Quarta-feira, 22 de setembro de 2021 - 06h01
Bagé, 22.09.2021
Jornal do Brasil, n° 23 – Rio, RJ
Sábado, 01.05.2004
Governo vai Tirar Garimpeiro
da Reserva
(Hugo
Marques)
BRASÍLIA ‒ O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República [GSI], a Polícia Federal e a FUNAI vão realizar uma operação
pente-fino para retirar todos os garimpeiros e invasores da reserva indígena
Roosevelt, em Rondônia. No início do mês, 29 garimpeiros foram mortos pelos
índios. Na quinta-feira, garimpeiros voltaram a invadir a reserva. A nova
operação foi discutida ontem com os próprios índios, no município de Cacoal
[RO], próximo da reserva. Os índios Cintas-Largas haviam denunciado na
quinta-feira a presença de cerca de 200 garimpeiros dentro da reserva. Ontem,
os índios informaram à Polícia Federal que na localidade conhecida como
Grotinha há entre 12 e 30 garimpeiros. A informação não havia sido confirmada
pelo GSI até o início da tarde de ontem. Os caciques Cintas-Largas Nacoça Pio,
João Bravo, Panderê e Carlão confirmaram ontem, durante reunião com a Funai,
que vão desativar totalmente os garimpos de diamantes dentro da reserva Roosevelt,
mesmo os que são administrados pelos índios.
A informação foi transmitida aos funcionários da FUNAI na divisa da
reserva. Os caciques se comprometeram ainda a não agredir os garimpeiros que
eventualmente forem encontrados dentro da reserva. (JB, N° 23)
Jornal do Commercio, n° 207 – Rio, RJ
Domingo e Segunda-feira, 13.06.2005
RONDÔNIA
Governador Aparece
em Conversa
Massacre: Fita
Mostra que
Caciques Avisaram Cassol
Uma fita de vídeo em poder da Polícia Federal mostra que o governador de
Rondônia, Ivo Cassol [PSDB], foi avisado por dois caciques Cintas-Largas que
haveria mortes no garimpo ilegal de diamantes na Reserva Roosevelt, sete meses
antes do massacre de 29 garimpeiros, em 7 de abril de 2004. As cenas mostram
que Cassol não tentou convencer os indígenas a não matar e incentivou os
caciques a prosseguir a garimpagem, alegando que no mundo “tudo gira em torno de dinheiro e que é preciso explorar as riquezas”.
Na gravação feita em uma aldeia, o governador conversa com os caciques Na-coça
Pio Cinta-larga e João Bravo Cinta-Larga.
“Então é por isso que nós tem medo.
Não é o medo de entrar [no garimpo] ... É o medo de nós morrer, nós matar
também. A legalização do garimpo, tem possibilidade?”, indaga Nacoça Pio,
Cassol diz que sim e explica as vantagens da regularização da atividade ilegal.
Em depoimento à PF após o massacre, o cacique João Bravo Cinta-Larga
disse que lideranças da tribo não permitiram que o governador instalasse
máquinas para extrair diamantes, por isso Cassol teria retirado os policiais
militares responsáveis pela segurança na reserva e incentivado garimpeiros a
invadir a terra indígena. A matança aconteceu logo após a invasão.
As primeiras imagens da fita são do governador chegando de helicóptero em
uma aldeia. Ele sempre negou à imprensa ter ido ao garimpo e nunca obteve
autorização da FUNAI para isso. Com Cassol está o vereador de Cacoal, Chiquinho
da FUNAI [PSDB], que também negava ter ido até o local.
O governador entra no escritório da FUNAI e inicialmente incentiva a
garimpagem. “Se não andar com as próprias
pernas vocês estão enrolado [sic]. Se vocês não se organizar [sic], ninguém vai
fazer nada pra vocês”. O governador afirma que deseja organizar o garimpo e
faz acusações de corrupção à polícia de Rondônia. “Então vocês poderiam explorar... sem tá precisando comprar policial
civil... policial militar”.
Em seguida conta que no dia anterior estava em Brasília onde discutiu “pesado” com a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, e aconselha os caciques a autorizar uma reportagem que mostrasse
só aspectos positivos da garimpagem, sugerindo que haveria um preço para isso.
“Se vocês fossem pagar, ou se eu fosse pagar essa matéria, um milhão não
pagaria”.
Citando diversas vezes riqueza e jogo de interesses, Cassol fala dos
custos que estaria tendo. “Eu tô, com uns
polícia [sic] ai, só que tem um custo pra isso tudo, eu pago uns 20 mil por mês
para esses policiais militares ficarem aqui... e eu tenho que pagar adiantado,
senão eles não vêm”, alega.
O governador tenta convencer os caciques de que não adianta esperar ajuda
do governo federal “O negócio deles não é
nós aqui não, nem vocês. O negócio deles é fazer a conversa do FMI, do Banco
Mundial. Quanto mais pobre o Brasil, melhor para os americanos”. Cassol
explica o que, a seu ver, seria a solução ideal para os Cintas-Largas.
Eu quero
ajudar vocês. Mas pra mim entrar aqui tem que ter autorização de vocês e do
governo federal, porque vocês são tutores do governo federal [sic], da FUNAI...
então o que podemos dizer é: queremos que o governo do Estado nos ajuda [sic].
Orienta o governador. (JC. N° 207)
Correio Braziliense, n° 15.652 – Brasília, DF
Terça-feira, 21.03.2006
Governo Finaliza Projeto de Lei Que Autoriza
a Extração de Minérios Após Consulta aos
Povos e Aprovação do Congresso.
