Terça-feira, 8 de junho de 2021 - 06h00
Bagé, 08.06.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XIII
Porto Murtinho ‒ Forte Olimpo – I
Esse caboclo, peregrino por patriotismo, viajante por ideal, desbravador
por destino, apaixonado por ofício, pioneiro por temperamento, incansável por
dever, estoico por profissão, soldado da paz, a serviço das fronteiras que
ajudou a demarcar e do Sertão, que ajudou a revelar, na mais nobre das
conquistas e na mais santa das vitórias, Rondon é glória que reúne os mais
altos méritos militares aos mais altos méritos civis. (Benjamim Delgado de
Carvalho Costallat)
06.08.2017: P. Murtinho – F. Olimpo
Passamos toda manhã envolvidos na
transposição do material individual da Kemosabe para a Calypso. Partimos à
tarde rumo Norte, deixando para trás a Isla Margarita e Puerto Carmelo Peralta,
aproados na direção do Morro Pão de Açúcar (21°26’45,68”S / 57°52’33,48”O), de mais
de 500 m de altitude, localizado na Fazenda Porto Conceição, a quase 25 km ao
Norte de Porto Murtinho. A região pródiga em belezas naturais possui uma trilha
que leva até o cume do morro de onde se tem uma vista privilegiada do Pantanal.
Passamos pelo Pão de açúcar ao anoitecer (19h15). O atraso, provocado pela
troca de embarcações, forçou a tripulação a navegar à noite e não tivemos a
oportunidade de conhecer a cidade de Fuerte Olimpo nem o antigo Fuerte de
Borbón (21°02’11,91” S / 57°52’10,75” O).
Uma Expedição desta magnitude ficar
atrelada a um calendário pré-determinado é um verdadeiro atentado ao bom senso,
nas minhas amazônicas jornadas procuro não me amarrar a datas que não podem ou
não devam ser cumpridas para não comprometer às pesquisas de campo.
Relatos
Pretéritos: Pan de Azúcar
Félix
de Azara (1781)
XXI
33.
[...] Continuaron, y en los 21°22’ de latitud, encontraron en la costa Oriental
un cerrito notable en aquella llanura de país, a quien llamaron monte de San Fernando. Hoy le dan los españoles el
nombre de pan de azúcar, y los guaranís el
de Ytapucú-guazú.
(AZARA)
Semanario (1850)
Es la segunda vez que las fuerzas nacionales dejan las playas de la
Asunción para dirigirse a vindicar al Norte los derechos de la Republica. En
1850, la ocupación del territorio paraguayo por fuerzas brasileras obligó a
nuestro gobierno a enviar una pequeña
expedición que dio por resultado el desalojo del cerro de Pan de Azúcar [...] (SEMANARIO, 17.12.1850)
Bartolomé Bossi (1862)
A los 21°25’ latitud y 60°14’ de longitud, se levanta el no menos
hermoso cerro de Pan de Azúcar, memorable
por un hecho de armas muy honroso para los soldados del Brasil, y que merece
narrarse por el interés que ofrece.
En el Pan de Azúcar fue atacada
por doscientos paraguayos una guardia
brasilera de 25 hombres. El combate fue reñido a pesar de la desproporción del
número. La pequeña guardia resistió hasta haber quemado su último cartucho; y
antes que rendirse, prefirió retirarse y ganar los montes y desiertos.
En esos bosques salvajes fueron sorprendidos esos pocos valientes por
los Indios Guaycurús, tribu muy guerrera y audaz que habita esas cercanías. Los
barbaros decidieron matar a todos los prisioneros; pero uno de los Indios se
opuso al sangriento designio de sus compañeros, tratando de persuadirlos que no
solo estaban obligados a conservar sus vidas, sino a acordarles su protección.
El orador redujo la ferocidad de sus hermanos hasta inclinarlos a la piedad, y
se decidió unánimemente que los prisioneros serían conducidos al través de esos
bosques y desiertos hasta la ciudad de Cuyabá.
