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Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCLXXXIX - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – XXVIII Fazenda S. Miguel – Campos de Júlio


A Terceira Margem – Parte CCLXXXIX - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 2ª Parte – XXVIII  Fazenda S. Miguel – Campos de Júlio - Gente de Opinião

Bagé, 26.08.2021

 


 

Sapezal: também sapezeiro, campo de sapé, gramínea do gênero saccharum, cuja palha é muito usada na Bahia sertaneja para cobrir as choças dos matutos. É frequente ouvir-se no Sertão baiano: “Tal fazenda tem tantas casas de sapé”. Manoel Victor em seu livro Os Dramas da Floresta Virgem, escreve: “E lá ao longe, muito além, muito ao depois de se ter cansado e se esgotado sob os sapezais, ora no campo raso, ora nas furnas, desaguava aos ribombos no velho São Francisco”. Sapezeiro foi empregado por Amando Caiuby, nos seus contos sertanejos Sapezais e Tigueras: “Na venda do José Português, na encruzilhada do Serrano, quando o caminho da vila perde os barrancos marginais e entra no sapezeiro da chapada alta, alguns caboclos jogavam truque, naquele fim de tarde domingueira”.
(SOUZA)

 

A despedida dos amigos muares foi, de minha parte, um momento de tristeza, pois, só tínhamos chegado até aqui graças aos nossos formidáveis parceiros de quatro patas.

 

A rusticidade destes caros animais, a sua capacidade de ingerir a campo os alimentos mais grosseiros, a imbatível eficiência e resistência com que marcham ao longo de estreitas e sinuosas trilhas, atalhos escorregadios e pedregosos, veredas acidentadas e íngremes lhes conferem, sem dúvida, uma característica singular.

 

Ao contrário do que se supõe, os muares possuem uma inteligência bem mais desenvolvida do que os demais equinos e acredito que, por vezes, suplantam a de alguns “seres” humanos. Obrigado a cada um de vocês meus quadrúpedes amigos e, em especial, à “Bolita” e “Roxinho” que me serviram de montaria durante 16 dias.

 

Fazenda São Miguel à Campos de Júlio

 

10.11.2015Acordamos cedo, fizemos o desjejum, despedimo-nos do gentil Sr. Oriovaldo Dal Ponte, dos caros amigos da Comitiva Santo Antônio, de seus magníficos muares e partimos, embarcados na viatura Marruá, para a 3° Parte desta Expedição que seria executada, em um pequeno trecho, a pé. Depois de meia hora, adentramos na BR-364, minha velha conhecida, onde tive o privilégio de trabalhar como Tenente de Engenharia do 9° Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC) ‒ Cuiabá, MT, nos idos de 1978-79. A rodovia BR-364 atravessa o Brasil diagonalmente, seguindo o sentido Sudeste-Noroeste, desde o Município de Limeira no Centro-Leste do Estado de São Paulo, cruzando Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e estendendo-se até o Município de Rodrigues Alves no Acre, totalizando 4.099 km de extensão. A diferença, desde a década de 70, para os dias de hoje era notável, as grandes extensões de cerrado que se avistavam ao longo da rodovia tinham sido substituídas por grandes e extremamente produtivas fazendas dedicadas a agricultura extensiva, que conseguem lucrar com seus produtos, mesmo pagando vultosos impostos ao Governo, comprando os insumos mecânicos, biológicos, minerais ou químicos diretamente das fábricas.

 

Sapezal

 

Chegamos a Sapezal, onde depois de tomar algumas medidas administrativas e almoçar fomos encontrar o Sr. Nivaldo Bertotto, que já tinha sido contatado pelo Coronel Angonese por ocasião do reconhecimento executado em maio. O Nivaldo é um entusiasmado garimpeiro de relíquias históricas e levou-nos até o Museu João Bertotto, que leva o nome de seu progenitor, onde mostrou-nos animado uma série de artefatos da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, que ele próprio tinha recuperado.

 

Relato Hodierno: Sapezal

 

A formação do núcleo urbano de Sapezal está ancorada numa proposta de colonização do Sr André Antônio Maggi, que foi desbravador do Município e deu esta denominação à cidade em referência ao Rio Sapezal. O Rio Sapezal deságua no Rio Papagaio, pela margem esquerda, que por sua vez joga suas águas no Juruena. O sapé [Imperata brasiliensis], que dá nome ao Rio, é planta da família das gramíneas, conhecida por sua propriedade de servir de cobertura de ranchos.

 

O território de Sapezal foi amplamente cortado por viajantes e aventureiros a partir do séc. XVIII. Passou pela região a Expedição de Marechal Rondon que instalou a Linha Telegráfica cortando o Brasil. Mas, a Colonização só veio a partir da abertura da fronteira agrícola Mato-grossense. As distâncias entre as fazendas variavam de 40 a até 100 Km. As estradas que ligavam as fazendas umas às outras eram, na verdade, picadas abertas no cerrado pelos próprios colonos, o que dificultava a formação de um centro de maior povoamento.

