Quarta-feira, 12 de maio de 2021 - 06h02
Bagé, 12.05.2021
Navegando o Tapajós ‒ Parte XVIII
Enseada da Pedra
Branca/Itaituba
(Helvecio Santos)
Verde Rio bravio de minha terra natal, pra quem
canta o rouxinol do nascer ao pôr do Sol. Verde Rio que brilha como líquida
esmeralda aos raios do Sol nascente, ao longo das alvas praias em seu correr
indolente. Verde Rio que encrespado, soprado pelo vento Leste, brabo que nem
filho da peste, brilha e rebrilha quando a luz do Sol nele se dá.
Verde Rio que ameaça o Augusto Montenegro, o Lauro
Sodré, o negro navio do Loyde, desafiante no rebojo, apavora o novel marujo.
Verde Rio de faceta amiga e branda pro famoso Macambira, seu amado pescador,
que em frágil montaria retorna ao final do dia com sua colheita de amor. Verde
Rio de alvas pérolas na crista de suas ondas, subindo, descendo, renovando em
eterno chuá! chuá! Descanso da vista cansada ou mesmo só pra alongar.
Serenai, verde Rio! Por piedade, serenai! O valente
caboclo se entrega em teus braços, navega em teu leito estufando o peito. Onde
vai? Sobe a cortina do tempo! Filhos desse Tapajós, isso já não existe! É sonho
sonhado, lembrança de um passado, sumido, desaparecido, permitido por nós!
Sobe a cortina do tempo! Tuas águas arrastam-se em
desalento…. Onde está o brilho da líquida e pura esmeralda? Tua Coroa se mostra
balda e o que foi somente fonte de alimento hoje desfia descontentamento e em
espaço regular de tempo, por sobre a murada que mantém sua água represada, em
líquido protesto, faz da rua sua morada. [...]
12.10.2013 –Pedra Branca/Igarapé Moratuba
A
nostálgica tranquilidade de nossa permanência na bela Enseada da Pedra Branca
só fora parcialmente quebrada, ao longe, pela frenética preparação da praia que
abrigaria, no dia seguinte, os folguedos do Dia da Criança. Partimos ao
alvorecer, e eu, sem saber, levava comigo algumas aborrecidas e birrentas
parceiras – pequenas espículas de cauxi, que infestavam as areias e as águas da
região, cravadas em minha pele. Encontramos, no decorrer do dia, diversos
ribeirinhos, de comunidades próximas, que se deslocavam ansiosos para
participar da festa montada na Pedra Branca. Os ventos oriundos do quadrante
Este eram menos intensos que no dia anterior e fomos incomodados apenas pelo
calor abrasivo do verão amazônico.
Aportamos
na Foz do Igarapé Moratuba onde montamos acampamento e, a partir da tarde,
comecei a sentir os intensos pruridos das espículas de cauxi que persistente e
cruelmente me acompanhariam durante toda a jornada.
13 a 17.10.2013 – Igarapé Moratuba/Itaituba
Mantivemos
nossa rotina diária e pude verificar a localização completamente equivocada de
comunidades e cidades como Bom Fim e Pinhel em todos os mapas disponíveis. No
dia 16, aportarmos, depois de um extenuante dia de navegação de Sol a pino, no
Tabuleiro Monte Cristo onde o IBAMA possui confortáveis instalações. Fomos
gentilmente recebidos, convidados para acantonar e participar de um saboroso
jantar à base de peixes.
Tabuleiro Monte Cristo
O
IBAMA implantou o projeto CENAQUA, na área do Tabuleiro Monte Cristo, há quase
20 anos. O Projeto tem como objetivo preservar tartarugas, tracajás, pitiús e
aves como o talha-mar, a gaivota, o bacurau dentre outras.
Localizado
a 6km ao Norte de Barreiras, Distrito de Itaituba, o Tabuleiro está incrustado
numa extensa região formada por lagos, Ilhas e praias banhadas pelas
cristalinas águas do Rio Tapajós. Anualmente, nesta época, normalmente na
mudança de lua, tartarugas, tracajás e pitus desovam na praia protegida pelos
olhos vigilantes e atentos dos fiscais do IBAMA. Cada animal chega a botar, por
vezes, mais de 100 ovos por cova.
Festival de Barreiras
Partimos
às cinco horas do dia 17, pois a jornada até Itaituba era muito longa, quase
50km. Passamos antes do alvorecer pela comunidade de Barreiras que tem sua
economia baseada no extrativismo e na pesca artesanal. O grande evento cultural
da cidade baseia-se na história dos peixes Aracu e Piau que é manifestado com
toda pujança no Festival que acontece no mês de julho apresentando a disputa
entre os dois cardumes. O evento inclui danças e evoluções diversas, procurando
representar os contos e as lendas do imaginário caboclo. A disputa empolgante
entre os peixes Aracu e Piau é realizada no “peixódromo”.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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