Quinta-feira, 3 de junho de 2021 - 06h01
Bagé, 03.06.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – X
Theodore Roosevelt –
IV
O Paiz, n°
10.604 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 19.10.1913
Roosevelt
A Sua Visita ao Brasil
Notas Biográficas
Theodore Roosevelt, o 26°
Presidente dos Estados Unidos, nasceu em Nova York, em 1858, graduou-se, em
1880, na Universidade de Harvard. Em 1882, foi eleito membro da Legislatura do
Estado de Nova York, exercendo estas funções até 1884. Em 1889 o Presidente
Benjamin Harrison o nomeou membro da Comissão de Serviços Civis dos Estados
Unidos. Em 1895 foi colocado à frente do Comitê de Polícia da Cidade de Nova
York. As suas excepcionais qualidades de precisão e de energia, a sua
extraordinária capacidade de trabalho lhe valeram o Subsecretariado do
Ministério da Marinha do Governo do Presidente William McKinley, nas vésperas
da guerra Hispano-americana. Ao romperem hostilidades Espanha e América do
Norte, Roosevelt organizou e dirigiu o 1° Regimento de Cavalaria Voluntária dos
Estados Unidos, os “Rough Riders”,
cuja conduta na guerra, que se originou da explosão do Maine, lhe valeu uma
extraordinária nomeada em todo o seu País.
Depois da campanha de Cuba
tornou-se Roosevelt de uma intensa e extensa popularidade nos Estados Unidos, O
seu nome circulava, com tanto ou maior sucesso, como os de Dewey ([1]),
Hobson ([2])
e outros personagens eminentes, que se evidenciaram no sangrento conflito
bélico entre a velha Espanha e a jovem América. E dentro em breve era Roosevelt
feito Governador do Estado de Nova York. Em 1900, juntamente com McKinley,
eleito Presidente, o Partido Republicano sufragou o nome de Roosevelt para
Vice-presidente da República Americana, elegendo-o por notável maioria sobre os
candidatos democratas. No ano seguinte, em 1901, McKinley sucumbia ao atentado
de Czolgoss ([3]),
assassinado ao inaugurar um “certâmen”
internacional em Buffalo, assumindo Roosevelt as rédeas do Governo de sua
Pátria. Foi como chefe de Estado que mais se acentuou a poderosa
individualidade do grande norte americano, imprimindo um cunho pessoal à sua
ação administrativa, tomando iniciativas grandiosas e sobremodo atrevidas e
ousadas, advogando um imperialismo de acordo com as bases do Partido Republicano,
dando combate enérgico aos “trusts”,
propugnando pela eficiência militar da nação.
Manifestando um assinalado amor pela democracia, intervindo nas questões entre operários e patrões para resolvê-las equitativamente e de acordo com as conquistas liberais da época, procurando extinguir o secular conflito de raças dos Estados Unidos, entre brancos e negros, por tudo isso, muitas vezes afrontando possíveis impopularidades, Roosevelt firmou um conceito de homem de ação e de energia que lhe deram a admiração que lhe consagra hoje o mundo inteiro. Para dissipar as constantes explosões de odiosidade dos brancos pelos negros, rompendo com inveteradas praxes e consagrados usos, Roosevelt assentou à sua mesa os homens de cor notáveis, o que causou, ao começo, uma grande sensação e talvez um início de reprovação da gente “yankee”. Um dos mais belos gestos do grande estadista que hoje aporta à capital do Brasil, e que o há de consagrar como benemérito da humanidade, foi o da Conferência de Portsmouth, por ele promovida, para pôr fim ao colossal duelo de morte em que se empenhavam a Rússia e o Japão. Deve-se, de fato, a este homem das mais audazes iniciativas, o Tratado de Paz que se seguiu às formidáveis batalhas de Mukden e de Kharbine. Deixando o Governo da União Americana, ao findar o seu período governamental, passou-o Roosevelt ao seu sucessor, William Howard Taft, que fora seu Secretário da Guerra. Empreendeu, então, o Ex-presidente uma aventurosa viagem pelo continente negro, às mais inóspitas e escaldantes regiões africanas, onde quis se comprazer na arriscada empresa de caça de animais ferozes, que vivem naquela terra ainda não sujeita aos influxos da civilização da nossa raça.
