Segunda-feira, 30 de agosto de 2021 - 07h46
Bagé, 30.08.2021
Ponte sobre o Rio Roosevelt
Partimos,
por volta das 11h30, e como o Cacique nos alertara, encontramos diversos
obstáculos pelo caminho que foram eliminados pelo nosso amigo Ari Wakalitesu e
mais dois amigos Nambiquara que nos acompanharam até a BR-364. Chegamos à
Vilhena e hospedamo-nos, mais uma vez, no Hotel Colorado da cara amiga Dona
Ângela.
A 27.02.1914, pouco depois do
meio-dia, iniciamos a descida do Rio da Dúvida para o desconhecido. [...]
Estivéramos acampados junto ao Rio, no lugar da picada da linha telegráfica,
onde há sobre ele uma ponte rústica. (ROOSEVELT)
Afigura-se-me ainda fixada na
retina aquela cena inolvidável do embarque, presenciado por mim do tosco
balaústre da ponte aí construída pela Comissão Telegráfica, para servir ao
pessoal da conservação e às tropas. (MAGALHÃES, 1942)
16.11.2015: O Dr. Marc não estava se
sentindo bem e permaneceu em Vilhena, RO, enquanto eu e o Coronel Angonese
partimos na viatura Marruá, com nossa equipe de apoio, rumo à Fazenda Baliza.
Chegamos
à residência do Sr. Grilo, que conhecêramos na descida do Rio Roosevelt, em
outubro de 2008, na hora do almoço e sua esposa, gentilmente convidou-nos para
o almoço. Após o almoço eu e o Angonese embarcamos na voadeira pilotada pelo
Sr. Grilo, no mesmo Porto da Fazenda Baliza (12°01’34,1”S / 60°22’41,7”O) em
que déramos início à jornada de caiaque pelo Rio Roosevelt. Naquela
oportunidade eu navegara 6 km Rio acima (12°03’14,27”S / 60°22’14,5”O) e não
encontrara nenhum sinal da Ponte de onde partira a Expedição Científica
Roosevelt-Rondon nos idos de 1914.
Desta
feita subimos 9,1 km desde o Porto da Fazenda Baliza e encontramos, finalmente,
a Ponte construída em 1909, pela Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do
Mato Grosso ao Amazonas comandada por Rondon (12°03’55,37”S / 60°21’46,59”O). A
Comissão estabelecera que Latitude da Ponte 12°01’S, portanto a jusante (ao
Norte) do AC01 (Porto da Fazenda Baliza) e eu reconhecera o curso d’água mais
6.000 m na direção geral Sul.
Historicamente
os erros de locação jamais tinham chegado à casa dos minutos. A título de
exemplo cito a Latitude encontrada pela Expedição original para a Confluência
do Rio Roosevelt com o Rio Capitão Cardoso que foi de 10°59’00,3”S e que nós
estabelecemos como sendo 10°59’20,8”S, um erro de pouco mais de 20” perfeitamente
aceitável para os rudimentares equipamentos de que dispunha a Comissão.
Certamente houve um erro na edição da transcrição das anotações manuais de
Roosevelt ‒ os editores confundiram o 04’ (quatro minutos) com 01’ (um minuto)
que foi transcrito nas edição impressas).
Foi
o momento mais emocionante de toda a Expedição. Ainda se podia visualizar
perfeitamente os detalhes da construção da cabeceira da margem direita e os
dois cavaletes ancorados no leito do Rio, sendo que um deles ainda ostentava as
três estacas originais onde podia-se notar a amarração complementar do chapéu
de cavalete às vigas com o mesmo cabo de aço galvanizado empregado nas linhas
telegráficas.
Coordenadas da Ponte Telegráfica
Eu
baseara meu planejamento na informação equivocada
do livro de Esther de Viveiros, “Rondon
Conta Sua Vida” (baseada no livro de Roosevelt ‒ Through the Brazilian
Wilderness), em que ela faz a seguinte narrativa:
Começamos a descer o Rio da Dúvida pouco depois do meio-dia de 27 de
fevereiro. [...] O Cap Amílcar, com seu grupo, dizia adeus da margem quando as
canoas partiram rio abaixo – corrente escura, volumosa, porque era plena
estação das águas.
Era tão grande a enchente que a correnteza molhava a parte inferior do
tabuleiro da ponte aí existente. Isso tinha a vantagem de imergir os
obstáculos, inclusive árvores caídas. Na estiagem, estariam certamente à tona.
Partíamos de 12°1’ de latitude Sul e
17°7’34” de longitude Este do Rio de Janeiro. A direção a seguir era Norte,
para o Equador. (VIVEIROS)
Felizmente,
depois de muita pesquisa, verifiquei nas “Conferências
Realizadas nos dias 5, 7 e 9 de outubro de 1915”, por Rondon, no Teatro
Fênix do Rio de Janeiro, sobre os trabalhos da Expedição Roosevelt-Rondon e da
Comissão Telegráfica:
2ª
CONFERÊNCIA
I
Reconhecimento e exploração do Rio da Dúvida: [...]
II
Exploração e levantamento do Rio da Dúvida, desde o Passo da Linha, na
lat. 12°03’56,8”S e long. 60°21’55,8”O de Greenwich, até
o encontro com a turma auxiliar do Tenente Pyrineus no Aripuanã. (RONDON)
Despedidas (17.11.2015)
Hoje
foi um dia de despedidas. Despedimo-nos de nossos valorosos guerreiros do 2° B
Fron (Cáceres, MT), o Sargento Matheus YURI Vicente Cândido (Chefe da viatura)
e o Soldado Paulo ÉDER Pereira Dias (motorista e cozinheiro) cujo
profissionalismo e dedicação à missão foram sobejamente demonstrados durante
toda a Expedição. Despedimo-nos, também, de nosso caro e prestativo amigo e
guia Ari Wakalitesu e do tal do Mané Manduca.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=-ek3beISFFA&t=456s
https://www.youtube.com/watch?v=rECpPlEurDI&t=23s
https://www.youtube.com/watch?v=wxA1AJchYFM&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=23
Expedição
Centenária R-R - III Parte - Fase I - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=3bt42u-sGtA&list=UU49F5L3_hKG3sQKok5SYEeA&index=20
Bibliografia
MAGALHÃES, Amílcar A.
Botelho de. Impressões da Comissão Rondon
– Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Companhia Editora Nacional, 1942.
RONDON, Cândido Mariano da
Silva. Conferências Realizadas nos dias
5, 7 e 9 de Outubro de 1915 pelo Sr. Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon no
Teatro Phenix do Rio de Janeiro Sobre os Trabalhos da Expedição
Roosevelt-Rondon e da Comissão Telegráfica ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ –
Tipografia do Jornal do Comércio, de Rodrigues & C., 1916.
ROOSEVELT, Theodore. Através do Sertão do Brasil ‒ Brasil ‒
Rio de Janeiro, RJ ‒ Companhia Editora Nacional, 1944.
VIVEIROS, Esther de. Rondon Conta Sua Vida ‒ Brasil ‒ Rio de
Janeiro, RJ ‒ Livraria São José, 1958.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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