Quinta-feira, 29 de julho de 2021 - 06h01
Bagé, 29.07.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
2ª Parte – X
Tropa Cargueira – II
Magalhães, 1916
(Continuação)
26.01.1914: Ao amanhecer de 26 mandei
ler as ordens do dia da Expedição a todo o contingente que acompanhava a turma
até aí e ao qual se agregou o destacamento de dez praças e um inferior que aí
aguardavam nossa passagem. Sabendo, por informações, que “Aldeia Queimada” tem mau encosto para as tropas, adotei medidas de
previdência e, da vigilância exercida resultou, felizmente, que, ao clarear do
dia, no pouso, pouco trabalho tiveram os campeadores para reunir todos os
animais, dos quais deixei aí um burro frouxo, tendo afrouxado também em caminho
[em aparição] um outro muar. Sendo curta a distância de Aldeia Queimada ao Rio
verde, onde iríamos pousar, mandei “rodear
o gado” ([1])
todo no pasto, recolhendo-o para arrear ao cair da tarde. Às 13h30, parti e às
18h30 cheguei com o último cargueiro ao Rio verde, onde pela vez primeira a
turma armou suas barracas-toldo.
27.01.1914: no dia 27, às 07h30,
levantei acampamento da cabeceira do Sete de Setembro e fiz um grande alto, no
Rio da Dúvida, onde assistimos a vossa partida com a turma de exploração desse
Rio, sob a chefia de honra do Sr. Coronel Roosevelt, partida realizada às
12h00. [...]
29.01.1914 a 05.02.1914: Como sabeis,
de 29 de janeiro a 05 de fevereiro, marchei diariamente,
acampando sete vezes para dormir, a última das quais à margem direita do
Ribeirão das Aldeias. Para alcançar este último pouso, foi preciso que eu
permanecesse em pessoa no acampamento anterior [Gralhão] até 19h45, hora em que
iniciei a marcha para a frente, deixando, apesar disso, três animais perdidos e
em seu encalço dois tocadores, pois que, ao toque de desarmar barracas, quando
já se preparava o contingente para marchar, faltavam ainda 17 animais da tropa!
06.02.1914: Desta maneira alcancei o novo acampamento, pela madrugada do dia 06 de fevereiro [01h20], debaixo de
forte aguaceiro, sendo obrigado a deixar várias cargas para trás durante o meu
trajeto. De tal modo ficou desorganizado o serviço de transporte que tive de
ceder à imposição das circunstâncias, permanecendo um dia no mesmo acampamento,
e realizando dessa forma o ideal dos tropeiros que é de quando em vez “falhar” um dia para descansar.
Fiz, entretanto, seguir a
tropa de bois e os bois adestros para Juruena, com ordem de regressar no dia
seguinte e conduzir o excesso de cargas produzido pelo afrouxamento de dez
muares na marcha de Gralhão a Ribeirão das Aldeias e neste último lugar, além
do desaparecimento de dois muares em Gralhão e dois bois no citado Ribeirão,
perfazendo um total de 14 animais cargueiros fora de combate. [...]
A partir de Juruena
teríamos, pois, conforme as vossas ordens, além da responsabilidade de dirigir
uma turma, mais a de consertar as pontes, pontilhões e estivados, sem prejuízo
da nossa marcha. À dedicada colaboração do Tenente Vieira de Mello Filho eu
devo o ter conseguido alcançar esse duplo objetivo.
Para a execução do serviço
que agora nos incumbia, estabeleci a divisão do contingente em duas turmas,
cada qual dispondo de um inferior, revezando-se diariamente o pessoal no
trabalho que competia a cada turma, sem prejudicar a escala mantida desde a
marcha inicial, de uma escolta à retaguarda do mesmo contingente.
A escolta compunha-se de
um inferior e duas praças, cujo objetivo era compelir os retardatários a
completar a marcha sob sua vigilância. Uma das turmas [a maior] era a do
preparo da estrada, sob a direção imediata do Tenente Mello e a outra, a do
preparo do acampamento. (MAGALHÃES, 1916)
(Moacir D’Ávila Severo)
A tropa aponta na
ponta da estrada
Maleva que leva ao
Juízo Final.
Ergue-se à poeira,
parda bandeira,
Em cerimônia a um
funeral.
O berro do boi, o
grito do homem,
O assovio do vento
no fio do alambrado,
São fundos que
marcam a última viagem
De vidas-passagens,
destinos traçados.
E o grito de
"Eira"
Ecoando no espaço
Ao lerdo expressa
Mais pressa no
passo.
Toda esta tropa se
ajunta com a junta
De bois mansos:
Pintado e Pitanga,
Do ventre ajoujados
([2])
num mesmo fadário,
De viver e morrer
parceiros de canga.
Caminham em
silêncio, têm mais experiência,
Pela convivência
com o homem-patrão.
Querem mostrar aos
que berram em protesto
Que perdão é bom
gesto se a morte é razão.
E o grito de “Eira”
Que ouviam na canga
Ora é grito
sentença
Ao Pintado e ao
Pitanga.
Outras tropas virão
nesta estrada,
Soldados sem armas
à luta fatal.
Tombarão como
heróis trocando suas vidas
Pela fome do homem
em mais um funeral.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=-ek3beISFFA&t=456s
https://www.youtube.com/watch?v=rECpPlEurDI&t=23s
Bibliografia
MAGALHÃES, Amílcar A. Botelho de. Anexo
n° 5 – Relatório Apresentado ao Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon
– Chefe da Comissão Brasileira – Brasil – Rio de Janeiro, RJ, 1916
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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