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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCLX - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – I Cáceres - I


2° Batalhão de Fronteira - Cácers, MT (1) - Gente de Opinião
2° Batalhão de Fronteira - Cácers, MT (1)

Bagé, 15.07.2021

 

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
2ª Parte – I

 

Cáceres - I

 

É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)

 

De 22 de outubro a 13.11.2014 descemos o magnífico Rio Roosevelt, antigo Rio da Dúvida, em uma jornada de pura emoção, aprendizado e camaradagem, com uma breve e inesperada interrupção, provocada pelos índios Cinta-larga, de dois dias entre a 1ª e 2ª etapa, totalizando 23 dias. Eu planejara meticulosamente a navegação pelo Rio Roosevelt, preparara os mapas com esmero, georeferenciara os pontos de controle e estimara suas distâncias, ampliara, sempre que possível, os locais de travessia mais críticos tentando determinar a melhor opção de transposição que, na descida, eu, como precursor, ia ratificar ou não. O terreno e a vazão é que iriam definir se a rota que eu planejara era realmente a melhor. “Era minha praia”, mais de três décadas navegando por diversos caudais nas mais longínquas plagas desta “terra brasilis” davam-me a segurança necessária para saber que cumpriria a missão com sucesso na transposição dos temidos Saltos e Cachoeiras do Rio Roosevelt.

 

Planejamento da 2ª Fase

 

Entre as duas fases da Expedição Centenária (outubro de 2014 e outubro de 2015) eu executara a Circunavegação da Lagoa Mirim, a Descida do Amazonas (Santarém, PA a Macapá, AP), a Circunavegação da Laguna dos Patos e a Descida dos Rios Aquidauana e Miranda no Pantanal sul-mato-grossense.

 

O planejamento e a execução destas jornadas não permitiram que eu dedicasse à 2ª Fase da Expedição Centenária a atenção necessária e toda a programação foi realizada pelo Cel Ivan Carlos Gindri Angonese e o Dr. Marc André Meyers. Desta feita, pela primeira vez, desde que iniciara minhas jornadas em 2008, eu ia apenas executar o que fora idealizado pelos meus parceiros.

 

A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu. (Gibran Khalil Gibran)

 

Embora essa fosse mais uma oportunidade de homenagear Rondon, relutei muito em participar desta empreitada, pois não se tratava absolutamente de canoagem. Meu neto Arthur estava por nascer, tinha dois interessantes compromissos náuticos na Laguna dos Patos e pretendia lançar o livro “Descendo o Rio Negro” na Feira do livro de Porto Alegre. Um fator, porém, foi determinante para deixar tudo isso para trás – um compromisso moral assumido com o amigo e empresário Pedro Meyers, irmão do Dr. Marc. Antes de iniciar minha descida pelo Amazonas, de Santarém, PA, a Porto Santana, AP, comuniquei ao Sr. Pedro Meyers que poderia começar a quitar minha dívida para com ele.

 

O amigo adiantara um valor considerável antes do início da descida do Roosevelt para que eu pudesse saldar minhas dívidas antes de descer o Roosevelt:

 

  E-mail do Amigo Pedro Meyers

 

No dia 02.03.2015, o empresário Pedro Meyers remeteu-me um e-mail, ao qual só tive acesso na noite do dia seguinte, quando já me encontrava em Monte Alegre, PA, Descendo o Rio das Amazonas:

 

Caro Cel. Hiram,

 

Obrigado pelo seu e-mail e pelo seu nobre gesto. Antes da Expedição eu tinha dito ao Marc que eu ajudaria a financiar a aventura de forma que os R$ 15.000,00 foram considerados por mim como parte do pacote de financiamento, ou seja, não é uma dívida e sim uma merecida doação especialmente tendo em vista sua enorme contribuição para o sucesso do empreendimento.

 

Sem você, como me relatou o Marc, a aventura não teria chegado a um bom termo. Não fique, pois, zangado comigo por não aceitar a devolução da doação.

 

Abraços e sorte em suas andanças pelo Brasil afora.

 

Pedro

 

– Resposta ao E-mail

 

Estava em Prainha, PA, quando lhe respondi emocionado:

 

Caro amigo

 

Eu e minha família guardaremos eternamente na memória este gesto tão nobre e gentil. Minha fé na humanidade, hoje tão focada nos bens materiais e consumismo desenfreado, é revitalizada por atitudes como a sua. Infelizmente minha senda diária tem sido por demais árdua agravada inevitavelmente pelos problemas financeiros, por isso, sua contribuição é tão bem vinda. Continuamos de “Pé e à Ordem” prontos a atender a qualquer chamado da família Meyers.

 

Que o Grande Arquiteto do Universo abençoe, ilumine e guarde ao senhor e a todos os seus.

 

TFA do Hiram Reis, um humilde canoeiro eternamente em busca da “Terceira Margem”.

 

Aeroporto Internacional Marechal Rondon

 

Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer? Até quando proferirão, e falarão coisas duras, e se gloriarão todos os que praticam a iniquidade?
(Salmos 94:3-4 – Bíblia Sagrada)

 

20.10.2015: Partimos de Porto Alegre, RS, eu e o Coronel Angonese com destino a Cuiabá, MT, onde encontramos, no final da manhã, o Dr. Marc e jornalista Cacá de Souza no Aeroporto Internacional Marechal Rondon Cuiabá, MT.