Después de trabajos penosísimos, y cuando ya se les creía muertos,
aparecieron las victimas lloradas rodeadas por los Indios, escolta singular,
que había mitigado con sus prolijos cuidados los sufrimientos de aquellos
infelices. El gobierno brasilero pronto siempre á recompensar las acciones
generosas, prodigó sus obsequios a los Indios y les colmó de regalos,
concediéndole el honroso grado de capitán al iniciador de aquella loable acción
á que debían la vida sus súbditos.
Desde entonces le quedó al indio condecorado el título de capitán de
papel, que con burlesca ironía le dan en su tribu, entre la cual no es
compatible ese honor sino para vasallos de sangre noble. En consecuencia el
despacho de capitán brasilero, no es para los indios sino un pedazo de papel
sin importancia ni significación, y para su poseedor un título de honor.
(BOSSI)
Barão
de Melgaço (1870)
Apontamentos Para o Dicionário
Corográfico
da Província de Mato Grosso
Pelo Barão de Melgaço
([1])
Fecho de forros: Há na margem esquerda do Rio Paraguai, entre os
paralelos 21°24’ a 21°30’, um grupo de morros do quase duas léguas de extensão
ao longo do Rio e uma do largura, separado por um espaço de três léguas de
terreno alagadiço das terras altas do Distrito de Miranda. Sobre a oposta
margem do Rio existe um morro isolado e no meio do Rio uma ilha pedregosa de
1.300 a 1.500 metros de comprimento, 400 metros de largura e 21 na maior
altura. Os dois canais, que forma, são navegáveis; porém o melhor é o de Oeste.
Terá umas cinquenta braças [120 metros] de largura. O outro, mais estreito, tem
algumas pedras, das quais é preciso resguardar-se, tanto do lado da ilha como
do da margem esquerda.
Dos morros da margem direita
o mais notável é o “Pão do Açúcar”.
Sua base dista da beira do Rio quase 3 quilômetros. Seu cume tem a altitude de
412 metros acima do Rio, ou 507, acima do mar. Dez milhas abaixo do “Fecho de Morros” há na margem esquerda
um morro isolado, que os Espanhóis chamam Batatilla, com um recife que toma
quase metade da largura do Rio. Esse lugar é por nós conhecido pelo nome de “Passo da Tarumã”. É onde se faz a
passagem do gado vacum e cavalar trocado entre a nossa gente e os índios do
Chaco.
Foi neste
local, que em 1775, pretendeu o Capitão-general Luiz d’Albuquerque estabelecer
o presídio, que veio a fundar-se em Coimbra. Em junho do 1850, colocou-se aí um
destacamento, que foi visitado pelo Presidente da Província em setembro, e em
outubro expelido pelos paraguaios. (RIHGB ‒ XLVII - II, 1884)
Raul
Correia Bandeira de Mello (1935)
A Fortaleza de Coimbra
Breve Estudo Histórico e Geográfico
15 – É oportuno recordar-se que, não obstante decidido o estacionamento
militar em Coimbra, sempre se conservou latente e ainda persiste em potencial a
ideia do artilhamento do “Fecho dos
Morros”, como um elemento indispensável à integridade do Brasil. Em 1847 o
Presidente da Província de Mato Grosso autorizou o Comandante da fronteira do
Baixo Paraguai a providenciar sobre a instalação de um destacamento do Exército
no “Pão de Açúcar”, construindo um
quartel e algumas lunetas e redentes. Retornava-se às ideias dos chefes
militares que sempre acharam o “Fecho dos
Morros”, inclusive a ilha mediana, uma posição estratégica de 1ª ordem, de
vez que constitui verdadeira barragem natural.
Após a ocupação esta
posição notabilizou-se, segundo diz Luiz d’Albuquerque, pelo ataque que em 1850
traiçoeiramente lhe levaram os paraguaios por ordem de Carlos Antônio López ([2]).