Áreas Serão Licitadas
Aval Para Exploração em Reservas Indígenas
[André
Carravilla ‒ da Equipe do Correio]
D |
ois anos após o assassinato de 32 garimpeiros na Reserva Roosevelt, em
Rondônia, o governo prepara para enviar ao Congresso Nacional em abril o
projeto de lei que permite a mineração em terras indígenas. A proposta, que
passará por ajustes no Ministério da Justiça antes de ser levada à Casa Civil,
estabelecerá regras completamente diferentes das que estão em vigor para
exploração mineral de outras áreas.
O projeto significa também a abertura oficial de cerca de 12% do
território nacional para extração comercial. Um negócio que pode render muito
dinheiro, já que as reservas estão localizadas regiões com grande potencial
mineral, especialmente ouro, cobre, diamante e ametista. Com pressa em quitar
esta dívida com os indígenas, o governo admite, inclusive, editar uma medida
provisória sobre o tema, que poderia servir especificamente para a Roosevelt.
Para explorar as terras indígenas, as empresas interessadas terão que
participar de uma licitação.
“O projeto vai permitir que a
empresa que oferecer melhor proposta para os índios seja a escolhida”, diz
o diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral [DNPM], Miguel
Nery. A licitação será aprovada pelo Congresso, após a Fundação Nacional do
Índio [Funai] e o DNPM emitirem laudos sobre o impacto social e o potencial
produtivo da área, respectivamente.
Nesta fase, os índios também serão ouvidos. As terras só serão leiloadas
após o aval dos povos. As empresas vencedoras terão que pagar aos índios pela
ocupação das terras, mesmo antes de retirar qualquer minério do solo. A partir
do momento que iniciar a extração, parte dos recursos conseguidos com a venda
do produto será revertido a favor dos índios.
O valor que as empresas devem repassar aos indígenas não será definido
pelo projeto, mas por meio de um contrato. Este modelo é similar ao adotado nas
licitações de áreas para exploração de petróleo e gás natural no país.
Fundo
Os recursos recolhidos serão depositados no Fundo de Compartilhamento de
Receitas sobre a Mineração em Terras Indígenas, que será criado após a
aprovação do projeto. Nery explica que ainda não foi decidido se os valores
arrecadados serão destinados apenas à comunidade onde a mineradora se instalou
ou revertidos em benefício de todos os índios. O projeto altera a legislação
mineral completamente. Pelo atual modelo, em áreas não-indígenas tem prioridade
no uso da terra o autor do pedido de pesquisa no DNPM. Após comprovada a
viabilidade comercial da exploração, o empresário pede o aval para a extração
comercial. “O projeto evita que isso se
repita nas reservas”, sustenta Nery. “Com
o projeto, o pedido para pesquisa vai servir apenas para dar início ao processo”,
explica.
O DNPM já recebeu 5.970 pedidos de alvarás de pesquisas em terras
ocupadas pelos índios. Até agora, nada foi liberado porque a autorização da
atividade mineral nas reservas, prevista desde 1988, precisa de uma lei
complementar que a regulamente para que comece a valer. De acordo com
levantamento do Instituto Socioambiental [ISA], realizado até 1998, pouco mais
de 70% dos pedidos são para pesquisa de ouro.
Roosevelt Ainda é Alvo de Garimpo
O assassinato de 32 garimpeiros que atuavam na Reserva Roosevelt, em
Rondônia, em abril de 2004, não intimidou forasteiros, que continuam invadindo
a área para extração ilegal de diamantes em uma das maiores jazidas do mundo.
Segundo informações do Ministério da Justiça, aproximadamente 300 garimpeiros
estariam na terra dos Cintas-Largas, alguns deles comandados pelos próprios
índios. Mas segundo cálculos de quem está instalado nas cidades vizinhas, o
número é bem maior, de 700 a 1.000 pessoas.
Caciques proibiram a entrada de agentes federais na reserva. Atentos, os
policiais evitam ultrapassar as seis bases montadas ao redor da terra indígena.
Segundo os caciques, no final de 2005 o diretor da PF para Assuntos de
Fronteira, Mauro Spósito, e três agentes foram aprisionados na aldeia de João
Bravo Cinta-Larga. Depois de pintar o diretor da PF com urucu, o que é
considerado por eles uma humilhação, um dos caciques, lia, teria segurado uma
pena de gavião real e simulou cortar o pescoço do delegado: “Aqui, nós somos a autoridade”.
Desde então, o contato com os índios tem sido feito por emissários da
Fundação Nacional do Índio [Funai], que nas últimas semanas intensificaram o
processo de negociação para remover garimpeiros que atuam sob a guarda dos
Cintas-Largas, segundo o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz
Paulo Barreto. A iniciativa é parte de uma grande operação que será deflagrada
pela PF dentro da Reserva nos próximos dias. Uma ronda aérea já teria
identificado 30 máquinas resumidoras ‒ usadas na extração do diamante ‒ em
atividade na Reserva, neste momento. De acordo com Luiz Paulo Barreto, os
garimpeiros driblaram a fiscalização e, com uma retroescavadeira, abriram uma
nova estrada de acesso às áreas de concentração da pedra. (CB, n° 15.652)
Bibliografia
CB, N° 15.652. Aval Para Exploração em Reservas Indígenas
– Brasil – Brasília, DF – Correio Braziliense, n° 15.652, 21.03.2006.
JB, N° 23. Governo vai Tirar Garimpeiro da Reserva – Brasil – Rio de Janeiro,
RJ – Jornal do Brasil, n° 23, 01.05.2004.
JC, N° 207. Governador Aparece em Conversa – Brasil – Rio de Janeiro, RJ –
Jornal do Commercio, n° 207, 13.06.2005.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=tYkH5YO38IQ&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=40
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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