Sexta-feira, 9 de setembro de 2022 - 06h10
Bagé, 09.09.2022
Jornal do Brasil, n° 165 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Segunda-feira, 20.09.1999
What’s News
A geradora
elétrica Endesa, do Chile, vai recorrer à justiça para prosseguir a construção
da usina hidrelétrica Ralco. O projeto, de US$ 540 milhões, foi interrompido
por causa de queixas de índios da tribo Mapuche que alegavam violações do
ecossistema. O conglomerado Endesa, de Espanha, vai despedir um total de 670
funcionários no Chile para reduzir custos em todas as divisões que operam no
país. Serão 350 empregos na elétrica Endesa Chile, 200 na distribuidora de
eletricidade Chilectra e 120 em atividades diversas. (JDB, n° 165)
Jornal do Brasil, n° 178 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 03.10.1999
Resistência Indígena Dobra Multinacional
SANTIAGO,
CHILE – Por enquanto, Davi está derrotando Golias no Chile. Contra todos os
prognósticos, depois de uma resistência tenaz que já dura quatro anos, sete
modestas famílias de índios Mapuche forçaram o retrocesso de uma poderosa
multinacional de energia elétrica, cujo acionista principal é a empresa
espanhola Endesa. As famílias se negam a abandonar suas terras ancestrais, que,
uma vez desapropriadas, ficariam sepultadas sob as águas da que será a maior
represa hidrelétrica do Chile.
Sob todos os
aspectos, era uma luta desigual. Mas o juiz titular da 6° Vara Civil de
Santiago, Mario Carroza, ordenou a suspensão das obras da represa de Ralco, no
Alto Biobío, um vale da Araucânia chilena tradicionalmente isolado e abandonado
pelo governo central.
Na batalha, está em jogo o bem mais precioso dos índios Mapuche, a terra,
pelo qual há quatro séculos seus antepassados lutaram contra os conquistadores
espanhóis. A Endesa defende um projeto orçado em US$ 550 milhões, dos quais já
investiu US$ 120 milhões, com 11% da obra realizada. Depois da decisão do juiz
Carroza, os dois lados anunciam ações em defesa de seus interesses.
Recursos – Recentemente uma
delegação de apoio à causa Mapuche, integrada por parlamentares, advogados e
líderes indígenas foi a Madri, para falar com diretores e representantes
sindicais da Endesa, partidos políticos e organizações de solidariedade. Disse
Alejandro Navarro, deputado socialista:
Queremos informar à opinião pública espanhola como a Endesa atua no Chile
e vamos consultar juristas espanhóis sobre os recursos legais de que dispomos
para agir contra a empresa.
Como primeira consequência da ordem judicial, os 1.600 operários que
trabalhavam na obra perderam o emprego e uma parte deles mantém ocupadas as
dependências da construtora.
Navarro acusa a Endesa de provocar um fato político com uma demissão em
massa, quando o Chile sofre o índice mais alto de desemprego em 10 anos de
democracia. Fontes da empresa respondem que os demitidos trabalhavam em
empresas contratadoras.
Energia – A decisão judicial
pegou de surpresa o governo chileno, a Endesa e os próprios Mapuche. [...]. Nos
últimos meses registrou-se a maior seca dos últimos 100 anos, que se traduziu
em blecautes e racionamentos em amplas regiões do país. Quando a empresa
escolheu o vale do Alto Biobío para construir a represa, ofereceu às
comunidades indígenas um plano de permutas de terras. Das famílias afetadas, 91
aceitaram a proposta, que inclui compensações econômicas e o reassentamento em
outro vale. Sete famílias, encabeçadas pelas irmãs Nicolasa e Berta Quintremán,
disseram não desde o primeiro dia e sua atitude se mantém imutável. As irmãs
Quintremán entraram com a questão, origem da decisão judicial. “Endesa: nem por um saco de ouro nos tirarão”,
lê-se numa placa no caminho de sua casa. (JDB, n° 178)
Jornal do Brasil, n° 248 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 12.12.1999
Mapuches Votam no PC
TRICAUCO,
CHILE – Não é difícil entender por que os índios Mapuche desta remota
comunidade do Sul do Chile vão votar pela candidata comunista Gladys Marín na
eleição de hoje. Sua aldeia não tem água potável, o telefone mais próximo está
a duas horas de distância a pé e o ônibus só passa duas vezes por semana. A
localidade sequer aparece no mapa.
“Não é que os Mapuche acreditem no Partido
Comunista, mas eles votarão por um verdadeiro programa de esquerda”, disse
Domingo Marileo, de 38 anos, líder da comunidade que fica a 700 quilômetros da
capital Santiago. Usando seu poncho de lã colorida, Marileo fala de justiça,
autonomia indígena e alternativas às políticas neoliberais.
