Sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022 - 07h00
Bagé, 25.02.2022
Publicamos,
a seguir, uma série de correspondências trocadas entre o Coronel Plácido de
Castro, o Juiz João Rodrigues do Lago, o Coronel Francisco de Oliveira e o
Coronel Gabino Besouro para início e realização da paz. Escreve, no dia 17 de
julho, o Juiz João Rodrigues do Lago ao Coronel Plácido de Castro:
Alto Acre, 17 de julho de 1908
Ilm° sr. Coronel José Plácido de Castro
Queira aceitar as minhas afetuosas saudações.
Na qualidade de Juiz de Direito desta Comarca do Alto Acre, tomei a
deliberação de dirigir a presente carta à V.Sa. para tratar de assuntos que
dizem respeito a este Departamento, por cujo progresso tanto tem mostrado se
interessar. Não influiu em meu ânimo senão o muito interesse que tenho pela paz
e progresso deste futuroso Departamento, que hoje faz parte do território
Nacional, devido em grande parte aos esforços de V.S.ª.
É bem de ver, portanto, que a ninguém mais do que V.S.ª, cujas
responsabilidades, pelo papel saliente que representou como chefe da Revolução
Acreana e pelos grandes interesses que aqui tem, deve interessar o progresso e
desenvolvimento desta zona. Confiante nisto e sabendo quanto deseja o desenvolvimento
do Alto Acre, por amor do qual não duvidou jogar a vida, e, não me fazendo
portador de boatos, é que venho pedir à V.S.ª no sentido de fazer desaparecer
o sobressalto em que se acha grande parte da população, receosa de uma luta
armada. Em todos os tempos e em todos os lugares, os vultos mais salientes
estão sempre sujeitos a apreciações, das quais não podem escapar. Os próprios
amigos, muitas vezes, emprestam-lhes opiniões e dizeres, que nunca lhes
passaram pela mente. Nos meios pequenos, essas opiniões atribuídas às pessoas
salientes, são exploradas por todos os meios e sob todas as formas. Não é de
estranhar, portanto, que o nome de V.S.ª tenha aparecido nos boatos que
circulam nesta Vila.
Convicto, porém, de que de modo algum o autorizou, é que me animo a pedir
a V.S.ª para empregar prestígio e influência de que dispõe no sentido de fazer
voltarem à calma e a tranquilidade ao espírito público. Na certeza de que
prestará este serviço à causa pública, subscreva-me com estima e consideração.
Admirador e Criado [assinado] ‒ João Rodrigues do Lago.
Nesse
mesmo dia, o Dr. Lago dirigiu também um ofício ao Prefeito Gabino Besouro:
Juízo de Direito da Comarca do Alto Acre, em 17 de julho de 1908.
Exm° sr. Dr. Gabino Besouro, Prefeito do Departamento do Alto Acre ‒ Em
vista dos acontecimentos que vão desenrolando neste Departamento cuja vida
normal se acha profundamente alterada, resolvi me transferir com os
funcionários do Foro para Porto Acre onde provisoriamente se acha instalado o
1° Termo, e lá aguardar a comunicação de V. Exª sobre a conclusão dos mesmos
acontecimentos.
É certo que V. Exª, no ofício 289, ofereceria a este Juízo todas as
garantias, mas diante do pânico que se vai apoderando do espírito público,
entendi que aqui não deveria permanecer. Retirando-me, como faço, deixo sob a
guarda de V. Exª o arquivo do Cartório, cuja chave acompanha este, bem como
peço à V. Exª garantia para a casa onde resido.
Queira V. Exª com protestos de minha consideração, aceitar os votos que
faço para que em breve a calma volte aos espíritos e restabelecimento da ordem
seja completo.
Saudações [assinado] – João Rodrigues Lago. (CASTRO)
Somente
no dia 19 de julho, chegam, às mãos de Plácido, as duas cartas, uma do Juiz
João Rodrigues Lago e outra do seu amigo Coronel Francisco de Oliveira, dono do
Seringal “Catuaba”, informando-lhe
que se apresentara ao Prefeito Gabino Besouro para ser o mediador da situação
litigiosa.
Plácido
responde à ambas com altivez. Ao Juiz João Rodrigues Lago:
Capatará, 19 de julho de 1908.
Exm° sr. Dr. João Rodrigues do Lago, M. D. Juiz de Direito da Comarca do
Alto Acre.
