Segunda-feira, 27 de setembro de 2021 - 10h13
Bagé, 27.09.2021
11.03.1914
- Relata Roosevelt -
11.03.1914 – Na manhã
seguinte, verificamos que, durante a noite, nos acontecera um sério
contratempo. Havíamos acampado na base da corredeira e as canoas ficaram
amarradas às árvores da barranca, já no remanso. As duas canoas velhas, embora
uma delas fosse a nossa maior canoa para cargas, eram remendadas, e uma delas
fazia água. Durante o dia, o Rio subiu de nível, e essa canoa rachada, que
mergulhava muito n’água, encheu-se certamente aos poucos com a água que as
ondulações lhe atiravam sobre a borda, e afundou-se arrastando a companheira;
rebentaram-se então as amarras e desapareceram rolando pelo fundo. Saiu uma
canoa à sua procura e se constatou terem aquelas canoas esbarrado nas rochas do
fundo pedregoso, despedaçando-se imediatamente; e seus grandes fragmentos, que
em breve foram encontrados flutuando nos remansos ou lançados na praia,
indicaram que era inútil procurá-las. Àquela corredeira foi dado o nome de “Canoas Quebradas”.
Não era coisa agradável precisar deter-nos por alguns dias; devido às
corredeiras, tínhamos avançado com lentidão, e era importante apressarmos a
viagem, pois nosso suprimento de víveres era necessariamente limitado e nada
sabíamos do que nos esperava adiante. Mas não havia outro remédio: tínhamos de
fazer uma canoa grande ou duas pequenas. Chovia a cântaros quando os homens se
espalharam em várias direções à procura de bons paus para canoas.
Três – que afinal se verificou que não eram muito próprios para o caso –
foram achados junto ao acampamento; eram árvores de magnífico aspecto, uma
delas com quase 02 m de diâmetro à altura de um metro do solo. Os machados
atacaram-na sob a vigilância do Coronel Rondon. Lyra e Kermit partiram a caçar,
em direções opostas. O primeiro matou um jacu, que ficou para nós, e o segundo
trouxe dois macacos que serviram para os Camaradas. Ao cair da noite, o tempo
melhorou. A lua estava quase cheia, e a água encachoeirada exibia um brilho
prateado. Nossos homens eram “voluntários
regionais”, isto é, tinham se alistado nos serviços da Comissão
Telegráfica, especialmente para o trabalho no Sertão, com paga elevada, como
era justo, em vista das privações, das dificuldades do serviço e do risco para
a saúde e para a vida. Dois deles haviam acompanhado o Coronel Rondon na sua
exploração de oito meses em 1909, ocasião em que seus homens eram praças do
Batalhão de Engenheiros que ele comandava.
Seus quatro auxiliares durante os últimos meses daquela excursão foram os
Tenentes Lyra, Amarante, Alencarliense ([1])
e Pyrineus. O naturalista Miranda Ribeiro também o acompanhou. Foi nesse ano
que, seguindo a pé, através de zona totalmente desconhecida, o Coronel e sua
comitiva atingiram afinal o Ji-Paraná, que figurava nos mapas [e em muitos ainda
figura] com seu curso inteiramente errado, com mais de um grau fora da posição
real.
Quando chegaram aos afluentes do Ji-Paraná, um terço dos membros da
comitiva estava tão enfraquecido pelas febres, que mal podiam se arrastar. Não
tinham bagagem e as roupas se achavam em frangalhos, alguns já andavam quase
nus. Durante meses não tiveram outro alimento além da pouca caça que matavam e
de frutas silvestres e cocos; se não fora a grande abundância de cocos
brasileiros, eles todos teriam perecido. No primeiro Rio caudaloso que
encontraram, fizeram uma canoa e Alencarliense nela seguiu para levantar-lhe o
curso. Com ele seguiram Ribeiro, o Dr. Tanajura ([2]),
que não podia andar devido a uma ferida no pé, 3 homens que a febre inutilizara
para caminhar e 6 que ainda se achavam em estado de remar. Quando o resto da
comitiva atingiu o Rio navegável mais próximo, mais 11 homens prostrados de
febre quase haviam chegado a seu fim. Ali deram eles com um pobre diabo que
estivera perdido durante meses e morria lentamente à fome.
Nada havia comido além de cocos e crisálidas de insetos ([3]).
