Quarta-feira, 6 de outubro de 2021 - 06h05
Bagé, 06.10.2021
Depois
de uma longa e burocrática negociação retornamos, em setembro de 2019, ao
Roosevelt para percorrer o trecho que os Cinta-Larga nos tinham impedido de
navegar desde a Ponte Ten Marques (KM 100) até o KM 269, em 2014.
Em
2019, de 12 a 29 de agosto, eu havia navegado solitariamente, durante 18 dias,
sendo 13 de remo, pelos Rios Branco e Negro, em pleno pico da cheia, desde Boa
Vista (RR) até Manaus (AM) numa extensão total de 860 km.
Pela
primeira vez desde que iniciei minhas amazônicas jornadas, em 2008, tive, apoio
das três Forças Armadas, em uma única jornada, o Exército, em Boa Vista (RR), a
Marinha, em Caracaraí (RR), e a Força Aérea, em Moura (AM), além de contar,
pela 1ª vez, com o apoio irrestrito da Polícia Militar do Estado de Roraima, em
Santa Maria do Boiaçu (RR) e, novamente, do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Parque Nacional do Jau (AM).
Depois
de uma curta permanência em Manaus parti para Vilhena (RO) para cumprir mais
esta etapa a convite do Dr. Marc Meyers. Nossas embarcações, agora, eram
dobráveis e desmontáveis.
A
canoa de carga, que tinha sido usada em 2014, seria pilotada por dois
Cinta-Larga (Magno e Estevão) e os dois caiaques duplos, um tripulado pelo Dr.
Marc e o Cel Angonese e o outro por mim e o Coronel de Cavalaria Marco Antonio
Diel, subcomandante do Colégio Militar de Porto Alegre.
A
fragilidade e a péssima manobrabilidade dos caiaques ficou patente durante todo
o percurso e em mais de uma oportunidade colocou em risco a integridade física
dos canoeiros e o cumprimento da missão.
Novamente,
não sendo o protagonista do evento, tive de me submeter a realizar apenas uma “descida” de Rio e não de participar de
uma Expedição com o intuito de conhecer as gentes e coisas da região
percorrida.
A
equipe reuniu-se primeiramente em Vilhena (RO) onde tinham ficado armazenados
os caiaques e dias depois partimos, de van, para Cacoal (RO), onde ficamos
hospedados no excelente Cacoal Palace Hotel do Sr. Luiz Carlos Bordignon, um
formidável empreendedor que se tornou, em poucos dias, um grande amigo e
entusiasta de nossa saga.
Outros
fatos notáveis, dignos de nota, em Cacoal foram a grata oportunidade de
conhecer o Sr. Oita Motina Cinta-Larga Filho Semani, Presidente da Associação
PATJAMAAJ dos Povos Cinta Larga, sua esposa Sr.ª Sara Gonzaga Semani
Cinta-Larga, seus filhos e a fantástica história de vida destes guerreiros além
da oportunidade de entrevistar o Cacique João Brabo citado à exaustão no
capítulo “Os Cinta-Larga”.
Os
165 km que percorremos em 11 dias permitiram-nos avaliar a grandeza da
Expedição original que enfrentaram, o então, Rio da Dúvida no pico da cheia,
com pesadas canoas de troncos e uma carga considerável.
No 2° dia da Expedição (11.09.2019), numa transposição à sirga, nosso caiaque virou e minha velha caixinha à prova d’água, que carrego no convés dos caiaques Argos I e II, com a borracha de vedação ressecada pelo Sol, deixou entrar água avariando parte de meu material eletrônico ‒ a Câmara Fotográfica Nikon Coolpix P600 e o GPS Garmin GPSmap 62sc.
