Quarta-feira, 20 de outubro de 2021 - 06h00
Bagé, 20.10.2021
Jornal do Brasil, n° 137 – Rio, RJ
Terça-feira, 15.06.1965
Rondon, 75 Anos Depois
No Caminho Dos Semivivos (V)
[Reportagem - Juvenal
Portella /
Fotos - Rubens Barbosa]
Em 1942, o “The National Indian Institute ‒ Department of the Interior” ‒ publicou um trabalho intitulado “Os Índios dos Estados Unidos”, um
autêntico retrato da vida indígena naquele país e no qual se constata a
existência de um grande número de órgãos trabalhando quase que exclusivamente
no problema de uma maneira efetiva. No Brasil a coisa é diversa. Certo ou
errado, deficiente ou eficientemente, com ou sem recursos apenas um aparelho
oficial tem-se dedicado ao assunto: o Serviço de Proteção aos Índios (SPI),
aliás sempre atacado pela maioria interessada ou no bem-estar do índio ou no seu
único patrimônio, as terras.
De resto, falta tudo, embora existam
o Conselho Nacional e algumas entidades particulares ou coisas afins. Faltam
leis. Falta dinheiro. Falta programa. Falta coragem para uma luta aberta contra
os que querem acabar com a raça indígena. Faltam homens capazes e, sobretudo,
falta visão do problema.
Já não se trata de tirar o índio da miséria em que
vive. Isto é urgente, mas também é urgente lhe dar uma condição humana e social
tão digna como a de qualquer civilizado. Integrá-lo na vida comum, dar-lhe o
mesmo direito de cidadão civilizado, ajudar-lhe a ter uma consciência de seus
problemas são medidas que não podem ficar para depois. Não se pode desconhecer
que ainda é grande o número de indígenas não cativados e é com esses que se
devem preocupar os responsáveis pelo assunto, oferecendo meios aos já
pacificados, a fim de que eles possam ajudar a salvar os outros.
CONDIÇÃO EXIGIDA
Queixam-se os homens do SPI de uma condição inferior
do órgão em função de tão importante problema. Acreditam
que, se
o Serviço não fosse apenas uma parcela
dentro do esquema administrativo do
Ministério da Agricultura e possuísse mais autoridade e autonomia, as soluções poderiam ser melhor encaminhadas. De uma
maneira objetiva, essa reclamação procede, uma vez que, pelo menos é o que se
tem constatado, os Ministros que passaram pelo cargo não dedicaram uma atenção
maior ao assunto, permanecendo a situação do indígena péssima há vários anos.
Independente de obter o SPI uma condição melhor, necessário se torna uma
reorganização na estrutura das Inspetorias Regionais e nos Postos Indígenas,
tudo objetivando:
1. Melhor
aparelhamento dos Postos, de maneira a propiciar meios para que eles, dentro de
um projeto a curto prazo, possam obter rendas próprias;
2. Reestruturação
do pessoal, inclusive admitindo-se pessoas capazes para os cargos de maior
importância;
3. Melhorar
a fiscalização da aplicação dos recursos;
4. Afastamento
imediato daqueles sem condições de ocupar postos de direção;
5. Adoção
de uma nova política em relação aos índios, fazendo-se imediatamente um levantamento
das tribos para se saber o seu número, o que não existe;
6. Redistribuição
geográfica do elemento indígena, de acordo com a sua capacidade de trabalho e a
capacidade de produção dos Postos.
É claro que essas medidas são
apenas aquelas julgadas imediatas, mas acompanhariam um planejamento e não
seriam tomadas isoladamente. No momento, muitas delas, mesmo dentro do atual
estado de coisas, não poderiam ser tomadas, uma vez que estão proibidas
nomeações, não há disponibilidade de verbas e o pensamento é não se fazer
alusão aos erros cometidos por administrações passadas.
REVISÃO IMPORTANTE
O Major Luís Vinhas, Diretor do
SPI, segundo o Inspetor Regional de Cuiabá, entende que se deve deixar de lado
tudo o que já passou e pensar unicamente no presente e no futuro do SPI e dos
índios. No entanto, a revisão de muitos erros
só se faz importante, uma vez que
as respostas a diversas perguntas que se
tem de formular não só explicarão as causas
da atual situação, bem como permitirão, daqui por diante, uma
nova ação de trabalho. Essa ação,
porém, terá de ser enérgica, o que, por sinal, é promessa do Major Vinhas. Fora
disso, tudo será apenas ilusão, pois a realidade revela que, se não forem
tomadas medidas rápidas e severas, o problema só se agravará cada vez mais.
