Terça-feira, 5 de outubro de 2021 - 06h00
Bagé, 05.10.2021
08.04.1914
- Relata Rondon -
08.04.1914 – No dia imediato,
lutando corajosamente contra as dificuldades opostas por esta cachoeira, que
recebeu a designação de “Sete de Abril”,
e mais com as que se lhe seguiram, não conseguimos avançar mais do que 3.655 m,
apesar de termos trabalhado desde as 08h00 até próximo das 16h00. Paramos à
beira de outra cachoeira, e ao acampamento aí instalado demos o nome de “Piranhas”, em lembrança de alguns desses
peixes pescados pelo Ten Lyra. (RONDON)
- Relata Roosevelt -
08.04.1914 – Hoje, só descemos
5 km, pois encontramos muitas corredeiras. Tivemos de baldear as cargas de
duas canoas, mas as vazias passaram sem dificuldade, pois, na margem Ocidental,
havia longos Canais e de correnteza rápida dentro da mata. O Rio estivera mais
cheio, mas ainda se conservava muito alto, e a corrente tumultuava em volta das
muitas ilhas que naquele ponto dividiam o Canal. Às 16h00, acampamos ao alto de
outra série de encachoeirados, nos quais as canoas canadenses teriam passado
oscilando e sem embarcar uma gota d’água, mas que nossas canoas só podiam
vencer descarregadas.
Cherrie matou três macacos e Lyra pescou duas grandes piranhas, de modo
que mais uma vez tivemos um jantar e um almoço muito bons. Quando um grupo de
homens, em trabalho puxado, fica a meia ração a maior parte do tempo, passa a
tomar vivo interesse em qualquer refeição razoavelmente satisfatória que possam
conseguir. (ROOSEVELT)
- Relata Cherrie -
08.04.1914 – De nosso
Acampamento, como tem sido rotina já há algum tempo, ouvimos o barulho dos
Rápidos tanto a montante como a jusante! Ainda não atravessamos os Rápidos a
jusante da Foz do Rio Cardoso. Nossa marcha é curta. Por duas vezes, os barcos
passaram carregados, mas somente com os remadores a bordo. Por duas vezes, transportamos
a carga por terra, por uns 400 e 100 metros, respectivamente, e os barcos
conduzidos à sirga vazios. A primeira travessia de 400 metros mostrou-nos como
estava fraco o Coronel Roosevelt.
Ele estava completamente exausto, no limite de suas forças, mas, mesmo
assim, mantinha sua postura. Kermit está cada vez mais preocupado com o seu
pai, embora ele próprio ainda esteja com febre. A falta de alimentos em
quantidade suficiente é um dos motivos de estarmos todos fisicamente
debilitados, e a falta de força e energia é extremamente evidente nos
Camaradas. Parece, finalmente, que estou recuperando-me completamente da
doença que tem me atormentado, embora, é claro, ainda esteja enfraquecido. Logo
que chegamos ao novo Acampamento, ouvi um alarido de macacos na floresta.
Peguei minha arma, entrei na mata, achei um bando de mais de doze símios
alimentando-se e consegui abater três. Um deles, no entanto, permaneceu preso,
pela cauda preênsil, em um galho.
Nós não teríamos conseguido alcançá-lo, mas Antônio Pareci subiu por uma
pequena árvore, ascendendo pelos seus galhos até as proximidades de onde o
macaco estava pendurado e, agitando os ramos, conseguiu derrubá-lo. Todos
acharam a carne fresca muito agradável. Usando pedaços de carne de macaco como
isca, Lyra pegou bons pacus para o nosso jantar.
Minha ceia consistia de refrigerante, um biscoito e uma pequena porção de
peixe com uma xícara de café. Não é uma refeição muito saudável para homens
adultos! Os macacos ficaram para o café da manhã.
O Cel Rondon relatou ter visto um urubu. Estamos novamente cercados por
colinas baixas e rochosas, mas acho que provavelmente as deixemos para trás
depois de amanhã. Quando atravessávamos o Rio, acima dos Rápidos, Antônio
Pareci quebrou o remo!
