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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

A Terceira Margem – Parte CDLXXXIII - Fronteiras e a Geografia – Parte V


República de Lakotah - Gente de Opinião
República de Lakotah

Bagé, 14.09.2022


Tribuna da Imprensa, n° 13.186

Rio de Janeiro, RJ ‒Quarta-feira, 05.05.1993

Texaco Vira Alvo de um Boicote Ecológico

QUITO – Grupos ecologistas do Equador, em coordenação com grupos dos Estados unidos e Europa, estão iniciando uma campanha internacional de Boicote contra a companhia petrolífera Norte-americana Texaco pelos danos ecológicos causados na região Amazônica deste País andino, após 28 anos de operações.

Hoje, em Nova Iorque, dirigentes dos grupos ecologistas e indígenas do Equador, em coordenação com estudantes ambientalistas daquele País, iniciarão a campanha de boicote contra a Texaco”, disse Paulina Garzón, Presidente do grupo ambientalista Ação Ecológica [AC].

A campanha, “Boicote contra a Texaco, não consuma Texaco”, visa levar a empresa Norte-americana “a assumir a responsabilidade de sua presença no Equador sem nunca acatar as normas de exploração e aproveitando-se da ingenuidade e pouca experiência do País nessa matéria” acrescentou a ecologista. “Deixamos uma estrutura que pode ser criticada por certos setores, principalmente ecologistas, mas não se pode duvidar que o Equador mudou na sequência da nossa presença”, asseguraram diretores da Texaco em 6 de junho de 1992, data em que a empresa deixou de operar no Equador, aonde chegara em 1964.

A Texaco foi um marco na história deste país andino, já que, na sequência das suas operações, a estrutura econômica agroexportadora que regeu o desenvolvimento equatoriano desde princípios do século terminou na década de 1970 dando lugar a nova era: a petrolífera. Neste quadro, há duas semanas a empresa “Canadian HBT-Agralimited” iniciou uma auditoria destinada a determinar o impacto ambiental na Amazônia equatoriana resultante da exploração de óleo cru por parte da Texaco.

A empresa canadense foi contratada pela estatal Petróleos do Equador [Petroequador] e pela Texaco, empresas associadas entre 1974 e junho último, na exploração de hidrocarbonetos no Leste do País. “As duas empresas contrataram a firma auditora e em nossa opinião não se pode ser juiz e réu”, denunciou a Ação Ecológica, solicitando que a auditoria ambiental seja pública e aberta a todos os setores envolvidos no Equador: técnicos nacionais, indígenas e grupos ecologistas.

Entre os grupos ecologistas que participam na campanha de boicote contra a Texaco figuram a “Ação para a Defesa da Floresta Tropical”, dos USA, “O Futuro nas Nossas Mãos”, da Noruega, e os “Amigos da Terra” da Grã-Bretanha. Aproveitando a sua permanência nos Estados Unidos, ecologistas e indígenas equatorianos tentarão encontrar-se com dirigentes da Texaco, que repetidamente lhes negaram esse encontro, afirmando que “os problemas da Texaco no Equador devem ser resolvidos no Equador”.

Julgamos que os responsáveis máximos da Texaco devem responder pelo que as suas filiais fazem no mundo”, assinalou Garzón. Estudos oficiais indicam que desde que se iniciou a exploração de hidrocarbonetos no Equador, chegam a dezenas o número de casos, dando conta de falha e derrames no habitat amazônico do país de mais de 500 mil barris de óleo cru. A Ação Ecológica denunciou que os danos ecológicos produzidos pela Texaco na Amazônia equatoriana são irreparáveis, já que produziram muitas doenças e inclusive a morte de várias dezenas de habitantes dessa região, vítimas da contaminação do ar, água e solo, que ainda hoje se mantém.