Chegando neste momento à casa, deparei com a carta de V.Exª, que passo a
responder. Ainda que não tivesse o prazer de ser particularmente conhecido, por
V.Exª tenho vida pública pela qual posso ser julgado. Entrando o Território do
Acre para a comunhão brasileira, recolhi-me à vida industrial e comercial, que
absorve quase toda a minha atividade.
A dúvida e o temor que diz V.Exª pairarem sobre essa região, para mim tão
querida e talvez na iminência de uma conflagração geral, deve ser mais intensa
ainda no meu espírito, que sou alvo do ódio e talvez dos punhais daqueles que
chegados aqui ontem se julgam com mais direitos de viver nesta terra do que eu
e os que como eu regam-na com suor honesto.
Como disse, tenho vida pública, e por ela posso, talvez, afirmar que se
alguém nesta terra entrou pela porta da honra e do sacrifício, esse alguém,
desculpe-me a falta de modéstia, fui eu. Com que indignação e com que dor não
devo assistir, como agora, os representantes do Governo de minha pátria
calcando sob coturnos os mais sagrados direitos de pessoas que me são tão caras
– irmão e amigos.
Meu irmão, arrancado alta noite de casa pela soldadesca de armas
embaladas, os meus amigos com a casa indefesa, assaltados em pleno dia por essa
mesma soldadesca, a tiros de Mauser, vendo-se obrigados a abandoná-la para não
serem assassinados.
O apelo não deve ser feito às vítimas para impedir a luta, sim ao
agressor. Esses fatos são eloquentes demais para não se ignorar quem é o
perturbador da ordem pública, o responsável por essa nuvem lutuosa que se
estende sobre o Território do Acre.
Quem vai enlutar esta terra pela qual tenho tanto carinho, não sou eu,
Exm°. Sr.: é o representante do Governo de nossa pátria, é o depositário do
poder público! Quando penso que os que praticam essas violências são os mesmos
de Canudos, que o autor dos “Sertões”,
pintou com tão vivas cores, vejo que bem contra minha expectativa e vontade é
chegada para mim a hora suprema da suprema resolução.
Entretanto, se o depositário do Poder Público entender que não deve
continuar a mandar assaltar a casa de meus amigos inermes e suspender esse
aparato bélico dentro da própria paz que ele acaba de perturbar, não serei eu
quem vá interromper a marcha pacífica da vida acreana, na qual a minha
responsabilidade moral é maior que a dele.
Se cessar a agressão, terei o prazer de ir pessoalmente apertar as mãos
de V.Exª
Do cordial admirador. [assinado] – Plácido de Castro.
Responde
ao amigo Cel Francisco de Oliveira:
Capatará, 19 de julho de 1908.
Amigo Francisco de Oliveira:
Recebi tua carta de 17 do corrente, que respondo. Tu que estás bem a par
de minha vida nesta terra, e onde pela qual tanto temos trabalhado, bem sabes
qual a posição que tenho mantido e qual o meu espírito de ordem. Não te podes
esquecer de que, quando vi o Prefeito descer à arena de ódios e lutas
mesquinhas onde soa unicamente o eco da intriga, eu te pedi que te aproximasses
dele, esforçando-se por abrir-lhe os olhos.
Pois bem, não mudei, ainda penso assim e faço questão de transigir em
benefício público. Somente para minha honra e a minha vida me reservo o direito
de fazer preço, e eu seria indigno de mim mesmo se nesta hora não soubesse o
meu lugar. Devo dizer-te que estranhei que ao invés de me pedires uma
conferência não tivesses vindo em minha própria casa, onde tu não poderias
duvidar de tua segurança pessoal.
Amanhã estarei no “Benfica” às
tuas ordens; mas se de fato não queres ver sangue de irmão, não leves força
armada contigo nessa entrevista de amigo.
Plácido de Castro. (CASTRO)
No
dia 21 de julho, responde o Prefeito Gabino Besouro ao Coronel Francisco de
Oliveira:
Rio Branco, 21 de julho de 1908.
Ilm° sr. Coronel Francisco de Oliveira.
Saúdo-o afetuosamente.
Eu compreendo bem as suas inquietações, que são hoje as de todos os
habitantes deste Departamento. Os desejos por V.Sa.
e por outras pessoas, que em comissão me procuraram, manifestado no interesse
da tranquilidade pública, são também os meus.
