Segunda-feira, 5 de setembro de 2022 - 06h06
Bagé,
05.09.2022
O último Rei muçulmano de Granada, Abu Abd Allāh Muhammad XII ([1]), depois de ter perdido seu reino, rompeu em prantos, e sua mãe censurando-o disse:
Muito se tem
falado de que as fronteiras já estão absolutamente definidas. Ledo engano. A
Geografia Política é dinâmica e continua embalada por uma série interminável de
eventos que determinarão reconfigurações nos limites de diversas nações, ainda,
neste início de século.
Um olhar mais
atento nos apresenta conflitos importantes que podem ter repercussão mundial; outros,
de menor grandeza, afetarão continentes e países fronteiriços e, outros ainda,
acredito que, num maior número, serão sentidos dentro das próprias fronteiras
nacionais. Estes movimentos estão sendo estimulados, apoiados e não raras vezes
financiados pelos países mais desenvolvidos. Tentam, com isso, fragmentar os
territórios minando, em consequência, o desenvolvimento das nações emergentes.
Não há interesse,
por parte dos Estados mais poderosos, de que surjam novas e fortes economias
alterando sua posição de domínio no mundo.
A permanência do
“status quo” justifica quaisquer
tipos de retaliações, intervenções, massacres, sempre utilizando termos mais
simpáticos para este tipo de ação, procurando desviar o foco de seus reais
objetivos.
Estado Plurinacional
Os cinco vice-reinados e as cinco capitanias do
império espanhol se dividem em 25 países. As treze colônias Norte-americanas se
unem e formam a nação mais poderosa da Terra. Divide e vencerás; une e reinarás.
(Simón Bolívar)
Diz-se que as leis internacionais não amparam ações que atentem contra a
soberania dos povos. Basta volver os olhos ao passado e verificar a série de
intervenções que foram desencadeadas em todo o mundo, nos últimos 150 anos,
para verificar que a maioria delas ocorreu sem o foro adequado.
As justificativas apresentadas aos incautos como defesa da democracia,
manutenção dos direitos humanos, autodeterminação, proteção ao meio ambiente e
tantas outras têm, como pano de fundo, na verdade, a finalidade pura e simples
de garantir ou restabelecer o acesso das potências hegemônicas aos recursos
naturais destes países ou assegurar a influência política em Estados
recém-criados ou que pleiteiam sua independência. Alardeiam os doutos do
direito internacional que a evolução do Estado moderno para o Estado
Plurinacional é uma tendência mundial e deverá ceder espaço, futuramente, a
um modelo diferenciado. Na União Europeia, o direito da Comunidade predomina
sobre o direito do Estado, e os poderes comunitários têm mais força que os
poderes locais.
As nações que aderiram ao Plurinacionalismo abriram mão de parcela de sua
soberania para submeterem-se às regras da comunidade. Enquanto o primeiro mundo
une forças para enfrentar os difíceis tempos do porvir, os povos dos países em
desenvolvimento, insuflados por forças alienígenas, se esforçam para tornar
mais frágeis, ainda, suas economias, se digladiando em diversos movimentos
separatistas.
Argentina e Chile – “Nação Originária Mapuche”
Mapuche
[...] El Estado araucano acostumbrado
A dar leyes, mandar y ser temido,
Viéndose de su trono derribado,
Y de mortales hombres oprimido;
De adquirir libertad determinado,
Reprobando el subsidio padecido,
Acude al ejercicio de la espada,
Ya
por la paz ociosa desusada. [...]
(ZÚÑIGA, 1884)
“Mapu” significa terra e “che”, pessoa, assim sendo, os Mapuche
são pessoas da terra numa referência às pessoas que pertencem e integram um
território. A coroa de Espanha, após ter enfrentado uma heroica resistência
Mapuche de 106 anos, conhecida como Guerra de Arauco, em 06.01.1641, assinou o
Tratado de Killín, através do qual a Espanha reconhecia a autonomia territorial
Mapuche.
A primeira e
única nação indígena do continente, cuja soberania e autonomia foi reconhecida
juridicamente, um feito extraordinário na história dos povos indígenas
Sul-Americanos.