Os habitantes das Províncias de Sucumbíos e Napo, Este do Equador, onde a Texaco explorou óleo cru, atividade hoje prosseguida pela Petroequador, viram-se forçados a migrar face à presença da companhia Norte-americana. A exuberante vegetação onde habitavam os povos nativos Cofan e Sinoa-Secoya, foi substituída por tanques de armazenamento de óleo cru, torre de ferro e pela edificação de uma comunidade para os trabalhadores, dotada de avanços tecnológicos e comodidades, ainda hoje desconhecidos de muitas cidades do Equador.

Os ecologistas acusam igualmente a Texaco de haver atuado com absoluta irresponsabilidade ambiental, utilizando tecnologia barata para poupar recursos e ter instaurado uma “péssima escola ambiental” que as demais empresas em operação no país continuam a aplicar. A auditoria ambiental contra a Texaco, que será feita em 15 campos petrolíferos e 22 estações de operações espalhadas por 400 mil hectares na zona selvagem do Equador onde foram perfurados 119 poços “é manuseada qual segredo de estado”, denunciam os ecologistas.

A retirada da Texaco e a sua substituição nesses campos petrolíferos pela Petroequador, marcou o fim de um processo impulsionado pelo ex-presidente Rodrigo Borja [1988-92], que ao tomar posse anunciou a nacionalização total das atividades da empresa Norte-americana.

O petróleo é o primeiro produto de exportação deste País andino, e proporcionou ao País cerca de US$ 1.200 milhões anuais, qualquer coisa como mais de 50% das suas receitas fiscais. Atualmente o Equador produz 330 mil barris de óleo cru por dia, número que o governo de Sixto Duran deseja aumentar para 400 mil nos próximos quatro anos. [IPS] (TDI, n° 13.186)

Tribuna da Imprensa, n° 16.444 ‒ Rio de Janeiro, RJ

Segunda-feira, 17.11.2003

Vargas Llosa: Movimento de Índios
Ameaça à Democracia

LIMA, PERU ‒ O escritor peruano Mario Vargas Llosa, durante sua recente visita à Colômbia, declarou que o movimento indígena no Equador, Peru e Bolívia está provocando uma verdadeira desordem política e social. Na Bolívia, o movimento indígena foi um dos principais setores que lutaram para que o Estado mantivesse o controle do gás, sendo que estas reivindicações populares provocaram a renúncia de Sanchez de Lozada, não sem antes reprimir, e, inclusive, matar manifestantes contrários à exportação desvantajosa do combustível. Para o escritor, episódios como esse demonstram que existe no movimento indígena um elemento profundamente perturbador “que apela aos baixos instintos, aos piores instintos do indivíduo, como a desconfiança em relação ao outro, ao que é distinto. Então se enclausuram em si mesmos”. Para ele, a permanência deste tipo de atitude deixaria a América do Sul distante do ideal civilizatório.

Para a Confederação de Povos da Nacionalidade Kichwa do Equador, são “precisamente estas mentalidades coloniais [como a de Vargas Llosa] que não permitem avanços na consolidação de uma América Latina mais democrática, participativa, reconhecendo a diversidade de cada país”.

Para a organização, das declarações do escritor sobre os movimentos indígenas, “o pior de tudo é que concebe este setor como sinônimo de retrocesso para o desenvolvimento e seguramente quer exterminar uma cultura e uma identidade para chegar ao progresso das nações”.

Vargas Llosa é autor de livros como “A guerra do fim do mundo”, no qual descreve o terrível massacre da comunidade de Canudos, no Brasil do século XIX, cujos integrantes eram considerados tanto pelo governo da época como pelo principal cronista do fato, Euclides da Cunha, justamente como incivilizados.

O escritor também já foi candidato à presidência da República do Peru. (TDI, n° 16.444)

USA – “República de Lakotah” – um Kosovo no Ninho da Águia

Alertamos a Família das Nações que reassumimos
a nossa liberdade e independência
sob a lei natural, internacional e dos EUA.
(Canupa Gluna Mani)

Povo Lakotah

A nação Sioux possui três divisões geográficas distintas de indígenas que falam o mesmo idioma: os Lakotah, os Dakota e os Nakota. No idioma Sioux, todos esses nomes significam “amigo”. Os Sioux resistiram aos brancos até 1890, quando foram perseguidos e massacrados. Atualmente, seus descendentes vivem em reservas nos estados de Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebraska, Leste dos estados do Wyoming e Montana, no centro-Norte dos Estados Unidos.