Se eu não tivesse alertado e Cel Roosevelt insistido, não teríamos um
remo reserva! Ficaríamos à mercê das águas considerando que o tamanho e o peso
da canoa não poderiam ser controlados pela pequena pá do timoneiro. Podemos
afirmar que o Cel Rondon demonstrou, em diversas ocasiões, despreocupação com
detalhes importantes, dando provas de ser um chefe de uma Expedição
incompetente! (CHERRIE)
09.04.1914
- Relata Rondon -
09.04.1914 – Desse acampamento
descemos, no dia imediato, 9 de abril, mais 4.575 m, transpondo duas
cachoeiras, que obrigaram os nossos valentes trabalhadores a transportar as
cargas por caminhos martirizantes, o primeiro com a extensão de 700 m e o
segundo com a de 400.
Estes homens já apresentavam o aspecto de organismos esgotados pelo
excesso dos esforços que vinham desenvolvendo havia 42 dias seguidos, numa luta
sem tréguas contra as formidáveis resistências da natureza selvagem do Sertão e
do Rio, que se apresenta eriçado de todos os obstáculos próprios a levarem até
o infinito as dificuldades da navegação; no entanto, nenhum sinal de abatimento
moral se manifestava neles, e nada pressagiava a possibilidade de virem a
perder o ânimo necessário para enfrentar e vencer novos obstáculos e resistir
aos embates de maiores desventuras e de mais pesados sofrimentos. (RONDON)
- Relata Cherrie -
09.04.1914 – Nós ainda estamos
cercados por montanhas e o rugido dos Rápidos ecoa em nossos ouvidos! Fizemos
apenas uma marcha relativamente curta. A primeira coisa que fizemos, na parte
da manhã, foi um transporte por mais de 600 m, contornando os Rápidos, partindo
as canoas vazias. Passamos quase toda a manhã neste transportar e carregar as
canoas.
Era quase meio-dia quando finalmente embarcamos por apenas quinze ou
vinte minutos até desembarcarmos novamente para explorar a região à frente e
avaliar as características e extensão de outra longa série de Rápidos. Felizmente
foi encontrado, numa das margens, um Canal que permitiu que as canoas passassem
carregadas, com êxito. Em seguida, depois de mais quinze minutos, alcançamos a
cabeça de outros Rápidos onde realizamos um transporte de 200 m para a carga e
de onde as canoas passaram vazias com êxito.
Carregamos e embarcamos novamente, tivemos de picar a voga durante uns 15
minutos para impedir a alagação das canoas e, finalmente, conseguimos trazê-las
até a margem direita a montante de outra longa série de Rápidos. Chegamos cedo
o bastante para realizar um reconhecimento e descobrir que amanhã há a
necessidade de executar um transporte de 700 m à nossa frente e onde será
possível executar a travessia das canoas vazias. Esta longa série de Rápidos a
jusante da Foz do Rio Cardoso ia de encontro ao que afirmara Rondon que, durante o
desnecessário atraso no Rio Cardoso, insistiu
que não existiam Rápidos à frente! ([1]) Ele [Rondon]
está
desanimado e triste, mas é do tipo que nunca aprende.
Kermit continua muito doente com febre e mal consegue ficar de pé.
O Médico aplicou-lhe quinino. No final da noite, a temperatura que tinha
chegado até 39,8° C, caiu. No caminho ao longo do primeiro transporte da manhã,
atirei em um grande e belo tucano, mas de uma espécie que já tenho; ele vai
para a panela. Lyra pescou uma piranha de bom tamanho. Falei das colinas baixas
que nos cercam na última noite. Hoje à noite, avistamos uma crista à nossa
frente na margem oposta que se eleva a uma altura considerável.
