul
(1989)
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com;
Blog:
desafiandooriomar.blogspot.com.br
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Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H