Russel Means - Gente de Opinião
Russel Means

Russel Means – Ativista Oglala Lakotah

Não acredito que o capitalismo em si seja o real responsável pela situação em que fomos declarados um sacrifício nacional... Não, é a tradição europeia. É a própria cultura europeia a responsável. O marxismo é apenas uma continuação desta tradição e não um remédio contra ela. Aliar-se com o marxismo é aliar-se com as mesmas forças que nos declaram um “custo” aceitável. Há outro caminho. Há o caminho tradicional dos Lakotah e os caminhos de outros povos indígenas americanos. É o caminho que sabe que os seres humanos não têm o direito de degradar a Mãe Terra, que existem forças acima de tudo que a mente europeia já concebeu, que os seres humanos precisam conviver em harmonia com todos os seres, do contrário o caos se estabelecerá. A ênfase desproporcional dos seres humanos em si próprios, a arrogância europeia em agir como se estivessem acima da natureza e de todas as coisas relacionadas, só pode resultar numa total desarmonia e num reajustamento que reduz os seres humanos aos seus devidos tamanhos, que lhes dá o gosto daquela realidade que está além do seu controle e alcance, e que restaura a harmonia.

Não há necessidade de uma teoria revolucionária para que isto aconteça, pois isto está fora do controle humano. Os povos naturais deste planeta sabem disto e então não teorizam a respeito. A teoria é uma abstração, nosso conhecimento é real. (Russel Means)

República de Lakotah

Os Lakotah, verdadeiro nome dos Sioux, cujos ancestrais mais famosos foram “Touro Sentado” e “Cavalo Louco”, declararam nulos os tratados firmados com os Estados Unidos, há mais de 150 anos, no dia 19 de dezembro de 2007. Os ativistas entregaram ao Departamento de estado americano uma carta assinada por Russell Means, Garry Rowland, Canupa Gluha Mani e Phyllis Young. Russel Means declarou, em entrevista coletiva em Washington, que a independência Lakotah ocorreu de acordo com a Constituição Americana e a “Convenção de Viena”, sendo legalmente válida, nacional e internacionalmente, e que passavam, a partir daquele momento, a ser uma nação soberana:

Não somos mais cidadãos dos Estados Unidos da América e todos que vivem nas regiões dos cinco Estados que compreendem nosso território são livres para se unir a nós.

Means ([1]) afirmou, na ocasião, que seriam emitidos passaportes e licenças para quen que residisse no território indígena e renunciassem à cidadania americana.

As lideranças Lakotah informaram ao Departamento de Estado Americano que declaravam unilateralmente a nulidade dos Tratados assinados com o governo. Segundo Phyllis Young, militante do movimento separatista, os Tratados de 1851 e 1868, firmados no Fort Laramie, são:

Palavras sem valor sobre papel sem valor e foram violados em diversas oportunidades para roubar nossa cultura, nossa terra e nossos costumes. Assinamos 33 tratados com os Estados Unidos da América que não foram respeitados.

Reporta-nos Russell Charles Means:

Através da nossa história e sob a Lei de Reorganização dos Povos Índios de 1934, o Congresso disse que iria rever as propostas de 1968, mas não o fizeram. Mantiveram algumas promessas menores mas, de forma geral, o Tratado não foi honrado. Porque se fosse, não teríamos esse colapso colossal de alcoolismo, abuso de drogas e pobreza e não teríamos as altas taxas de encarcerados nas populações prisionais masculina e feminina. Somos os Lakotah das reservas índias Sioux de Nebraska, Dakota Norte, Dakota Sul e Montana, que adoram a liberdade e que se retiraram dos Tratados, constituindo assim uma nação independente e livre. Alertamos a Família das Nações que reassumimos a nossa liberdade e independência sob a lei natural, internacional e dos EUA. (Russel Means)

Tribo Sioux Rosebud

Rodney Bordeaux, Presidente da tribo Sioux Rosebud, afirma que esse não é o desejo de todos os índios e afirma que o seu povo não tem qualquer aspiração de secessão:

A nossa posição é a de que temos de fazer cumprir os Tratados e estamos constantemente a lembrar o Congresso disso. Fazemos pressão para que os Tratados sejam mantidos e cumpridos porque eles são a base do nosso relacionamento com o Governo Federal.

