Sexta-feira, 19 de novembro de 2021 - 16h37
Bagé, 19.11.2021
Por Ten Cel João Batista Carneiro Borges
Cel HIRAM REIS E SILVA, bem mais do que um excelente historiador e
escritor, pois afora as pesquisas minuciosas, durante meses, em livros, jornais
e documentos diversos, ele busca a História “in loquo”, dessa
maneira faz o resgate de magníficos vultos nacionais praticamente esquecidos,
consegue detalhar as suas qualidades pessoais, indo além do herói,
radiografando a pessoa e aproximando-o de seus leitores. O autor possui mais de
trinta obras escritas, em sua maioria sobre expedições amazônicas e, nesse
contexto, seu primeiro livro, “Desafiando
o Rio-Mar, descendo o Solimões”, foi lançado em dois mil e dez, com direito
a uma concorridíssima sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre.
Para cada volume tornar-se realidade é necessário um planejamento com
o mais absoluto esmero, dedicação, levantamento de detalhes e uma logística
quase perfeita, pois ao longo das jornadas, o que seriam simples minúcias, por
dezenas de vezes tornaram-se vitais para o cumprimento dos objetivos e até
mesmo para salvaguardar a integridade física dele e dos seus companheiros de
expedição. O seu preparo físico merece ser destacado e enaltecido ao lado da
capacitação técnica como remador e da psicológica, fundamentais para fazer
frente aos obstáculos, perigos, desconfortos e aos inevitáveis imprevistos.
Esse canoeiro fez ecoar o grito de Brasil de Norte a Sul do nosso país
para aqueles que têm ouvidos e mentes abertas e um coração patriótico. Seu
pequeno caiaque traçou novos rumos, conquistou populações esquecidas,
redesenhou novas curvas de rios e descobriu aldeias, corrigindo levantamentos
cartográficos. Teve que rever e refazer muitas vezes a planificação, pois nem
sempre os apoios acordados foram cumpridos, mas sempre contou com amigos fiéis
em todas as suas longas e causticantes jornadas.
Ele, através de seus relatos de viagem, vem refazendo o percurso de
heróis e vultos insignes de um passado histórico, sempre conectado às
comunidades ribeirinhas, aos indígenas e aos militares. Em seu caiaque muitas
pessoas navegaram, nas águas pelas quais singrou, milhares de olhos o
acompanharam, nas margens que deixou para trás, em cada parada ribeira, nos
povoados, nos vilarejos e nas pequenas cidades os seus leitores uniram-se às
populações locais, tamanho é o realismo de seus livros.
Os seus apoiadores são sempre lembrados através de fotos e de
agradecimentos formais no capítulo destinado a isso, ou mesmo dedicando muitas
linhas no corpo do livro. Assim é o Coronel, um brasileiro que diz muito
obrigado, que demonstra seus sentimentos de gratidão, apanágio de pessoas com
refinada educação e nobreza de sentimentos.
Por mais que releia os relatos, por mais que me perca nas páginas de
seus livros e artigos, escritos com requintes de detalhes e de pura emoção,
nunca terei a noção exata e sequer aproximada da sua coragem e bravura.
Nesta nova obra vamos navegar por mais de setecentas e cinquenta
páginas, apreciando as paisagens da Amazônia, indo aos bastidores da Revolução
Acreana, conhecendo características de personagens que, muitas vezes, a nossa
História destinou poucos parágrafos, em vez de capítulos volumosos, como fazem
por merecer, passaremos os olhos pelo Velho Continente, pelos Estados Unidos da
América, além das Américas Central e do Sul.
O autor recorre a artigos jornalísticos da época, nacionais e estrangeiros,
buscando a maior veracidade possível à narrativa, também ilustra com mapas e
fotos esta obra que é um verdadeiro resgate a vultos nacionais e estrangeiros
de importância fundamental para que o Acre seja um estado do Brasil, dentre
esses o Dr. Luiz Galvez Arias, advogado espanhol, poliglota e diplomata; o
poeta e médico baiano Francisco Mangabeira, autor de seu belíssimo hino, além
de Plácido de Castro, evidentemente.