Mais
do que o considerável prejuízo material, o que mais me afetou foi a
impossibilidade de documentar nossa passagem pelas belas corredeiras e saltos
deste trecho tumultuário do Rio Roosevelt, de colher imagens daquela natureza
pujante e fotografar os nativos Cinta-Larga. Para complementar minha desdita,
no 2° Acampamento, de 11 para 12.09.2019 (11°29’26”S \ 60°27’30”O), pouco mais
de um quilômetro à montante da Aldeia Roosevelt alguém acionou, criminosamente,
o pedido de socorro de meu rastreador que estava dentro do meu chapéu tropical
pendurado na minha barraca.
Curiosamente,
pouco antes de me afastar do acampamento para carregar o material na camionete
do Professor da Aldeia Roosevelt, tinha mostrado a este Mestre e a alguns
visitantes este importante e emergencial equipamento. A ativação do alarme
colocou imediatamente os serviços de busca e resgate através do Centro
Internacional de Coordenação de Resposta de Emergência (IERCC), baseado em
Houston no Texas em situação de alerta.
A
Rosângela, em Bagé, RS, através de um tradutor, respondeu a uma série de
perguntas da Central GEOS e logo em seguida a Polícia Militar (PM) e os
Bombeiros Militares (BM) de Cacoal foram acionados.
Na
Aldeia, o tal Professor, contou-nos que uma “amiga” sua lhe telefonara informando que os BM tinham recebido um
alerta à respeito de um tal de “Irani”,
integrante da Expedição Centenária, que se afogara e cujo o corpo não tinha
sido encontrado. Uma novela cujos autores acobertados pelo anonimato
permanecerão impunes.
Depois
de visitarmos a Aldeia Rooseevelt, retornamos aos nossos caiaques e mais uma
vez uma ação facinorosa e covarde fora cometida. Meu remo flutuava nas águas ao
lado do caiaque e não fixado pelos extensores como eu o deixara.
Com
mais de 60.000 km de caiaque pelos mananciais brasileiros tenho uma conduta
prussiana em relação ao equipamento e jamais, repito, jamais permito que meu
remo permaneça n’água sujeito a seguir à torrente, um erro de principiante desatento
o que nunca foi meu caso.
Imediatamente
busquei meu rastreador infrutiferamente. Voltei à Aldeia com o Angonese para
alertar os familiares e autoridades locais para não considerarem qualquer
alerta emitido pelo nosso rastreador. Novamente o tal Professor disse que sua “amiga” lhe informara que o rastreador
fora acionado novamente, fato que desmentimos junto às autoridades locais e ao
GEOS.
Curiosamente
o equipamento nos foi restituído, nove dias depois, no Cacoal Palace Hotel no
dia 21 de setembro ligado... O jogo de baterias não dura mais de um dia
e meio, curioso não?
Infelizmente
meus ingênuos companheiros de jornada acharam, na oportunidade, que eu estava
maquinando uma teoria da conspiração. No início da jornada procurei ir à frente
estudando os melhores locais de passagem, mas, com o passar do tempo verifiquei
que a nossa formidável equipe de nativos (Magno e Estevão) tinha mais competência
e entusiasmo para tal e resolvi segui-los.
A
alimentação foi outro ponto fraco da nossa empreitada, comer diariamente arroz
com linguiça, em um Rio em que a fartura de peixe era mais do que suficiente
para nosso consumo era um atentado ao bom senso e à saúde. Embora chegássemos
cedo, logo no início da tarde, aos locais de acampamento, a refeição só era
servida à noite. Dormir de barriga cheia para quem tem problema de refluxo não
é nada salutar.
A
cada manhã, antes de iniciar a jornada, tinha de aguardar os sonolentos
camaradas, o fogo para aquecer o café e a lenta desmontagem do acampamento.
Esta Expedição só não foi um pesadelo total em virtude da ação impecável de
nossos versáteis nativos Cinta-Larga Magno e Estevão.
(Francisco P. da Fontoura e Joaquim J. Mendanha)
Como
a aurora precursora
Do
farol da divindade
Foi
o Vinte de Setembro
O
precursor da liberdade.
Aportamos,
finalmente, na Ponte da Aprovale, por volta das 10 horas do dia 20 de setembro,
uma data muito especial para nós gaúchos.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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