Quarta-feira, 16 de junho de 2021 - 06h02
Bagé, 16.06.2021
Expedição
Centenária Roosevelt-Rondon
1ª Parte – XIX
Forte Coimbra – I
Anchieta, Aspilcueta ([1])
e Nóbrega ressurgem unificados nessa personalidade incomparável, única,
abençoada, nesse homem que tão alto eleva a nossa raça, a nossa nacionalidade,
desmentindo, pelo exemplo, por atos e palavras, o pessimismo ultramontano dos
que descreem de nossos destinos... Rondon, ao lado das tarefas de técnico, desdobra,
maravilhosamente, as energias de um Santo. E de tribo em tribo, de taba em
taba, de maloca em maloca, vai esse homem admirável surgindo, de olhos
brilhantes e sorriso nos lábios, estendendo ao silvícola, sobre a
palma da mão leal, sementes de fraternidade, germes de progresso, de paz, de
harmonia e confiança.
(Álvaro Sá de Castro Menezes)
08.08.2017:
Forte Coimbra
À tarde o Cmt da 3° Cia Fron, Cap
Glauco Viana Coitinho, guiou-nos até Gruta Ricardo Franco ([2]),
anteriormente batizada pelo próprio Ricardo Franco de “Gruta do Inferno”. O Cap Glauco foi um cicerone à altura
discorrendo com desenvoltura sobre as características e histórico do local. A
estreita entrada da gruta dá acesso, através de um terreno íngreme, a uma
pequena galeria inicial. A luminosidade natural vai esmaecendo à medida que se
penetra na caverna e seria difícil continuar a progressão sem o auxílio da
iluminação elétrica ali instalada.
Mais adiante, adentramos em um amplo
salão, onde se destacam um lago de águas límpidas, um teto deslumbrante do qual
pendem formosas estalactites e um solo fértil de onde brotam belas
estalagmites. Alguns destes conjuntos formam sólidas e torneadas colunas. Do
grande salão partem túneis e corredores que conduzem a outras galerias menores.
Relatos
Pretéritos: Gruta do Inferno
Capitão
Ricardo Franco de A. Serra (1786)
GRUTA DO INFERNO
Diário da Diligência do Reconhecimento
do Paraguai desde o Lugar do Marco da Boca do Jauru até Abaixo do Presídio de
Nova Coimbra... – Ano de 1786
09.07.1786: [...] logo fomos vendo os montes de Coimbra, a que chegamos no dia 09 de manhã, com 16 léguas de caminho
total desde o morrete de Albuquerque. O morro de Coimbra está situado na margem
Ocidental do Rio Paraguai, e na margem oposta há outro pouco menor; ambos
abeiram no Rio; o que faz chamar, a este estreito passo, fecho dos morros;
ambos estão cercados de campos que se alagam nas cheias; o 1° se navega à roda
dele em 70 min, e o 2°, que é menor, e do lado de nascente, em 50.
10.07.1786: Em 10, circundando em canoa
este monte, o configuramos: tem meia légua de comprimento de Norte a Sul, a sua
grossura maior, que é no meio dele, tem um terço desta distância. A ponta de
Norte é baixa, e junto dela há uma pequeníssima lagoa, pouco afastada do Rio,
donde nasce um furo que torneando este monte, pelo Oeste, vai sair, formando
grande baía, 3 léguas abaixo no Paraguai.
Na dita ponta fomos ver
uma caverna curiosa que ali há; 45 passos andamos em terreno plano pelo mato do
pé do monte, e 145 mais subindo a sua escarpa, que não é muito íngreme, até
darmos em dois buracos retangulares, feitos na penha ([3])
viva. Dependurados por uma destas quebradas, e caindo de pedra em pedra,
descemos coisa de duas braças até cairmos em uma abóbada subterrânea de 50
palmos do comprido, e 25 de largo; o seu teto ótima só pedra quebrada com os
buracos por que entramos, e por que lhe entra a luz. Desta abobada pendem
muitas pirâmides agudíssimas de pedras chamadas Estalactites, formadas por
antiquíssimas lapidificações ([4]);
algumas são da grossura, na sua base, de um homem, e da sua altura, e outras
menores; o chão está coberto de sólidos penedos o de outros sólidos da matéria
das mesmas pirâmides, superabundância da sua formação.