Esta cadeia de montanhas, através da qual o Rio Roosevelt cortou o seu
caminho, é, sem dúvida, a continuação da faixa que forma o curso do Rio Cardoso
a Oeste do Roosevelt. Senti-me muito bem hoje ‒ mas estou com fome! Desde a
confluência do Rio Roosevelt ([2]),
navegamos em um Rio muito grande, e nossas canoas parecem demasiadamente
pequenas perante ele. (CHERRIE)
10.04.1914
- Relata Roosevelt -
10.04.1914 – Neste dia,
repetimos essas tarefas: uma curta e rápida descida; baldeação por algumas
centenas de metros, e que nos tomou, apesar disso, umas duas horas; outra
descida de alguns minutos e novas corredeiras. Viajamos outra vez menos de 05
km; nesses 2 dias, vínhamos descendo à razão de um metro de altitude por
quilômetro de avanço e parecia quase impossível que tal estado de coisas
pudesse durar, pois o aneroide indicava que estávamos ficando em nível muito
baixo. Como suspirava eu por uma grande canoa de casca de bétula, lá do Maine,
como aquela em que uma vez desci o Mattawankeag em plena enchente! Teria ela
deslizado por aquelas corredeiras, como uma jovem desliza numa contradança. As
nossas sobrecarregadas canoas de troncos teriam mergulhado a proa embaixo de
cada onda. A região era bela. O Rio, alargado, serpeava entre colinas, ora num
só Canal, ora em vários. A mata orvalhada da chuva cintilava ao sol. As várias
espécies de frondes, as folhas de palmeira e as folhas enormes das pacoveiras
imprimiam sua feição peculiar e tropical em toda a paisagem – era como se
alguém, por água, atravessasse um gigantesco jardim botânico. À tarde,
apanhamos um velho tucano, uma piranha e uma tartaruga fluvial, de pescoço
torto, razoavelmente comível, e assim tivemos outra vez carne fresca. Dormimos
como de costume ao rumor das corredeiras. Estávamos havia seis semanas a
caminho, e durante quase todo esse tempo estivéramos no fatigante esforço de
transpor corredeiras após corredeiras. Estas são os mais perigosos inimigas dos
exploradores e viajantes que percorrem aqueles Rios. (ROOSEVELT)
- Relata Cherrie -
10.04.1914 – As colinas que
tínhamos avistado na tarde de ontem causaram todo o transtorno que poderia se
esperar delas. Não ficavam longe da trilha, acima da qual acampamos até às
12h00. Fizemos uma pequena parada na margem esquerda, depois de contornar os
Rápidos, enquanto as canoas eram transpostas carregadas. Aguardamos enquanto
Rondon, Lyra e Antônio Correia faziam um reconhecimento mais a jusante para
investigar outra série de Rápidos, cujos primórdios avistávamos e cujo rugido
era muito sinistro. Não foi encontrado um local através do qual as canoas
vazias pudessem passar, tendo em vista ser uma série muito longa [cerca de
1.500 m] de Rápidos furiosos. O reconhecimento não identificou nenhuma
passagem, a partir da margem esquerda; a direita, porém, parecia apresentar
mais possibilidades.
Assim que cruzamos para a margem direita, para melhor ainda reconhecer a
região, verificamos que foi uma opção feliz. Pareceu-nos possível passar as
canoas vazias para baixo. Mais adiante, elas vão ser descidas por uma curta
distância à sirga, e depois, passar vazias novamente. Uma trilha foi aberta e
nossa bagagem e carga transportada até o Acampamento. Kermit ainda está bastante
doente e com febre, o Cel Roosevelt melhorou e eu estou me sentindo melhor do
que nas duas últimas semanas. O cão de Kermit ‒ “Trigueiro” ‒ foi inadvertidamente deixado para trás, esta manhã.
Ele tinha subido a bordo da balsa com Kermit, mas deve ter saído de novo,
Kermit estava doente demais para se dar conta do que sucedeu. Gastei meu último
cartucho de calibre pesado com o tiro desta manhã, minha arma tem agora pouco
valor para a obtenção de carne para a nossa Expedição. Atirei em um grande
macaco-aranha, ferindo-o, mas não conseguimos pegá-lo.
Alguns dos camaradas, talvez achando que minhas latas contivessem carne,
extraviaram minhas coleções mais importantes. Foi, sem dúvida, para mim, uma
perda muito grave. [...] (CHERRIE)
11
a 12.04.1914
- Relata Roosevelt -
11 a 12.04.1914 – Repetiram-se
os mesmos trabalhos. Passamos a manhã toda a baldear as cargas para baixo das
corredeiras em cujo início havíamos pernoitado, descendo as canoas vazias. Em
seguida, por 30 ou 40 minutos, corremos pelas águas céleres do Rio
serpenteante, quase acontecendo um desastre às canoas geminadas, que foram
atiradas por um redemoinho contra as árvores de uma ilhota meio submersa. E
chegamos a outra série de encachoeirados, onde baldeamos as bagagens e
abarracamos muito depois de anoitecer, debaixo de chuva – um bom exercício de
paciência para aqueles de entre nós que ainda sofriam um tanto de febre.
Ninguém gozava saúde perfeita. Havia algumas semanas que distribuíramos parte
do conteúdo de nossas latas com os Camaradas, porém os nossos alimentos não
eram para eles muito satisfatórios.