Foi às vésperas da
sucessão de Taft que Roosevelt se apresentou novamente ao cenário político
norte americano. Despendendo as suas extraordinárias energias em todos os
colégios eleitorais, o paladino esforçado da grandeza dos Estados Unidos se
multiplicou e se dividiu na propaganda da sua candidatura de combate à do Sr.
Taft. Foi em um desses comícios, em que a sua eloquência, então demolidora,
analisava com expressões veementes a obra de seu concorrente, que Roosevelt foi
ferido, não se sabe se por um adversário, mas, sem dúvida, por um louco. Não
esmoreceu, com este contratempo, a combatividade incansável do ardoroso
democrata. E, assim lhe permitiu o seu restabelecimento, estava ele novamente à
frente da campanha presidencial, em que a sua dissidência aproveitou aos
democratas, com a eleição de Woodrow Wilson para a presidência da República,
conseguindo, porém, Roosevelt uma imensa e significativa maioria de votos sobre
o candidato que tão tenazmente hostilizara.
Não é só orador vibrante e
convincente, abundante e preciso, o Ex-presidente Roosevelt; é ainda um escritor
forte, sadio, de uma eloquência sóbria e de conceitos profundos, merecendo
sempre as suas produções o exame e a ponderação que suscitam as obras de valor
intrínseco e de profícuas revelações originais sobre problemas de interesse
geral. Entre os livros com que Theodore Roosevelt há enriquecido as letras
pátrias e universais, pois acham-se propagadas as tuas ideias pelo mundo
inteiro, estão “The Naval War of 1812”,
“Hunting Trips of a Ranchman”, “Life of Thomas H. Benton”, “Life of Gouverneur Morris”, e, além de
outros, as suas últimas publicações, de tão justa notoriedade universal, entre
as quais “A Vida Intensa” proemina
magnificamente. [...]
Um Radiograma de Roosevelt
O Sr. Lauro Müller,
Ministro das Relações Exteriores, recebeu o seguinte radiograma do Coronel
Theodore Roosevelt:
Muito apreciei seu
telegrama, que agradeço, Sinto-me deveras satisfeito, por já me achar no
Brasil, e espero ansiosamente o momento de nosso encontro – Theodore Roosevelt.
As Festas na Bahia
O Dr. Lauro Müller, Ministro
das Relações Exteriores, recebeu ontem o seguinte telegrama do Dr. J. J.
Seabra, Governador do Estado da Bahia:
Tenho a honra de comunicar
a V. Exª que o Sr. Roosevelt foi recebido pelo Governo do Estado com todo
carinho e as maiores distinções, rendendo-se-lhe todas as homenagens. Sua
família, recebida por um grande número de senhoras, sentiu-se desvanecida com a
gentileza do afetuoso acolhimento. O eminente estadista americano foi saudado
na Câmara Municipal, em sessão soleníssima, pelo Dr. Intendente, e em nome do
povo, pelo professor Dr. Frederico de Castro Rebello. Saudei-o em nome do
Estado, no banquete do Instituto. Povo por toda a parte aclamou o Sr.
Roosevelt, que chegou às 05h00, desembarcando às 08h30. Partiu agora, 14h00,
sendo acompanhado até a bordo do “Van
Dyck” por todo inundo oficial, pessoas do povo e grande número de senhoras.
O Sr. Roosevelt significou o seu contentamento e gratidão em elevadas palavras
ao meu Governo, à Bahia e ao povo. Aceite V. Exª minhas afetuosas saudações.
A Mocidade
Desejando a Associação
Brasileira de Estudantes tomar parte nas manifestações projetadas ao Sr.
Roosevelt, em cuja homenagem pretende realizar uma sessão solene, os Srs. Bruno
Lima e Renato Almeida têm se entendido com o Itamarati e a Embaixada Americana,
no sentido de obterem o apoio necessário para o êxito da ideia. O Sr. Edwin
Morgan prometeu ao Secretário Geral envidar esforços para a realização do
desejo da Associação, pondo em contato com a mocidade estudiosa o grande
estadista que, em breve, hospedaremos.
A Associação conferiu ao
Sr. Roosevelt o diploma de Associado Honorário, diploma que pretende entregar
com solenidade, na presença dos Acadêmicos desta capital. [...]