 

O Cacá está tentando produzir um documentário a respeito de nossas jornadas, em homenagem ao Marechal da Paz, através da Lei Rouanet. Infelizmente, neste país Tupiniquim, onde a fronteira que deveria nortear os bons costumes, o bom senso e a cultura foi totalmente ultrapassada e corrompida, onde a dignidade e a honra servem de escárnio e as criaturas estão dia-a-dia prostituindo-se e se perdendo na iniquidade, parece ser mais fácil conseguir apoio, propaganda e incentivos para viabilizar montagens cênicas degradantes como a peça “Macaquinhos” apresentada na 17ª Mostra SESC Cariri de Culturas, em Juazeiro do Norte, CE, em que oito atores, completamente nus, apontam mutuamente para seus ânus como querendo indicar aos espectadores de onde saiu a inspiração para a tal apresentação.

 

Cuiabá, MT

 

Servi no 9ª Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC), sediado em Cuiabá, MT, no período de 1978 a 1979 trabalhando, como Chefe da Equipe de Terraplenagem, diuturnamente (das 05h30 às 22h00), sete dias por semana, nas BR-364 e 070. Trinta e seis anos haviam passado desde que daqui eu partira para exercer a função de instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).

 

A Capital e o Estado do Mato Grosso desenvolveram-se por demais, graças ao agronegócio implantado com muito trabalho e competência pelos arrojados migrantes vindos, na sua maioria, do chamado Cone Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). O entorno das estradas antes formado apenas por intermináveis e áridos cerrados está agora dominado por enormes plantações que se estendem por todo o horizonte.

 

O Estado do Mato Grosso é hoje o maior produtor brasileiro de soja e algodão em pluma, segundo maior produtor de arroz, quinto produtor de cana-de-açúcar e sétimo de milho.

 

À tarde fomos com o Cacá de Souza até à FUNAI onde contatamos o simpático servidor da autarquia Sr. Carlos Márcio Vieira Barros. O Carlos Márcio discorreu, na oportunidade, sobre sua experiência de vida com os Nambiquara no início de sua carreira na Fundação e nos garantiu que tomaria as devidas providencias para viabilizar nosso acesso às Terras Indígenas Paresí e Nambiquara.

 

Cáceres, MT

 

21.10.2015: No dia seguinte, (quarta-feira), seguimos destino a Cáceres, MT. A BR-070, agora asfaltada, fazia-me lembrar de um jovem e aguerrido 1° Tenente de Engenharia, Chefe da Equipe de Terraplenagem, enfrentando obstinadamente o terreno e os elementos com um único objetivo – construir uma estrada dentro dos mais altos padrões técnicos, no prazo mais curto possível e dentro do orçamento previsto.

 

Naquele ano concluímos o Plano de Trabalho quase dois meses antes do prazo. Em Cáceres, estabelecemos contato com o Comandante do 2° Batalhão de Fronteira (2° B Fron), Tenente-Coronel Renato Braga Pires, que autorizou nossa hospedagem no Hotel de Transito da Guarnição e onde ultimamos algumas providências administrativas.

 

Ainda não tínhamos a confirmação do apoio do Exército Brasileiro (EB) à Expedição e como eu não conseguisse falar diretamente com meu Amigo e Irmão maçom o General-de-Exército Antônio Hamilton Martins MOURÃO, Comandante do Comando Militar do Sul (CMS), falei com o Coronel James BOLFONI da Cunha, um de seus assessores, que garantiu que iria retransmitir meu recado ao General MOURÃO que, na oportunidade, estava empenhado em manobras no Estado de Santa Catarina. Mandei ainda uma série de mensagens para o celular do General MOURÃO preocupado que estava com a pequena e frágil camionete que o Dr. Marc alugara para nos apoiar na missão. A tralha de rancho e acampamento era enorme, precisávamos levar na carroceria 300 litros d’água para as mulas e para nós e, além disso, teríamos pela frente péssimas estradas a percorrer.

 

22.10.2015: Na quinta-feira, de manhã, o Angonese contatou o Sr. Eduardo Ramos (Chefe da Comitiva Santo Antônio), o “Boi”, para confirmar a data e local onde deveriam ser descarregadas as mulas e tomamos outras providências administrativas.

 

À tarde, véspera de nossa partida, estávamos fazendo compras no supermercado quando recebi uma ligação do Chefe do Estado-maior do Comando Militar do Oeste (CMO), General-de-Brigada DENIS Taveira Martins, informando que o Comandante Militar do Oeste General-de-Exército PAULO HUMBERTO Cesar de Oliveira, atendendo solicitação do Gen MOURÃO, tinha autorizado que o 2° B Fron nos apoiasse com dois militares e uma viatura Agrale Marruá AM21 – VTNE 3/4 ton destinada ao transporte de tropa e/ou carga de até 750 Kg. Solicitei imediatamente que a Rosângela remetesse ao General DENIS uma cópia do projeto que o Angonese encaminhara ao Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx) com o objetivo de fornecer subsídios à Ordem de Serviço que seria encaminhada à 13ª Brigada de Infantaria Motorizada (13ª Bda Inf Mtz), de Cuiabá, MT, que a repassaria, por sua vez, ao 2° B Fron de Cáceres, MT.

 

Filmete

 

https://www.youtube.com/watch?v=-ek3beISFFA&t=456s

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·      Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·      Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·      Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·      Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·      Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·      Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·      Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·      Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·      Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·      Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·      Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·      Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·      Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·      E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

 

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