É imprescindível que antigos e
atuais funcionários do SPI respondam pelo menos a estas perguntas:
1. Por
que não há a posse definitiva das terras indígenas, existindo ainda boje
regiões protestadas por terceiros?
2. Por
que a Sexta Inspetoria Regional tem uma dívida de Cr$ 11 milhões na praça de
Cuiabá?
3. Por
que não houve manutenção de material nos vários setores, levando-se em conta
que ele podia ser útil nos dias atuais?
4. Que
motivos causaram a dispersão de vários indígenas, a ponto de não se conhecer
exatamente o seu número total?
5. Como
se explica o desaparecimento do gado do SPI nos últimos anos, quando se sabe
que o número de cabeças, em alguns Postos, há poucos anos, demonstrava
perspectivas de um futuro melhor?
6. Que
providências concretas foram tomadas, nos últimos anos, pelos administradores,
no sentido de:
a. Evitar choques
armados entre índios e civilizados?
b. Evitar a
invasão do território indígena?
c. Houve punição
dos culpados Por estes fatos?
7. A
inexistência de um controle contábil das operações de vendas e distribuição dos
lucros obtidos na comercialização de objetos produzidos pelos indígenas, uma
vez que elas se processam sob a orientação dos agentes dos Postos;
8. Por
que já não existe produção nos Postos?
9. Como
e em que circunstancias foram aplicadas as verbas e quais os seus elementos
comprobatórios?
10. Que
resultados práticos têm-se obtido com a alfabetização dos índios?
11. Por
que existe falta de assistência médica?
12. Que
providências foram tomadas para atender à população Indígena do Posto Gomes
Carneiro; quando ela foi vítima de sarampo, não faz, muito tempo?
13. Que
tipo de assistência moral se presta ao indígena e quem dela se encarrega?
14. Por
que se permite que os índios trabalhem para terceiros?
15. Existe
fiscalização para saber se, trabalhando para terceiros, o índio recebe um
salário justo e tratamento humano?
16. Em
que circunstâncias foram admitidos no SPI os atuais agentes de Postos na
Inspetoria de Cuiabá?
17. Que
destino toma a produção dos Postos [se elas existem]?
18. Por
que o agente João Fonseca ‒ que perdeu um olho no trabalho ‒ foi mandado para a
Cidade de Rondonópolis, se, na ocasião, protestava contra a ação invasora do
território indígena?
19. De
que maneira pararam de funcionar a serraria e as máquinas de beneficiamento de
arroz, produção de açúcar, farinha etc. do Posto Galdino Pimentel?
Essas perguntas se referem a
fatos passados e presentes e só a sua existência prova que, em vez de dedicação
devida aos índios, os homens que recebem dos cofres da Nação [bem ou mal, não
importa], tem-se preocupado com outras coisas, que não se referem em absoluto à
proteção que deveriam dar.
CAUSAS DA INATIVIDADE
A inatividade do índio, fato
real, deve-se a muitos fatores, dos quais o mais importante, segundo as necessidades
mais urgentes, prende-se à inexploração da terra. O que se deveria fazer, como
base para a formação de uma consciência do índio que está sendo civilizado, é
mostrar-lhe a importância da terra para a sua sobrevivência. A exemplo do índio
norte-americano, o índio brasileiro precisa ter o amor ao solo do qual é o
dono, antes de tudo. Então, é preciso encaminha-lo no sentido de:
1. Utilizar
a terra no sentido prático, através de uma lavoura em alta escala e de criação
racional, tudo objetivando não apenas o consumo próprio como o comércio com os
centros consumidores;
2. Ensinar
ao índio técnicas de lavoura e criação;
3. Fornecer
recursos agrícolas aos indígenas;
4. Prepará-lo
para que, em futuro próximo, ele próprio se administre;
5. Dar-lhe condições para
se organizar administrativamente.