Nos dois séculos
que se seguiram, o Rio Bío-Bío foi considerado como fronteira natural e os
territórios situados ao Sul deste como Território Mapuche. No período de 1860 a
1885, os governos argentino e chileno realizaram uma operação militar conjunta
denominada “Pacificación de la Araucanía”
pelos chilenos e “Conquista del Desierto”
pelos argentinos, que teve como resultado o confisco e ocupação do território
dos Mapuche por colonos e a deportação das “pessoas
da terra” para uma série de “reduções”
e “reservas” onde grande parte foi
confinada.
O Rei da Araucanía
[...]
Era uma vez, em Périgueux, um advogado chamado Antoine de Tounens. O Sr. de
Tounens era um homem benquisto e um advogado cujo trabalho havia sido benéfico
para muitos. Ele poderia ter continuado a vida na sua cidade natal, honrado,
estimado e, depois de uma existência cheia de façanhas ‒ pacíficas ‒, finar-se
sem glória. [...] O virtuoso advogado talvez tenha lido a famosa frase de
Napoleão em algum lugar:
Encontrei uma coroa no esgoto, limpei a sujeira e coloquei-a na
minha cabeça;
E ele
provavelmente pensou consigo mesmo:
Se colecionamos grinaldas, é
porque elas estão por aí; procuremos uma para colocar em nossas cabeças,
certamente ficará melhor do que um chapéu!
M. de
Tounens, então, resolveu abandonar tudo e como um novo Jasão, herói mitológico,
partiu para conquistar o “Velocino de
Ouro” dos seus sonhos. Bonaparte já havia encontrado uma coroa no esgoto,
portanto, ele não poderia esperar encontrar outra no mesmo lugar ‒ as chances
seriam mínimas.
Seria
mais prudente direcionar seus esforços para uma região um pouco mais virgem que
a terra parisiense, onde as coroas são colhidas antes mesmo de cair, tão
considerável o número de concorrentes. Em junho de 1858, M. de Tounens deixou a
França, embarcou em Southampton em um navio com destino ao Chile e, a
22.08.1858, chegou incógnito a Coquimbo, com um amigo que a ele se associara e
que viria a ser seu Primeiro Ministro ‒ no dia em que ele viesse a se tornar
Rei. [...]
Em
Coquimbo, o ex-advogado de Périgueux, enquanto vivia incógnito, foi coletando,
cuidadosamente, algumas informações e principiou, também, a estudar o espanhol
e o “chiliduga” ‒ a língua dos
conquistadores e a dos conquistados. Ele se encontrava no território de uma
República que ainda não estava preparada para uma monarquia constitucional a
ser por ele estabelecida; mas, além desta república, havia outra que lhe
parecia mais favorável aos projetos que havia formulado.
Um era
o Chile; o outro foi a Araucanía, que corta o Chile pela metade. Os Caciques de
um não se davam bem com os Caciques do outro, os dois Estados vizinhos estavam
em eterna beligerância, uma boa oportunidade de fisgar a tão desejada coroa na
ponta de sua linha, pescando em águas turvas!
O Sr.
de Tounens arregaçou as mangas, melhorou seu espanhol e “chiliduga” e redigiu a Constituição que ele pretendia dar ao seu
povo, ‒ devo dizer ao seu povo, porque a Araucanía compreende quatro ou cinco,
talvez seis etnias, muito distintas: os Moluches, os Piunches, os Puelches, os
Huilliches, os Pehuenches e os Aucas ou Araucans propriamente ditos. Esses
povos sempre foram temidos pelos espanhóis, que nunca foram capazes de
dominá-los completamente, e seu território se tornou uma fonte permanente de
hostilidades, às vezes repelidas, às vezes toleradas pela impotência do
governo. Eles são divididos em tribos nômades e sedentárias ‒ unidas entre si
por uma espécie de federação presidida pelo chefe mais experiente na guerra,
que recebe o título de Toqui ([2]).
M. de
Tounens almejava ser o Toqui dos araucanos ‒ um Toqui constitucional, com uma
Carta, mas, também, com uma coroa e um casaco de arminho. Ah! O arminho e a
coroa eram imperativos, e ele os teria. O Sr. de Tounens talvez estivesse um
tanto apressado para criar uma república e torná-la seu reino. Talvez ele não
conhecesse bem o ritmo dos povos que ele desejava ter como súditos.
Ele os
viu através da nuvem dourada do poema épico de Don Alonzo de Ercilla, “La Araucana”, que Cervantes compara aos
grandes épicos italianos, e fez de “La
Araucana” uma segunda edição de “La
Arcadia” ‒ antes da conquista dos romanos.