A dita abóbada para parte
de Sul vai caindo em 45 graus, para o centro deste monte, e formando com o
pavimento que para a mesma parte igualmente desce, uma profundidade ou espaço
aéreo cheio de mil penedos, cujo fundo se perde na escuridade ([5]);
a largura deste espaço em cima é de uma braça, e em baixo parecia de 3 palmos;
enfim uma pedra que lançamos gastou 5 segundos em tempo de chegar lá até o
fundo. A ponta de Sul deste monte, que é a única parte dele que abeira no Rio,
terá 200 braças de largura; no meio desta distância está o Presídio de Nova
Coimbra, erigido em 1775. Consiste em uma estacada retangular e flanqueada em
recíproca defesa; o lado maior que olha para o Rio tem 45 braças, e o menor 16;
na parte de Leste desta ponta, e 64 braças distante do Presídio, há uma mina
das pedras denominadas Dondrites; isto é, uma espécie de lajeados arroxeados,
em que se vê esculpidas com curiosa delicadeza as mais perfeitas e miudíssimas
ramificações de cor negra; de tal forma que dividindo-se cada uma destas pedras
em delgadas laminas, em todas elas se vê o mesmo. A outra extremidade defronte
desta ponta, que dista pouco mais do Presídio, é funestamente célebre pela
mortandade de quase 60 Portugueses, do dito Presídio, que aleivosamente
despedaçaram, há poucos anos, os Gentios Cavaleiros com título de paz. Ao cume
deste monte subimos, onde há uma guarita que vigia e descobre muitas léguas à
roda; dele só vimos para qualquer parte, uma extensa e geral alagação que
cobria os vastos campos gerais, que vêm desde a boca do Paraguai Mirim,
cortando o Paraguai Grande por entre eles, alagação a que se não via fim. A
situação geográfica de Coimbra é na Latitude austral de 19°55’, e na Longitude
de 320°01’45”; a agulha varia 10° de Norte para Leste; a cheia apenas tinha
descido um palmo da sua máxima altura. (RIHGB – XX, 1857)
Dr.
Alexandre Rodrigues Ferreira (1791)
GRUTA DO INFERNO
04.04.1791: A mesma Gruta do Inferno [que assim ouvi chamar a quem a descreveu, o
Sargento-mor Ricardo Franco] é outra armadilha, de que creio que até o presente
não tem lançado mão o gentio, por não ter dado fé dela. Para examiná-la, a
cumprir as soberanas ordens de Sua Majestade, que por V. Exª me foram intimadas,
saí daquele Presídio ([6]),
pelas 08h30, de 04 de abril,
embarcado em canoa ligeira e equipada; e com uma hora e quarto de caminho que
fiz, rodeando a dita colina, pela parte do Norte, cheguei ultimamente ao porto
de desembarque, de onde gastei ainda um quarto de hora a fazer uma picada
ligeira, e andar a distância de boas 19,5 braças entre umas 4,5 de terreno
plano e matoso, que andei pela base da colina, e as 14,5 de escarpa, que subi,
até a boca da mencionada gruta. Está situada na contraponta do morro que olha
para o Norte; e a interposição de uma grande pedra a divide em duas, ambas
retangulares; porém a primeira, que é inferior, tem 11 palmos de comprimento ao
rumo de Nascente, e 8 de largura; e a segunda, que é a superior, por onde
entrei, tem 10 palmos de comprimento E.O., e 7 de largura. Pelo que mostram
ambas elas, ninguém pode ajuizar do que dentro em si é semelhante gruta. O
mesmo Sargento-mor Ricardo Franco de Almeida Serra, quando nela entrou, e a
descreveu, não a viu em toda quanto é a sua extensão e magnificência.