O que se vê, no panorama atual e
a continuar assim, só revela que o índio brasileiro será sempre espoliado,
jamais terá cultura suficiente para reconhecer os seus direitos, viverá [se,
sobreviver] sempre dependendo, para tudo, de um órgão oficial pouco expressivo
e sem meios de lhe dar mais do que dá agora e, finalmente, nunca será
autossuficiente. Uma análise, mesmo superficial, mostra esta triste realidade:
1. O
índio, quando criança, é submetido a um processo de alfabetização superado e
ministrado de maneira imperfeita;
2. Do
chamado “curso primário”, onde os
mais felizes conseguem aprender a escrever o nome e a dizer meia dúzia de
palavras, não alcança outro estágio de cultura;
3. Lidando
num meio rude [a referência é a falta de cultura dos que o assistem] não pode o
índio aprender nada e nem a se esclarecer;
4. Fica
entregue ao SPI que, mesmo agindo de extrema boa vontade, não passa da inferior
condição de seu zelador;
5. Por
que ficou afeto ao SPI o índio vê todos os seu problemas [terra, assistência
médica, social etc.] entregues a outras mãos, sem poder ter acesso a eles, no
sentido de entendê-los e opinar quanto às soluções.
Se alguém contar histórias de que
o índio luta pela defesa da terra onde, vive, estará mentindo. O certo é que
ele, se luta, e isso não existe com relação ao pacificado e sim aos demais,
será por um destes motivos: instinto de defesa contra quem não conhece;
temperamento agressivo; pelo direito de pescar e caçar na região; seguindo exemplos
de outras tribos ou em revide. Fora disso, o resto fica por conta dos que
conhecem o assunto apenas por ouvir dizer.
AS ESPERANÇAS
Apesar de todo um quadro
desfavorável é lícito afirmar que ainda há esperança de que ele se modifique.
Agora mesmo, em Brasília, o Major Luís Vinhas sustenta uma luta contra os que
têm interesse na manutenção do atual panorama.É possível mesmo que não se
mantenha no cargo, mas seu esforço ficará registrado, como registradas ficam
estas palavras que ele me disse em Brasília há mais de um mês:
‒ A
disposição nossa é no sentido de colocar as coisas nos lugares, doa a quem
doer.
E não excluiu militar ou
parlamentar de uma ação enérgica, nem as missões religiosas espalhadas por
territórios indígenas, algumas realmente atuando com eficiência, de seu
esquema: terra de índio será de índio e direito de índio será respeitado.
Convém lembrar que nos Estados
Unidos a situação não era diferente da realidade brasileira. No trabalho
Intitulado “Os Índios dos Estados Unidos”,
Allan G. Harper, John Collier e Joseph C. M. Caskill, contaram, em 1942:
‒ Há dez ou vinte anos,
nos Estados Unidos se dizia que o índio estava desaparecendo. Os fatos pareciam
justificar essa opinião. Quatro séculos de luta haviam contribuído para fazer
desaparecer os aborígines do quadro nacional.
Adiante, explicaram que, se a
raça índia estava moribunda, não estava porém morta de todo, para depois
afirmar:
‒ Atualmente, os índios
dos Estados Unidos só formam uma fração da, população total, mas essa fração
não é insignificante.
Os mesmos autores, contando a
história do índio americano, dão-nos esperanças de solução do problema
brasileiro, quando relatara, tratando dos resultados da nova política de seu
Governo:
‒ Assim, pois, devido ao
interesse público e à nova política do Governo, as perspectivas do destino dos
índios são infinitamente melhores que há 15 anos. Ao contemplar seu porvir,
sabem que suas esperanças e aspirações descansam em uma base sólida.
Sabem que os brancos tem boa vontade. O antigo
desejo de destruir os índios desapareceu e quando algum perigo os ameaça, como
ocorrerá de vez em quando, o povo americano acudirá em sua ajuda. Sabem que
todos os órgãos administrativos do Governo têm um fim básico ‒ o de dar-lhes
ajuda prática para que um dia possam realizar todas as suas aspirações. Isto,
além de tudo, é um direito fundamental de todo homem numa democracia livre. Por
que não fazemos o mesmo? (JB, n° 137)
Bibliografia
JB, N° 132 a 138. Rondon, 75 Anos Depois ‒ No Caminho Dos Semivivos (I a VI) ‒
Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, n° 132 a 138, 09 a 16.06.1965.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
A
Terceira Margem – Parte CCCXXVIII
Por Hiram Reis e
Silva (*), Bagé, 21.10.2021
Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
3ª Parte – XXXVI
No Caminho dos Semivivos - VI
Jornal do Brasil, n° 138 – Rio, RJ
Quarta-feira, 16.06.1965
Rondon, 75 Anos Depois
No Caminho Dos Semivivos (VI)
[Reportagem - Juvenal
Portella /
Fotos - Rubens Barbosa]
Reunidos os dados que
turmas coligiram nos seus estudos, foi escolhido o traçado que, partindo da
linha telegráfica de Oeste, um quilômetro antes desta atravessar o Rio Manso,
procurasse a Colônia de São Lourenço, desta para Coxim, fraldejando a serra de
São Jerônimo e de Coxim pela margem direita do Taquari até o Juca Gomes, de
onde procuraria Corumbá através dos pantanais do Paraguai-Mirim.
