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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCCLXX - A Canhoneira U.S.S. Wilmington – Vi


Jornal do Brasil, 15.07.1902, n° 196 (C. Miragy) - Gente de Opinião
Jornal do Brasil, 15.07.1902, n° 196 (C. Miragy)

Bagé, 20.12.202I


 

Comércio do Amazonas, n° 508

Manaus, AM ‒ Sexta-feira, 14.07.1899

A Revolução de Iquitos

 

Estampamos hoje em nossas colunas a proclamação de Emilio Vizcarra, o Chefe do movimento Revolucionário de Iquitos. O público já conhece a opinião que temos sobre este movimento, “instigado” (???) pelo Sr. Todd, Comandante da “Wilmington”. Eis a proclamação:

 

El Director Supremo

De La Campana Regeneradora

A los habitantes de la Capital

Loretana ([1])

 

Compatriotas:

 

La evolución política que he practicado à impulsos irresistibles de la opinión pública, manifestada en todos los órganos del pensamiento y de la aspiración nacional, donde quiera que la presión de la tiranía del Gobierno no ha impuesto silencio por el atentado sacrílego, tiene el objeto preciosísimo y el propósito inquebrantable de abatir y aniquilar ese Poder absorbente e irresponsable, opuesto al espíritu literal y à la voluntad del País que ha asumido el Jefe del Estado en su inmoderado afán de absolutismo, sustituyendo-se despóticamente à todos los demás Poderes Políticos y despojándolos de sus prerrogativas y de su mandato.

 

El movimiento nacional que dirijo, con el concurso ciudadano, con el alma y el vigor de los pueblos, arma al brazo del patriotismo para restablecer la democracia de nuestro organismo político, escarnecida hipócritamente por el titulado Jefe Demócrata; para devolver su fuerza imperativa à las leyes fundamentales de la República, violadas y humilladas por la tiranía; para levantar sobre las intrigas y las imposiciones de la solapada dictadura que se empeña por perpetuar su dominio, la libertad electoral que debe constituir Gobierno y Congreso en el próximo periodo constitucional.

 

La soberanía popular, la ley, la justicia y las conve­niencias legítimas de los pueblos, son los poderosos móviles generadores de la acción pública que he desplegado con espíritu recto y elevado, en defensa de la verdadera causa nacional que he proclamado. No es, pues, la rebelión criminal, sino la reivindicación, benemérita do los derechos nacionales, la regeneración política, administrativa y económica del Perú, lo que empeña y dignifica mi ambición patriótica para asegurar la estabilidad el engrandecimiento del país por el orden racional y la libertad.

 

Mi situación es perfectamente clara y bien definida; se halla afianzada por el concurso de los buenos ciudadanos y debe por tanto inspirar confianza à todas las clases sociales, a la industria y al capital; porque en su desenvolvimiento no se desviará jamás de los sanos elementos que la sustentan y la dirigen, hasta que, derrocada la tiranía que preside el Gobierno, el voto libre de los pueblos decida de los destinos de la Patria.

 

Conciudadanos:

 

Mi obligada presencia entre vosotros, puramente accidental, no puede turbar vuestra tranquilidad, ni inspirar recelos à propiedad y al trabajo, tan respetables para mí, como fuentes seguras de bien estar y de poder para la Republica. No vengo à extorsionar ni à oprimir; porque no necesito de estas abominaciones, porque repugnan à mi carácter y a la misión generosa y reparadora impuesta por el patriotismo. El deber me ha traído pata moralizar, con la prontitud que me permita las circunstancias, la administración del Departamento y su economía, dentro de la órbita de las leyes à, la vez, que para reunir los elementos nacionales que sean precisos pira perfeccionar la organización da mis fuerzas.

 

Sobre todo, quiero dar facilidades al entusiasmo de la juventud y à la espontaneidad de los ciudadanos de espíritu fuerte, que, quieran ofrecer à la Patria, en esta gloriosa empresa, el contingente de su abnegación y de sus esfuerzos; porque esta es obra pertenece a todos los buenos peruanos.

