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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Uma Breve História da Amazônia que Conheci e Vivi


Brasil-Politico (IBGE) - Gente de Opinião
Brasil-Politico (IBGE)

Porto Alegre, RS, 19.03.2025

 

Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo.

 

Uma Breve História da Amazônia que Conheci e Vivi

(Cel Eng Higino Veiga Macedo) 

Tentarei registrar o que vi e o que deduzi da minha vivência amazônica. Fugirei, no possível, de definições legais, para registrar o meu ponto de vista e minha visão. Portanto, no que puder ficarei nos comentários da Calha do Rio Amazonas e não penetrando na parte alta a do Planalto Central, grande divisor de águas das do Amazona e do Prata e São Francisco. Passo de passagem pelo “Nortão de Mato Grosso”, particularmente no paralelo 13° (hoje limite Goiás/ Tocantins) para o Norte. Usarei o termo “MATA” para se referir à vegetação, como fazem os Índios e caboclos. Floresta sempre é dita por quem nunca esteve por lá e a estuda pelos mapas e copiaram o nome floresta dos livros. A Imagem 01, mostra grosso modo a área que pretendo navegar. Este trabalho tem por finalidade apresentar o que existe e como foi legalmente formado por sua Caraterização da Área e deixar a proposta de uma melhor caraterização mais adequada com as características particularizadas que a área contém. Propor ainda a elevação do Arquipélago de Marajó a situação de Estado Federativo, aparelhando antes com a criação de Território Federal. 

Caracterização Atual da Área 

Amazônia Legal (wikipedia) - Gente de Opinião
Amazônia Legal (wikipedia)

Ao olhar um mapa da Amazônia Legal (Imagem 02), sem entrar em méritos de biomas, matas, cerrados, mata de transição..., ressalta a calha do Rio Amazonas e seus afluentes, espremidos pelo Planalto Central e a Cordilheira ou Planalto das Guianas. Em linguagem estradeira, parece uma enorme ravina de água perene a descer dos Andes e terminar no Mar. Essa Amazônia Legal compreende a Região Norte e, para o Sul, “pelas áreas do Estado de Mato Grosso a Norte do Paralelo de 16°, do Estado de Goiás a Norte do Paralelo de 13° e do Estado do Maranhão a Oeste do Meridiano de 44°” (Lei n° 5.173, de 27/10/1966). E esse “ao Norte do Estado de Goiás” é, hoje, o Estado do Tocantins, pertencente à Região Norte. 

Estabelecida pela Lei n° 5.173, de 27 de outubro de 1966: 

A Amazônia Legal está dividida em Amazônia Ocidental e Amazônia Oriental. A divisão foi criada pelo Decreto-lei 356/68 de 15 de Agosto de 1968. É limitada pela direção Norte-Sul desde as divisas Roraima/Guiana e Amazonas/Pará até a linha limite desses dois com Mato Grosso. Segundo o decreto, a Ocidental constitui-se dos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima Já a Amazônia Oriental é definida por exclusão: Amapá, Pará e as partes do Maranhão e de Mato Grosso.

Link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amaz%C3%B4nia_Legal 

Nesta área cabe quase toda a Europa Ocidental. Veja o quadro em Km2: 

Alemanha

Bielorrússia

Bulgária

Espanha

França

Finlândia

Grécia

Hungria

Itália

357.021

207.600

110.910

504.782

547.030

337.030

131.940

93.030

301.230

Islândia

Noruega

Polônia

Portugal

RUnido

Romênia

Suécia

Ucrânia

X

103.000

386.433

312.685

92.391

244.820

237.500

449.964

603.700

X

SOMA = 5.021.066 Km2

ÁREA DA AMAZONIA LEGAL = 5.015.146 Km2

 

Link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_europeus_por_%C3%A1rea 

Como lustração, dados resumidos meus, de palestras particulares, sobre Amazônia Legal: 

– 5.015.146 de Km2 de matas contínuas; 58% do Território Brasileiro; – Abrange 3 fusos horários; Distâncias: – N/S = 2.000 Km e E/W = 3.000 Km; – Fronteiras terrestres: 11.248 Km; Contêm a participação de 9/27 dos Estados Federativos. 