Não podia mais andar, apenas conseguia ficar em pé e cambalear por uma pequena
distância. Outra canoa foi feita e nela Pyrineus desceu levando os 11 homens
doentes e o vagabundo quase moribundo. O Cel Rondon conservava o moral da turma
fazendo cumprir a rotina militar. O corneteiro esfarrapado tinha sua corneta. O
Tenente Pyrineus perdera toda a roupa, exceto um chapéu e uma ceroula. O
Tenente seminu enfileirou seus 11 febrentos, a corneta soou e todos ficaram em
posição de atenção para ouvirem o macilento Coronel ler a Ordem do dia. A canoa
partiu então Rio abaixo com sua carga de doentes, e os 12 homens restantes
continuaram sua caminhada estafante.
Quando, uma quinzena depois, encontraram afinal um barracão de
seringueiros, 3 homens já estavam inteira e literalmente nus. Nesse meio tempo,
Amílcar tinha subido o Jaci-Paraná um ou dois meses antes com provisões, a fim
de encontrá-los, porque nesse tempo os mapas indicavam erradamente aquele Rio
como maior, em vez de menor que o Ji-Paraná, Rio que, na realidade, era o que
estavam descendo. O Cel achava-se convencida de que descia o Jaci-Paraná.
Amílcar regressou depois de passar por grandes provações e perigos. As 2
comitivas finalmente se encontraram na Foz do Ji-Paraná onde este entra no
Madeira. O extraviado que fora encontrado estava a caminho de se restabelecer,
tendo ficado numa fazenda do Madeira, onde podia receber o tratamento
necessário [...]. (ROOSEVELT)
-
Relata Cherrie -
11.03.1914 – Esta manhã
verificamos ter ocorrido durante a noite nosso primeiro sério infortúnio! As 2
velhas e grandes canoas, que formavam a maior das duas balsas, romperam as
amarras, na noite passada, e espatifaram-se nas rochas. Não há nada que possamos
fazer a não ser aguardar a construção de uma ou duas canoas. Isso significa
perder tempo e consumir nosso limitado suprimento de víveres. Uma árvore
adequada foi logo encontrada, e abatida. Foram medidos 08 m, a partir da base,
para a canoa, e o trabalho rendia satisfatoriamente. É muito cedo para fazer
uma estimativa, mas parece que, trabalhando todos os dias até a noite, a
construção poderá ser concluída em quatro dias. A coleta não é boa, só consegui
uma nova espécie para a coleção. Atirei em um tucano novo, mas que foi
completamente arruinado, como espécime, ao cair numa pedra e quebrando o bico.
O Cel Rondon esteve durante todo o dia orientando o trabalho e mantendo os
homens ocupados na confecção da canoa. (CHERRIE)
12.03.1914
- Relata Roosevelt -
12.03.1914 – Os homens ainda
trabalhavam esforçadamente na escavação da madeira resistente do enorme tronco,
com machado e enxó, enquanto todos vigiávamos e fiscalizávamos para que os
preguiçosos não flanassem ([4])
à custa dos diligentes. Kermit e Lyra voltaram a caçar; aquele conseguiu um
mutum, que foi bem recebido, pois estávamos procurando por todos os meios
economizar nossas provisões. Comíamos palmitos, também. Passei o dia todo
procurando caçar no mato próximo ao Rio, mas nada encontrei. [...]
Mesmo assim era agradável percorrer a enorme floresta silenciosa. Aqui e
acolá, erguiam-se árvores gigantescas e, da base de algumas, subiam formidáveis
sapopemas. As trepadeiras e cipós eram de todos os tamanhos e feitios; alguns
retorcidos e outros não; uns caíam diretos de galhos delgados a mais de 30 m de
altura; outros, quais longas serpentes, se enroscavam nos troncos das árvores.
Outros ainda pareciam cordas cheias de nós.
Pouco ruído se ouvia na sombra, e o vento raramente agitava o ar quente e
úmido. Raras flores e aves. Os insetos eram muito abundantes e ainda quando
seguíamos lentamente, era sempre impossível evitá-los – sem falar dos nossos
inseparáveis companheiros, as abelhas, as muriçocas e, em especial, os
borrachudos ou mosquitos sanguessugas. Quando atravessava um emaranhado,
despertei uma caixa de vespas, que ativamente mostraram sua zanga; em seguida,
por descuido, pisei no carreiro de uma pequena horda de formigas carnívoras; a
seguir tropecei e, segurando-me a um galho, derrubei uma chuva de formigas de
fogo; e, no meio de tudo isto, minha atenção foi particularmente alertada pela
picada de uma saúva gigante, que ardia como a de uma vespa, cuja ferroada senti
por espaço de três horas.