 

Continuad tranquilos en vuestras pacificas ocupaciones; confiad en las garantías que os promete la bandera regeneradora levantada por las energías vivas y más sanas del país, dirigidas por mi entusiasmo, por Lealtad militar para con la Patria y por mi consagración al servicio público en cuyas labores, como os he dicho, en otra ocasión solemne, he sabido interpretar vuestras legitimas necesidades y hasta vuestros deseos compatibles con la ley.

 

Iquitos, mayo 24 de 1899.

 

Emilio Vizcarra. (JCA, n° 508)

 

O Apologista Cristão, n° 008

Belém, PA – Terça-feira, 01.08.1899

O Rio Acre

 

Como quase todos os nossos leitores já sabem, o Rio Acre tributário do Rio Purus tem a sua origem em território boliviano, e desemboca em território brasileiro. Há poucos anos, comissões das duas nações fixaram os limites e estabeleceram no Rio Acre assim como em outras partes a linha divisória do território das duas nações de acordo com o respectivo Tratado internacional.

 

Há meses o Sr. Paravicini, representante plenipotenciário da Bolívia estabelecendo no Rio Acre em Puerto Alonso, a distância de dois ou três quilômetros acima da linha divisória, um Posto Aduaneiro, para arrecadação dos impostos sobre a borracha e outras rendas bolivianas.

 

Tudo ia bem e de acordo com a cortesia internacional.

 

Rompeu na Bolívia uma insurreição; aproveitaram o ensejo diversas partes interessadas. Cidadãos, autoridades estaduais do Amazonas expulsaram do território boliviano os acreditados representantes bolivianos, e o Governo Federal brasileiro continua agora, como nos anos passados, a arrecadar os impostos da borracha que vem desse território confessadamente boliviano.

 

A visita do navio de guerra “Wilmington” da América do Norte parece ter tido alguma relação com a expulsão das autoridades bolivianas do seu território.

 

Seja o que for, ficou evidente que alguns negociantes de New York querem arranjar borracha sem pagar tantos direitos alfandegários; e para esse fim queriam empregar a marinha norte-americana como “Mão de Gato” para puxar o Rio Acre e ainda mais território do poder tanto da Bolívia como do Brasil.

 

Um documento encontrado em Puerto Alonso na ocasião da expulsão das autoridades bolivianas, fala na intervenção armada da América do Norte para conseguir a independência desse território do Acre e pelo Vale do Amazonas abaixo por mil milhas mais ou menos.

 

A divulgação inesperada do projeto tornou tudo em fiasco; os cobiçosos negociantes de borracha ficariam a ver navios. O Comandante do “Wilmington” foi demitido (???) do lugar, para inglês ver; e todo o homem de bem tem nojo da falta de lealdade exibida tanto da parte da América do Norte como do Brasil e das autoridades bolivianas.

 

Interesses e não direitos se procuravam vingar nessa questão tão antipática de todos os pontos de vista.

 

Os interesse brasileiros triunfaram temporariamente contra os direitos bolivianos; e os aventureiros americanos, coitados, ganharam apenas o que mereceram, – as risadinhas mal escondidas do mundo politiqueiro. J.H.N. (OAC, n° 008)

 

Revista Marítima Brasileira, n° 231

Rio de Janeiro, RJ ‒ janeiro a junho de 1902

Chapman Coleman Todd

 

Os interesses alienígenas não se contentariam com a simples abertura dos portos, conforme solicitaram, passando a envolver-se com a produção de borracha, então altamente rentável, culminando esse processo com a constituição do “Bolivian Syndicate”, que obteve a aprovação de um contrato, pelo Congresso boliviano, a 17 de dezembro de 1901.

 

Outorgando a esse Sindicato, sediado em Nova Iorque, verdadeira soberania sobre o Acre, incluindo o direito de “equipar e manter uma força armada de navios de guerra, para a defesa dos Rios ou a conservação da ordem interna, ou outros objetivos, em adição à força de polícia”. A crise tornara-se aguda no ano de 1899, ao ser publicado que o desenrolar das estranhas negociações havia resultado em texto que, levado a Manaus, aí fora recebido a bordo da Canhoneira “Wilmington”, da marinha “yankee”, que, sob o comando de Chapman Coleman Todd, tê-lo-ia levado diretamente ao Presidente MacKinley.