Governo Boliviano – 1 Peso, 2 Medidas

O embaixador boliviano em Washington, Gustavo Guzman, acompanhado de Russel Means, numa entrevista coletiva à imprensa, declarou:

Estamos aqui porque as exigências dos povos indígenas da América são as nossas exigências. Enviamos os documentos que nos foram apresentados na embaixada para o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros na Bolívia, onde estão sendo analisados.

É interessante verificar que o governo boliviano apoia movimentos como este, desde que não sejam no seu território. Em 2008, Evo Morales acusou o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, de fomentar o separatismo nas províncias da “Meia Lua” e contribuir para alimentar os conflitos que ocorreram em vários departamentos do país. Morales expulsou o embaixador Goldberg do país.

“Delegação da Liberdade Lakotah”

Não existe unanimidade no grupo denominado “Delegação da Liberdade Lakotah”, em relação à proclamação de independência. Enquanto alguns afirmam que não é uma tentativa de secessão dos Estados Unidos, mas uma reafirmação de sua soberania, outros defendem a criação de um estado soberano.

Embora Russell Means defenda o nome de República Lakotah, os demais membros da delegação argumentam que “República” é um conceito romano e não Lakotah. A delegação não criou nenhum governo provisório, tendo em vista que devem prosseguir com os seus tradicionais sistemas de governo e, em consequência, existem divergências quanto à necessidade de criação de uma capital para a “Futura República”. O hipotético país não é reconhecido internacionalmente, nem pelos USA e nem mesmo por diversos membros da tribo Lakotah, que afirmam que não foram representados na proclamação de 19.12.2007.

Jornal do Comércio, n° 33.832 ‒ Manaus, AM

Sexta-feira, 14.02.1986

Nicarágua

Revolucionários Atacam Três Sandinistas

MANÁGUA [UPI] – O Ministério da Defesa da Nicarágua denunciou o ataque de guerrilheiros contrarrevolucionários a três postos da fronteira do País com a Costa Rica, ferindo gravemente um soldado sandinista.

Segundo a denúncia a ação teve por objetivo prejudicar os esforços feitos para a melhoria das relações entre os dois Países.

O ataque coincidiu com o anúncio feito por Costa Rica, de que o embaixador do País na Nicarágua, retido há oito meses em consequência de um incidente de fronteira, está pronto para regressar ao posto. [...]

Índios

Na Província de Zelaya, o comandante Leonel Espinoza, representante do Ministério do Interior, denunciou ontem a chegada de dezenas de índios Miskitos à região, com o propósito de se apoderarem de uma porção do território e estabelecerem um governo local.

Tal governo, que contaria com a assessoria de vários indígenas Norte-americanos, principalmente do cacique Russel Means, seria imediatamente reconhecido pelos EUA, disse Espinoza. (JDC, n° 33.832)

Bibliografia

 

JDC, n° 33.832. Nicarágua – Revolucionários Atacam Três Sandinistas – Brasil – Manaus, AM – Jornal do Comércio, n° 33.832 ‒

33.832, 14.02.1986.

 

TDI, N°13.186. Texaco Vira Alvo de um Boicote Ecológico – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Tribuna da Imprensa, n° 13.186, 05.05.1993.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]    Russell Charles Means, nasceu em Wanblee, 10.11.1939 e faleceu em Porcupine, 22.10.2012, foi um índio Oglala Sioux, uma das sete tribos do povo Lakota, que lutou pelos direitos dos índios americanos, participando ativamente de questões internacionais relacionadas com nativos americanos tanto na América Central como na América do Sul. (Hiram Reis)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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