Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CCXLIII - Expedição Centenária Roosevelt-Rondon 1ª Parte – XXIII - Forte Coimbra – Corumbá – I


Rio Paraguai - Gente de Opinião
Rio Paraguai

Bagé, 22.06.2021

 

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXIII

 

Forte Coimbra – Corumbá – I

 

Na travessia longa em que os guiava a bússola, se não se levantavam vagalhões, impunham-se montanhas. Era aqui uma floresta densa, além uma catarata, adiante um pantanal escuro, fervilhando em podridão deletéria, exalando hausto letal. Tudo lhes era adverso. Mas à voz enérgica do chefe, cada qual dava conta do que fizera; e desse herói que regressa do deserto, desse civilizador e pacificador, semeador de póvoas ([1]) que serão cidades, plantador de roças que serão lavouras, dirão mais tarde as gerações agradecidas o que disse o poeta ([2]):

 

Tu cantarás na voz dos sinos, nas charruas,

No esto ([3]) da multidão, no tumultuar das ruas,

No clamor do trabalho e nos hinos da paz!

E, subjugando olvido, através das idades,

Violador de Sertões, plantador de cidades,

Dentro do coração da pátria viverás... (Coelho Neto)

 

09.08.2017: O jantar oferecido pelo Cmt da 3° Cia Fron, Capitão Glauco Viana Coitinho, aos membros da Expedição Centenária demonstrou, mais uma vez, o apoio e a cortesia com que o Exército Brasileiro nos tem distinguido.

 

Iniciamos às 07h30, depois do café, na Casa de Hóspedes da 3° Cia Fron, nosso deslocamento do Forte Coimbra ao Porto Manga. O amanhecer, no Rio Paraguai, era mágico, a exuberância da flora diversificada ganhava um tom especial realçado pelas flores violetas das inúmeras piúvas ([4]).

 

A fascinante paisagem mergulhava nas águas serenas do Rio refletindo um cenário fantástico que lembrava uma fina renda entretecida pelas mitológicas náiades ou ainda um mimoso ñanditu ([5]) criado pelas mãos das hábeis artesãs paraguaias. A navegação transcorria com muita tranquilidade e conforto, à bordo da “Calypso”, graças a amabilidade e competência de sua tripulação. Além dos expedicionários originais, Dr. Marc Meyers e Cel Angonese, contávamos nesta etapa com um reforço importante na equipe proporcionado pelo Dr. Timothy Radke e sua querida esposa Judith Radke de San Diego, Califórnia, USA, bem como do Cel José Francisco Mineiro Júnior, pesquisador do Exército.

 

Às 15h00, cruzamos pela magnífica Ponte Ferroviária Presidente Eurico Gaspar Dutra. A construção da ponte, que teve início no dia 01.10.1938 e foi concluída em nove anos, contou com a participação de 2,1 mil operários. Sua inauguração, no dia 21.09.1947, contou com a presença do General Eurico Gaspar Dutra, então Presidente da República, que emprestou seu nome à obra de arte. A Ponte faz parte da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (FENOB).

 

A capacidade da ponte foi calculada para trens de 27 toneladas por eixo (TB 27) e é constituída por arcos de distintos vãos, sendo o maior deles o arco sobre o talvegue com um comprimento de 110 m e um tirante de ar ([6]) de 21 m acima do nível normal do Rio Paraguai e de 14 m relativo à maior cheia observada desde 1905, permitindo a passagem de todos os navios que trafegam na Hidrovia do Rio Paraguai. O periódico “O JORNAL”, do Rio de Janeiro, do dia 23.09.1947, publicou:

 

O Jornal, n° 8.405 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Terça-feira, 23.09.1947

Inaugurada sobre o Rio Paraguai a maior Ponte do Continente, que Servirá à Ligação Brasil-Bolívia ‒ 23.09.1947

 

CORUMBÁ 22 (A. N.) ‒ Um dos espetáculos mais imponentes a que assistimos, na tarde de anteontem, nesta, próspera cidade, foi a espontânea e ruidosa manifestação que o povo corumbaense prestou ao Presidente Eurico Gaspar Dutra, na Praça da Independência. [...]

 

Ao Longo do Rio Paraguai

 

A viagem do Presidente da República ao Rio Paraguai, repercute no seio da população deste pedaço do Brasil, onde é gritante o contraste entre a exuberância da natureza e a carência de povoamento, como a confirmação do desejo do primeiro mandatário do País em querer equilibrar a vida econômica de Mato Grosso, restaurando a vitalidade dessa unidade federativa que o viu nascer ([7]). Neste sentido, aliás, foi bastante significativo o gesto do Chefe do Governo, quando, em Corumbá depois de prestar uma homenagem ao herói da retomada da cidade aos paraguaios, fato verificado em 1865, que plantou, sob verdadeiro delírio de aclamações, uma muda de uma grande árvore, que futuramente, se erguerá frondosa e acolhedora, crescendo, na razão direta do progresso mato-grossense hoje anunciado pelo Presidente da República.