Ultimamente estão “desconstruindo” o significado de Pan Amazônia. Passaram a usar o termo AMAZONIA INTERNACIONAL para que se acostume com a ideia (hegemonia cultural gramscista) de que toda a área pertence ao mundo e não aos Países que a detém por soberania. A Pan Amazônia envolve os Países que têm a mata em condomínio amazônico e foi concebido por um Tratado - O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) assinado em Brasília, em 3 de julho de 1978, pelos oito Países amazônicos: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. É um instrumento jurídico de natureza técnica. A desconstrução cria um ressignificado de “importância menor” para o “espaço vital” da Amazônia Legal, área inteiramente Brasileira. Apenas para esclarecer: – há dúvidas acerca da inclusão de partes de Estados “fora” da Região Norte nessa criação da Amazônia Legal. Acontece que ela não foi criada baseada na divisão geográfica do País e sim no projeto de ocupação e desenvolvimento da economia. E, como seria cortada por BR, teria a infraestrutura para povoamentos, fronteiras agrícolas e outros meios de desenvolvimento “na faixa de cem quilômetros de largura, em cada lado do eixo das seguintes rodovias já construídas, em construção ou projetadas” – (Art. 18; Lei n° 5.917, de 10 /09/1973).

 

Minha Proposta Para Caracterização da Amazônia Legal 

Aproveitando o contido no Decreto-lei 356/68, para facilitar a melhor caracterização da área, proponho ligeira modificação ou adaptações nos documentos oficiais que definiram a Amazônia Legal e Amazônia Oriental/Ocidental. Para isso: 

1) Usar a vertical Norte-Sul do decreto acima (separa a região no sentido Norte – Sul), divisa entre o Amazonas e Pará. Esses dois fazem limite horizontal com Mato Grosso tocando a ponta formada pelo conjunto: Rios Juruena e Teles Pires, formadores do Tapajós. A horizontal, norte de Mato Grosso, é prolongada até sair das áreas consideradas; 

2) Tomar o leito do Rio Amazonas, direção Tabatinga – Belém; 

3) E, considerando a formação de Amazônia Ocidental e Oriental, formar quatro quadrantes de Amazônia. Isso porque cada quadrante tem suas características e peculiaridades que são solo, subsolo, vegetação e fauna distintos. 

Ver Imagem 03 - proposta.

Amazônia Legal (IBGE) - Gente de Opinião
Amazônia Legal (IBGE)

O que Conheci e Vivi 

Para explicar o que conheci e vivi e, também, o que aprendi, a dita Amazônia Legal é dividida em quatro quadrantes sendo, cada um, um universo diferente. 

Quadrante I 

Região Noroeste do Amazonas e Roraima, a partir do Norte da Calha. 

Área completamente selvagem com baixíssima população, incluindo Indígenas (anecúmeno). Terreno acidentado, com muitas serras indo até o Pico da Neblina, o mais alto do Brasil. É rico em minerais raros e diversos e, por isso, é pobre em vegetais alimentícios. A alimentação dos habitantes vem de fora. Aí se tem enorme dificuldade para alimento. Não sendo fértil, o solo também não tem frutos e raízes que possam alimentar animais selvagens. E, portanto, também não tem caça. Caminhando no mesmo raciocínio, também não tem peixe... É nessa região que inventaram os Ianomâmis, etnia Indígena que não existe ([1]). Apesar da pobreza de alimentos, a mata, pela elevada precipitação pluviométrica, chega ser exuberante e muito alta. Os Rios servem apenas como meio de locomoção. E é irrigado por enormes Rios, todos penetrantes até o Amazonas: Negro, Branco, Japurá e Iça. As águas do Rio Negro é preta por excesso de minerais. 

