Sexta-feira, 21 de maio de 2021 - 06h02
Bagé, 21.05.2021
Expedição Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – I
Por Marc André Meyers
Quando cerrei a última página do livro de Candice Millard, “The River of Doubt”, a cerca de dois
anos, uma ideia me veio à mente: seguir as pegadas da Expedição Científica
Roosevelt-Rondon, de 1913-1914, usando, tanto quanto possíveis, meios
semelhantes de transporte. Esta ideia ressoou com velhos sonhos, que eu
carregava dentro de mim desde 1969, quando participei do Projeto Rondon, nas
profundezas da Amazônia, no Rio Purus.
Mas a semente nasceu mesmo antes, com histórias fantásticas trazidas
por turmas de pescadores que deixaram minha cidade de Monlevade e se
aventuraram mais e mais para dentro da Bacia Amazônica. Poraquês elétricos,
peixes com dentes gigantescos, piranhas sedentas de sangue. Então, me juntei a
eles uma vez, em 1964, e passei 48 horas na carroceria de um caminhão Fenêmê
[FNM], atravessando o planalto Brasileiro a 40 km/h, suportando o frio mais
amargo de toda a minha vida quando, às três da madrugada, a friagem da noite
juntava-se ao vento do caminhão aberto para nos torturar. Nós finalmente
chegamos, depois de sermos salvos de um atoleiro nos pântanos perto do Rio, por
seis juntas de bois. A pesca foi extremamente pobre, uma vez que atingimos o
Rio Javaé, que estava quase seco, em vez do lendário Rio Araguaia.
Mas meu entusiasmo destemido e curiosidade continuaram ao olhar
hipnotizado as figuras de um livro que tínhamos em nossa casa com o nome “Tupari” mostrando uma tribo em seu
estado natural. O etnólogo alemão documentou a vida diária desta tribo e as
fotografias ainda estão gravadas em minha mente. Então, a ideia de que se
apossou de mim foi a concretização de um sonho ao longo da vida. No entanto, há
uma enorme distância entre o sonho e a realidade, e eu não sabia por onde
começar. Minhas tentativas de despertar o interesse e a participação do
Exército Brasileiro para reviver os acontecimentos importantes falharam.
No entanto, no turbilhão de uma atividade aleatória houve um evento
fantástico, protagonizado por meu ex-aluno e colega Coronel Luís Henrique Leme
Louro. Em uma mensagem eletrônica, ele relatou-me que tinha ouvido falar de um
oficial brasileiro lendário que tinha percorrido mais de 11.000 km na Amazônia
em um caiaque, sendo o primeiro a descer vários destes Rios. Minha esperança
transformou-se em emoção quando o Coronel Hiram Reis e Silva respondeu seu
e-mail e apoiou o projeto com entusiasmo. Eis as suas palavras, a 14.02.2014,
dirigidas ao Cel Louro:
Caro amigo estamos “De Pé e à Ordem”.
Este ano, em princípio tenho mais três Expedições a realizar:
1ª Travessia da Laguna
dos Patos de Porto Alegre a Rio Grande pela Margem Oriental;
2ª Fechando minhas
jornadas pelos amazônicos caudais (11.400 km) ‒ 7ª Expedição: Santarém ‒ Macapá
‒ 01.08.2014;
3ª Circunavegação da
Lagoa Mirim – 17.09.2014.
Nada que não possa ser reagendado caso o Dr. Marc Meyers deseje que eu
participe, com meu caiaque oceânico, de sua Expedição pelo Rio Roosevelt. Seria
mais uma oportunidade de homenagear a figura humana que considero mais
importante e carismática de toda nossa história.
Envio uma cópia do meu livro Descendo o Rio Negro onde presto reverência
especial a Rondon ‒ meu Farol como desbravador. Agradeço sua deferência e
coloco-me, como pesquisador do DECEx, inteiramente à disposição do Dr. Marc
Meyers.