Uma Opinião do “Times”
O correspondente do Times,
em Washington, escreveu ao seu jornal, não há muito tempo, isto é, depois que o
Sr. Theodore Roosevelt regressou da sua excursão à África, e preparava-se para
pleitear a sua reeleição, uma interessante crônica a respeito da influência que
o eminente estadista exercia sobre os seus concidadãos.
Disse esse correspondente:
Sr. Roosevelt representa
tudo o que há de vital, tudo o que há de mais desejável, pela maioria do povo
para a vida americana. A sua personalidade servia de apoio à sua política,
dando-lhe popularidade; essa política, o tempo e o método de enumerá-la puseram
em relevo uma personalidade sempre enfática, como os que atraem as imaginações
populares.
A popularidade de Sr.
Roosevelt é, na verdade, a melhor justificativa da sua presidência. Significa
que os ideais por que combateu são os ideais do País inteiro. Mas, o êxito da
sua propaganda não explica inteiramente a sua popularidade.
A influência do político
não teria sido robustecida pela influência dessa personalidade de primeira
grandeza. Os seus esforços teriam sido qualificados de grotescos, e é muito
possível que o tivessem vaiado, se o caráter não tivesse inspirado respeito e
carinho. O Sr. Roosevelt é um homem. Os seus próprios inimigos o reconhecem. Os
seus admiradores – e são muitos – vão mais longe. Julgam-no um conjunto de tudo
o que de bom tem a Nação Americana.
A sua facilidade de
adaptação, a honorabilidade, a limpidez absoluta da sua vida, as rápidas etapas
na sua carreira política, cada qual mais feliz do que a anterior, granjearam a estima
dos seus concidadãos. Sorriam, ao verem os seus grandes gestos, mas não
supunham que fossem desagradáveis. Ao contrário, não havia quem não encontrasse
em Mr. Roosevelt qualquer coisa de atraente.
Para os habitantes do
Leste americano, era um “Harvard man”
[antigo aluno da Universidade de Harvard], e para os alunos de Harvard, o
reformador de Nova York. Para os habitantes do Oeste, era um “rancher” feliz, um ousado caçador. Os
soldados do Oriente e do Ocidente americanos recordam os seus “rough-riders”. Os marinheiros não
esqueceram que foi ele quem preparou a frota para a vitória de Manilha.
Os literatos e os
naturalistas conhecem seus livros sobre história e sobre os “sports”. Os políticos, que é um homem de
grande inteligência; os diplomatas, que soube guiar, com mão firme, os Estados
Unidos durante o período da perigosa transição, que se seguiu à guerra com a
Espanha; os jornalistas inclinam-se ante a habilidade técnica com que redige as
suas mensagens e os seus discursos, com as suas frases lapidárias e a sua força
compulsiva. Se há, por acaso, alguma coisa de superficial nas qualidades de Mr.
Roosevelt, nem por isso perdem de valor. Talvez não seja em gênio, se se
excetua a sua infinita capacidade de trabalho e de concentração. A sua energia
é tão notável, quanto o é a sua facilidade de assimilação.
Na sua presidência
desempenhou o seu papel com o entusiasmo de um moço, o senso prático de um
estudante e o otimismo de um idealista. E por toda a sua vida corre um sopro de
invencível perseverança, de persistência ‒ persistência na sua fé no povo e na
sua intenção de ajudá-lo a elevar-se por si mesmo. (O PAIZ, n° 10.605)
Bibliografia
O PAIZ, n° 10.605. Roosevelt - A
Sua Chegada Hoje ao Rio de Janeiro - Welcome Sir Theodore Roosevelt – Brasil
– Rio de Janeiro, RJ – O Paiz, n° 10.605, 20.10.1913.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Dewey (George
Dewey): almirante americano conhecido por sua vitória na Batalha de Cavite
durante a Guerra Hispano-Americana.
[2] Hobson: durante
a Guerra Hispano-Americana era Assistente da Marinha dos Estados Unidos e foi encarregado
de afundar o USS Merrimac no porto para bloquear a frota espanhola. A missão
fracassou, e Hobson e sua equipe foi capturada. Foi consagrado herói nacional
ao receber, em 1933, a Medalha de Honra.
[3] Leon Frank
Czolgosz: anarquista estadunidense de origem polonesa.
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