A
descrição que ele descreve, em uma brochura decorada com seu retrato, é prova
irrefutável. Por algum tempo, ele teria dito aos araucanos o que Virgílio disse
sobre os Arcádios no seu 10° égloga ([3]):
[...] Soli tantare perili
Arcades [...] ([4])
E, no entanto, os araucanos estão longe de ser
tão encantadores quanto ele os imagina. Não sei se eles gostam de poesia e
música, mas admito que não parecem gostar.
Eles
são muito fortes, mas muito feios. Rosto achatado, largo e cor de cobre, lábios
grossos, crina preta como cabelos, olhos levemente ferozes etc. etc. [...]
Mas
Júpiter cega aqueles que ele quer perder. Quando o Sr. de Tounens se considerou
suficientemente conhecedor dos costumes dos Moluches e, informado das
necessidades dos Huilliches, empunhou as malas e partiu com o pé esquerdo para
conquistar seu reino. Ai! Teme-se que o reino de M. de Tounens não seja deste
mundo ‒ antigo ou novo!
Assim,
no final de 1860, seguido por seu fiel companheiro M. [...], M. de Tounens
atravessou o Rubicão e do Chile passou para a Araucanía, onde a voz do povo o
invocava e a vontade de Deus. “Vox
populi, vox Dei”. É Verdade! Sempre! Acrescento, que é verdade, que um
certo número de caciques, vencidos ‒ sem dúvida por persuasão ‒ foram os
cúmplices deste pacífico conquistador, que não se parecia nenhum pouco com
Pizarro e Fernão Cortez.
Uma vez
empossado, o ex-advogado que se tornou Rei de “motu proprio” ([5]) ‒ comunicou
a quem de direito seus títulos à coroa e convocou para vir e aclamá-lo com
urgência os bons Puelches e Moluches, que certamente não o atenderam com tanta
felicidade e presteza. [...] Quanto à Constituição adotada, a quem possa
interessar, pelo Ministério do Cacique, e que seguiu de perto, como se pode
imaginar, o Decreto anterior, eu a reproduziria na íntegra, com prazer, não
fosse tão longa. Você a encontrará no arquivo publicado por M. de Tounens em
seu retorno à França, após sua expulsão de sua Arcádia, e não por seus “Mil Arcadianos”, mas pelos chilenos,
que, assustados com o mau exemplo que pretendiam dar aos seus vizinhos,
apressaram-se a prendê-lo, ‒ contando com a cumplicidade de seu jovem
escudeiro, por eles corrompidos à preço do ouro ‒, o jogaram em uma masmorra e
o teriam fuzilado sem tambor nem trombeta não fosse a intervenção oportuna do
cônsul francês. [...]
Quanto
tempo durou o sonho real de M. de Tounens? Quase um ano desde a proclamação, em
17.11.1860, ‒ e não há evidências de que a entronização realizou-se
imediatamente ‒ e que ele foi preso no início de 1862. Ele finalmente deixou a
prisão, em Angeles, no meio desse citado ano de 1862 e voltou timidamente para
Paris, onde a repercussão de suas gloriosas aventuras o precedera. Repercussão
nada lisonjeira! Os parisienses tratam os príncipes que se proclamam reis com
firmeza ‒ guilhotinando-os; mas tratam irreverentemente ‒ atirando ironias nos
ousados cuja audácia não foi coroada de sucesso. Zombamos, aos berros, da
troupe do ex-advogado de Périgueux, vaiamos sem piedade sua Majestade
Orélie-Antoine I, agora apenas Tounens ‒ e não hesitamos em considerá-lo um
louco! Foi assim que o Rei da Araucanía e da Patagônia tornou-se o leão de
Paris. O prestígio que ele ambicionava alcançar foi tão diminuído que, em
outubro de 1864, um hoteleiro vulgar ousou denunciá-lo nas bancas da Polícia
Correcional por uma quantia miserável de 3.600 francos, relativos a uma dívida
com mantimentos que ele não conseguia quitar! Isso mostra que o único palácio que
este monarca descaído conquistou foi a quantia ridícula da comida que ele
devia. [...] Misérias dos ambiciosos! Atualmente, M. de Tounens, a quem o
fracasso parece não ter corrigido, sonha mais do que nunca em conquistar
Araucanía e em reconstruir seu falido trono. Só que desta vez, não um
desconhecido, com a mala em uma das mãos e proclamações na outra, ele pretende
retornar ao reino do qual, julga ele, foi indevidamente alijado: é como Pizarro
e Fernão Cortez, à frente de um pequeno exército de guerrilheiros. Boa sorte,
Majestade!
