Terça-feira, 22 de junho de 2021 - 06h05
Bagé, 22.06.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXIII
Forte Coimbra – Corumbá
– I
Na travessia longa em que os guiava a
bússola, se não se levantavam vagalhões, impunham-se montanhas. Era aqui uma
floresta densa, além uma catarata, adiante um pantanal escuro, fervilhando em
podridão deletéria, exalando hausto letal. Tudo lhes era adverso. Mas à voz
enérgica do chefe, cada qual dava conta do que fizera; e desse herói que
regressa do deserto, desse civilizador e pacificador, semeador de póvoas ([1])
que serão cidades, plantador de roças que serão lavouras, dirão mais tarde as gerações
agradecidas o que disse o poeta ([2]):
Tu cantarás na voz dos sinos, nas
charruas,
No esto ([3])
da multidão, no tumultuar das ruas,
No clamor do trabalho e nos hinos da
paz!
E, subjugando olvido, através das
idades,
Violador de Sertões, plantador de
cidades,
Dentro do coração da pátria viverás...
(Coelho Neto)
09.08.2017: O
jantar oferecido pelo Cmt da 3° Cia Fron, Capitão Glauco Viana Coitinho, aos
membros da Expedição Centenária demonstrou, mais uma vez, o apoio e a cortesia
com que o Exército Brasileiro nos tem distinguido.
Iniciamos às 07h30, depois do café, na
Casa de Hóspedes da 3° Cia Fron, nosso deslocamento do Forte Coimbra ao Porto
Manga. O amanhecer, no Rio Paraguai, era mágico, a exuberância da flora
diversificada ganhava um tom especial realçado pelas flores violetas das
inúmeras piúvas ([4]).
A fascinante paisagem mergulhava nas
águas serenas do Rio refletindo um cenário fantástico que lembrava uma fina
renda entretecida pelas mitológicas náiades ou ainda um mimoso ñanditu ([5])
criado pelas mãos das hábeis artesãs paraguaias. A navegação transcorria com
muita tranquilidade e conforto, à bordo da “Calypso”,
graças a amabilidade e competência de sua tripulação. Além dos expedicionários
originais, Dr. Marc Meyers e Cel Angonese, contávamos nesta etapa com um
reforço importante na equipe proporcionado pelo Dr. Timothy Radke e sua querida
esposa Judith Radke de San Diego, Califórnia, USA, bem como do Cel José
Francisco Mineiro Júnior, pesquisador do Exército.
Às 15h00, cruzamos pela magnífica
Ponte Ferroviária Presidente Eurico Gaspar Dutra. A construção da ponte, que
teve início no dia 01.10.1938 e foi concluída em nove anos, contou com a
participação de 2,1 mil operários. Sua inauguração, no dia 21.09.1947, contou
com a presença do General Eurico Gaspar Dutra, então Presidente da República,
que emprestou seu nome à obra de arte. A Ponte faz parte da Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil (FENOB).
A capacidade da ponte foi calculada
para trens de 27 toneladas por eixo (TB 27) e é constituída por arcos de
distintos vãos, sendo o maior deles o arco sobre o talvegue com um comprimento
de 110 m e um tirante de ar ([6])
de 21 m acima do nível normal do Rio Paraguai e de 14 m relativo à maior cheia
observada desde 1905, permitindo a passagem de todos os navios que trafegam na
Hidrovia do Rio Paraguai. O periódico “O
JORNAL”, do Rio de Janeiro, do dia 23.09.1947, publicou:
O Jornal, n°
8.405 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Terça-feira, 23.09.1947
Inaugurada sobre o Rio Paraguai a
maior Ponte do Continente, que Servirá à Ligação Brasil-Bolívia ‒ 23.09.1947
CORUMBÁ 22 (A. N.) ‒ Um
dos espetáculos mais imponentes a que assistimos, na tarde de anteontem, nesta,
próspera cidade, foi a espontânea e ruidosa manifestação que o povo corumbaense
prestou ao Presidente Eurico Gaspar Dutra, na Praça da Independência. [...]
Ao Longo do Rio Paraguai
A viagem do Presidente da
República ao Rio Paraguai, repercute no seio da população deste pedaço do
Brasil, onde é gritante o contraste entre a exuberância da natureza e a
carência de povoamento, como a confirmação do desejo do primeiro mandatário do
País em querer equilibrar a vida econômica de Mato Grosso, restaurando a
vitalidade dessa unidade federativa que o viu nascer ([7]).