E nem se pode compreender que outros sejam de minha parte, quando para
aqui vindo, desconhecendo coisas e pessoas, sem ligações de interesses subalternos,
sem paixões e sem ódios, outros propósitos não trouxe, senão os de fomentar
quanto em mim coubesse, o progresso material do Departamento, sem me
subordinar a interesses de luta estéril, procedendo com justiça e equidade e a
todos tratando com considerações e cortesias.
Deste programa diz-me a consciência não me ter afastado e espero não me
afastarei.
Daí o não compreender a razão das notícias alarmantes de preparativos
contra a minha autoridade sem nenhuma causa justificável.
É verdade que nenhum interesse pessoal de ordem material me liga a esta
terra; mas ligam-me a ela outros de ordem moral, não menos importantes, como
brasileiro que deseja, investido da confiança do governo, fazer algumas coisa
por seu progresso. Intermediário que V.Sa.
teve a bondade de se prestar ser junto ao sr. Coronel Plácido de Castro, de
quem está hoje dependendo a tranquilidade e harmonia deste povo, pois V.Sa. sabe que os boatos e as notícias
alarmantes giram em torno de sua individualidade, ninguém melhor está nas
condições de avaliar da gravidade ou não da situação e concorrer com os bons
ofícios para que todos voltem aos labores normais.
Na carta que o Ilm°. Sr. Coronel Plácido de Castro dirigiu a V.Sa., fala em agressão de que foi
vítima, dizendo assim justificar a posição de defesa em que se acha. Não sei se
o sr. Cel Plácido refere-se à agressão sofrida de minha parte. Quero crer que
não, pois desde que aqui estou, não pratiquei ato que pudesse sequer
molestá-lo, quanto mais de agressão, que justifique essa atitude, ignoro completamente
e nem sequer disto sei como fato público.
O sr. Coronel Plácido afirma a V.Sa.
que se puder assumir o compromisso de não mais continuar a faltarem-lhe as
garantias constitucionais por parte das autoridades, que na mesma hora deixará
de fazer sentinela à sua casa, reassumindo de novo os seus labores habituais. Realmente
nunca ao meu conhecimento chegou a notícia da queixa de qualquer violação dos
direitos de que o sr. Coronel Plácido fala; mesmo, como quer que seja, eu não
me sinto convenientemente apto para assumir o compromisso a que se refere V.Sa, mesmo porque é o meu dever, não
só relativamente à sua pessoa, como à de qualquer cidadão.
E eu jamais toleraria uma autoridade que provadamente se desviasse do
dever do respeito aos direitos alheios. Se disto está dependendo a
tranquilidade e a harmonia do povo acreano, que precisa de paz para o seu útil
labor, tenho certo que será uma realidade essa tranquilidade de que necessita
também o governo do Departamento, para poder enfrentar e resolver os problemas
de administração que devem garantir o seu progresso moral e material. Quanto à
conferência de que V.Sa. me fala, com o sr. Coronel
Plácido de Castro, cabe-me declarar que estou ao seu inteiro dispor em qualquer
ocasião que julgar oportuna.
Queira V.Sa. aceitar; os protestos de estima
e consideração. De v.v. att° ven° am° e obgm° [assinado] Gabino Besouro.
(CASTRO)
Relata-nos
Cláudio de Araújo Lima que, logo depois de responder às cartas do Juiz Lago e
do amigo Francisco, Plácido de Castro, escreve, já na madrugada de 20, a um
amigo de Manaus esta carta, exprimindo claramente o temor que assaltava seu
espírito:
[...] Escrevo-te estas linhas dentro de um verdadeiro acampamento de
guerra e bem contra a minha vontade. Por minha correspondência anterior já
deves saber que a única preocupação do atual Prefeito é botar-me fora do Acre
por todos os meios [...] Em vista destes acontecimentos, nada mais podia o
Genesco duvidar sobre a nossa sorte, e, apesar de achar-me no Xapuri, reuniu
gente imediatamente em nossos seringais e despachou um próprio ([1])
em minha procura, que me encontrou já em viagem a meio caminho.
Aqui cheguei e, tomando conhecimento de todas estas
misérias e bem à contragosto, resolvi botar para fora estes bandidos; fiz
avançar piquetes até além do Guarani e dentro de quatro dias eu saberia qual o
meu destino ou o desse Besouro, que tanto me tem zumbido. Mas, felizmente, hoje
veio um emissário dele e de alguns amigos meus, a me proporem que detivesse a
minha marcha, que Besouro, por sua vez, se desarmaria.