 

Embora tenha sido desmentida pelo governo norte-americano tal ocorrência, o comportamento de Todd, deixando Manaus, sem autorização do governo brasileiro, com destino a Iquitos e transportando a bordo da “Wilmington” o Cônsul dos EUA, K. K. Kennedy, com suas luzes apagadas para não ser percebida, retirava-lhe toda a credibilidade.

 

Segundo a imprensa, o dito cônsul teria assinado, juntamente com José Paravicini, Ministro boliviano no Rio de Janeiro, então em visita a Manaus, as bases de um acordo, altamente lesivo aos interesses brasileiros, sobre a questão do Acre.

 

Cabe assinalar que o famoso Luiz Galvez, criador do Estado Independente do Acre, reiterou as acusações à atuação dessa canhoneira contra os interesses brasileiros.

 

A “Wilmington”, com 1.390 toneladas de deslocamento, oito canhões de 102 mm de tiro rápido, quatro de 57 mm e dois de 35 mm, era quase um cruzador, superior a tudo que a Flotilha da Amazonas lhe poderia opor. Que estranho papel fazia essa canhoneira, em relação a um “negócio” em tramitação entre o governo da Bolívia e uma companhia particular? (RVM, n° 231)

 

Correio da Manhã, n° 270

Rio de Janeiro, RJ – Terça-feira, 11.03.1902

Acre e Azedo

 

Entre todas as nações que em diversas épocas da história tem alargado os seus domínios, nenhuma levará a palma aos Estados Unidos, se estabelecermos uma proporção entre o tempo empregado em adquirir estes domínios e a vastidão deles. Esse mesmo primeiro lugar caberá ainda à grande República Norte-Americana aí estabeleceremos outra proporção entre a extensão territorial adquirida e as despesas, de todo o gênero, realizadas para efetuar aquelas aquisições. Babilônia, Roma, Portugal, Espanha e Inglaterra empregaram séculos, sem falar nas conquistas dos imperadores Mandchu, em atingir os seus respectivos apogeus territoriais. As despesas em homens e dinheiros, necessárias a tais conquistas, devem orçar em algarismos fabulosos.

 

Os Estados Unidos, em pouco mais de um século, elevaram a trinta vezes mais a sua primitiva extensão territorial, empregando processos os mais variados, mas sempre rápidos, baratos e pouco escrupulosos, em matéria do respeito a princípios fundamentais de sua constituição.

 

É que nesse conjunto de nacionalidades, fervilhando pela sua definitiva conformação étnica, tem vindo condensar-se a prudência cautelosa dos Rhodios e Fenícios, a ambição irrequieta dos cartagineses, o orgulho imperial dos romanos, o gênio aventureiro dos hispano-lusitanos, o bom senso prático dos ingleses, a tenacidade pesante ([2]) dos germanos e o misticismo bíblico dos puritanos – tudo se envolve com sangue de diversas origens que, no seu prurido de expansão ambiciosa, parecem querer desforrar-se de passadas e seculares opressões.

 

e este fato, real e positivo, de contínua e sistemática expansão territorial, é um dos característicos do povo norte-americano nessa época, que se vai extinguindo, em que o respeito mais hipócrita do que real, pela sua Constituição fundamental, era um dos princípios intangíveis da política dos seus governantes, ‒ pode-se avaliar as surpresas que o futuro nos reserva quando as brilhanturas sedutoras do Imperialismo relegarem ao esquecimento aquela originária, timorata e pudica Constituição que repelia os processos de conquista.

 

 

 

E, pela mesma forma que o romano, orgulhoso de si mesmo, pretendia felicitar suas conquistas outorgando-lhes o privilégio honroso de sua cidadania e impondo-lhes o seu direito; pela mesma maneira que os endeusados hispano-lusitanos, com a sua centralização de todas as iniciativas, acreditavam no seu papel de redentores dos povos a eles submetidos congregando-os em torno da cruz consoladora.