Esta foi uma das rotas seguidas
por Cândido Mariano da Silva Rondon, em 1900. Na maior parte deste trecho
existem índios, que ele conheceu ainda hostis, que pacificou e ajudou a
civilizar. Nos mesmos locais, em 1965, ainda há hostilidade, da parte dos
muitos brancos que querem acabar com o que resta das terras. Por este caminho
passamos e nele, agora, poucos têm esperança de que um novo Rondon surja para
salvar o que resta da raça indígena.
IGUALDADE
A mentalidade alcançada pelos
responsáveis pelo problema indígena nos Estados Unidos permitiu, segundo o “The National Indian Institute”, que se
alcançasse condições de vida tão humanas como a de qualquer branco civilizado
evidentemente dentro de outro padrão.
Na verdade, respeita-se o índio e
a ele se concedem vantagens comuns aos demais cidadãos, inclusive determinado
empréstimo visando ao melhor aproveitamento de suas terras, claro que uma
adaptação ao problema brasileiro seria, no momento, quase impossível, pois
muitas dificuldades precisam ainda ser superadas, inclusive a da incompreensão
humana. Se, por exemplo, a Secretaria de agricultura de Mato Grosso nem ao
menos oferece condições para conhecer as terras do seu território, como poderia
ditar normas que beneficiassem as terras dos indígenas?
Essa é uma mostra em diversas,
pois ao tempo que os organismos norte-americanos, no momento em que se levou a
sério o problema, trataram de encaminhar soluções concretas, entre nós a
situação ainda está como há 10 anos ou pior, levando-se em conta medidas que
não foram tomadas e que, por, isso, agravaram o drama.
No livro “Os Índios dos Estados Unidos” a que já nos reportamos, existe um
trecho explicando uma lei aprovada pelo Congresso ‒ a “Indian Reorganization Act. [18.06.1934]” ‒, a terceira das grandes
leis que influíram na história dos assuntos indígenas. Essa lei, na realidade,
ocupava-se do problema da terra. O artigo comentou o assunto assim:
De acordo com os métodos
democráticos, a vigência da lei sobre uma tribo ou um grupo depende de um
referendo, e os índios têm direito a votar se a aceitam ou não. Alguns aspectos
da lei estavam em completa contradição com a política indígena anterior, outros
a desenvolveram. A lei:
1. Proibiu o parcelamento
das terras que as tribos tivessem ou comprassem no futuro;
2. Devolveu as terras que
haviam tirado das tribos e que estavam sem colonizar;
3. Autorizou o Governo a
comprar mais terras para as tribos todos os ano, com fundos federais;
4. Tornou obrigatória a
conservação dos recursos naturais das terras indígenas;
5. Estabeleceu restrições
sobre herança para o arrendamento, a troca ou para evitar a sua alienação;
6. Estabeleceu um fundo
rotativo de créditos para fazer empréstimos às tribos ou a indivíduos para
empresas agrícolas ou industriais.
Ao proibir o parcelamento de mais
terras, a Lei de Reorganização índia pôs fim à política que havia dominado e
controlado a vida indígena desde 1887.
Ao estabelecer que se adquirissem
novas terras, reconheceu as necessidades dos índios que não tinham terras, que
haviam sido deserdados pela lei e pela História. Aceitou o princípio básico de
que o futuro da maioria dos índios estava ligado à terra. As disposições sobre
a conservação das riquezas naturais se baseavam na ideia de que se devia
proteger as riquezas naturais das propriedades índias, tanto como as da Nação.
O Fundo Rotativo veio a ser o primeiro fundo de crédito importante dos índios.