Os Mapuche,
que são 1 milhão na população chilena de 15 milhões, acusam a Concertação ([1])
de não ter, nestes 10 anos, ouvido suas reivindicações de maior autonomia e de
devolução de terras de onde alegam terem sido ilegalmente removidos. Os Mapuche
querem, por exemplo, a criação de um orçamento regional separado, para que
possam usar o dinheiro sem interferência do governo federal. No Norte do país,
ao contrário, Lagos é o franco favorito.
“As pessoas do Norte sempre votaram
socialista”, diz Emilio Gatica, taxista de Iquique, centro da extração de
ouro e cobre. A região foi duramente atingida pela recessão do último ano, mas
Gatica garante que:
isso não é motivo
suficiente para aderirmos à direita. (JDB, n° 248)
Jornal do Brasil, n° 89 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Terça-feira, 06.07.2004
Índios Reclamam Terras
BUENOS AIRES
– Centenas de milhares de indígenas argentinos vivem em disputa permanente pela
terra que ocupam, apesar de a Constituição reconhecer a propriedade comunitária
dos territórios nos quais estão assentados. São muitos os casos de famílias
desalojadas pela justiça argentina das terras que ocupam historicamente, já
que, em alguns casos, o Estado vende o local para mãos privadas.
Cerca 500
mil índios vivem na Argentina e são originários de uma dezena de etnias que se
dedicam à coleta, cultivo e produção de gado de pequeno porte. Um dos casos de
violação mais ruidosos aconteceu no dia 31 de maio, quando um tribunal de
Esquel, no Sul da Argentina, determinou que as terras ocupadas por um casal
Mapuche eram propriedade de uma empresa do Grupo Benetton e determinou uma “restituição definitiva” à multinacional
italiana.
Disse o
diretor do Conselho Assessor Indígena da Argentina, Hermenegildo Liempe:
Nós indígenas não
pedimos ao Estado que nos dê nada, apenas que nos devolva nosso território.
Para continuarmos sendo Mapuche, precisamos tem um lugar para nos desenvolver.
Queremos que reconheçam nossos direitos.
Na Província de Formosa, a comunidade Pilagá apresentou um recurso de
amparo ante a Corte Suprema de Justiça para evitar que se construa uma represa
que, segundo eles, “inundará os campos de
nove comunidades onde vivem 9 mil índios e causará a morte de hortaliças, aves
e peixes”. A alegação é do advogado especialista em direito indígena Luis
Zapiola. Contou Zapiola:
Realizamos os estudos
ambientais que nos dão razão e conseguimos que o Banco Interamericano de
Desenvolvimento [BID, um dos investidores da obra] investigue esta situação –
[EFE] (JDB, n° 89)
Emol.economía, n° 89 ‒ Rio de Janeiro, RJ
Segunda-feira, 27.09.2004
Endesa Chile Inaugura Central Ralco
Luego de
casi una década de conflictos Endesa puso en marcha este proyecto que requirió
una inversión de 570 millones de dólares, con una potencia instalada de 570
megavatios, situada 500 kilómetros al sur este de Santiago.
RALCO – Endesa Chile inauguró hoy su
mayor proyecto hidroeléctrico en el país, central Ralco, que cubrirá el 9% de
las necesidades de energía del principal sistema, pero con el disgusto de no
contar con nuevos proyectos de magnitud en el mediano plazo.
Según sus
ejecutivos, la construcción de nuevas plantas generadoras en Chile requiere
señales políticas y económicas favorables, ya que las actuales “no son suficientes”. […] (EMOL.COM)
“Movimiento Nación Camba de Liberación”
[...] dotar a la Nación Camba del poder de decisión
para ejercer soberanía plena sobre su
economía, su territorio y su cultura.
(El Movimiento Nación Camba de Liberación)
Bolívia
A Bolívia, berço
de civilizações indígenas, integrou o império Inca a partir do século XV. No
século XVI, com a chegada dos espanhóis, foi incorporada ao vice-reino do Peru,
e mais tarde ao de La Plata.
A luta pela independência, iniciada em 1809, culminou com sua libertação,
em 1825, graças a Simón Bolívar. Após uma breve união com o Peru, tornou-se
independente e, desde então, perdeu parte do seu território como resultado de
negociações e guerras.
A Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1881, em que o Chile entrou em
confronto com as forças da Bolívia e Peru, resultou na anexação, por parte do
Chile, de ricas áreas em recursos naturais dos países derrotados.
A Bolívia cedeu a Província de Antofagasta, ficando sem saída para o Mar, o que se transformou num objetivo nacional boliviano.