 

Os pioneiros foram colonos sulistas, a maior parte vinda do Norte do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e Oeste do Paraná que chegaram nas décadas de 70 e 80. Citamos alguns: Paulino Abatti, Ricardo Roberto, Arno Schneider, Ademar Rauber, Eriberto Dal Maso, Elenor Dal Maso, Írio Dal Maso, Mauro Paludo, família Scariote e outros. A formação do núcleo urbano de Sapezal está ancorada em uma proposta de colonização do Sr André Antonio Maggi, que deu esta denominação à cidade em referência ao Rio Sapezal. A atual zona urbana começou a ser povoada com a abertura da estrada MT-235 [Estrada Nova Fronteira] e do Loteamento da Cidezal Agrícola, de propriedade de André Antonio Maggi, em meados de 1987. O Município de Sapezal foi criado pela Lei Estadual nº 6.534, de 19.09.1994, sendo primeiro Prefeito André Antonio Maggi. O Município de Cuiabá deu origem ao Município de Nossa Senhora da Conceição do Alto Araguaia Diamantino [Diamantino], que deu origem ao Município de Campo Novo do Paresí, do qual originou-se o Município de Sapezal. (Fonte: Prefeitura Municipal de Sapezal)

 

O Nivaldo presenteou a Expedição Centenária com um rolo de cabo de aço galvanizado usados na Linha Telegráfica do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que segundo Roquette-Pinto: “os Paresí chamam ‘língua de Mariano’, em homenagem ao seu grande amigo.” (ROQUETTE-PINTO) De Sapezal fomos para Campos de Júlio, onde pernoitamos antes de adentrar, novamente, na Área Indígena Nambiquara.

 

Relato Hodierno: Campos de Júlio

 

Esta área, antes de ser colonizada, foi povoada pelos índios Nambiquara e pelos Ená-wenê-nawê, embora, atualmente, não haja área indígena nos limites do Município.

 

O início da colonização deu-se através da atuação de Valdir Massutti, que trouxe à região, na década de 80, dezenas de famílias sulistas. Formou-se um povoado, tendo a sua volta milhares de hectares de plantações de soja, a economia que sustenta a região. A Lei Estadual n° 5.000, de 13.05.1986, criou o Distrito de Campos de Júlio, sancionada pelo governador Júlio José de Campos. A Lei Estadual nº 6.561, de 28.11.1994, criou o Município de Campos de Júlio, com desmembrando do Município de Comodoro. (Prefeitura Municipal de Campos de Júlio)

 

Campos de Prosperidade

 

Em tempo. Há poucos dias, uma conceituada revista semanal de Cuiabá publicou reportagem com o título “Campos de Prosperidade”, abordando a história da colonização do Município de Campos de Júlio, sua produção agrícola e desenvolvimento. A matéria é assinada pelo jornalista Rui Matos. Gostaria apenas de registrar que há um equívoco nas informações que se referem à minha pessoa, o que convém uma retificação, para o bem da história.

 

Conforme o jornalista, Campos de Júlio foi assim denominada por imposição minha, que à época era Governador do Estado. Por iniciativa do senhor Valdir Masutti, ex-prefeito de Comodoro, Campos de Júlio foi criada em 1983 com a denominação de COOFLASUL [Cooperativa dos Flagelados do Sul].

 

A Lei Estadual 5.000, de 13.05.1986 criou o Distrito de Campos de Júlio, elevado a Município pela Lei 6.552 de 28.11.1994. A versão que se tem é a de que uma grande parte dessas terras que compõe Campos de Júlio pertencia ao Montepio da Família Militar e foi ocupada por um grupo de sulistas comandados pelo senhor Valdir Masutti.

 

Ocorreu que, com a invasão dessas terras, já com o primeiro núcleo de ocupação, a diretoria da Família Militar requereu junto às autoridades do Governo de Mato Grosso, em especial à Secretaria de Segurança Pública, que fosse feita a desocupação da área de sua propriedade.

 

O então diretor da Polícia Civil de Mato Grosso, Coronel João Evangelista, que tempos depois veio a ser Comandante da Polícia Militar do Estado, designou, em conjunto com o Secretário de Segurança, Oscar Travassos, e o Comandante da Polícia Militar, Coronel José Silvério da Silva, uma equipe de policiais militares para fazer cumprir a ordem de desocupação da área. Chegando ao local, o Tenente Cruz, hoje falecido, comunicou a ordem de desocupação e teve como reação dos posseiros:

 

Calma! Calma! Não precisa força. Esse campo é do Júlio! Esse campo é do Júlio!”.

 

Aí, então, conforme relatos, o Tenente Cruz recuou com seus comandados, acreditando ser aquela terra de propriedade minha, Júlio Campos, então Governador do Estado. Depois desse episódio, ficou o nome “Campos de Júlio”. Se perguntasse a alguém: Onde você está morando? A resposta era Campos de Júlio. E aí o nome pegou. Tanto é verdade, que quando foi criado o Município houve por parte de alguns deputados da oposição na Assembleia Legislativa um movimento para mudar o nome, mas a população local não aceitou e manifestou sua vontade de que continuasse o nome Campos de Júlio.

 

E o município foi criado por Lei Estadual em 1994. Posteriormente, já no Governo Dante de Oliveira, foi feita uma nova tentativa de mudança do nome e a população não quis. (DIÁRIO DE CUIABÁ N° 11.334)

  

 

Filmete

 

https://www.youtube.com/watch?v=-ek3beISFFA&t=456s

 

https://www.youtube.com/watch?v=rECpPlEurDI&t=23s

 

https://www.youtube.com/watch?v=wxA1AJchYFM&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=23

 

Expedição Centenária R-R - III Parte - Fase I - YouTube

 

https://www.youtube.com/watch?v=3bt42u-sGtA&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=20

 

Bibliografia

 

DIÁRIO DE CUIABÁ N° 11.334. Campos de Prosperidade ‒ Brasil ‒ Cuiabá, MT ‒ Diário de Cuiabá, Edição n° 11.334, 01.10.2005.

 

SOUZA, Bernardino José de. Dicionário da Terra e da Gente do Brasil ‒ Brasil ‒ Rio, RJ ‒ Companhia Editora Nacional, 1939.

 

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·       Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·       Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·       Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·       Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·       Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·       Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·       Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·       Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·       Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·       Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·       Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·       Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·       Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·       E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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