Que para mim, que ia fazer um morticínio, bem contra a
minha vontade, somente em defesa própria e de amigos meus assaltados, e não uma
revolução, isto será o verdadeiro maná caído do céu. Oxalá cheguem a duradouro
acordo.
Teu amigo, Plácido. (LIMA)
No
dia 21 de julho, o amigo Francisco de Oliveira assenta-lhe as bases da
pacificação, e, cheio de esperanças, mostra a Plácido a carta recebida de
Besouro. Aparentemente a missiva indicava que o Prefeito concordava com os
termos de Francisco de Oliveira. Conta-nos Genesco de Oliveira Castro:
Cheguei a Capatará no dia 23, à noite,
depois de haver percorrido cerca de cem quilômetros em canoa, e três vezes mais
de caminhos terrestres, alguns péssimos e perigosos, como o de “Batávia” a “Bagaço”. As minhas primeiras palavras sobre a pacificação foram
reprovando-a, porque achava que, uma vez que havíamos armado gente para reagir,
forçados pela conduta do Prefeito, devíamos ir até o fim.
Mas, Plácido me ponderou:
– Lembra-te de que eles
são irresponsáveis e queimam pólvora alheia. Eles nada têm a perder, e nós,
tudo. Eles nos fazem guerra à custa dos cofres públicos, e nós a temos que
fazer à nossa custa... Eu tenho responsabilidade, estou ligado a esta terra e,
a atitude que éramos forçados a tomar, seria a nossa ruína [...]
Ele tinha muita razão: tudo era contra nós. Passamos a noite quase em
claro, discutindo a situação em que nos encontrávamos, de constantes sobressaltos
e de contínuos prejuízos comerciais, devidos à tenaz perseguição que lhe moviam
todos os Prefeitos do Acre, e meu irmão concordou em abandonar a terra que ele
entregara livre à comunhão brasileira e que, desde então, gemia sob a mais
desumana escravidão. (CASTRO)
Reporta-nos
Cláudio de Araújo Lima:
Quando a madrugada vai alta, uma ideia já se antepôs às outras,
dominadoramente. O libertador do Acre tem como definitivamente deliberado que,
logo após a conferência com Besouro, se retirará de uma vez do Acre que tanto
estremece. Transferirá todo o ativo e passivo de sua casa comercial a Genesco.
Regressará ao Rio Grande do Sul, para casar-se e iniciar outra vida. Talvez
assim seja feliz. E mais feliz, sem sua presença, se torne também o Acre.
AFINAL
A PACIFICAÇÃO
A 7 de agosto, realizou-se na sede do governo prefeitural do Alto Acre –
em Vila Rio Branco – a conferência ajustada entre o Coronel Gabino Besouro e
Plácido de Castro. Do que se discutiu e deliberou entre quatro paredes, até
hoje nada se apurou ao certo. Só o que se pôde ouvir, à hora da despedida, foi
esse fim de diálogo, que prometia ao Acre uma nova era de tranquilidade:
‒ Coronel Plácido,
espero que este abraço seja o selo da paz entre nós no Acre.
Ao que Plácido de Castro retorquiu, com aquela sua inata tendência a
prolongar indefinidamente (?) o
fôlego dos ressentimentos:
‒ Assim seja, Coronel.
Mas V. Exc.ª era quem queria a guerra.
Devia ser a paz. Mas o fato é que a dissipação da borrasca era apenas
aparente. Senão, Genesco de Castro não teria datado desse mesmo dia a
carta-aberta que decidira dirigir ‒ se com o beneplácito do irmão, não se sabe
‒ ao Chefe da Nação:
Sr. Presidente da República:
Se os crimes que venho denunciar ameaçassem simplesmente a minha vida, eu
não viria, creia, à vossa presença denunciá-los, porque daria um atestado de
covardia de minha parte, ou mostraria estar sofrendo da mesma enfermidade
[mania de perseguição], que o vosso escolhido para administrar este infeliz
Departamento.
Nos primeiros dias do mês passado fomos prevenidos de que o Prefeito
deste Departamento havia presidido um concílio de assassinos, onde se resolveu
fossem assassinados Plácido de Castro, José Maria Dias Pereira e Dr. João
Rodrigues do Lago, coincidindo essa notícia com a nova aqui espalhada pelo subprefeito,
que o “Coronel Gabino Besouro havia
recebido do governo reservadas e severas instruções sobre a pessoa do Coronel
Plácido por causa da atitude do Correio do Norte”.