A BR 174 une Manaus / Boa Vista / Pacaraima e isso permite que Roraima tivesse algum fluxo de desenvolvimento, ao longo da BR. O solo de Roraima é pobre e comporta dois tipos de vegetação: a mata alta e o lavrado. No lavrado, alguns grãos já foram domesticados. Fora Roraima, nenhuma estrada corta esse quadrante embora haja previsão no Plano Viário Nacional (Perimetral Norte – BR 210). Há tema não bem estudado em Roraima: o Lago Parima que existiu, parece, no hoje lavrado roraimense. Mito ou falta de estudo? O Lago tem alguma relação com o muito procurado, pelos espanhóis, “El Dorado” sul-americano. Por experiência particular no local, e vários voos em aeronaves pequenas, inclusive helicóptero, visualmente a diferença de vegetação é algo gritante. Há alguma coisa no solo que fez de Roraima ter dois tipos de vegetação predominante. 

No quadrante a região é muito selvagem e inexplorada. A sobrevivência depende de algum extrativismo rudimentar e centenário. Há poucos dias uma Deputada Federal indígena denunciou a extração e venda, por ONG, do único alimento abundante: cogumelos específicos. Os Indígenas são subnutridos pela baixa alimentação. Há prognóstico de futuro com exploração mineral. Portanto, não há nenhuma condição de haver desmatamento e possibilidade de queimada. 

Quadrante II 

Região Nordeste do Pará, e Amapá a partir do norte da Calha. 

Esse quadrante é todo o Norte do Pará e o Amapá. Quadrante pouco irrigado por Rios e Igarapés. Tem parte que é de litoral, no Atlântico e contém imensos manguezais, incluído aí o arquipélago de Marajó. Sofrem fortes influências de marés. Entretanto, mais a Oeste, o relevo é bastante acidentado. O Amapá tem o suporte da BR 156 (compõe a Perimetral Norte com a BR 210) não distante da orla que permite ter agricultura insipiente. A BR chega até ao Rio Oiapoque, cujo Rio é a divisa com a Guiana Francesa. Tem os Rios Jari e Trombetas como seus maiores Rios, penetrantes até o Amazonas. Nesse quadrante é o local de maior exploração de minério da região como um todo na Serra de Tumucumaque. A parte do Pará, por falta de suporte rodoviário, não se tem avaliação de seu potencial agrícola. Os Rios são bastante piscosos. A mata já foi rica em caça. No quadrante a região pouco povoada tendo também um enorme anecúmeno. Portanto, não há nenhuma condição de haver desmatamento e possibilidade de queimada. 

Quadrante III 

Região Sul da Calha do Amazonas até o limite Sul do Pará, o Tocantins e a parte do Maranhão (pré-amazônia). 

Essa área é a de maior suporte rodoviário da Amazônia Legal. É entrecortada pelas BR 010, 156,153, 230, 256 e tantas outras estaduais implantadas e ainda não pavimentadas. Essa é a nova fronteira agrícola do Brasil, claro, junto com o “Nortão do Matogrosso”, cujas características de solo são iguais. Igualdade que abrange o Centro Oeste, no altiplano do Planalto Central do Brasil. Além da intensa agricultura de grãos, há ainda a crescente atividade de pecuária em pastos naturais, o que na atualidade classificam de alimentos orgânicos. Nesse quadrante a população não precisa do extrativismo primário pois tem alimentos em abundância de forma extensiva: agricultura e pecuária. A vegetação predominante é a do Planalto Central onde predomina o que no centro Oeste se chama de “Cerradão”, cerrado alto com matas exuberantes. Isso penetra do Mato Grosso para o Sul do Pará até se transformar na mata amazônica. É nessa região onde se perdeu o controle para se agricultar ao longo das rodovias com cem quilômetros de cada lado dos eixos (Art. 18; Lei n° 5.917, de 10.09.1973). 