“Nación Camba”
A “Nación Camba” é uma região da Bolívia Oriental que cobre dois terços do país e é formado pelos estados de Santa Cruz, Beni, Pando, e departamentos de Chuquisaca e de Tarija. Em pouco mais de um século, a região se converteu na primeira potência econômica do país, graças, sobretudo, à venda do gás e da soja. As características históricas e culturais singulares existentes entre o Altiplano Boliviano e as Zonas Baixas dão origem a movimentos autonomistas e separatistas.
Constituição Boliviana
Artigo 1° – A Bolívia se constitui em um Estado Unitário, Social, de Direito, Plurinacional, Comunitário, livre, autonômico e descentralizado, independente, soberano, democrático e intercultural. Funda-se na pluralidade e no pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e linguístico, dentro do processo integrador do país.
O reconhecimento de 36 idiomas oficiais, as indefinições quanto aos direitos e privilégios dos povos originários sem definir quem e quantos são, a falta de demarcação dos limites de seus territórios está causando, como era de se esperar, conflitos étnicos e estimulando o radicalismo regional. A “restituição” de poderes às “nações indígenas originárias” atende perfeitamente ao projeto da Nação Camba. A conciliação dos nacionalismos do Altiplano e das Zonas Baixas é impossível, pois todos pretendem utilizar, em benefício próprio, as rendas do gás e do petróleo.
“Movimiento Nación Camba de Liberación”
A população de Santa Cruz, “locomotiva” econômica da Bolívia, acusa o governo de não priorizar seus interesses e prega autonomia da região de Santa Cruz de la Sierra (“Meia-Lua”). O “Nación Camba” considera que o governo boliviano é centralizador e não prioriza investimentos na “Meia Lua”. Considera que o governo tem toda sua política voltada para o Altiplano:
Mas também existe outra “Nação” não oficial e que representa mais de 30% da população e se assenta sobre um território predominantemente constituído por selvas e planícies do coração da América do Sul e que constitui mais de 70% do território nacional – uns 700 mil km2 –, cuja cultura mestiça vem do cruzamento dos espanhóis e guaranis. Seu analfabetismo não passa de 7% e, do ponto de vista produtivo, é o quinto produtor mundial de soja.
A cidade de Santa Cruz de la Sierra [1,2 milhão de habitantes] realiza mais de 600 eventos internacionais por ano e demonstra sua ampla e indiscutível inserção no mundo globalizado. Constitui “a outra versão” da Bolívia e cujo Movimento aspira obter a autonomia radical desta nação oprimida.
Separatismo
Advertiu o Presidente do Equador Rafael Vicente Correa Delgado:
São intenções separatistas absolutamente ilegais. Os países da região – e eu falei com vários Presidentes – não vão permitir esse tipo de ação. Não permitiremos essas tentativas separatistas que, ademais, refletem influência estrangeira.
Comentou o Presidente da Venezuela Hugo Rafael Chávez Frias:
Estamos, como todo o continente, preocupados com esta agressão contra a Bolívia que vem de fora. É a política do império, é um golpe contra a Bolívia e um golpe contra a América do Sul.
Movimento de Pinça
Encoberto por matizes étnicos e econômicos, notamos um “movimento de pinça” que envolverá necessariamente o Brasil e que tem, sem sombra de dúvida, os USA por trás do processo. Os líderes do Movimento Nação Camba garantem que se não conseguirem a almejada autonomia, o caminho será a separação e a luta armada. Os insurgentes contam com milícias de mais de 15 mil homens, treinados por paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), e armamento de última geração negociado com Israel. É notória a ligação dos paramilitares da AUC com o primeiro escalão do governo colombiano de Álvaro Uribe, maior aliado dos USA na América do Sul, e como o fornecedor de armas é Israel, maior aliado dos USA no mundo, se conclui, sem muito esforço, quem está por detrás do movimento separatista.
Instalado o conflito, os USA intervirão diretamente, já que eles mesmos o fomentaram e nesta ocasião seremos envolvidos em um movimento de pinça cujos resultados são imprevisíveis.
Bibliografia
EMOL.COM. Endesa Chile Inaugura Central Ralco ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Emol.economía, n° 89, 27.09.2004.
JDB, n° 165. What’s News ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, N° 165, 20.09.1999.
JDB, n° 178. Resistência Indígena Dobra Multinacional ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, N° 178, 03.10.1999.
JDB, n° 248. Mapuches Votam no PC ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, N° 248, 12.12.1999.
JDB, n° 89. Índios Reclamam Terras ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, N° 248, 12.12.1999.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Concertação: aliança de centro-esquerda que estava no poder desde que o General Augusto Pinochet o deixou em 1990. (Hiram Reis)
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
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