Quarta-feira, 23 de junho de 2021 - 06h02
Bagé, 23.06.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XXIV
Forte Coimbra – Corumbá
– II
09.08.2017: Passamos, às 18h00, pela Ponte Poeta
Manoel de Barros ([1]),
localizada no Porto Morrinho, que faz a ligação de Corumbá e Ladário ao
restante do Mato Grosso do Sul, através da BR-262. A ponte tem 1.890 m de
extensão e vão central de 110 m de comprimento. A programação era pernoitar na
Foz do Miranda, mas, com pane seca a vista, combinamos ancorar à jusante do
Porto Manga (19°15’28,75” S / 57°14’06,05” O), onde poderíamos abastecer.
10.08.2017: Depois do café, percorremos a BR-228
(Estrada Parque) ([2]),
uma trilha aberta por Rondon no final do século XIX, das 06h00 às 10h30, um bom
exercício aeróbico para uma Expedição extremamente sedentária como a nossa. O
Dr. Marc fez questão de levar o crânio de um jacaré morto e os demais
expedicionários fotografaram alguns animais ao longo da rodovia.
O grupo era barulhento demais assustando a fauna e, no retorno, resolvi
ir à frente e, graças a essa medida, avistei um grupo de filhotes de jacaré.
Aguardei a equipe chegar e apontei para o Dr. Timothy Radke aonde se
encontravam os pequeninos.
Na volta da Estrada Boiadeira, o Cmt Elierd, que nos aguardava com a
voadeira, comunicou-nos que uma equipe do 17° B Fron (Corumbá) comandada pelo
Sgt Langue nos aguardava em Porto Manga para apoiar-nos no deslocamento pela BR.
Uma falha na comunicação que acarretou um deslocamento desnecessário de uma viatura militar. Aproveitamos para visitar o posto telegráfico construído por Rondon em palafita que resiste heroicamente até os dias de hoje.
Partimos para Corumbá, por volta das 11h00, aonde chegamos à noite. O “Calypso” ancorou no porto do 17° B Fron
e pernoitamos à bordo, a agenda para o dia seguinte era intensa e precisávamos
estar descansados para enfrentá-la.
11.08.2017: Após o café fomos apresentados ao
Comandante do 17° Batalhão de Fronteira Tenente Coronel Niller André de Campos
que nos indicou o Ten Agnaldo José Heleodoro de Arruda para nos levar até o
Forte Junqueira (Forte da Pólvora). O seu nome homenageia o então Ministro da
Guerra, Dr. João José de Oliveira Junqueira, que foi quem determinou sua construção.
O Forte em alvenaria de pedra argamassada, apresenta planta no formato
de um polígono octogonal, com seis ângulos salientes e dois reentrantes, e seis
canhoneiras. O Ten Heleodoro é outro historiador que também diverge da
localização apontada por alguns para o Porto Canuto ([3]).
Relatos Pretéritos: Forte
Junqueira
João Severiano da Fonseca
(1880)
Cinco Fortins defendem Corumbá pelo
lado do Rio e uma cortina por terra. Concluídos uns na administração do Sr.
Conselheiro Tenente-coronel Francisco José Cardoso e outros na do General
Hermes, receberam a denominação de S. Francisco e de Junqueira, em honra do
Presidente e do Ministro da Guerra, estes os de Conde D’eu, Duque de Caxias e
Major Gama, este em homenagem ao, hoje Ten-Cel, o Sr. Dr. Joaquim Gama Lobo
d’Eça, o modesto e distinto engenheiro que os planejou. (FONSECA)
Augusto Fausto de Sousa
(1885)
Presídio fundado, em 1778, por ordem
do Governador Luiz de Albuquerque, na margem direita e acima de Nova Coimbra e
em honra ao Governador teve o nome de Albuquerque Velho. Ocupado pelos
Paraguaios em 03.01.1865, foi por eles fortificado com trincheiras regulares
armadas com 6 canhões, e aí se mantiveram até junho de 1867 e, no dia 13, foi
tomada de assalto pelo 1° Btl Provisório comandado pelo Major Antônio Maria
Coelho, tendo sido tão enérgica a defesa, que foram mortos todos os oficiais
paraguaios e quase todos os soldados, excetuando apenas os 27 prisioneiros, e
esses mesmos feridos. Esta vitória trouxe o grande resultado da evacuação dos
pontos do São Joaquim, Pirapitangas, Urucu e Albuquerque, que com outros
anteriormente abandonados constituíam o Distrito Militar do Alto Paraguai.