Os Camaradas andavam em geral descalços ou só usavam sandálias; seus pés
e tornozelos estavam feridos e inflamados das picadas dos borrachudos e
formigas, e alguns deles achavam-se incapacitados para o trabalho. Todos nós
sorríamos menos ou mais, tendo os rostos e mãos ligeiramente inflamados das
ferroadas dos borrachudos; apesar da roupa, estávamos com todo o corpo mordido
de formigas e de carrapatinhos do mato. Devido à chuva e ao suor, nossas roupas
estavam úmidas quando as despíamos à noite, e igualmente úmidas quando as
vestíamos pela manhã. (ROOSEVELT)
-
Relata Cherrie -
12.03.1914 – Um belo e claro
dia. O trabalho na canoa continua tão rápido quanto poderíamos esperar. O Cel
Rondon nunca desvia o foco de seu trabalho. [...] Não fui mais bem sucedido do
que ontem e só consegui obter um bom e grande tucano.
Minhas mãos estão consideravelmente doloridas e inchadas. O Borrachudo ([5]) é um
inseto que pousa, pica, deixa uma pequena mancha preta, e voa. O Cel Roosevelt
matou um “mutum”. Não há ninguém da
nossa equipe que não vá ficar muito satisfeito quando esta viagem chegar ao
fim. Há muitas incertezas e obstáculos a enfrentar e a possibilidade de
abreviar sua conclusão nos serve de estímulo. (CHERRIE)
13.03.1914
- Relata Roosevelt -
13.03.1914 – Durante todo o
dia, os homens trabalharam na canoa, fazendo bom progresso. De quando em
quando, todos tinham de ajudar a virar e mudar a posição do enorme e pesado
tronco. O trabalho continuava até 22h00, quando o tempo estava claro. À noite,
alguns homens seguravam velas, e os outros manejavam o machado e a enxó, em pé
ao lado, ou dentro do grande tronco meio escavado; e as luzes vacilantes das
velas iluminavam a floresta tropical que se erguia na escuridão circundante.
[...] (ROOSEVELT)
-
Relata Cherrie -
13.03.1914 – [...] Havia
rações suficientes para alimentar os Camaradas por 35 dias e as rações
preparadas para os membros da Expedição durariam talvez 50 dias. Avaliamos que
ainda nos faltem cerca de 600 km a percorrer. Nestes 15 últimos dias,
mantivemos uma média de cerca de 07 km! [...]. Nesse ritmo, vamos ter somente
35 dias de gêneros! Sem sombra de dúvidas, enfrentaremos dias difíceis pela
frente. (CHERRIE)
14.03.1914
-
Relata Rondon
-
14.03.1914 – A nova embarcação
ficou pronta e foi lançada ao Rio no dia 14. Recomeçamos a navegação às 13h00
continuamo-la até as 17h00, fazendo um percurso de 14.671 metros. Estabelecemos
o nosso 10° acampamento num ponto da margem esquerda, onde havia um tucum gigante
[Astrocarum tucuman] cortado a machado de pedra, naturalmente por índios
moradores nas proximidades deste lugar.
[...] o Ten Lyra matou [...] um gralhão, ave da família dos “Falconídeos”, que nos forneceu a
designação do acampamento. Desde o “Quebra-Canoas”,
viemos encontrando o Rio com o aspecto de uma cachoeira continua, sobre leito
de diábase. Por esse motivo, tivemos de abandonar o processo, anteriormente
empregado no levantamento das estações fixas, e adotamos o das visadas com a
canoa da frente em movimento. As florestas modificam-se também: agora, de ambos
os lados, vemos numerosas árvores de seringa e de castanhas do Pará, e como o
terreno é montanhoso, com certeza o caucho será abundante. Entre as madeiras de
lei características da região amazônica, continuam a aparecer muitas das que
são peculiares à sub-bacia do Paraguai. Das palmeiras, a Buriti, a Açaí e a
Patauá são frequentes e numerosas; a Inajá, a Bacaba, a Tucuman e outras, são
mais raras. (RONDON)
-
Relata Cherrie -
14.03.1914 – A chuva caía sem
parar desde manhã cedo até por volta das 12h00. [...] Minha coleção vai mal.
Antes das 12h00, a nova canoa [“a Arapuã”]
foi lançada às águas, alegrando-nos, ela flutuava muito bem.
Por volta das 13h30, reiniciamos a descida do Rio. A corrente é muito
rápida, levando-nos rapidamente adiante. Passamos por um grande número de
Rápidos, o que tornou a descida bastante interessante. Dois destes Rápidos eram
definitivamente muito perigosos para serem transpostos por uma canoa carregada.