A falta de controle e fiscalização, de governos ditos socialistas, mas com conivência marxista, permitiu abusos que dificilmente seriam corrigidos tanto pelos investimentos já feitos quanto aos assentamentos feitos por orientação ideológica sem respaldo técnico. Estão localizadas, perto de Marabá, as três as principais minas de minério de ferro em operação no Estado do Pará, localizadas na região de integração de Carajás, uma no Município de Parauapebas, outra em Curionópolis, e outra em Canaã dos Carajás. Este quadrante, hoje, é onde se dão os desmatamentos e queimadas tão ao gosto das gritas de ONG e grupos terroristas mascarados de sociedade civil organizada. É uma região bastante povoada, inicialmente controladas, pelos assentamentos agrícolas feitos pelo então INCRA. Como, nos ditos Governos Militares, os planos eram integrados, à medida que se implantavam as rodovias pioneiras, seguiam-se as análises e estudo dos solos e estudos dos locais para implantar os assentamentos. A decisão envolvia todos os Ministérios em particular: saúde, educação, segurança e apoio aos escoamentos e comercialização. 

Quadrante IV 

Região Sul da Calha do Amazonas até o limite Sul do Amazonas com Matogrosso, excluindo Rondônia e incluindo o Acre. 

A exclusão de Rondônia se dá pelo fato de todo seu Território ser semelhante ao Centro Oeste (Nortão de Matogrosso). Tanto no tipo de solo quanto no tipo de vegetação. A vegetação, ali predominantemente, é cerrado e cerradão. Este quadrante tem apoio em três BR: a 317, a 319 e 364. 

A BR 317, é bem curta e quase totalmente no Acre. Vai de Assis Brasil, AC, até Boca do Acre, AM. Ao seu longo foram dinamizadas cidades (Brasileia, Epitaciolândia, Acrelândia) e abertas inúmeras implantações de assentamentos, embora haja enormes restrições com o solo do Acre e de todo o Quadrante. Houve também aparecimento de grandes fazendas de criação de gado. Hoje o Acre em particular é auto suficiente em proteínas animal. Teoricamente, Boca do Acre seria um porto fluvial para escoar qualquer produção ao longo da BR. 

A 319, Porto Velho Manaus, em precário estado de trafegabilidade, por desleixo de conservação. Dado as caraterísticas de solo, o projeto de pavimento era de cinco anos com veículos de dois eixos e no máximo dez toneladas. Assim que os ditos Governos Militares saíram do Governo, o então DNER autorizou o uso de “carretas com vários eixos” e sem controle de carga por eixo. A balança em Porto Velho fora desativada, por pressão das transportadoras. As pontes de madeira, fora do eixo, foram destruídas pelo excesso de peso. A BR ficou intransitável por muitos anos. Eu usei essa BR, em 1976, antes da inauguração e fui, de férias, de carro, de Humaitá a Manaus. Ao longo da BR foram criadas projetos de assentamentos que foram abandonados. Os mais afoitos, pagaram caro por perderem seus investimentos em postos de gasolinas, restaurantes e outros apoios decorrentes. 

A BR 364, no caso deste trabalho, é o trecho que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul, no Acre. Vem asfaltada desde sua origem em São Paulo. Ao longo da BR, no Acre, foram criadas condições para poucos assentamentos do INCRA por questão da qualidade do solo. Entretanto foi possível domesticar alguns tipos de capim para criação de gado. 

Ao se referir a qualidade do solo, no Acre como em todo o quadrante, embora tenha uma mata exuberante, é por se tratar de solo de sedimentação, argiloso em grande profundidade, com diversos horizontes de solo, carregado de Caulim. Sem entrar em considerações de classificação de solo, eras geológicas e movimentos tectônicos que abrange todo o quadrante, (há intensa literatura sobre tais quesitos), sou testemunha de ter visto, quanto trabalhei em implantação pioneira, de encontrar nos cortes, horizontes de solos com restos de “conchas marinhas”. Nas proximidades de Manoel Urbano, o 5° BEC encontrou alguns fósseis que achávamos ser de dinossauro, mas ao ser remetidos à UFAC, após sua criação, foi identificado como fósseis de baleia. 