Boa
sorte! Mas se você falhar novamente, acho que terá o bom senso de não retornar
à França para curar as feridas de ambição desenfreada. Nós realmente temos algo
a fazer! Uma arruaça a mais ou a menos na superfície do globo não é nada
interessante para os filhos dos jacobinos. [...] (DELVAU)
Diário de Pernambuco, n° 55
Recife, PE ‒ Quinta-feira, 07.03.1861
Exterior
Buenos Aires, 13 de fevereiro de 1861
Em Arauco passam-se coisas extraordinárias, constituindo-se ali um
governo monárquico. É digna de notar-se a ingerência que nestes acontecimentos
têm tomado vários aventureiros franceses, como se verá ao ler o nome de
Ministros de S. M. Orélie-Antoine I. Fundação de um governo monárquico e
constitucional na Araucanía:
Nós abaixo assinado, Príncipe Orélie-Antoine de Tounens, considerando
que a Araucanía é independente dentre qualquer estado e está dividida em tribos
sem um governo central, e que no interesse geral e especial dos seus habitantes
é necessário estabelecer um.
Fica em consciência fundado e estabelecido o que segue:
Art. 1° A
Araucanía está e permanece desde agora fundada em reino monárquico
constitucional, a favor do Príncipe Orélie-Antoine de Tounens, que é Rei deste
estado com direito de herança em perpetuidade para ele e sua família;
Art. 2° No
caso de não ter o Rei descendentes diretos, os seus herdeiros ao trono que
acaba de fundar sairão dos outros ramos da família, segundo a ordem que
ulteriormente se estabelecerá por uma ordenação real.
Art. 3° Enquanto
não se constituem os Corpos do Estado, terão força de lei os Decretos do Rei;
Art. 4° Nosso
Ministro e Secretário de Estado da Justiça fica encarregado da execução do
presente ato.
Dado na
Araucanía a 17 de novembro de 1860.
Orélie-Antoine I
Pelo Rei.
O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça.
F.
Desfontaine
Segue-se uma da divisão territorial e administrativa do Reino de
Araucanía, que assim principia:
Orélie-Antoine I, por graça de Deus, Rei da
Araucanía, a todos os presentes e futuros saúda.
Apraz-nos e ordenamos:
Tit. I Da
administração territorial. Quatro artigos dividindo a Araucanía em
Departamentos e Comunas;
Tit. II Da
administrarão departamental. Criação de um Prefeito, de um Conselho de
Prefeitura e de outro Departamental;
Tit. III Do
Conselho dos Cantões;
Tit. IV Da
administração das Comunas.
Dado na Araucanía a 17 de novembro de 1860.
Segue-se um Decreto ordenando a aplicação das
leis francesas à Araucanía, as quais se irão depois modificando conforme exigirem
as circunstâncias. Afinal a constituição:
Art. 1° Reconhece
e estabelece a liberdade do povo da Araucanía, e igualdade ante a lei;
Art. 2° Estabelece
as formas do governa monárquico;
Art. 3° Atribuições
e privilégios do Rei, que são os de toda a monarquia constitucional;
Art. 4° Dos
Ministros e suas atribuições;
Art. 5° Do
Conselho do Reino e suas atribuições;
Art. 6° Do
Conselho de Estado;
Art. 7° Do
Corpo Legislativo;
Art. 8° Do
Supremo Tribunal de Justiça;
Art. 9° Disposições
gerais e transitórias.
O artigo
9° trata das petições, das sedições, Conselhos de Guerra e Estado de Sítio. O §
54 diz:
Durante o estado do sítio, as mulheres, as
crianças, os doentes e todos os mais indivíduos que não tomarem parte nas
agitações, sedições ou revoluções serão religiosamente respeitados; a
propriedade pública e privada o será igualmente.
O § 56
diz:
O chefe ou chefes diretos ou indiretos de
agitações, sedições ou revoluções, os que nelas tomarem parte ou trouxerem
armas à mostra ou escondidas, ou ministrarem armas ou dinheiro aos insurgentes,
ou se tornarem réus de outros delitos públicos cujo objeto for perturbar a paz,
serão castigados com prisão perpétua.
Em
seguida a organização eclesiástica.