Precisavam de mais volume, e o prato de resistência em suas refeições
eram os palmitos; mas, naquele dia, não tiveram tempo para tirá-los. Afinal
resolvemos passar aquelas corredeiras com as canoas vazias, o que foi feito sem
que sofressem acidentes. Em tais viagens é altamente indesejável correr outros
riscos além dos inevitáveis, porque as consequências de um desastre são
muitíssimo sérias; mas também, caso não se arrisque nada, o avanço será tão
lento que constituirá por si um desastre; é necessário variar constantemente os
métodos do trabalho, indo-se desde o excesso de cautela até à temeridade.
À noite, tivemos um magnífico peixe ao jantar, grande e prateado, chamado
pescada, espécie que ainda não apanháramos antes. Certo dia, o cão Trigueiro
deixou de embarcar conosco e tivemos de passar esse dia no mesmo acampamento a
fim de o encontrarmos.
No Domingo de Páscoa, tudo correu do modo para nós já por demais
familiar. Só deslizamos em águas livres durante dez minutos ao todo, levando
oito horas a baldear cargas, desviando-nos de outra corredeira a que as canoas
vazias transpunham; a balsa quase ficou inundada. Nesse dia, pescamos 28 peixes
grandes, na maior parte piranhas, e todos comeram à farta ao jantar e ao almoço
da manhã seguinte. (ROOSEVELT)
- Relata Cherrie -
11.04.1914 – Esta manhã, dois
homens foram mandados de volta, por terra, ao Acampamento 28, na tentativa de
trazer o “Trigueiro”. Pessoalmente,
acho que foi um grande erro da parte do Cel Roosevelt e Kermit, quando
estamos tão ansiosos para chegar ao nosso destino. De manhã, verificamos que os
Rápidos poderiam ser transpostos com as canoas vazias. A consequência [“Trigueiro”] foi de que a partida da
Expedição, que poderia ter acontecido às 09h00, foi adiada. Um precedente foi criado e nossos companheiros,
sem dúvida, poderão
valer-se dele,
no futuro, para
parar por um dia ou parte dele! Um dia inteiro foi gasto neste Acampamento,
as canoas estavam carregadas e prontas para partir antes do meio-dia, mas
Antônio Pareci e Henrique só retornaram lá pelas 17h00, no entanto, tinham
encontrado “Trigueiro”. As tralhas da
cozinha e a bagagem pessoal foram retiradas das canoas, pouco depois das 16h00,
e ultimaram-se os preparativos para o pernoite.
Preparei duas pequenas peles de aves, elas são as primeiras depois de
vários dias. Um grande pássaro “Anni”
([3])
foi visto. [...] A balsa transportava a maior parte de nossos víveres, ficamos
naturalmente alarmados. Antônio e Henrique, além de trazerem o cão “Trigueiro”, trouxeram um courasow ([4]).
(CHERRIE)
- Relata Cherrie -
12.04.1914 – Estávamos todos
muito animados com a notícia que Luiz Corrêa trouxe ontem à noite. Ele tinha
ido até a outra margem para pescar e, navegando ao longo dela, encontrou um
lugar onde alguns galhos haviam sido cortados com uma faca ou um machado! Neste
lugar, o corte só poderia ter sido feito embarcado em uma canoa e os índios
desta região não são “índios canoeiros”.
Consequentemente, alguns seringueiros devem ter se aventurado por estas plagas
do Roosevelt! Nossas chances de encontrá-los podem vir a acontecer brevemente.
Fizemos um pobre progresso hoje, apenas cerca de 2,5 km. Partimos do
Acampamento cedo; alguns minutos, depois das 07h00 e, no final, de uma descida
de 5 min, estávamos a montante de mais uma longa série de Rápidos. A carga teve
primeiro de ser transportada por cerca de meio quilômetro até um local onde os
barcos poderiam atravessar vazios e, em seguida, descer por uma queda de cerca
de um metro à sirga. Ao aproximarem-se das quedas, os canoeiros perderam o
controle de nossa canoa mais antiga, que foi arremessada contra as rochas.
Felizmente, aonde ela foi jogada, a água não era profunda, embora fosse
muito rápida e, após quase três horas de intensa labuta, orientada por Rondon e
Lyra, ela foi finalmente resgatada. [...] Abaixo das Quedas, embarcamos para
uma descida de cerca de 500 m. Depois tivemos de transportar as cargas entre
200 e 300 m até o Acampamento. As canoas passaram vazias. Nosso Acampamento
está novamente na margem direita em um emaranhado quase inextricável de bambus,
pequenas árvores e arbustos, o pior emaranhado que encontramos até agora! Hoje
avistamos um urubu-de-cabeça-vermelha ([5]),
uma grande Garça Azul ([6]),
a primeiro do Rio. O Cel Rondon relatou que na Boca do Rio Cardoso um Black
Skimmer ([7]).