Havia se comprovado que sem um fundo como esse nenhum esforço econômico dos
índios podia dar frutos.
A Lei de Reorganização Índia pós
fim à força destrutiva da posse privativa da terra. As condições das
propriedades índias têm sido trocadas. Em 1934, as terras índias, como temos
dito, chegavam a pouco mais de 52 milhões de acres. Em 1941, o total havia
subido para 55 milhões e mais alguma coisa, devido em parte à Lei de
Reorganização. O fundo rotativo agora ascende a US$ 5.299.600 e com sua ajuda
tribos e indivíduos tem estabelecido um número de empresas econômicas.
E OS
ESFORÇOS?
No plano brasileiro, desconhece-se um mínimo de
tentativas de caráter oficial visando o benefício indígena, principalmente com
relação ao problema das terras. Pode-se alegar que o Governador de Mato Grosso
baixou decreto desimpedindo uma área de terra para os indígenas, mas isso não
tem grande significado quando se lembra o fato de que ele próprio expediu
títulos para que outros explorassem áreas reservadas aos índios. Não se pode,
também, deixar de mencionar o esforço de alguns funcionários responsáveis, que
tentaram de muitos modos e maneiras conseguir situações melhores.
Um exemplo disso foi José Bezerra Cavalcanti,
que já, em 1924, se preocupava com os índios do Paraná. Nesse ano, enviou um
extenso relatório sobre a povoação de São Jerônimo, relatando o drama das
terras dos indígenas dessa região. Nessa ocasião, advertira Bezerra Cavalcanti:
O caso da Povoação Indígena de São Jerônimo é característico e muito
próprio para se prever qual será a sorte dos nossos indígenas se lhes vier a
faltar a assistência que lhes presta este Ministério, por intermédio desta
repartição.
E esta assistência, realmente, tem faltado,
principalmente dos órgãos oficiais. Não se votam leis procurando melhorar as
condições de vida do índio. Ao contrário, parlamentares de quando em quando
espalham notícias inteiramente falsas e alarmistas, como aquela, há meses, que
dizia estar um grupo da tribo Cinta-Larga prestes
a conter os habitantes da aldeia de Vilhena,
quando na verdade os índios foram à procura de recursos médicos, que não
possuem ainda hoje. Não se concede, por leis especiais, créditos para construção
de estradas ligando os aldeamentos indígenas ao resto da civilização, o que
poderia ajudar muito no escoamento de uma produção que passaria a existir, se
medidas paralelas fossem também tomadas. Onde estão os esforços no sentido de
transformar uma situação realmente triste? O caso dos índios de Mato Grosso não
é isolado. Índios do Pará, do Amazonas, de outros Estados, por fim, sofrem
dramas iguais ou mais intensos.
No quadro das comparações, o Brasil sofre uma
terrível desvantagem com os Estados Unidos, mesmo respeitadas as circunstâncias
e as condições entre um e outro país. De qualquer forma, o mínimo deveria ter
sido tentado, numa ação conjunta e não isolada. Os índios do Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, segundo o SPI, sofrem menos, porque
possuem condições melhores. Então, não é válido esquecer os outros, como tem
acontecido. Enquanto em 1934 se votava uma lei concedendo crédito para
agricultura dos índios norte-americanos, aqui, hoje, alguns lutam para evitar
que terras de índios brasileiros sejam tomadas, com a cumplicidade [ou omissão]
de certos organismos estaduais.
Processos semelhantes aos adotados aqui ‒
exploração do trabalho indígenas em troca de bebida etc. ‒, doenças que vitimam
os daqui ‒ tuberculose, sarampo etc. ‒ ocorreram com os índios dos Estados
Unidos também e tudo isso foi sendo superado. As mesmas esperanças dominam uns
poucos homens que, deve-se dizer, ainda tentam fazer alguma coisa em favor da
raça índia. Mas, esperanças só pouco representam. Pelo que vi, depois de uma
longa jornada sertão adentro, somente com uma grande reforma e um esforço comum
é que será possível, como que começando tudo de novo, encontra-se o caminho da
salvação. Caso contrário, continuaremos no caminho dos semivivos, que são os
índios brasileiros. (JB, n° 138)
Bibliografia
JB, N° 132 a 138. Rondon, 75 Anos Depois ‒ No Caminho Dos Semivivos (I a VI) ‒
Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, n° 132 a 138, 09 a 16.06.1965.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H