Neste sentido, aliás, foi bastante significativo o gesto do Chefe do Governo,
quando, em Corumbá depois de prestar uma homenagem ao herói da retomada da
cidade aos paraguaios, fato verificado em 1865, que plantou, sob verdadeiro
delírio de aclamações, uma muda de uma grande árvore, que futuramente, se
erguerá frondosa e acolhedora, crescendo, na razão direta do progresso mato-grossense
hoje anunciado pelo Presidente da República.
Em Porto Esperança
A BORDO DO MONITOR “PARNAÍBA”, SOBRE O RIO PARAGUAI, 22 (A.
N.) ‒ Após oito horas de viagem o “Parnaíba”
está chegando a Porto Esperança. A Ponte que vai ser inaugurada pelo Presidente
Dutra. Estende-se sobre o Rio banhado de Sol, atraindo a curiosidade dos que a
divisam.
O General Dutra
contempla-a através do binóculo do Comandante do navio, tecendo comentários com
o Almirante Lobato Aires, que comanda o Distrito Naval com base em Ladário. A
Ponte é uma caprichosa obra de engenharia e tem uma grande significação, pois
ligando as suas margens em território nacional, aproxima igualmente dois
grandes oceanos: o Pacífico e o Atlântico. [...]
O Que é a Ponte
O Chefe de Governo, em ato
a que estiveram presentes altas autoridades da República, inaugurou
solenemente, a ponte Internacional “Presidente
Eurico Gaspar Dutra”, sobre o Rio Paraguai. [...]
Acompanhado dos membros de
sua comitiva, o Presidente da República chegou sob aclamações ao local,
declarando pouco depois inaugurada a importante obra que deverá desempenhar um
grande papel no tráfego internacional do futuro, nesta região, com os trabalhos
que se ativam na Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, para a ligação
transcontinental Santos-África.
A ponte é toda de cimento
armado e do tipo mais moderno e de rara beleza. A grande obra possui, no canal
do Rio, para, permitir a navegação, 25 m de altura acima do nível das cheias, e
para conseguir tal altura foram construídos dois grandes viadutos inclinados
sendo um de ascensão e outro de descida.
2.000 Metros de Comprimento
Seu comprimento total é de
quase 2.000 m, dos quais 900 constituem o viaduto de acesso do lado do Porto
Esperança, com 4 arcos de 90 m e um de 110 m no leito do Rio, sendo mais de 500
m de descida nos patamares da margem direita do Paraguai, onde prosseguirão os
trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil rumo a Corumbá e ligação à E. F.
Brasil-Bolívia, consubstanciando o velho sonho dos dois povos irmãos. A FENOB passará,
com a inauguração da “Ponte Presidente
Eurico Dutra”, a desempenhar função da maior relevância, cooperando no
setor ligado aos transportes nacionais, evidenciando-se do mesmo modo a ação
dos nossos homens públicos, no empenho de servir cada vez melhor aos interesses
do Brasil. (O JORNAL, n° 8.405)
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=_fCg7y98JIU
https://www.youtube.com/watch?v=GPT99KsJjD8&t=38s
https://www.youtube.com/watch?v=z6sVrma9a24
https://www.youtube.com/watch?v=zlPfAYWRGpA&t=18s
Bibliografia
O JORNAL, n° 8.405. A Maior Ponte
do Continente ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ O Jornal n° 8.405,
23.09.1947.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Póvoas:
pequenas povoações.
[2] Olavo Bilac em
“O Caçador de Esmeraldas”.
[3] Esto: fervor.
[4] Piúva
(Handroanthus impetiginosus): árvore ornamental conhecida como Ipê-roxo ou
pau-d’arco. Sua floração ocorre de maio a agosto período em que perde todas as
folhas. As flores, variam do rosa ao lilás e servem de alimento aos insetos
polinizadores, aves e macacos.
[5] Ñanditu (teia de aranha): bordado muito delicado de origem
paraguaia que utiliza motivos geométricos e zoomorfos.
[6] Tirante de ar: vão livre que permite a passagem das embarcações.
[7] O Presidente Eurico Gaspar Dutra nasceu, no dia 18.05.1883, em
Cuiabá, Mato Grosso.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H