Todo o quadrante é de imenso vazio populacional. O solo é ruim para agricultura por ter sido fundo de mar. Depois de movimentos tectônicos que geraram a Cordilheira dos Andes, a região foi drenada pelo hoje Rio Amazonas para o Atlântico. Ao longo da BR 364 foram respeitados os limites de exploração de cem quilômetros do eixo. Este quadrante é apoiado por três imensos Rios de planície com fortes meandros. Todos, oriundos dos Andes peruano ou boliviano. São eles Madeira, que no início tem corredeiras; o Purus e o Juruá. 

No quadrante a região é muito selvagem. Foi muito rica em extrativismo de borracha e castanha. A sobrevivência depende de outros extrativismos rudimentares e centenário. Por ser solo sedimentar sem serras, não há riqueza mineral. Todo o quadrante não dispões nem de areia grossa. As poucas cidades, ao longo dos Rios não tem como usar concreto por não dispor de areia de boa qualidade (as que existem são de Rios e muito argilosas). Há que se fazer um intenso estudo para se domesticar algumas cultivares que se adaptem ao solo. As matas são de raízes rasas pela dificuldade de penetrar no solo; e mesmo que penetre, a argila dominante não lhe oferece nutrientes. Assim, o conjunto de árvores embora altas, vão se auto apoiando para não deitar devido ás raízes rasas. 

Portanto, não há nenhuma condições de haver desmatamento e possibilidade de queimada. Voltando a considerar toda Amazônia Legal, transcrevo de outro texto: 

[...] “A Zona de Convergência do Atlântico Sul, ZCAS na forma usualmente abreviada, é o principal sistema meteorológico do verão no Brasil responsável por um período prolongado de chuva frequente e volumosa sobre parte das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste” [...]. 

Parte do texto transcrito no começo, foi colhido do www.terra.com.br/noticias/climatempo. 

Portanto, a mata exuberante, o volume de água doce e o alto índice pluviométrico é por causas externas e não pela ação climática da região em si e por si. A condição climática é exógena e não endógena como alardeiam os ecologistas estrangeiros. Os quadrantes I, II e IV pela intensidade pluviométrica torna o solo lixiviado e de elevada acidez. Em trabalhos rodoviários, o ataque de ferrugem nos materiais rodante e de contato com o solo sofriam da intensa ação. A lixívia se dá quando da decomposição de vegetais, mas antes de atingir a plenitude, a água da chuva lava tudo e espalha a acidez. 

Rios e Suas Importâncias ([2]) 

Os Rios amazônicos, todos é claro na Amazônia Legal, tem suas navegabilidades em função das cheias e vazantes. Há dados estimados de que, ao todo, formam uma rede de 22 mil quilômetros. Ressalta-se ainda que as principais vias terrestres tem como “pontos obrigatórios de passagem” os pontos, a partir dos quais, tais Rios são navegáveis durante todo o ano. Os Rios da Bacia, na sua grande maioria nascem fora do Brasil. Alguns com largura e volume d’água que permitem navegação de grandes embarcações e até de defesa. Daí a necessidade de serem observados os Rios que permitem, numa linguagem militar, Direção Tática de Atuação (DTA). Na Imagem 05 se vê os pontos de fronteiras apoiado em rios. 

BR Amazônicas – Atendendo Um Plano Estratégico ([3]) 

Por que os ditos Governos Militares decidiram mobiliar a Amazônia com Batalhão de Engenharia de Construção? 