O Rei, considerando quão oneroso e pouco
digno é para o clero andar cobrando direitos, decreta que todo ele seja dotado
pelo estado, de modo que os seus membros possam sustentar dignamente a sua
posição social. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, N° 55)
O Comércio, n° 17
São Luís, MA ‒ Sábado, 27.04.1861
Um Novo Theodoro
O “Correio do Sul” dá a
seguinte curiosa notícia:
Um novo Theodoro ‒ temos um novo trono
constitucional na América, e pelo que parece vindo de França nalguma pacotilha
de quinquilharias. Surge-nos ele no meio da indômita Araucanía que D. Alonso de
Ercilla e Zúñiga cantou, e que ainda hoje não perde na sua reputação guerreira,
nem dobrou a cerviz ([6]) à dominação chilena.
No meio dos combates dessas tribos
belicosas, e enquanto levam a um e outro lado suas lanças temerosas, levanta-se
toda uma monarquia representativa; e a sua primeira e ainda única notícia
chega-nos com os decretos da fundação e organização do reino.
Pelos nomes do Rei e seus Ministros vê-se
que o negócio veio do outro lado do Atlântico, e sabe Deus senão das margens do
Gorona; mas enfim veremos quanto tempo medra [...] (O COMÉRCIO, N° 17)
Semana Illustrada, n° 498
Rio de Janeiro, RJ ‒ Domingo, 26.06.1869
Badaladas
Está o Chile a braços
com os araucanos. Quem nos dá notícia disto é o Diário Oficial.
Sabe toda a gente que
um celebre Orélie-Antoine, advogado em Paris, foi há anos ao Chile, e conseguiu
dos índios que o aclamassem Rei da Araucanía.
Orélie-Antoine I
declarou guerra ao Chile, e o governo apenas lhe pôs a mão em cima tratou de
armar um processo, que não foi adiante, por duas razões: primeiro, porque a
diplomacia interveio amigavelmente; depois por que o ex-Rei deu sebo às
canelas.
Foi S. M. Araucania
viver em Paris, sem coroa nem corte. Lembra-me ter lido há tempos em uma folha
parisiense que o infeliz Orélie-Antoine I sofrera lá um processo por uma
ratonice. [...]
Atormentado pela
saudade, cheio de ambições, saiu agora aquele Napoleão da sua ilha de Elba e
veio para os seus súbditos que o reconheceram logo e o puseram de novo no
trono. Não se deteve Orélie-Antoine I com as delicias do ofício de reinar.
Organizou as suas
tropas e começou a atacar os territórios civilizados da república chilena.
Posto que o Ilm° Sr. Orélie-Antoine I me pareça sofrivelmente singular, não
deixo de notar que há nesse homem qualidades que de algum modo lhe dão algum
valor. Dr. Semana. (SEMANA ILLUSTRADA, N° 498)
La
Araucana – Canto
III
(Alonso de Ercilla e Zúñiga)
Ésta fue quien halló los apartados
Indios de las antárticas regiones;
Por ésta eran sin orden trabajados
Con dura imposición y vejaciones:
Pero rotas las cinchas, de apretados,
Buscaron, modo y nuevas invenciones
De libertad, con áspera venganza,
Levantando el trabajo la esperanza.
Cuán cierto es, cómo claro conocemos,
Que al doliente en salud consejos
damos,
Y aprovecharnos dellos no sabemos;
Pero de predicarles nos preciamos.
Cuando en la sosegada paz nos vemos,
¡Qué bien la dura guerra platicamos!
¡Qué bien damos consejos y razones
Lejos de los peligros y ocasiones!
¡Cómo de los que yerran abominan
Los que están libres en seguro puerto!
¡Qué bien de allí las cosas encaminan,
Y
dan en todo un medio y buen concierto!
¡Con qué facilidad se determinan,
Visto el suceso y daño descubierto!
Dios sabe aquel que la derecha vía,
Metido en la ocasión, acertaría.
Valdivia iba siguiendo su jornada,
Y el duro disponer del hado duro,
No con la furia y prisa acostumbrada,
Présago y con temor del mal futuro:
Sospechoso de bárbara emboscada,
Por hacer el camino más seguro,
Echó algunos delante para prueba,
Pero jamás volvieron con la nueva.
Viendo los nuestros ya que al plazo
puesto
Los tardos corredores no volvían,
Unos juzgan el daño manifiesto,
Otros impedimentos les ponían:
Hubo consejo y parecer sobre esto;
Al cabo en caminar se resolvían,
Ofreciéndose todos a una suerte,
un mismo caso y a una misma muerte.