Pelo que, se alguém até
agora tem parecido encarecida a sua descrição, é porque a ninguém ocorreu
examiná-la como deve ser, para vir no conhecimento do quanto ela é realmente
superior a todo o encarecimento. Não é como a celebrada Gruta das Onças, onde,
excetuada a grandeza, nada mais há que ver senão água, entulhos e morcegos:
porém, até na grandeza a deixa muito a perder de vista a Gruta do Inferno, digna certamente
de um mais apropriado nome que este, posto
por quem a viu primeiro, que sem dúvida se
horrorizou da sua escuridão e profundidade.
Para ver-lhe o fundo, me
conduzi com muito jeito por uma precipitada escarpa à baixo, até dar comigo na
profundidade de 190 palmos, sendo aquela escarpa um enormíssimo entulho de
pedras abatidas da abobada, que constitui o teto da gruta, por onde está sempre
pingando água. Marchavam adiante de mim doze pedestres com outros tantos
archotes, que eu providentemente havia mandado fazer, não só para me guiarem os
passos ao descer por um tão tenebroso precipício, mas também para iluminaram a
gruta, de maneira que pudessem ver à vontade ambos os desenhadores que me
acompanhavam, para a figurarem como convinha. Porém, tão grande se foi ela
mostrando, e tão temerosamente escura, que espalhando-se as luzes, apenas via
cada qual o precipício de que escapava, se bem que assim mesmo nos conduzimos
sem a menor lesão, até chegarmos ao seu verdadeiro fundo. Eis aqui onde a
natureza me tinha preparado o maravilhoso espetáculo, que recompensou
dignamente tanto o meu perigo, como o meu trabalho. Porque, olhado à primeira
vista o todo, depois de distribuídas as luzes em proporcionadas distâncias,
representou-se-me uma mesquita subterrânea, e observadas as suas partes, cada
uma delas fazia saltar aos olhos uma diferente perspectiva.
A que do fundo daquele
grande salão se oferece à vista do espectador colocado à entrada dela, e a de
um magnífico e suntuoso teatro, todo decorado de curiosíssimos estalactites,
uns dependurados da abóbada, que constitui o teto, à maneira de outras tantas
goteiras fusiformes, curtas ou compridas, grossas ou delgadas, redondas ou
compressas, simples, bifurcadas, ramosas, tuberosas, verrugosas; outras saindo
do pavimento, à maneira de pilares, colunas, columelas lisas ou caneladas,
pavilhões de campo, e um tão grosso, que dois homens o não abarcam.
Ao lado esquerdo da mesma
sala se deixa ver, como debruçada sobre ela, uma superbíssima cascata natural,
com todas as suas pedras cobertas de incrustações espatosas ([7])
e calcárias, que vivamente representavam alvos borbotões de espuma das águas
precipitadas daquela altura.
Em outra parte, porém, do
mesmo lado parece que a natureza se moldou no gosto da arquitetura gótica. Por
todo esse lado estão espalhados diversos labirintos, cada um dos quais de per
si constitui uma curiosíssima gruta: tem aquela sala a sua linha de direção
lançada ao rumo de Leste, que é o mesmo que segue o interior de toda a gruta,
com diferença de ser cruzada. Pelo que segue a boca inferior, viu-se que tão
somente o salão, incluída uma câmara sua, tinha de comprimento total cinquenta
e uma braças. Todo o seu plano, que, aliás, era irregular, se havia então
convertido em um lago de água salobra, porém clara, fria e cristalina; e
reconheceu-se que pouco ou nenhum curso tinha, por estar represada pela
enchente do Rio. (FERREIRA)
Filmete
https://www.youtube.com/watch?v=_fCg7y98JIU
Bibliografia
FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Descrição
da Gruta do Inferno, no morro da Nova Coimbra sobre o Paraguai – Brasil –
Rio de Janeiro, RJ – Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – Tomo IV, 1842.
RIHGB – XX, 1857. Diligência do
Reconhecimento do Paraguai desde o lugar do Marco da Boca do Jauru até Abaixo do
Presídio de Nova Coimbra... – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Volume XX, 1857.
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro,
Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante,
Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
·
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de
Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da Academia
Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da Academia
Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito
da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito
da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
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