 

Em Porto Esperança

 

A BORDO DO MONITOR “PARNAÍBA”, SOBRE O RIO PARAGUAI, 22 (A. N.) ‒ Após oito horas de viagem o “Parnaíba” está chegando a Porto Esperança. A Ponte que vai ser inaugurada pelo Presidente Dutra. Estende-se sobre o Rio banhado de Sol, atraindo a curiosidade dos que a divisam.

 

O General Dutra contempla-a através do binóculo do Comandante do navio, tecendo comentários com o Almirante Lobato Aires, que comanda o Distrito Naval com base em Ladário. A Ponte é uma caprichosa obra de engenharia e tem uma grande significação, pois ligando as suas margens em território nacional, aproxima igualmente dois grandes oceanos: o Pacífico e o Atlântico. [...]

 

O Que é a Ponte

 

O Chefe de Governo, em ato a que estiveram presentes altas autoridades da República, inaugurou solenemente, a ponte Internacional “Presidente Eurico Gaspar Dutra”, sobre o Rio Paraguai. [...]

 

Acompanhado dos membros de sua comitiva, o Presidente da República chegou sob aclamações ao local, declarando pouco depois inaugurada a importante obra que deverá desempenhar um grande papel no tráfego internacional do futuro, nesta região, com os trabalhos que se ativam na Estrada de Ferro Brasil-Bolívia, para a ligação transcontinental Santos-África.

 

A ponte é toda de cimento armado e do tipo mais moderno e de rara beleza. A grande obra possui, no canal do Rio, para, permitir a navegação, 25 m de altura acima do nível das cheias, e para conseguir tal altura foram construídos dois grandes viadutos inclinados sendo um de ascensão e outro de descida.

 

2.000 Metros de Comprimento

 

Seu comprimento total é de quase 2.000 m, dos quais 900 constituem o viaduto de acesso do lado do Porto Esperança, com 4 arcos de 90 m e um de 110 m no leito do Rio, sendo mais de 500 m de descida nos patamares da margem direita do Paraguai, onde prosseguirão os trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil rumo a Corumbá e ligação à E. F. Brasil-Bolívia, consubstanciando o velho sonho dos dois povos irmãos. A FENOB passará, com a inauguração da “Ponte Presidente Eurico Dutra”, a desempenhar função da maior relevância, cooperando no setor ligado aos transportes nacionais, evidenciando-se do mesmo modo a ação dos nossos homens públicos, no empenho de servir cada vez melhor aos interesses do Brasil. (O JORNAL, n° 8.405)

 

Filmete

 

https://www.youtube.com/watch?v=_fCg7y98JIU

 

https://www.youtube.com/watch?v=GPT99KsJjD8&t=38s

 

https://www.youtube.com/watch?v=z6sVrma9a24

 

https://www.youtube.com/watch?v=zlPfAYWRGpA&t=18s

 

Bibliografia

 

O JORNAL, n° 8.405. A Maior Ponte do Continente ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ O Jornal n° 8.405, 23.09.1947.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

·      Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·      Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);

·      Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·      Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·      Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·      Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·      Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·      Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·      Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·      Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·      Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·      Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·      Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·      E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

 



[1]    Póvoas: pequenas povoações.

[2]    Olavo Bilac em “O Caçador de Esmeraldas”.

[3]    Esto: fervor.

[4]    Piúva (Handroanthus impetiginosus): árvore ornamental conhecida como Ipê-roxo ou pau-d’arco. Sua floração ocorre de maio a agosto período em que perde todas as folhas. As flores, variam do rosa ao lilás e servem de alimento aos insetos polinizadores, aves e macacos.

[5]    Ñanditu (teia de aranha): bordado muito delicado de origem paraguaia que utiliza motivos geométricos e zoomorfos.

[6]    Tirante de ar: vão livre que permite a passagem das embarcações.

[7]    O Presidente Eurico Gaspar Dutra nasceu, no dia 18.05.1883, em Cuiabá, Mato Grosso.

Galeria de Imagens

  • Rio Paraguai
    Rio Paraguai
  • Porto Esperança ‒ Corumbá (DNIT)
    Porto Esperança ‒ Corumbá (DNIT)
  • Porto Esperança ‒ Corumbá (DNIT)
    Porto Esperança ‒ Corumbá (DNIT)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 25 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X

Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI

Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas  T

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV

Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III

Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira  O jornalista H

Gente de Opinião Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)