Evadida a posição pelas forças brasileiras por causa do flagelo da bexiga, foi
novamente ocupada por paraguaios em 08.07.1867 até abril de 1868, em que de uma
vez a abandonaram.
Terminada a guerra foram planejadas novas fortificações
pelo Major Joaquim da Gama; e segundo comunicações oficiais, compõe-se ela de
uma linha contínua com baluartes cobrindo a vila, com proporções para admitir
60 canhões, e o Forte do Limoeiro, à margem do Rio, uma milha abaixo da Vila,
cruzando fogos na direção do canal com os Fortins São Francisco, Junqueira,
Conde d’Eu, Duque de Caxias e Major Gama, construídos durante as administrações
do Coronel Cardoso e Brigadeiro Hermes. A posição é excelente, o porto capaz de
receber naus, e as Fortificações bem delineadas; é pena porém, diz o Dr. João
Severiano na sua “Viagem ao Redor do
Brasil”, que só se limpe o mato, que nelas cresce, quando se espera a
visita do Presidente e autoridades da Província. (RIHGB – XLVIII – II, 1885)
O Ten Heleodoro, nosso dileto historiador, conhece muito bem o contexto histórico em que se processou a construção do Forte Junqueira e dos eventos que se sucederam. O Ten Cel Niller, mais tarde, homenageou-nos com uma emocionante Formatura Matinal. Estático, visivelmente emocionado, com os olhos a marejar, relembrava os velhos tempos em que tive a honra de envergar, orgulhoso minha segunda pele ‒ a farda verde-oliva. O Comandante fez-me a entrega, como oficial mais antigo da Expedição, de uma bela recordação que, por dever de justiça, repassei, mais tarde, ao Dr. Marc Meyers, mentor da Expedição.
Ainda na parte da manhã os membros da Expedição fizeram uma
apresentação, no 17° B Fron, a respeito dos objetivos, dificuldades e sucessos
enfrentados pela Expedição Centenária, em 2014, na complexa navegação do Rio
Roosevelt, em 2015, na versátil jornada de Cáceres à Vilhena em que empregamos
voadeiras, mulas, viatura além de realizar uma extenuante marcha a pé, bem
diferente da etapa que ora realizamos em uma confortável embarcação regional. O
almoço foi servido na Casa de Pedra do 17° B Fron, com direito a música ao vivo
e uma visão panorâmica do Rio Paraguai e do Pantanal que se estende por uma
bela planície aluvial desmedidamente vasta onde se sobressai o “Morro do
Sargento”.
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=_fCg7y98JIU
https://www.youtube.com/watch?v=GPT99KsJjD8&t=38s
https://www.youtube.com/watch?v=z6sVrma9a24
https://www.youtube.com/watch?v=zlPfAYWRGpA&t=18s
Bibliografia
FONSECA, João Severiano da. Viagem ao redor do Brasil 1875-1878 (Tomo
I) – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Tipografia de Pinheiro & C.,
1880-1881.
RIHGB – XLVIII – II, 1885. Fortificações no Brasil ‒, Augusto Fausto
de Sousa – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – RIHGB, Tomo XLVIII, Parte II,
1885.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Ponte Poeta
Manoel de Barros: Lei 4.685, de 15.06.2015 ‒ Diário Oficial do Estado de Mato
Grosso do Sul.
[2] Estrada Parque
Pantanal (EPP), também conhecida como Estrada da Integração, Estrada Boiadeira
ou Estrada da Manga.
[3] Marco simbólico do fim da Retirada da Laguna, situado às margens
do Rio Aquidauana, MS, antes dos retirantes seguirem para Cuiabá.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H