Quinze dias apenas, depois de havermos sabido da resolução do Prefeito,
já se havia inventado uma revolução na Prefeitura, tentado duas vezes contra a
vida de Plácido de Castro e uma contra a de Dias Pereira, sem que providência
alguma fosse tomada!
Mesmo porque os heróis dessas façanhas são o subprefeito Simplício de
tal, o Delegado Josias Lima e o subdelegado Alexandrino José da Silva, bêbado
contumaz, criminoso relapso e íntimo do Coronel Besouro!
Esse estado de coisas pareceu serenado por alguns dias, mas o fato de
mais um conhecido assassino ser chamado para a administração Besouro, levanta
uma atmosfera de traição e de perversidade em torno da sua autoridade como
Prefeito deste infeliz Departamento, cuja sede se acha transformada num covil
de bandidos, e faz supor que, de fato, alguma coisa muito grave, se não
perversa, está sendo executada à sombra do representante do vosso governo, Sr.
Presidente.
Tanto assim que, na qualidade de irmão de Plácido de Castro, sentindo o
peso desta atmosfera sanguinolenta, indo eu à presença do Sr. Gabino
relatar-lhe os graves acontecimentos que impressionam, ele justificou esses
atentados traiçoeiros e absolveu os criminosos! É nessa contingência, Sr.
Presidente da República, que vos peço providências que ponham a pessoa de meu
irmão, a salvo do punhal da primeira autoridade deste Departamento!
Empresa, 7 de agosto de 1908.
Genesco do Castro.
No dia seguinte ‒ 8 de agosto ‒ Plácido de Castro ainda se encontra na
Vila. Disposto que está a viajar para o Sul, com o propósito íntimo de não mais
voltar ao Acre, aproveita a estada em Rio Branco para fazer seu testamento.
[...] Plácido prepara-se para regressar a “Capatará” no mesmo dia. Em sua companhia viajarão também dois
amigos particulares – José Alves Maia e o Promotor Dr. Barros Campelo – ambos
convalescentes de enfermidade grave, e que pretendem refazer-se na confortável
e salubérrima zona dos campos, onde há leite abundante e clima magnífico. Nos
campos “Esperança” encontrarão um
verdadeiro sanatório.
À última hora, porém, Alves Maia desiste de acompanhá-lo, nessa viagem
noturna que Plácido decidiu fazer, por estar avisado de que seriam atacados
numa emboscada. O gaúcho sorri, e lembra ao amigo temeroso a cena que tivera
lugar na véspera, quando de sua chegada para a entrevista com o Prefeito. Ao
defrontar Alexandrino, que chilreava numa roda de moradores da Vila,
aproximou-se dele com ar de superioridade, interpelando-o em voz alta para que
todos o ouvissem:
– Então, Coronel
Alexandrino? Soube que o senhor andou dizendo que ia me matar, onde me
encontrasse. A ocasião é ótima. Aqui está a sua vítima.
A coragem de Plácido desnorteia o facínora. Este se descobre com ar
respeitoso, esboça um sorriso amável e responde, em voz alta:
– Isto é uma “caluna” que me “levantaro”, seu “Coroné”.
E Plácido ainda lhe atira, cheio de desprezo, uma última frase, repisando
a torpeza de sua prosódia ([2]):
‒ Pois se é “caluna”! Melhor para você. (LIMA)
Bibliografia
CASTRO, Genesco de Oliveira. O Estado Independente do Acre e J. Plácido de Castro: Excertos
Históricos – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Tipografia São Benedicto, 1930.
LIMA, Cláudio de Araújo. Plácido de Castro, um Caudilho Contra o Imperialismo – Brasil – Rio
de Janeiro, RJ – Companhia Editora Nacional, 1952.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXIV
Bagé, 20.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.260, Rio, RJ Sábado e Domingo, 25 e 26.01.1964 Generais Contra Decreto
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXIII
Bagé, 17.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.259, Rio, RJSexta-feira, 24.01.1964 Petrobras em Crise: Negociata Uma
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXII
15.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.257, Rio, RJQuarta-feira, 22.01.1964 Subversão da Ordem é Etapa da Revoluç
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXI
Bagé, 13.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.255, Rio, RJSegunda-feira, 20.01.1964 Bilac dá as Provas do Golpe O D