Apesar de ser um reconhecido herói brasileiro, eternizado no Panteão
da Pátria desde o ano de 2004, o Cel Plácido de Castro, ganha nesta obra uma
homenagem sem precedentes, pois além dos feitos que notabilizaram esse gaúcho
de São Gabriel, como dono de uma bravura ímpar, conhecimento e experiência
militar invejáveis, é revelado o seu lado pessoal, com particularidades pouco
ou nada conhecidas nos livros de história, descortinando a face do homem e do
cidadão.
Vamos nos deparar com dezenas de poesias que adornam a obra e que, ora
pela leveza que trazem às páginas, ora por intensificarem a leitura, provocarão
a reflexão do leitor ou instigarão ainda mais a sua curiosidade.
Nessa nova descida pelas águas de outro rio amazônico, o Coronel Hiram
traz luzes aos cidadãos acreanos, nascidos nos mais diversos recantos do
Brasil, principalmente nos estados da Região Nordeste, os patriotas que
trocaram a extração do látex pelas armas, na defesa do seu solo, reivindicado
pela Bolívia e desejado pela cobiça de grandes empresários norte-americanos,
com o apoio e real interesse daquele país em hastear a bandeira da sua nação na
América do Sul.
Vamos entrar nos meandros do porquê a voz dos brasileiros no Acre,
clamando por socorro, demorou a ser ouvida pela Pátria, alguns gritos ecoavam,
mas pareciam inaudíveis ao coração na República, até mesmo pelas dúvidas em
relação aos limites da fronteira Brasil Bolívia.
Veremos a importância da diplomacia brasileira e o seu exitoso e
profícuo trabalho, conduzido por Rio Branco e Assis Brasil, na complicadíssima
e intrincada questão dos limites entre Brasil e Bolívia, culminando com o
Tratado de Petrópolis, que estabeleceu relações amistosas entre os países,
definiu a fronteira e ainda evitou um conflito bélico entre as partes.
Finalmente, o Cel HIRAM nos levará às águas do Rio Acre, desde o Peru
até o estado do Amazonas, cruzando pelo estado de mesmo nome do curso fluvial,
por mais de 800 quilômetros. Seremos apresentados às cidades que se debruçam
sobre o rio, conheceremos dados históricos, geográficos, costumes,
peculiaridades, alguns moradores ilustres, simples trabalhadores e um pouco de
seus hábitos.
Essa navegação por mais de uma centena de páginas dentro do Argo, o
caiaque remado a braço firme, será de uma beleza ímpar e poderemos sentir o
pulsar do desbravador em cada parágrafo, o seu contato com os habitantes
locais, suas homenagens a destacados filhos daquela terra e de outras, cuja
importância para a história do estado do Acre foi fundamental.
A riqueza dos depoimentos colhidos nas entrevistas, durante essa
travessia, além da escolha muito bem feita dos entrevistados, devido ao
conhecimento específico e representatividade, é também fruto de suas qualidades
de comunicador e a sua capacidade em deixar seus interlocutores à vontade,
devido ao seu cavalheirismo, hospitalidade e inteligência interpessoal.
Ao chegarmos ao final do livro teremos um grande prazer pela certeza
da aquisição de novos conhecimentos sobre a história do Acre, escritos de
maneira didática e pormenorizada, com o respaldo de centenas de fontes de
consulta, além do inigualável trabalho de campo do autor, porém haverá uma
sensação de tristeza e vazio, pois ao longo dos capítulos fomos fazendo amigos,
descobrindo heróis, torcendo pelo povo acreano e pelo sucesso do Brasil, mas a
leitura foi concluída.
Cabe-nos a releitura desta e de outras obras do Cel Hiram e o desejo
que, brevemente, ele venha a brindar o seu público com outro livro magnífico.
Aguardamos ansiosos mais um brado de “Missão Cumprida!”.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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