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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCCXVII - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 3ª Parte – XXV Retorno em 2019 - I


Rápidos 06 de Março (10.09.2019).JPG - Gente de Opinião
Rápidos 06 de Março (10.09.2019).JPG

Bagé, 06.10.2021

 

 

Depois de uma longa e burocrática negociação retornamos, em setembro de 2019, ao Roosevelt para percorrer o trecho que os Cinta-Larga nos tinham impedido de navegar desde a Ponte Ten Marques (KM 100) até o KM 269, em 2014.

 

Em 2019, de 12 a 29 de agosto, eu havia navegado solitariamente, durante 18 dias, sendo 13 de remo, pelos Rios Branco e Negro, em pleno pico da cheia, desde Boa Vista (RR) até Manaus (AM) numa extensão total de 860 km.

 

Pela primeira vez desde que iniciei minhas amazônicas jornadas, em 2008, tive, apoio das três Forças Armadas, em uma única jornada, o Exército, em Boa Vista (RR), a Marinha, em Caracaraí (RR), e a Força Aérea, em Moura (AM), além de contar, pela 1ª vez, com o apoio irrestrito da Polícia Militar do Estado de Roraima, em Santa Maria do Boiaçu (RR) e, novamente, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Parque Nacional do Jau (AM).

 

Depois de uma curta permanência em Manaus parti para Vilhena (RO) para cumprir mais esta etapa a convite do Dr. Marc Meyers. Nossas embarcações, agora, eram dobráveis e desmontáveis.

 

A canoa de carga, que tinha sido usada em 2014, seria pilotada por dois Cinta-Larga (Magno e Estevão) e os dois caiaques duplos, um tripulado pelo Dr. Marc e o Cel Angonese e o outro por mim e o Coronel de Cavalaria Marco Antonio Diel, subcomandante do Colégio Militar de Porto Alegre.

 

A fragilidade e a péssima manobrabilidade dos caiaques ficou patente durante todo o percurso e em mais de uma oportunidade colocou em risco a integridade física dos canoeiros e o cumprimento da missão.

 

Novamente, não sendo o protagonista do evento, tive de me submeter a realizar apenas uma “descida” de Rio e não de participar de uma Expedição com o intuito de conhecer as gentes e coisas da região percorrida.

 

A equipe reuniu-se primeiramente em Vilhena (RO) onde tinham ficado armazenados os caiaques e dias depois partimos, de van, para Cacoal (RO), onde ficamos hospedados no excelente Cacoal Palace Hotel do Sr. Luiz Carlos Bordignon, um formidável empreendedor que se tornou, em poucos dias, um grande amigo e entusiasta de nossa saga.

 

Outros fatos notáveis, dignos de nota, em Cacoal foram a grata oportunidade de conhecer o Sr. Oita Motina Cinta-Larga Filho Semani, Presidente da Associação PATJAMAAJ dos Povos Cinta Larga, sua esposa Sr.ª Sara Gonzaga Semani Cinta-Larga, seus filhos e a fantástica história de vida destes guerreiros além da oportunidade de entrevistar o Cacique João Brabo citado à exaustão no capítulo “Os Cinta-Larga”.

 

Os 165 km que percorremos em 11 dias permitiram-nos avaliar a grandeza da Expedição original que enfrentaram, o então, Rio da Dúvida no pico da cheia, com pesadas canoas de troncos e uma carga considerável.

 

No 2° dia da Expedição (11.09.2019), numa transposição à sirga, nosso caiaque virou e minha velha caixinha à prova d’água, que carrego no convés dos caiaques Argos I e II, com a borracha de vedação ressecada pelo Sol, deixou entrar água avariando parte de meu material eletrônico ‒ a Câmara Fotográfica Nikon Coolpix P600 e o GPS Garmin GPSmap 62sc. 

 

Mais do que o considerável prejuízo material, o que mais me afetou foi a impossibilidade de documentar nossa passagem pelas belas corredeiras e saltos deste trecho tumultuário do Rio Roosevelt, de colher imagens daquela natureza pujante e fotografar os nativos Cinta-Larga. Para complementar minha desdita, no 2° Acampamento, de 11 para 12.09.2019 (11°29’26”S \ 60°27’30”O), pouco mais de um quilômetro à montante da Aldeia Roosevelt alguém acionou, criminosamente, o pedido de socorro de meu rastreador que estava dentro do meu chapéu tropical pendurado na minha barraca.