Em número de 400 homens ([3])
inesperadamente agrediram a guarnição, composta de 25 praças do 2° Batalhão de
Artilharia a Pé e do Comandante Tenente Francisco Bueno da Silva.
A guarda retirou-se com
perda de vidas para a margem direita após tentar a defesa que lhe foi possível.
Surge então a infelicíssima ordem do Governo Imperial, de outubro de 1850,
determinando ao Presidente Caetano Pinto de Miranda Montenegro que desistisse
da ocupação do “Fecho dos Morros”
afim de que em virtude de reclamação de potência amiga pudesse a questão ser
resolvida diplomaticamente e “à luz de
uma discussão pacífica e aprofundada”. E a ofensa violentamente assacada
contra nossa soberania foi esquecida e jamais se tratou do assunto. (BANDEIRA
DE MELLO)
MOURA,
Carlos Francisco (1975)
As obras foram
interrompidas com a sua completa destruição, em 14 de outubro do mesmo ano, por
tropas paraguaias e o projeto definitivamente arquivado pelas autoridades
brasileiras. Em verdade, o Governo brasileiro tentou com essa iniciativa
resgatar um projeto de 1775, quando o Capitão Ribeiro da Costa, encarregado
pelo Governador Luís de Albuquerque de construir o Forte de Coimbra, enganou-se
no reconhecimento do local, apesar das instruções do governador:
No lugar de aportar no
Fecho dos Morros, desembarcou 44 léguas antes, no local denominado estreito de
São Francisco Xavier, cuja topografia apresenta alguma semelhança com o
primeiro. (MOURA)
Acyr
Vaz Guimarães (1990)
Ano do nascimento de
N.S.J.C. de 1850, vigésimo nono da Independência e do Império, aos 21 graus e
20 minutos de latitude, 40 léguas ao sul do Forte de Coimbra, em lugar
denominado “Fecho dos Morros”, à
margem esquerda do Paraguai, 800 braças a Oeste da mais alta montanha conhecida
pela denominação de “Pão de Açúcar”,
sobre a base inferior do Morro de pedra viva mais saliente ao Rio em forma de
um colete esférico e sobranceiro ao pequeno monte que jaz na margem oposta,
achando-se presente o Comandante Geral desta fronteira, o Capitão do Estado
Maior de 1ª classe, Exmo. Sr. J. J. de Carvalho, o Tenente C. F. de Caçadores
Francisco Bueno da Silva, o missionário apostólico frei Mariano de Banhaia e
todas as praças que fizeram parte da comitiva do mesmo Cmt. Depois do arvorado
o pavilhão nacional, acompanhado de entusiásticos vivas a S. M. Imperador e à
integridade do império, foi empossado o novo destacamento de que é Cmt o já
referido Ten Francisco B. de Silva e deu-se imediatamente princípio à
construção do edifício que tem de servir provisoriamente de Quartel Guarnição
Parque de Armas, Casa de Oficiais e Armazém de Artigos Bélicos até que, segundo
as ordens do Governo, seja edificado o Forte permanente. E para todo o tempo
constar, lavrou-se o presente que assinam o Cmt Geral, o Cmt da Guarnição do
novo destacamento, o missionário apostólico e todas as praças presentes aos 29
dias do mês de junho. (GUIMARÃES)
Após a jornada pelo Rio Paraguai, em
agosto, desci o Rio Acre de caiaque, em setembro, e retornei, em outubro, à
região para documentar este esplêndido e histórico sítio.
ROOSEVELT:
Forte Bourbon (Borbón)
13.12.1913: Pela manhã, muito cedo, paramos em um lugarejo
paraguaio, aninhado entre o arvoredo verdejante, no sopé de um grupo de morros
baixos, junto à margem do Rio.