A canoa encheu d’água e acabou submergindo! Trabalhei furiosamente para
salvá-la. A tarde foi muito satisfatória, rendendo cerca de 15 km. (CHERRIE)
15.03.1914
- Relata Rondon -
15.03.1914 – Deixamos o
acampamento do “Gralhão”, às 07h00 de
15, e como o curso do Rio daí para baixo se nos apresentasse calmo, retomamos o
trabalho do levantamento por estações fixas. No entanto, essa calma pouco
durou, ao fim de 4.184 metros, às águas começaram, mais uma vez, a correr
impetuosas, e iam meter-se por um perigoso Canal de nova cachoeira, de onde
saiam em furiosos borbotões. Reconhecida a importância do obstáculo e a
impossibilidade de o vencermos de frente, mandei aproar a minha canoa para a
margem esquerda e dei ordem à da frente, portadora da mira, que fizesse o
mesmo. Apenas em terra, eu, o Ten Lyra e o proeiro Joaquim fomos explorar o
traçado de um caminho que nos levasse ao fim da cachoeira, onde desejávamos
acampar. Terminado este trabalho, voltamos ao lugar onde estava aproada minha
canoa, para providenciar sobre o transporte das cargas. Ao chegarmos, não
encontrei o Sr. Kermit, nem vi a sua canoa; perguntei ao piloto Antônio Correia
o que havia acontecido, e este respondeu-me que o Sr. Kermit, desatendendo à
minha ordem de abicar, havia descido a cachoeira.
Retrocedemos logo sobre os nossos passos em direção à cachoeira. Pouco
adiante, vejo que vem correndo para nós o nosso cão Trigueiro, que viajava na
canoa da frente. Maior se tornou o nosso desassossego, porque o cão apresentava
sinais evidentes de ter estado mergulhado na correnteza. Apertamos o passo e
quando íamos alcançar uma ladeira, no fim do caminho, avistamos o Sr. Kermit,
que a vinha subindo, todo molhado. O alívio que então sentimos expandiu-se,
quase sem vontade nossa, num gracejo:
Então, magnífico banho! Não foi?
O interpelado respondeu-nos que havia escapado de morrer e que os outros
náufragos, os canoeiros João e Simplício, estavam na margem oposta, onde se
tinham refugiado, nadando. A canoa e toda a carga tinham desaparecido na
voragem. Já desoprimidos das apreensões relativas à sorte dos náufragos,
pudemos ouvir a narração do Sr. Kermit. Disse-nos que, ao tentar fazer o
reconhecimento do Canal, vira a sua embarcação bruscamente colhida pela
corrente, ser arrastada para baixo da cachoeira que ali estava e de mais outra
que aquela se seguia; correndo, assim, ingovernável, de queda em queda, ela se
havia finalmente alagado e submergido.
Havia, pois, uma segunda cachoeira; dirigimo-nos para ela, resolvidos a
examiná-la atentamente. Lá chegados, todas as pesquisas que fizemos na
esperança de encontrarmos alguma cousa para salvar, foram infrutíferas; sobre
as águas e nas margens nada vimos, que pudesse sequer lembrar o naufrágio
ocorrido momentos antes. Eu e o Ten Lyra iniciamos o estudo do varadouro que
devia ligar a segunda cachoeira à primeira; o Sr. Kermit continuou aquelas
pesquisas, percorrendo a margem, para baixo.
Depois de algum tempo, no caminho que seguíamos, encontramos o canoeiro
João que havia, afinal, atravessado o Rio. Contou-nos que o Sr. Kermit depois
de haver examinado a cachoeira, ordenara a descida pelo Canal, e, desprezando a
informação que se lhe dava, de não ser a passagem
praticável, insistiu no seu propósito, repetindo a ordem. À vista disso, o canoeiro julgou-se
na obrigação de obedecer, apesar de saber que aquilo era uma temeridade. Metida
na correnteza, a canoa não aguentou: tomou água e alagou-se.
João, que a pilotava, querendo salvá-la, saltou para o Rio e procurou
sustenta-la, por meio do cabo de amarração, preso na proa. Todos os esforços,
porém, foram baldados: a embarcação, arrebatada pelo ímpeto das águas emborcou.
Depois, ele a tinha visto descendo, com o fundo para cima, e sobre ela o Sr.
Kermit e o Simplício. Esta narrativa deixou-nos desconsolados: o pobre
Simplício não se havia salvo com o João, nem com o Sr. Kermit. Só nos restava
uma esperança: era o resultado das pesquisas que estavam sendo feitas para
baixo da última cachoeira. Mas essa era tão fugitiva! Ainda assim, mandamos o
João auxiliar o Sr. Kermit.