 

Pelas mesmas razões que os britânicos egoístas têm acreditado na supremacia da sua raça, no seu direito do suprimir pela seleção as raças menos fortes e dominando os mares sob pretexto de equilíbrios pacíficos sempre instáveis; quererão por sua vez os “yankees”, empreendedores e de irrequieta atividade, sintetizar todas aquelas tendências, impondo-nos a “felicidade” do seu direito e cidadania, de suas crenças, idioma e centralismo, de sua chefia de raça seleta, de seus princípios utilitários, do seu capitalismo e dos seus hábitos de produção a todo transe. E pretenderão seduzir-nos como outrora os navegadores faziam entre os indígenas com as suas bugigangas, fazendo-nos admirar a engenhosidade dos seus mecanismos cada vez mais aperfeiçoados e de tendências mais nulificadoras do vigor humano, e levarão muito a mal que não nos consideremos honradíssimos com as provas do seu interesse por nós, nessa nova cruzada de redenção civilizadora, a gosto de mecanismos.

 

Em definitivo, chegaremos a contemplar mais uma daquelas gigantescas estátuas feitas dos mais ricos metais, de rija ossatura férrea, reforçada com os arcabouços de aço o mais puro, como convêm enfim aos representantes desta época de altos-fornos, de possantes laminadoras e de dominadores de fluídos, mas verdadeiro boneco no fim das contas, com frágeis pés de barro como as passadas, presentes e futuras encarnações escultóricas dos eternos fugitivos de Babel.

 

Depois que isto se der, nada impedirá o curso natural e confiado dos acontecimentos. E que esses acontecimentos se precipitam, o está demonstrando o arrendamento, em pleno coração da América do Sul, do imenso Território do Acre, portentoso torrão de inexaurível riqueza, na frase de alguém que lá esteve e lá foi alguma coisa; que vai ser o apanágio de poderosa empresa “anglo-yankee”, semelhante às “chartered-company” que tem infelicitado a África, verdadeiras companhias semelhantes àquelas tão famigeradas que desolaram a França medieval e às quais não faltam chefes do baraço ([3]) e cutelo, à maneira dos Cecil Rhodes ([4]).

 

Este nome que acode à minha memória lembra-me até que já a América Latina teve em tempos a pouco invejável ventura de atrair os olhares deste Torquemada ([5]) à moderna, que soube achar na imprensa o símil ([6]) dos processos inquisitórios, nos atos dos governos um remedo de sentenças inapeláveis e na “melinita” ([7]), na “pícrica” ([8]) e na “panclastite” ([9]) o método aperfeiçoado de supressão herética pelo fogo. Foi com efeito esse famigerado Cecil Rhodes quem não há muito acenou aos “yankees” com o domínio do resto da América.

 

É verdade que, disfarçando-se com a batina, que alguns criticam em Loyola, teve ele a gentileza de explicar-nos pouco depois e em vista do eco de suas palavras nas repúblicas latino-americanas, que esse “domínio”, a que fizera referência, era apenas o “espiritual”, pela propaganda desinteressada das ideias democráticas, que tem felicidade os Estados Unidos – Loyola-Rhodes fez reserva mental! Não foi por certo com reservas que falou, não há muitos anos, num banquete, o Sr. Evarts ([10]), conhecido estadista “yankee” e antigo Secretário de Estado.

 

Antes, pelo contrário, alegre, e bem disposto depois de um excelente jantar na moda dos patrícios romanos da decadência, e no qual o famoso “Delmonico’s de New York” ([11]) talvez apimentasse demais a sua cozinha, aquele “profissional wits” ([12]) comparando a América do Sul com um saboroso presunto, pela sua configuração geográfica, exclamou entre os sorrisos amarelos dos mexicanos presentes:

 

A Doutrina Monroe é, por certo, uma coisa boa, mas, como todas as coisas boas e velhas, precisa ser reformulada. Essa doutrina se resume em uma frase ‒ “A América para os americanos”; ora, eu proporia com prazer, um aditamento para os americanos, sim senhor, mas entendamo-nos para os americanos do Norte. Começamos pelo nosso caro vizinho o México, do que já comemos um bocado em 1848. Por que não mastigaremos o restante? A América Central virá depois abrindo o apetite para quando chegar a vez da América do Sul.

