Quinta-feira, 13 de maio de 2021 - 06h02
Bagé, 13.05.2021
Navegando o Tapajós ‒ Parte XIX
Itaituba, PA
Chegamos em Itaituba, por volta das
14h00, e aportamos junto ao empurrador comandado pelo dinâmico Ten MB Moreira,
do 8° Depósito de Suprimento (8° DSup). Em Fordlândia, o Cb Mário já tinha
conseguido, com o pessoal do 8° DSup, um quilo de farinha e, desta feita, fomos
recepcionados com um belo lanche a bordo e a possibilidade de tomar um banho
antes de realizar contatos em terra.
Fui direto ao quartel da PM verificar
se através deles poderia contatar o arisco pessoal da Prefeitura de Itaituba.
Antes mesmo de sair de Porto Alegre, RS, já me comunicara com eles, via e-mail,
tentando viabilizar algum tipo de apoio e me informaram que já tinham
apresentado minhas pretensões à Prefeita. Estava entrando no aquartelamento da
PM quando o Major Paulo Correia Lima Neto, que estava respondendo pelo comando
do 53° Batalhão de Infantaria de Selva (53° BIS), telefonou-me dizendo que
tinha condições de apoiar-me com a instalação e combustível para a lancha de
apoio. O Major Correia Lima tinha sido informado de minha presença pelo
Tenente-Coronel Miranda, Subcomandante do 8°BEC, Santarém, PA. Foi um apoio
providencial. Caso contrário iríamos acampar, como até então vínhamos fazendo,
e iniciar nossa volta para Santarém sem poder contar como devido e necessário
conforto e repouso.
Estávamos cansados depois de remar
durante oito dias consecutivos sob Sol escaldante. É interessante observar que
foi a primeira vez que um Prefeito não se dispôs a apoiar-nos. Na descida pelos
ermos sem fim do Rio Juruá, nos Estados do Acre e Amazonas, contamos sempre com
apoio irrestrito do poder público.
Aqui no Pará mesmo, já fomos
devidamente apoiados em Juriti, Oriximiná, Óbidos e Alenquer. De Itaituba,
levamos conosco saudades apenas do “Braço
Forte, Mão Amiga” de nosso sempre pronto Exército Brasileiro.
À noite, fomos convidados pelo Ten MB
Moreira a jantar em um restaurante da cidade e passamos uma noitada
extremamente agradável ouvindo causos interessantes e hilários deste formidável
e simpático grupo fluvial do 8°DSup. O Moreira foi convidado e aceitou ser
instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), tenho certeza de que
este jovem oficial saberá desincumbir-se desta nova missão com o mesmo
entusiasmo e galhardia que vem desempenhando como Comandante do Empurrador
Yauaretê.
Área de Lazer dos Oficiais (ALO) do
53°BIS
Infelizmente, ante a falta de apoio da
Prefeitura local, minhas pretensões de conhecer Jacareacanga, conversar com
algumas lideranças locais a respeito do Complexo Hidrelétrico do Tapajós não
foram concretizadas. Felizmente na ALO tive a ventura de conhecer o Sr. Nilton
Luiz Godoy Tubino, Coordenador-Geral de Movimentos do Campo e Territórios
subordinado à Secretária Geral da Presidência da República.
Tubino foi bastante esclarecedor em
relação a algumas de minhas indagações sobre o aproveitamento Hidrelétrico do
Tapajós e conseguiu-me mapas das Barragens Jatobá e São Luiz do Tapajós. Mais
uma vez estamos partindo para estudos de viabilidade de barragens descurando da
mobilidade fluvial.
Não se pode pensar em represar um Rio
para geração de energia sem levar em conta a possibilidade de viabilizar a
transposição das barragens por meio de eclusas. A Hidrovia Tapajós-Teles
Pires-Juruena precisa ser concretizada e estes estudos de viabilidade e
construção precisam e devem ser tratados concomitantemente e não de maneira
estanque. É um erro histórico que continua a ser cometido pelos governos que se
sucedem.
Potenciais Hidrelétricos em Terras
Indígenas (TI)
[...] Será que o governo quer
acabar com todas as populações da Bacia do Rio Tapajós? Se apenas a barragem de
São Luís for construída, vai inundar mais de 730 km². E daí? Onde vamos morar?
No fundo do Rio ou em cima da árvore? Não somos peixes para morar no fundo do
Rio, nem pássaros, nem macacos para morar nos galhos das árvores. Nos deixem em
paz. Não façam essas coisas ruins. Essas barragens vão trazer destruição e
morte, desrespeito e crime ambiental, por isso não aceitamos a construção das
barragens... (Missão São Francisco do Rio Cururu, 06.11.2009)
A Constituição Federal de 1988
autoriza a exploração dos potenciais hidrelétricos em Terras Indígenas (TI)
desde que haja autorização do Congresso Nacional e ouvidas as comunidades
envolvidas.
Logicamente este dispositivo legal se
refere tão somente a projetos que causem interferência direta nas terras
indígenas o que não ocorre, por exemplo, na UHE São Luiz do Tapajós a mais de
40 km de qualquer terra indígena. Infelizmente os Mundurucu têm sido usados
como peça de manobra para se opor à construção da barragem sem ao menos saber
do que se trata e a mídia sensacionalista só se interessa em apresentar imagens
de nativos devidamente fantasiados com o intuito de causar o maior impacto
possível às massas ignaras.
As populações afetadas não estão sendo
devidamente esclarecidas, propiciando que “talibãs
verdes” (inocentes úteis ou a soldo de interesses inconfessos) tentem fazer
prevalecer sua visão distorcida sem levar em conta as reais necessidades da
nação.
A questão não é mais se a construção é
necessária ou não e sim a necessidade de minimizar os impactos ao meio ambiente
e às populações do entorno.
A discussão tem um viés importante que
é o sustentável, todos os empreendimentos na Amazônia vão gerar, sem dúvida,
polêmica dos “ambientalistas” e “mercenários apátridas”.
As potências hegemônicas tentam, a
todo custo, que surja um “tigre asiático”
ao Sul do Equador. Nossa engenharia hidrelétrica e legislação ambiental estão
entre as melhores do mundo, capazes de atender às normas vigentes e evitando
que o país enfrente um caos energético na década que se avizinha.
A carta dos Mundurucu foi redigida por
mal informados e/ou mal intencionados “guardiões
da floresta” que omitem, intencionalmente, os benefícios auferidos pelas
populações atingidas pelas barragens.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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