A “mobiliação” da Região Amazônica, com Batalhões de Construção, atendia ao I PND – Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento. Fazia parte do esforço da Integração Nacional. Na época já havia informações sobre interesses internacionais pela área, como sempre teve. Havia até um lema: “Integrar para não entregar”. O PND, que foram dois executados e um terceiro desprezado, era plano completamente integrado com os Ministérios com missões que lhes correspondiam. Assim, uma estrada, do Ministério dos Transportes, era integrada com ações dos Ministérios da Educação, da Saúde, da Agricultura, do Interior e a tantos quantos interessassem. Era o documento que estabelecia as “políticas nacionais” e orientava cada Ministério a estruturar suas “estratégias” específicas para atingir os objetivos estabelecidos pela política. O Ministério dos Transportes expediu também o seu plano. Bom, foi o Plano Nacional de Viação – PNV que estabelecia os grandes eixos de Rodovias Federais em particular as que adentravam na Amazônia, com previsão de usar, para colonização, as terras a cem KM dos eixos dessas rodovias. Mas essas rodovias foram concebidas, embora não claramente na legislação, por motivos óbvios, dentro de um conceito Estratégico Militar. As grandes veias rodoviárias deveriam cortar os grandes Rios nos pontos onde eles seriam navegáveis por balsas de grandes tonelagens (maior que mil toneladas). Nesses pontos, “ponto obrigatório de passagem”, instalou-se um BEC. No Rio Madeira, o 5° BEC; no Rio Branco, o 6° BEC; no Rio Juruá, o 7° BEC; no Tapajós, o 8° BEC e, no Rio Negro, o 1° BEC, que depois retornou à origem, deixando a 1ª Companhia em São Gabriel da Cachoeira. O que parece fugir à regra, mas não da concepção estratégica é o 9° BEC, pois não barrando (termo técnico militar) um grande Rio, barra duas estradas penetrantes na área Amazônica (BR-364 e BR-163). Estas unidades deveriam ser pioneiras de modo a criar as condições para o desenvolvimento regional. Elas foram instaladas antecipadamente, antes dos documentos citados (PND e PNV). Estimulariam a implantação das infraestruturas econômicas e sociais nas regiões, nas áreas urbanas e nas cidades albergues, pela sua presença ao construir rodovias. O 5° BEC foi o pioneiro, chegando em Porto Velho em 1966. Rondônia era um Território Federal. Assim tudo era Federal: funcionários, administradores, Polícia Civil, Guarda Territorial (equivalente à PM), professores e tudo o que fosse necessário para a administração. A grande empregadora de Porto Velho era a Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Estrada construída em função do Tratado de Petrópolis, entre o Brasil e a Bolívia que regularizou a questão do Acre. 

Ilha de Marajó ([4]) 

Sem entrar em detalhes de cultura, ocupação e toda a história do lugar, informações volumosas nas ferramentas de pesquisa da internet, sugiro que toda a área passe por outros meios de administração pública, diferente da atual. A região tem sido palco de condutas ilegais tanto nos aspectos psicossociais como nos de crimes por tráfico ilegal de drogas por facções criminosas. Localizada no Leste do Estado do Pará, Brasil, o arquipélago tem 295 km de comprimento e 200 km de largura, – Ilha de Marajó, Pará, Arquipélago, Belém Ilha de Marajó. (Wikipédia) 

Marajó não é propriamente uma ilha, mas um arquipélago formado por 2.500 ilhas, sendo a principal a Ilha de Marajó. As intercomunicações entre elas é difícil. A maior ilha é a de Marajó. Quase uma península em água doce. Com uma área de 40.100 km², é a maior ilha costeira do Brasil e a maior ilha “fluviomarítima” do planeta (banhada ao mesmo tempo tanto por águas fluviais quanto por oceânicas (Imagem 07), Ilha de Marajó. Todo o arquipélago tem área bem maior que Alagoas – 27.848; Sergipe – 21.925 e Distrito Federal – 21.925. É dividido em dezesseis Municípios distribuídos em duas regiões geográficas imediatas (Região Geográfica Imediata de Breves e Região Geográfica Imediata de Soure-Salvaterra). Confira os municípios em ordem alfabética:

 Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Muaná, Oeiras do Pará, Ponta de Pedras, Portel, Salvaterra, Santa Cruz do Arari, São Sebastião da Boa Vista, Soure. ([5]) 

A Proposta é permitir maior dinâmica administrativa no arquipélago. É um bioma muito pouco estudado. Carece de aprofundamento em estudo do agronegócio e pesquisa pela EMBRAPA sobre cultivares aptas para o local. Claro, há a criação intensiva de búfalos que já se tem conhecimento aprofundado. A primeira sugestão seria a transformação do arquipélago em TERRITÓRIO FEDERAL – Território Federal de Marajó. Capital – SOURE. Soure é considerada a Capital da ilha de Marajó, no Pará. É também o principal porto da ilha. 

Essa administração aparelharia o arquipélago para ser um futuro Estado. O Brasil tem bastante experiência em tais tipos de preparação. Particularmente convivi com o Território Federal de Rondônia. Estava lá quando dormimos Território Federal e amanhecemos Estado Federativo. Posteriormente, após aparelhado, passaria a Estado com todas as estruturas administrativas necessárias. Portanto, primeiro Território Federal de Marajó. Depois Estado do Marajó. Fonte: (Imagem 07) – Fonte: Sistema de Informações Territoriais – SIT, o MDA (BRASIL, 2016). 

Encerrando 

Essa é a Amazônia que levou treze anos de minha vida militar. Fui de uma geração privilegiada que conseguiu trabalhar em aberturas de estradas pioneiras, artérias que levavam o sangue do desenvolvimento a muitos lugares isolados; que comandou um Batalhão de Construção, transferindo-o para não o deixar extinguir; que já no final de carreira, por força da função, conheceu todos os Pelotões de Fronteira. Aliás, os Pelotões de Fronteiras nada mais são que réplicas das milhares de Colônias Militares implantadas pelos romanos e que no Brasil ainda os usamos. Os Pelotões procuram ter independência com plantações e criações. Claro, hoje conta com apoio da FAB para os alimentos básicos. O lema até hoje, nesses pelotões é: VIDA, COMBATE E TRABALHO.

 Causa tristeza quando falam do que não sabem e dão opinião no que não conhecem. Ao apresentar a área por quadrantes, e conhecendo bem a região vê-se que o Segundo Quadrante é o que mais sofre com desmatamento e queimada, mas é também onde se mais produz riqueza agrícola. Um é dependente do outro. Claro, atrelado ao Nortão do Mato Grosso e o restante do Centro Oeste, de onde vim. Vi uma Ilha do Marajó praticamente abandonada pelos órgãos públicos como se ali não fosse Brasil. Essa é a Amazônia que vi, onde vivi e conheci, muito bem. 

Higino

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

YYY Coletânea desafiando o Rio-Mar YYY

https://www.ecoamazonia.org.br/2022/05/projeto-desafiando-rio-mar/

 

YYY Coletânea de Vídeos das Náuticas Jornadas YYY

https://www.youtube.com/user/HiramReiseSilva/videos

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

E-mail: hiramrsilva@gmail.com



[2]    Imagens 04 e 05.

[3]    Imagem 06.

[4]    Imagem 7 – Arquipélago de Marajó - Wikipédia, a enciclopédia livre.

[5]    Lista de unidades federativas do Brasil por área – Wikipédia, a enciclopédia livre.

Galeria de Imagens

  • Rios da Amazônia (toda matéria)
    Rios da Amazônia (toda matéria)
  • Fronteiras apoiadas em Rios (toda matéria)
    Fronteiras apoiadas em Rios (toda matéria)
  • Rodovias (google)
    Rodovias (google)
  • Arquipélago de Marajó (Wikipédia)
    Arquipélago de Marajó (Wikipédia)

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