Sobre um dos morros
aparecia um pitoresco forte antigo, de pedras, conhecido como Forte Borbón, nos
tempos coloniais da Espanha. Agora flutua sobre ele a bandeira paraguaia e é
guarnecido por um punhado de soldados paraguaios. Aí o padre Zahm batizou os
dois filhos mais novos de uma vasta família de gente pequena, de pele fina e
cabelos louros, cujo pai era paraguaio e a mãe “oriental” ou uruguaia. Nenhum padre estivera no lugarejo de três
anos àquela parte, e as crianças tinham respectivamente um e três anos de
idade. Serviram de padrinhos o comandante local e um casal de austríacos.
Respondendo a uma pergunta, de simples formalidade, sobre se eram ou não
católicos, os pais declararam inesperadamente que não. Indagações subsequentes
revelaram que o pai se dizia “livre-pensador
católico” e que a mãe era “protestante
católica” e tivera como genitora uma protestante, filha de um imigrante da
Normandia.
Entretanto, ficou
esclarecido que os outros filhos tinham sido batizados pelo Bispo de Assunção,
e assim o padre Zahm, atendendo às vivas instâncias dos pais, consentiu em
continuar a cerimônia. Eram boa gente; embora cada qual desejasse ter a
liberdade de pensar do modo que lhe agradasse, também queriam estar filiados e
ter seus filhos filiados a alguma religião, de preferência à religião da
maioria do seu povo. [...]
Almoçamos – o almoço
brasileiro das 11h00 – no navio do Cel Rondon. Os jacarés estavam-se tornando
mais abundantes. Os feios animais jazem nas praias e nos bancos de lodo como
toras de madeira, cabeça levantada, algumas vezes com as fauces escancaradas.
São com frequência perigosos para os animais domésticos, são sempre um flagelo
para os peixes e é agradável atirar neles. Matei meia dúzia e errei outros
muitos – a trepidação do vapor não auxiliava a pontaria.
Passamos matas de
palmeiras que se estendiam por espaço de léguas, e vastos pantanais onde se
viam socós, garças pardas e jaburus, bandos de biguás e mergulhões sobre as
praias, e talha-mares e nuvens de lindas andorinhas esvoaçando à nossa frente.
Cerca do meio-dia passamos o ponto mais alto do Rio passamos o ponto mais alto
do Rio que velhos conquistadores e exploradores espanhóis [...] haviam atingido
no decorrer de suas maravilhosas viagens na primeira metade do século XVI
[...]. (ROOSEVELT, 1944)
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=_fCg7y98JIU
Bibliografia
AZARA, Félix de. Descripción e
Historia del Paraguay y del Río de la Plata ‒ Espanha ‒ Madri ‒ Imp. de
Sanchiz, 1847.
BANDEIRA DE MELLO, Raul Correia. A
Fortaleza de Coimbra - Breve Estudo Histórico e Geográfico – Brasil – Rio
de Janeiro, RJ – Revista da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro – Tomo XL,
1° Semestre, 1935.
BOSSI, Bartolomé. Viage
pintoresco por los rios Parana, Paraguay, San Lorenzo, Cuyaba y el Arino...
‒ França ‒ Paris ‒ Dupray de la Mahérie, 1863.
GUIMARÃES, Acyr Vaz. Mato Grosso
do Sul, sua Evolução Histórica ‒ Brasil – Campo Grande, MS – Editora UCDB,
1999.
MOURA, Carlos Francisco. O Forte
de Coimbra ‒ Brasil – Cuiabá, MT – Edições UEMT, 1975.
RIHGB XLVII ‒ II, 1884.
Apontamentos Para o Dicionário Corográfico da Província de Mato Grosso pelo
Barão de Melgaço – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – RIHGB, Tomo XLVII, Parte
II, 1884.
ROOSEVELT, Theodore. Através do
Sertão do Brasil ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Companhia Editora
Nacional, 1944.
SEMANÁRIO, 17.12.1850. Paraguai Assunção, 1850.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
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Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H