 

Faço graças aos leitores do resto da comida imaginativa, do Sr. Evarts, espécie de Gargantua ([13]) político, cuja extremada educação foi até relembrar aos mexicanos, presentes ao banquete, que naquela bandeira “yankee”, cujas dobras cobriam uma das paredes da sala, jaziam em cativeiro prateadas estrelas que foram mexicanas e espanholas. Dando o desconto conveniente às palavras do ilustre político, a que acabo de referir-me e que benevolamente pedem ser atribuídas a excessos espirituosos de mesa, lembrarei ao mesmo tempo outras palavras mais sossegadas, se bem que não menos explícitas. Refiro-me às que, em agosto do 1898, foram pronunciadas pelo Senador Morgan:

 

Demasiado tempo – disse – temos estado na obscuridade! Queremos realizar os grandes objetivos de uma raça nova e vigorosa, que, dotada por modo singular para todo gênero de empresas, apenas carece de ocasião para levar muito longe as suas energias. Não vacilaremos nem teremos um momento de descanso no nosso empenho de possuir um grande exército e uma marinha invencíveis.

 

O Senador esquecia Philippe II e a “Invencível Armada” destruída pelos elementos que aquele monarca espanhol “não se propunha a combater”. E, continuava o homônimo do criador dos Trusts ([14]):

 

Dentro de dez anos seremos senhores de uma armada superior à britânica. Sobra-nos dinheiro e podemos construir os navios em arsenais, com operários e material norte-americanos. Aspiramos a ser o núcleo de um imenso Estado [com E], em que se achem unidos o México, a Argentina, o Uruguai e todas as outras repúblicas da América. Queremos que do Norte ao Sul se estenda o poderio da nossa bandeira semeada de estrelas.

 

Mais claro do que isto só vejo a água da fonte cristalina, em que admira eternamente sua própria beleza o Narciso latino-americano!

 

Aos que me acusarem de brincar aqui com ilusórios fantasmas, lembrarei aquela canhoneira “Wilmington” que, à maneira de fantástica nave, apenas percebida entre as brumas noturnas do Amazonas, burlou a vigilância das autoridades brasileiras, estudou à vontade o curso do grande Rio “para o que vai bem aparelhada”, na frase do “Army and Navy Journal” e do acordo com “as ordens secretas que leva” e que incluíam as de estudar “todos os Rios navegáveis por vasos de fundo chato, como a Wilmington”, sempre na frase do referido Jornal e... na volta desculpou-se da visita!

 

Dois anos depois é arrendado o Acre a um sindicatoanglo-yankee”, com a condição expressa de fortificá-lo e talvez de construir cais de fácil atracação àsWilmingtonde fundos chatos.

 

Não são as frases “yankees”, palavras vis de empolado orador de origem latina sobraçando tabuletas demostenianas de cera por toda bagagem! Naquele país o fato acompanha paralelamente a palavra, quando não a precede. Quando os Estados-Unidos assinaram a paz com a Inglaterra e conseguiram o reconhecimento de sua independência, seu território era de 830.000 milhas quadradas.

 

Depois da compra do território do Alasca, ao Império Russo, essa superfície atingiu a 3.588.576 milhas. Posteriormente, Porto Rico acresceu esse algarismo com 9.314 km; Filipinas com 296.182 e Havaí – 16.946. Não seria descabido acrescentar ainda a extensão superficial de Cuba, visto como a falada “Independência” da ilha não passa da mais cruel das ilusões, como terei ocasião de salientar oportunamente. Em suma, os E.U.A. estendem hoje seu domínio sobre 9.534.742 km2, dos quais 322.442 nas suas colônias, sem contar Cuba, cuja externa, superficial é de 17.000 km. Se olharmos para o resto da América e não nos lembrarmos das províncias mexicanas, arrancadas do poderio latino na América, e tampouco da situação de Cuba muito menos independente do que o Canadá, veremos o domínio disfarçado com o título de “controle”, em ambas margens do projetado canal de Nicarágua, exercido pelos Estados Unidos.