Infelizmente chegou o momento em que nos era impossível continuarmos a
acalentar as nossas ilusões: Simplício tinha se afogado! Esta tristíssima
certeza desabou sobre os expedicionários, como dolorosa desgraça, que a todos
tocava. Ninguém inicia, é certo, uma empresa do gênero desta em que nos
achávamos empenhados, sem antes se ter familiarizado com a ideia dos perigos a
que se vai oferecer e das inúmeras ocasiões em que se terá de encontrar com a
morte. Não era, pois, o imprevisto de sua chegada o que nos aturdia, mas sim a
mágoa de termos perdido um companheiro com quem nos sentíamos irmanados pela
comunhão dos trabalhos passados e das privações e esperanças provadas na
realização de um objetivo que já pertencia a todas as vontades e a todos os
corações. Querendo dar uma expressão a esses nossos sentimentos, perpetuamos o
nome do desditoso Simplício nesta cachoeira, no marco quilométrico erguido no
acampamento, colocamos a seguinte inscrição:
Nesta Cachoeira
faleceu o pobre Simplício (RONDON)
- Relata Magalhães -
15.03.1914 – O desastre
ocorrido na Cachoeira, que tomou o nome de “Simplício”,
em homenagem à vítima, foi consequência da afoiteza de Kermit Roosevelt e de sua
inexperiência. Rondon examinara pessoalmente o obstáculo
e, com a indiscutível autoridade de
sertanista prático, declarou logo a Kermit que seria em vão tentar a passagem por água, pelo que, internando-se com o
Tenente Lyra, foi explorar o terreno para escolha
do “varadouro”.
Kermit, a quem parecera talvez demasiado prudente a resolução tomada pelo Chefe
da Expedição Brasileira, examinou a Cachoeira e ordenou aos dois homens que
tripulavam a canoa da mira, os exímios canoeiros João e Simplício, a descida
pelo Canal. À objeção de não ser a passagem praticável, insistiu no seu
propósito, repetindo a ordem, a que o piloto se julgou na obrigação de
obedecer, apesar de ter consciência do perigo a que se iam expor.
Realmente, segundo sua própria narrativa e a do outro sobrevivente, o
piloto João, a canoa tomou água e alagou-se logo no começo da temerária
descida. O piloto saltara então, para o leito do Rio, procurando sustentá-la
pelo cabo de proa, mas o ímpeto das águas venceu os esforços que empregara e a
canoa emborcou. Viu ainda João a embarcação, arrastada pela correnteza, águas
abaixo, com o fundo para cima, e sobre ela Kermit e Simplício. Precipitada
assim, em segundo tombo, sumiu-se, entretanto, e com ela desapareceu para
sempre o corpo do inditoso Simplício.
Kermit, felizmente, salvara-se, sem saber como e, de roupas encharcadas,
veio ao encontro de Rondon, a quem referiu o risco que correra, devido a sua
imprudência de moço. (MAGALHÃES, 1941)
- Relata Cherrie -
15.03.1914 – O infortúnio
continua perseguindo-nos, e, ainda nesta manhã, perdemos outra canoa e um dos
rapazes morreu afogado. Todo infortúnio é uma tragédia! Kermit tentou passar
para o outro lado do Rio muito próximo das Cachoeiras; a canoa foi apanhada por
um redemoinho e levada para baixo, através de duas séries de Rápidos. Ela virou
na segunda corredeira. Kermit e João conseguiram chegar à margem, mas Simplício
nunca mais foi visto. Além de uma vida, perdemos uma canoa, 10 dias de
alimentos e parte das ferramentas para a construção de barcos, além do rifle de
Kermit. A perda de uma vida humana é sempre uma tragédia, mas a perda da canoa e de sua carga foi uma tragédia ainda maior
para os membros restantes do nosso grupo. (CHERRIE)
Bibliografia
CHERRIE, George Kruck. Dark trails: Adventures of a Naturalist
‒ USA ‒ New York ‒ G. P. Putnam’s Sons, 1930.
MAGALHÃES, Amílcar Armando
Botelho de. Pelos Sertões do Brasil
(1928) – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Companhia Editora Nacional, 1941.
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Conferências Realizadas nos dias 5, 7 e 9
de Outubro de 1915 pelo Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon no Teatro
Phenix do Rio de Janeiro Sobre os Trabalhos da Expedição Roosevelt‒Rondon e da
Comissão Telegráfica ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ – Tipografia do Jornal
do Comércio, de Rodrigues & C., 1916.
ROOSEVELT, Theodore. Nas Selvas do Brasil ‒ Brasil ‒ São
Paulo, SP ‒ Livraria Itatiaia Editora Ltda ‒ Editora da Universidade de São
Paulo, 1976.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=tYkH5YO38IQ&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=40
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H