Sábado, 2 de setembro de 2017 - 17h04
Forte Coimbra
Hiram Reis e Silva (*), Bagé, RS, 30 de agosto de 2017
08.08.2017 (Forte Coimbra)
A alvorada magnífica permitia vislumbrar ao longe, ainda imerso no nevoeiro, aquele bastião monumental erguido pela férrea determinação de Ricardo Franco. Na chegada ao Forte Coimbra fomos gentilmente recepcionados pelo Cmt da 3° Cia Fron Cap Glauco Viana Coitinho que nos acompanhou, pela manhã em uma visita ao Forte. Para entendermos melhor o contexto que levou oCapitão-General Caetano Pinto de Miranda Montenegro, ao assumir o Governo da Capitania do Mato Grosso, a nomear como Comandante da Fronteira Sul o Tenente-Coronel Ricardo Franco vamos reportar o Capítulo II, da Sexta Parte, do livro do Gen Raul Silveira de Mello.
SEXTA PARTE
II CAPÍTULO
RICARDO FRANCO ENCONTRA FRAGÍLIMA
A DEFESA DE COIMBRA E DA FRONTEIRA SUL
A paliçada construída por Matias Ribeiro da Costa, em 1775, era uma obra de emergência. Os outros Comandantes, até 1797, nada mais fizeram do que retocá-la e melhorá-la, sem nada adiantar quanto ao seu valor defensivo. A crosta terrosa do sítio em que fora construída media uns dois palmos de espessura e assentava diretamente na rocha, de tal sorte que as estacas, mal firmadas, podiam ser derrubadas com um murro, como dissera o Major Joaquim José Ferreira. Certa vez, uma pedra, rolando do morro, de encontro ao Presídio, derrubou as estacas que achou pela frente, tal como bola no jogo do boliche. Este fato inquietou o então Comandante, advertindo-o de que tal expediente poderia ser usado de surpresa pelos castelhanos, em plena noite, e até pelos Índios, para estabelecerem a desordem na guarnição. Ricardo Franco, ao assumir o comando do Presídio em agosto de 1797, ficou admirado de como essa frágil posição se tivesse mantido, face às possibilidades oferecidas aos Índios Guaicurus, senhores da região, ou aos castelhanos de Assunção, aliados dos Paiaguás, de virem expugná-la e varrerem dali os portugueses. Foram certamente estes considerados e a responsabilidade de que estava investido que levaram Ricardo a formular o projeto de um Forte permanente, de alvenaria de pedra, e de propor a sua construção. Eis como se exprime ele a respeito, no ofício de 02.09.1797, a que me referi no capitulo anterior:
Ficam patentes os defeitos que oferece esta estacada [...]. Mas, quando ainda os não tivesse, bastaria ser uma débil e estreita estacada de 12 palmos de altura e menos de um de grosso [...].
para que nada de resistência pudesse oferecer à artilharia do inimigo. A obra, porém, que Ricardo Franco desejava levantar, em substituição à velha paliçada, por si só era bastante para aumentar a confiança e o valor dos homens da guarnição contra qualquer investida de inimigos. Não se pode acusar de todo os Capitães-Generais de desídia ([1]) ou descaso pela falta de atendimento às necessidades de defesa da Fronteira Sul, reclamadas sem cessar pelos Comandantes de Coimbra e da Povoação de Albuquerque. É sabido, todavia, que Luis de Albuquerque se interessara, em caráter de preferência, pela construção do Forte do Príncipe da Beira. Ali empenhara enormes somas de dinheiro, muito embora esse local, na margem direita do Guaporé, não mais sofresse contestação dos confrontantes, por estar resguardado pelos Tratados de Limites. Assim, porém, não acontecia a Coimbra e Albuquerque. Estas se achavam na margem Oeste do Rio Paraguai, fora das raias portuguesas. Não havia direito líquido sobre elas. A partir de 1777, as Comissões Demarcadoras deveriam definir, no terreno, a linha de separação dos territórios das duas metrópoles. Ora, prescrevendo o Tratado de Limites que as raias correriam pelo Rio Paraguai, era necessário que houvesse acordo nas demarcações para que fossem reconhecidas, como portuguesas, as ocupações destes na margem direita do Rio.