 

O arrendamento pelo prazo de duzentos anos e o mesmo controle, em ambas as margens projetado canal do Panamá, mediante 1.500.000 dólares anuais pagos ao governo da Colômbia; compra das Antilhas Dinamarquesas e domínio absoluto no mar das Antilhas; hegemonia sobre Haiti e S. Domingos, repúblicas há muito visadas pela cobiça “yankee”. Anulação da Venezuela, como nação autônoma e apesar de todos os Monroes terrestres e celestes, no Tratado “anglo-yankee” relativos à delimitação da fronteira entre Venezuela e a Guiana Inglesa; da mesma forma que Nicarágua pelo Tratado “Hay-Pauncefaute”; enfim implantação de uma cidadela “yankee” em pleno território litigioso da América do Sul, tendo como cabo desta espécie de panela, em que vai ser cozido o tal presunto do Evarts: o Rio brasileiro do Amazonas. Dizem que, quando o leão faz ouvir sua voz possante, silenciam todos os outros seres nas redondezas. E que silêncio absoluto o desta América Latina! É verdade que o famoso Secretário Hay, uma espécie de poeta da política “yankee” disse há pouco que:

 

os Estados-Unidos tem tanta pretensão, a território, na América Latina como os teriam na Lua!

 

Adolfo Morales de los Rios ([15]) (CDM, n° 270)

 

Bibliografia

 

CDM, n° 270. Acre e Azedo – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio da Manhã, n° 270, 11.03.1902.

 

JCA, n° 508. A Revolução de Iquitos – Brasil – Manaus, AM – Comércio do Amazonas, n° 508, 14.07.1899.

 

OAC, n° 008. O Rio Acre – Brasil – Belém, PA – O Apologista Cristão, n° 008, 01.08.1899.

 

RVM, n° 231. Chapman Todd – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista Marítima Brasileira, Volume 12, n° 231, janeiro a junho de 1992.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·       Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·       Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·       Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·       Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·       Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·       Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·       Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·       Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·       Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·       Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·       Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·       Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·       Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·       E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]   Loretana: região do Peru cuja capital é a cidade de Iquitos.

[2]   Pesante: amargurada.

[3]   Baraço: laço antigamente empregado para enforcar os condenados.

[4]   Cecil John Rhodes (1853-1902): político inglês, ideólogo do imperialismo e do colonialismo. Organizou a anexação pelos ingleses de um extenso território na África do Sul e deu início à guerra anglo-bóer.

[5]   Tomás de Torquemada: o Grande Inquisidor dos reinos de Castela e Aragão no século XV.

[6]   Símil: semelhante.

[7]   Melinita: explosivo feito com ácido pícrico, de carga poderosíssima.

[8]   Pícrica: ácido pícrico, composto altamente explosivo.

[9]   Panclastite: explosivo líquido formado de peróxido de azoto e de um líquido combustível.

[10]  William Maxwell Evarts: 27° Secretário de Estado dos Estados Unidos (12.03.1877 a 07.03.1881)

[11]  Delmonico’s de Nova York: considerado um dos melhores restaurantes do país, nos séculos XIX e XX, gerenciado pela família Delmonico.

[12]  Profissional wits: inteligente profissional.

[13]  Gargantua: glutão.

[14]  Trusts (ou truste): fusão de várias empresas com o objetivo de monopolizar determinada oferta de produtos e/ou serviços. William Huntington Russell, em 1856, incorporou a Skull and Bones com a denominação de Trust Russell, e, mais tarde, Russell Trust Association.

[15]  Adolfo Morales de los Rios: Engenheiro-arquiteto, foi Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura e Professor da Escola Nacional de Belas Artes.

Wilmington ‒ Rio Orenoco, Venezuela, 1906 - Gente de Opinião
Wilmington ‒ Rio Orenoco, Venezuela, 1906

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