Tinha o Cel Hiram três
importantes atividades programadas, mas, imediatamente, transformou em
realidade a Expedição Centenária Roosevelt-Rondon. A partir deste momento as
minhas esperanças foram fortalecendo-se. Ele me guiou através do processo já
que eu sou, em comparação a ele, um neófito em canoagem. Minha experiência mais
longa é de remar 8 horas consecutivas. Uma infinidade de outros assuntos foram
tratados e tratativas foram exploradas desde a seleção de equipamento até a
estratégia da Expedição.
A descida não foi
fácil. Na verdade, ela colocou desafios às vezes intransponíveis, mas o Cel
Hiram, assim como seu predecessor Rondon, usou prudência sempre que necessário
e ousadia quando não havia outra opção. Algumas vezes eu fiz uma pequena oração
e, como os cavaleiros de outrora, entreguei minha alma ao “Mais Alto”
antes de descer uma corredeira. Com paciência, ele me salvou da água três vezes
e devo-lhe, portanto, um agradecimento especial. Tivemos três vantagens sobre a
Expedição Original de 1914:
1ª Época. Chegamos
um pouco antes do início da temporada das chuvas, quando o Rio estava em seu
nível mais baixo, enquanto que a Expedição de 1914, que desceu no período
fevereiro-março, devido aos muitos atrasos provocados por Roosevelt.
Enfrentaram um verdadeiro inferno provocado pelas águas revoltas e insetos.
2ª Embarcações. O Cel Hiram conhece muito
bem os Rios da Amazônia e recomendou os caiaques oceânicos. Isto provou ser uma
escolha sábia. Nós complementamos estes com uma canoa desmontável feita de uma
estrutura de alumínio coberta por lona. Apesar de mais lenta, com dois
remadores foi mais rápida do que eu no meu caiaque. Esta canoa permitiu que
levássemos nosso equipamento. Rondon tinha à sua disposição canoas pesadas, construídas pelos nativos, e algumas delas foram perdidas.
3ª Número de membros e
equipamentos. A Expedição original tinha 22 membros, dos quais 14 se
encarregaram da maior parte do remo, carregamento, e fainas do acampamento. Ela
também tinha quase 300 caixas de equipamentos e suprimentos. Tivemos quatro
pessoas e um mínimo de equipamento e material, cerca de 300 kg.
Descrevo aqui um dia
típico. De madrugada, ele era o primeiro a despertar e, com disciplina
espartana, saia à frente em sua missão de reconhecimento. Seus mapas
meticulosos continham as informações essenciais para o nosso progresso e as
rotas propostas para superar as cachoeiras e corredeiras.
O Coronel Hiram não é
apenas um explorador talentoso, mas também um historiador, e este livro detalha
não somente a nossa Expedição, mas compara-a com a Expedição Científica
Roosevelt-Rondon. Procurou as fontes primárias importantes para definir o
cenário e, desta forma, ele desempenhou o papel de Rondon.
Eu também tenho de
reconhecer no Cel Angonese um oficial Brasileiro de grande coragem com vasta
experiência na selva. O seu entusiasmo e energia indomável motivaram todos nós.
Representando os EUA,
Jeffrey Lehmann documentou toda a Expedição e demonstrando uma grande
resistência e capacidade de remar.
Esta descida do Rio
Roosevelt não poderia ter ocorrido e, mais importante, teria falhado se o Cel
Hiram não tivesse usado todo o seu conhecimento e energia para nos liderar.
Sua admiração por
Rondon, que também era um Coronel na época da Expedição histórica e trágica,
transpareceu nas diversas discussões em que me informou sobre a complexa
interação entre a história e aventura que convergiram para a Expedição de
1913-1914 e para conquista subsequente desta região da Amazônia.
Esta foi uma aventura
inesquecível, uma vez que representa não só uma experiência pessoal, mas também
uma avaliação dos aspectos históricos, que são de grande importância.
O Coronel Hiram trata
estes dois aspectos de uma forma admirável neste livro, e sinto-me honrado por
ter sido escolhido para escrever o seu prefácio.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H