 

Curiosamente, pouco antes de me afastar do acampamento para carregar o material na camionete do Professor da Aldeia Roosevelt, tinha mostrado a este Mestre e a alguns visitantes este importante e emergencial equipamento. A ativação do alarme colocou imediatamente os serviços de busca e resgate através do Centro Internacional de Coordenação de Resposta de Emergência (IERCC), baseado em Houston no Texas em situação de alerta.

 

A Rosângela, em Bagé, RS, através de um tradutor, respondeu a uma série de perguntas da Central GEOS e logo em seguida a Polícia Militar (PM) e os Bombeiros Militares (BM) de Cacoal foram acionados.

 

Na Aldeia, o tal Professor, contou-nos que uma “amiga” sua lhe telefonara informando que os BM tinham recebido um alerta à respeito de um tal de “Irani”, integrante da Expedição Centenária, que se afogara e cujo o corpo não tinha sido encontrado. Uma novela cujos autores acobertados pelo anonimato permanecerão impunes.

 

Depois de visitarmos a Aldeia Rooseevelt, retornamos aos nossos caiaques e mais uma vez uma ação facinorosa e covarde fora cometida. Meu remo flutuava nas águas ao lado do caiaque e não fixado pelos extensores como eu o deixara.

 

Com mais de 60.000 km de caiaque pelos mananciais brasileiros tenho uma conduta prussiana em relação ao equipamento e jamais, repito, jamais permito que meu remo permaneça n’água sujeito a seguir à torrente, um erro de principiante desatento o que nunca foi meu caso.

 

Imediatamente busquei meu rastreador infrutiferamente. Voltei à Aldeia com o Angonese para alertar os familiares e autoridades locais para não considerarem qualquer alerta emitido pelo nosso rastreador. Novamente o tal Professor disse que sua “amiga” lhe informara que o rastreador fora acionado novamente, fato que desmentimos junto às autoridades locais e ao GEOS.

 

Curiosamente o equipamento nos foi restituído, nove dias depois, no Cacoal Palace Hotel no dia 21 de setembro ligado... O jogo de baterias não dura mais de um dia e meio, curioso não?

 

Infelizmente meus ingênuos companheiros de jornada acharam, na oportunidade, que eu estava maquinando uma teoria da conspiração. No início da jornada procurei ir à frente estudando os melhores locais de passagem, mas, com o passar do tempo verifiquei que a nossa formidável equipe de nativos (Magno e Estevão) tinha mais competência e entusiasmo para tal e resolvi segui-los.

 

A alimentação foi outro ponto fraco da nossa empreitada, comer diariamente arroz com linguiça, em um Rio em que a fartura de peixe era mais do que suficiente para nosso consumo era um atentado ao bom senso e à saúde. Embora chegássemos cedo, logo no início da tarde, aos locais de acampamento, a refeição só era servida à noite. Dormir de barriga cheia para quem tem problema de refluxo não é nada salutar.

 

A cada manhã, antes de iniciar a jornada, tinha de aguardar os sonolentos camaradas, o fogo para aquecer o café e a lenta desmontagem do acampamento. Esta Expedição só não foi um pesadelo total em virtude da ação impecável de nossos versáteis nativos Cinta-Larga Magno e Estevão.

 

Hino Rio-Grandense

(Francisco P. da Fontoura e Joaquim J. Mendanha)

 

Como a aurora precursora

Do farol da divindade

Foi o Vinte de Setembro

O precursor da liberdade.

 

Aportamos, finalmente, na Ponte da Aprovale, por volta das 10 horas do dia 20 de setembro, uma data muito especial para nós gaúchos.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·      Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·      Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·      Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·      Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·      Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·      Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·      Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·      Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·      Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·      Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·      Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·      Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·      Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

Galeria de Imagens

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  •  Resgate na Balsa da APROVALE, 20.09.2019.jpg
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  • Acampamento do dia 19.09.2019.jpg
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  • Aldeia Tenente Marques, 09.09.2019.JPG
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