Todavia, os comissários de limites, durante longos anos de negaças ([2]) e desentendimentos, não conseguiram arrancar do impasse aqueles importantes casos controvertidos. Os Capitães-Generais, não obstante sustentarem perante a Corte os direitos subsistentes, e as razões vitais da manutenção de Coimbra e Albuquerque, temiam que o governo português, por outros motivos, não menos poderosos, chegasse a negociar a evacuação daquelas posições e entregá-las às autoridades castelhanas. Essa ideia não é gratuita. Ela andou bailando na cabeça dos governantes portugueses. Não fosse a resistência tenaz de Luis de Albuquerque, talvez ela tivesse vingado, à custa de compensações de outra ordem de interesses. O gabinete português chegou mesmo a prometer à Corte Madrilena, talvez para lograr outras vantagens, talvez por despistamento, que abandonaria aquelas posições. Fá-lo-ia, no entanto, em duas etapas. Primeiramente, evacuaria a região de Albuquerque para que viesse a servir às ligações fluviais de Chiquitos com Assunção e o Prata. Posteriormente, mediante novo acordo quanto ao tempo, destruiria o Presídio de Coimbra e abandonaria também essa posição.
Não padece dúvida a existência desse entendimento luso-castelhano. Azara, em suas cartas, faz menção dele e acusa as autoridades mato-grossenses de não lhe darem cumprimento. Sincero fosse ou não, o que é fato e que Luís de Albuquerque e seus sucessores não julgaram prudente realizar obras permanentes ou dispendiosas naquela região contestada. Nem a Povoação de Albuquerque nem Coimbra, até 1790 pelo menos, tinham consentimento para construírem obras de alvenaria, na suposição de as terem de abandonar aos castelhanos.
Esta assertiva figura na conversação entretida por José Antonio Pinto de Figueiredo, Comandante de Albuquerque, e o piloto Martin Boneo ([3]), no encontro que tiveram no Rio Paraguai em setembro de 1790. Declarou o Sargento-mor português àquele oficial espanhol, que o povoado de Albuquerque tudo produzia bem, e, portanto, no sentido de melhorar-lhe as condições de habitabilidade, propôs construir ali casas duráveis, de tijolo e telhas. A isso lhe respondeu o Capitão-General que tratasse tão só de conservá-lo nas condições em que estava, até que se realizassem as demarcações, pois poderia acontecer que esses terrenos passassem à Espanha e tudo o que ali fizessem ficaria perdido. Coimbra recebera idêntico aviso, afirmou Pinto de Figueiredo. Boneo certificou-se que Figueiredo não adiantara uma informação graciosa, porque, quanto a Coimbra, já antes lho havia dito o Comandante daquele Presídio:
hay mucha piedra de cal, y se halla buen barro para teja y ladrillo, que no se hacían por prohibición.
Por estes considerandos ([4]), verifica-se que demoraram as providências dos Capitães-Generais para tornar o Presídio de Coimbra uma posição eficiente e capaz de impor-se definitivamente, a exemplo do Príncipe da Beira. Seria, neste caso, o melhor e mais legítimo título do domínio português na margem Ocidental do Rio Paraguai. A ideia e o interesse de melhorar as condições defensivas de Coimbra e Albuquerque só tomaram vulto após a visita de Martin Boneo àquele Presídio. A esse tempo, não mais ocorria temor algum na Frente ([5]) do Guaporé. Aconteceu então que, excluído o ano de 1775, pela primeira vez volveu sua atenção para a Frente Sul o Governo de Vila Bela. Nos primeiros tempos, comandaram Coimbra oficiais de milícia, improvisados, homens dedicados e leais, capazes de todos os sacrifícios, mas grosseiros e sem luzes necessárias para apreciar devidamente uma situação tática e defrontar-se com tropas regulares inimigas. Foi, pois, somente a partir de 1790, sob a perspectiva de um ataque castelhano, que a Expedição Martin Boneo fizera prever, que o governo de Vila Bela decidiu inscrever na ordem de primeira importância os problemas de segurança da fronteira Sul. O primeiro Comandante à altura da nova situação enviado para ali, foi o Major Joaquim José Ferreira, do Real Corpo de Engenheiros, que ali esteve de 1790 a 1792. Agravando-se, porém, de novo, em 1797, as relações entre as metrópoles, decidiu Caetano Pinto enviar para o Presídio de Coimbra, no comando da Fronteira Sul, o oficial de maior relevo na Capitania, que era Ricardo Franco, então Tenente-Coronel. Foi este grande soldado que impôs, em definitivo, o domínio português na margem Ocidental do Rio Paraguai e assegurou defesa e respeito à Fronteira Sul da Capitania. Clique AQUI e leia matéria completa.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H