Os Paroarias e os Kingfisher ([8])
são muito comuns. Este foi um dia ruim para os peixes! Entre 25 e 30 peixes
grandes foram pescados! Hoje à noite todo mundo poderá comer a quantidade de
peixe que desejar. Mas o nosso jantar foi só peixe com direito a um biscoito.
Amanhã esperamos pescar mais peixes e assim não precisaremos abrir mais uma
lata de ração. [...] (CHERRIE)
13.04.1914
- Relata Roosevelt -
13.04.1914 – A primeira parte
da manhã foi uma repetição daquela cansativa rotina; porém, ao fim da tarde, o
Rio começou a correr em longos estirões remansosos. Percorremos 15 km e, pela
primeira vez em tantas semanas, acampamos sem o escachôo ([9])
das águas nos ouvidos. [...] (ROOSEVELT)
- Relata Rondon -
13.04.1914 – Na jornada
seguinte, 13 de abril, depois de atravessarmos um rápido perigoso, onde
perdemos dois remos da balsa, entramos num trecho favorável à navegação, por
ter o Rio começado a manifestar a tendência de encaixar em leito regular as
águas que, desde a cachoeira “Sete de
Abril”, vinham, dispersadas por inúmeros canais, rasos e pedregosos. Assim
conseguimos avançar 13.400 m, vendo a vegetação marginal recobrar o aspecto da
floresta amazônica, interrompida no terreno rochoso e alagadiço da cachoeira
das Piranhas. (RONDON)
- Relata Cherrie -
13.04.1914 – [...] depois de
enfrentar Rápidos por mais de um mês, acampamos onde seu rugido não é ouvido.
Anteriormente, quando saíamos dos acampamentos, tínhamos uma única perspectiva
que era de mais um dia lutando contra os Rápidos à frente de nós. Tivemos um
bom início, mas depois de uma descida de 5 min, tivemos de parar a montante de
uns Rápidos, onde todos, exceto os remadores, tiveram que marchar por terra,
mas onde se achava que as canoas carregadas passariam de forma segura.
Era necessário parar por aqui e fabricar remos, uma tarefa demorada
quando é necessário fazê-los a partir de toras. Ao final de 3 horas, tínhamos 5
pás novas, regularmente lavradas. Pouco depois do meio-dia, partimos pela
segunda vez. Apenas alguns minutos se passaram e estávamos, novamente, à frente
de outros Rápidos. A carga teve de ser transportado por uma distância de cerca
de 400 m, e as canoas vazias desceram sem acidente. Carregamos as bagagens pela
trilha por 02h30, sem muita esperança de poder embarcar novamente nas canoas.
A cada curva do Rio, uma nova expectativa ‒ o que ele nos reservava logo
adiante ‒ até que, finalmente, verificamos que o nosso caminho estava
desimpedido. Apenas uns pequenos Rápidos que foram facilmente ultrapassados!
Progredimos bem durante 2 horas! Ocasionalmente, um morro ou uma colina baixa
apareciam diante de nós provocando-nos apreensão, mas tudo correu bem. Esta
noite, no Acampamento, consegui uma nova espécie ‒ um Heteropelna ([10]). O Cel
Roosevelt quase não consegue andar, ele está com erisipela em uma perna e um
pouco de febre. [...] (CHERRIE)
14.04.1914
- Relata Rondon -
14.04.1914 – Partimos cio
nosso 31° acampamento na manhã de 14 de abril, data que nos serviu para
designar um novo tributário da margem esquerda do Roosevelt, distante 252.475 m
do Passo da Linha, e prosseguimos a marcha até completarmos nesse dia o
percurso de 31.350 metros, ao fim do qual acampamos. (RONDON)
- Relata Roosevelt -
14.04.1914 – Fizemos um bom
percurso de 32 km, aproximadamente. Passamos pela Foz de um pequeno Rio que
entrava pela direita. Passamos por três corredeiras de pouca importância, e
noutra, mais forte, baldeamos as canoas. O Rio se estendia agora em compridos
estirões geralmente tranquilos. Pela manhã, quando largamos, a vista era linda.
