Quarta-feira, 24 de novembro de 2021 - 10h01
Bagé, 24.11.2021
Homenagem Especial - III
Esta
verdadeira ode aos heróis acreanos desconhecidos me fez engarupar na memória e
rememorar uma canção de Francisco Alves, retratando as tropas de peões-soldados
sempre dispostos a defender o nosso rincão, que se destacou, em 1981, na “XI Califórnia da Canção Nativa” chamada
“Sabe Moço”:
(Francisco Alves)
Sabe moço que no meio do
alvoroço
Tive um lenço no pescoço que
foi bandeira pra mim
E andei mil peleias em lutas
brutas e feias
Desde o começo até o fim.
Sabe moço depois das
revoluções
Vi esbanjarem brasões pra
caudilhos coronéis
Vi cintilarem anéis
assinatura em papéis
Honrarias para heróis.
É duro moço olhar agora pra
história
E ver páginas de glórias e
retratos de imortais
Sabe moço fui guerreiro como
tantos
Que andaram nos quatro
cantos.
Sempre seguindo um clarim
E o que restou, ah sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas.
Foi o que sobrou pra mim
Ah sim
No peito em vez de medalhas
Cicatrizes de batalhas
Foi o que sobrou pra mim.
O Paiz, n° 7.071 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 17.02.1904
Francisco Mangabeira
Este poeta, que acaba de morrer aos vinte e cinco anos de idade, deixou cinco livros admiráveis; “Flâmulas”, poesias os poemas “Hostiário”, “Tragédia Épica” e “Santa Thereza”, além do volume de seus últimos versos. Era ainda estudante de medicina, quando partiu para Canudos e, logo depois de formado, seguiu para o Acre, de onde regressava enfermo, morrendo durante a viagem, no alto-mar, na mesma altura onde expirou Gonçalves Dias.
M. Teixeira
E então o pensamento; hoje sombrio,
Dos que te amavam com maior ternura,
Pousará, como um pássaro erradio,
Sobre o jardim de tua sepultura.
F. Mangabeira
O insigne poeta do “Hostiário”,
Que desfraldara as “Flâmulas” da rima,
Nos mastros de um navio solitário;
E abriu velas de seda em duro clima,
Mais generoso e belo que os piratas
E audaz como os califas de Fátima;
Ao tumultuar das multidões ingratas
Preferia as ameaças do oceano
E a escura solidão das nossas matas.
Era assim que o seu estro soberano
Procurava a fantástica beleza,
Que o seduzia num delírio insano...
E apareceu-lhe, então, “Santa Thereza”,
Vencida, nos seus êxtases sagrados,
Pelo rigor das leis da Natureza.
Seguiu pelo recôncavo os soldados
Que foram dar combate ao fanatismo,
Numa guerra infernal de alucinados....
Viu de perto as loucuras do heroísmo,
Aos sinistros listões dessa fornalha
Que transformou Canudos num abismo!
E ele, deixando o campo da batalha,
Tinha n’alma a tristeza do vidente
Que em plena juventude se amortalha...
Morrer moço ‒ é ficar eternamente
Na mocidade, aos olhos dos vindouros,
Alumiando do tempo a ação potente.
E quando a fronte juvenil tem louros,
Bela se ostenta em todas as idades,
Como o escrínio de incógnitos tesouros!
É trocar esperanças por saudades...
E na tela de um sonho emoldurado
Aureolar-se de vivas claridades! ...
Não quero mais amar, nem ser amado:
Parece-me que a Morte anda em procura
Daqueles que me inspiram mais cuidado!
Tenho visto cair na sepultura
Os que mais eu guardava na minh’alma,
Os que mais me sorriam de ternura! ...
Este... sonhou colher da glória a palma,
E dentro do seu Sonho de Poeta
Passou por nós, num ímpeto, sem calma.
Zuniu da morte a sibilante seta,
Ferindo a ave que melhor cantava,
E que longe do ninho errava inquieta.
Era tão cedo ainda... despontava
Apenas no horizonte dessa vida
O doirado porvir, que o deslumbrava!
E de tamanho anseio, em tanta lida,
Só nos resta a visão da mocidade
Na solidão funérea da jazida
Aspirações de amor e liberdade
Povoavam-lhe a mente, pois o seio
Ele tinha repleto do bondade.
Como era justo e bom! Ao mundo veio
Mostrar os dons do céu; e ao ver o mundo,
De nele se manchar teve receio.
Entornou-se-lhe n’alma o mais profundo
Tédio da vida, essa fatal doença
Que lhe emprestava um ar de moribundo.
Seu nostálgico olhar na esfera imensa
Procurava encontrar o que não via
Do planisfério na penumbra densa.
Era o romeiro ideal da Poesia,
Parando sempre ao pé dos que choravam,
Longe sempre da turba que sorria.
Nessa idade em que os outros mergulhavam
No oceano das paixões, de lá trazendo
Pérolas e corais, que ao Sol brilhavam,
Ele, escutando o ribombar tremendo
Da boca acesa dos canhões da guerra,
Foi na “Trincheira Negra” aparecendo...
Do renhido da luta não se aterra:
E só se curva ‒ para erguer nos braços
O ferido que vê rolar por terra! ...
Respeitavam-lhe a calma os estilhaços
Das granadas e bombas explosivas,
Que estavam sempre a embaraçar-lhe os passos!
Quando rompiam do triunfo os “vivas”,
Dos vencidos lembrando a triste história,
Metia-se nas selvas primitivas.
Vendo em sangue de irmãos tinta a vitória,
Deixava os vencedores, e sombrio
Ficava a meditar na luta inglória...
Desafiou mais tarde o clima ímpio
Das regiões aspérrimas do Norte
Dilatadas na hipérbole de um Rio.
Ousara o fraco provocar o forte:
Partiu... [partiu-me a alma essa partida!]
E foi sorrindo procurar a morte...
A Natureza, então, surpreendida
Por tanta audácia e tanta indiferença,
Invejando talvez tão bela vida,
Sugou-a, pela febre... e na doença
Foi-lhe roubando as forças, que hoje espalha
Pelos rebentos da floresta imensa!
Quando o tufão nas árvores farfalha,
Seu estro canta, numa lira estranha,
Como um clarim num campo do batalha.
O fluído universal nele se entranha;
E ora desce, a rugir, na “pororoca”
Ora se eleva ao topo da montanha!
A eterna lei do transformismo troca
Um ser por muitos seres, perpetuados
Numa lembrança, que a saudade evoca.
Como as virgens, que em bailes e noivados
Querem ficar dançando a noite inteira,
E voltam cedo aos lares apagados,
Quem sabe se aquela alma forasteira
Não queria ficar mais alguns dias
Presa ao calor da paternal lareira?
Por que partiste assim, quando sabias
Que esse orgulho e prazer que nos causavas
Em lágrimas e dor transformarias?!
Se eras por nós amado, e nos amavas,
A mim e aos teus, que aos teus me junto agora,
Como a eles outrora me juntavas;
E assim choramos por quem já não chora...
Meu Deus! Esta existência é só de enganos:
As rosas vivem pouco mais que a aurora...
E o cipreste feral ([1]) dura cem anos!
Rio, 08 de fevereiro de 1904
Múcio Teixeira (O PAIZ, N° 7.071)
Os Annaes, n° 98 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Quinta-feira, 13.09.1906
A Livraria
“Últimas Poesias”, por Francisco Mangabeira
Oficina dos dois Mundos ‒ Bahia, 1906.
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