Aunque el temor allí tras esto vino,
En sus valientes brazos se atrevieron,
Y a su próspera suerte y buen destino
El dudoso suceso cometieron:
No dos leguas andadas del camino,
Las amigas cabezas conocieron,
De los sangrientos cuerpos apartadas,
Y en empinados troncos levantadas.
No el horrendo espectáculo presente
Causó en los firmes ánimos mudanza;
Antes con ira y cólera impaciente
Se encienden más, sedientos de
venganza:
Y de rabia incitados nuevamente
Maldicen y murmuran la tardanza:
Sólo Valdivia calla y teme el punto;
Pero rompió el silencio y pena junto
Diciendo: “¡Oh compañeros! do se
encierra
Todo esfuerzo, valor y entendimiento:
Ya veis la desvergüenza de la tierra,
Que en nuestro daño da bandera al
viento:
Veis quebrada la fe, rota la guerra,
Los pactos van del todo en
rompimiento:
Siento la áspera trompa en el oído,
Y veo un fuego diabólico encendido”.
“Bien conocéis la fuerza del Estado,
Con tanto daño nuestro autorizada:
Mirad lo que Fortuna os ha ayudado
Guiando con su mano vuestra espada;
El trabajo y la sangre que ha costado,
Que della está la tierra alimentada;
Y pues tenemos tiempo y aparejo,
Será bueno tomar nuevo consejo”.
“Quien estos son tendréis en la
memoria,
Pues hay tanta razón de conocellos,
Que si dellos no hubiésemos vitoria
Y en campo no pudiésemos vencellos,
Será tal su arrogancia y vanagloria,
Que el mundo no podrá después con
ellos;
Dudoso estoy, no sé, no sé qué haga
Que a nuestro honor y causa
satisfaga”.
“La poca edad y menos experiencia
De los mozos livianos que allí había,
Descubrió con la usada inadvertencia
A tal tiempo no su necia valentía,
Diciendo: “¡Oh capitán! danos
licencia,
Que solos diez sin otra Compañía
El bando asolaremos araucano,
Y haremos el camino y paso llano”.
“Lo que jamás hicimos en estrecho,
No es bien por nuestro honor que lo
hagamos.
Pues es cierto, que cuanto habemos
hecho,
Volviendo atrás un paso, lo manchamos:
Mostremos al peligro osado pecho,
Que en él está la gloria que
buscamos”.
Valdivia, de la réplica sentido,
Enmudeció de rabia y de corrido. […]
Bibliografia:
DELVAU,
Alfred. Les Lions du Jour ‒ Physionomies
Parisiennes ‒ França ‒ Paris ‒ E. Dentu, Éditeur, 1867.
DIÁRIO
DE PERNAMBUCO, N° 55. Exterior – Arauco ‒
Brasil ‒ Recife, PE ‒ Diário de Pernambuco, N° 55, 07.03.1861.
O COMÉRCIO, N° 17. Um Novo Theodoro – Brasil – São Luís,
MA – O Comércio, N° 17. 27.04.1861.04.
SEMANA ILLUSTRADA, N° 498. Badaladas
– Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Semana Illustrada, n° 498, 26.06.1869.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Última dinastia muçulmana na Península
Ibérica, fundada por Maomé ibn al-Ahmar após a derrota do Almóadas na Batalha
de Navas de Tolosa (1212). (Hiram Reis)
[2] Toqui (em mapudungun: aquele que possui o machado): título
conferido àqueles que são escolhidos como seus senhores da guerra. (Hiram Reis)
[3] Égloga: poema
em forma de diálogo ou de solilóquio sobre temas rústicos, cujos intérpretes
são via de regra pastores. Inicialmente, o termo, que significava “poesia seleccionada”, foi aplicado aos
poemas bucólicos de Virgílio. A partir daí, aplica-se às pastorais e aos
idílios tradicionais que Teócrito e outros poetas sicilianos escreveram (Carlos
Ceia, E-Dicionário de Termos Literários).
[4] Soli tantare perili Arcades: solução
para Arcades. (Hiram Reis)
[5] Motu Proprio: por iniciativa própria. (Hiram Reis)
[6] Que se alguém
dobrar-me a espinha, há de ser depois de morto! (Jayme Caetano Braun)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H