O Rio, largo e sereno, por uns 800 m, era recoberto por leve nevoeiro,
emoldurado em altas paredes de floresta tropical, em que a copa das árvores
gigantescas apenas se distinguia através de seu branco véu. Vários membros da
comitiva pescaram muito, mataram um macaco e um casal de jacutingas ([11])
– aves aparentadas com o peru, mas do porte de um galo – de modo que tivemos um
acampamento bem abastecido outra vez.
A época da seca estava começando, mas ainda caíam chuvas pesadas. Naquele
dia, o pessoal conseguiu cocos de uma nova espécie, cujo sabor muito lhes
agradou, porém esses cocos eram prejudiciais à saúde, e a metade dos homens foi
intoxicada e incapacitada para o trabalho do dia seguinte. Na balsa, só dois
podiam fazer alguma coisa, e Kermit labutou no remo durante o dia todo.
(ROOSEVELT)
- Relata Cherrie -
14.04.1914 – Tivemos um
excelente dia, embora não tenhamos podido manter-nos embarcados durante todo o
tempo. Fizemos duas paradas – a primeira, somente os remadores desceram com as
canoas pelos Rápidos por uma distância de cerca de 500 m, levando mais de uma
hora.
Na segunda, houve um transporte da carga por uma distância similar, que
consumiu mais de três horas. Em seguida, surgiram vários Rápidos pelos quais
passamos sem transtornos, embora isso não tenha servido para melhorar nossa
opinião sobre a habilidade dos nossos canoeiros. O dia correu bem, percorremos
32 km. Cerca de 20 km no rumo Norte, e 05 no rumo Oeste. Uma nova andorinha
apareceu hoje, com a cauda preta e uma faixa branca no peito.
Outras duas espécies ainda voam sobre nós, mas, aquela com o peitoral
branco ([12]) é mais rara.
Nesta noite, no Acampamento, ouvimos um formicarius. Pouco antes de chegarmos
ao Acampamento, um pequeno jacaré ‒ o primeiro neste Rio. (CHERRIE)
Bibliografia
CHERRIE, George Kruck. Dark trails: Adventures of a Naturalist
‒ USA ‒ New York ‒ G. P. Putnam’s Sons, 1930.
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Conferências Realizadas nos dias 5, 7 e 9
de Outubro de 1915 pelo Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon no Teatro
Phenix do Rio de Janeiro Sobre os Trabalhos da Expedição Roosevelt‒Rondon e da
Comissão Telegráfica ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ – Tipografia do Jornal
do Comércio, de Rodrigues & C., 1916.
ROOSEVELT, Theodore. Nas Selvas do Brasil ‒ Brasil ‒ São
Paulo, SP ‒ Livraria Itatiaia Editora Ltda ‒ Editora da Universidade de São
Paulo, 1976.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=tYkH5YO38IQ&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=40
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Mais uma vez o cansaço, a fome e a dificuldade de entender o
idioma nacional confundem a razão do naturalista Cherrie. O tratamento até
então respeitoso de Coronel, a partir de agora, foi suprimido intencionalmente
pelo arrogante naturalista.
[2] Rio Roosevelt:
Rio Cardoso.
[3] Anni:
provavelmente, trata-se da Anhinga anhinga, conhecida como carará, biguatinga,
anhinga, arará, meuá, miuá e muiá. Ave ciconiforme anhingídea que habita os
Rios e lagoas desde o Sul dos EUA até ao Norte do Chile e da Argentina.
[4] Courasow:
mutum.
[5] Urubu-de-cabeça-vermelha:
Cathartes aura.
[6] Garça Azul:
Garça-moura ‒ Ardea cocoi.
[7] Black Skimmer: Talha-mar ‒ Rynchops niger.
[8] Kingfisher:
aves da família Alcedinidae ‒ martim-pescadores, ariramba.
[9] Escachôo:
rebentar a água nas quedas.
[10] Heteropelna (nome desconhecido, provavelmente trata-se do
Heterocercus linteatus): o tangará também conhecido como coroa-de-fogo e
dançarino-coroa-de-fogo e, nos países de língua inglesa, Flame-crowned Manakin.
[11] Jacutingas:
Pipile jacutinga.
[12] Peitoril (Atticora fasciata): ave da família Hirundinidae, também
conhecida como Andorinha-de-faixa-branca.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H