Sexta-feira, 23 de setembro de 2022 - 06h05
23.09.2022
Os “Injustiçados”
Antropófagos
Nada perdem, em suma, e têm o
cuidado de virar constantemente os pedaços para bem assá-los; e aproveitam até
a gordura que escorre pelas varas e lambem a que se coagula nas forquilhas.
(D’ABBEVILLE)
O consumo da carne humana, com o objetivo nutricional, era fundamental
para a sobrevivência daqueles grupos, principalmente os nômades, muito carentes
de proteína e gordura de origem animal. Os nativos lhe atribuíam virtudes
mágicas e terapêuticas.
Os prisioneiros de guerra feridos e velhos eram sumariamente mortos e
devorados, enquanto os demais eram engordados para um futuro festim onde eram
despedaçados, defumados, moqueados, cozidos ou assados sem piedade.
Voltando da guerra, trouxeram
prisioneiros.
Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram
logo, cortaram-nos em pedaços e assaram a carne [...]. (STADEN)
O prisioneiro não
era tratado como escravo, mas integrado à Aldeia onde passava por um período de
engorda. Podia até mesmo constituir família.
O prisioneiro trabalhava voluntariamente, mas não era mantido sob
vigilância. Acreditavam que um guerreiro devia morrer honradamente, no combate
ou devorado, de maneira que sua alma continuasse viva naqueles que o comeriam.
E não pensem que o
prisioneiro se abale por causa dessas notícias, tem-se a opinião de que sua
morte é honrosa, e que lhe vale muito melhor morrer assim, do que em sua casa
por causa de uma morte contagiosa qualquer: porque, dizem eles, não se pode
vingar a morte, que ofende e mata os homens, mas se pode muito bem vingar
aquele que foi morto e massacrado em proeza de guerra. (THEVET)
Os portugueses ficaram perplexos ao visitar as aldeias tupinambás e se
depararem com a preparação da carne humana nos fumeiros, pedaços de cadáveres
nas ocas, e a existência de cativos vivos, que serviriam de repasto em futuros
banquetes.
Os homens coziam as
entranhas, devorando-as; as mulheres lambiam o caldo. Língua, miolo e certas
partes do corpo estavam reservados aos jovens; para os adultos ficava a pele do
crânio e para as mulheres os órgãos sexuais. Porções havia consideradas nobres:
eram dadas aos hóspedes de honra. (METRAUX)
Os Índios e o Meio Ambiente
Os índios sempre souberam
como lidar com a terra. São eles que nos ajudam a manter vivas nossas matas e
contribuem para a preservação de nossos mananciais. Por isso é que avalio que
eles também são nosso futuro, principalmente quando consolidarmos nossa maior
dívida com eles, que consiste na demarcação e homologação de todas as suas
terras. (Mércio P. G.)
Mais uma vez, o Ex-presidente Mércio Pereira Gomes, da famigerada FUNAI,
atrelado a convicções ideológicas sem nenhuma fundamentação científica, mostra
desconhecer a cultura que tanto defende e as leis que regem a sobrevivência dos
povos nativos. O Professor Evaristo Eduardo de Miranda afirma que o processo de
savanização da floresta não só teve origem com os povos primitivos, mas como
continua até os dias de hoje.
Um grupo caingangue residente
no Paraná, que havia recebido ferramentas de aço apenas no século XX,
lembrava-se de que não mais tinha de escalar árvores, outrora uma atividade
muito frequente, para apanhar larvas e mel. Muitos dos que caíam das árvores
morriam ‒ agora eles simplesmente derrubavam as árvores. (WARREN DEAN)
Evaristo Eduardo de Miranda afirma:
O uso
sistemático do fogo pelos humanos, principalmente como técnica de caça,
favoreceu a extensão ou a manutenção de ecossistemas abertos como as savanas ou
cerrados, em detrimento das áreas florestais, mesmo em condições climáticas
desfavoráveis. [...]
Condicionamentos locais de clima e solo podem acelerar ou limitar esse processo, mas o caráter nômade de vários grupos de caçadores-coletores espalhou esse fenômeno em diversos locais da região amazônica. Esse processo de savanização, de ampliação de áreas de cerrados em detrimento das florestas, segue seu curso nos dias de hoje, em vários locais da Amazônia, promovido por culturas ameríndias bem posteriores aos primeiros caçadores-coletores. [...]
A regressão das florestas e a ampliação dos cerrados devido ao uso do
fogo podem ser observadas nitidamente em sequências de imagens de satélite, de
vários anos, tiradas de áreas indígenas no Norte do Pará, na região dos Tiriós,
próxima da fronteira com o Suriname. Ali, os indígenas promoveram um
crescimento anual da área dos cerrados em detrimento da floresta, pelo uso
generalizado do fogo em grande escala. Eles alteram a dinâmica vegetal com a
promoção de gigantescos incêndios anuais, os
maiores de todo o Brasil. Eles propagam-se ao sabor dos ventos alísios do
Hemisfério Norte, na direção Nordeste-Sudoeste. (MIRANDA)
Para verificar a
destruição promovida pelos Tiriós basta se observar no “Google Earth” uma região bastante degradada de 80 por 210
quilômetros aproximadamente na fronteira do Suriname com o Brasil.
As observações de
Miranda são reforçadas pelo relato de Oscar Canstatt, em 1871.
Seu modo de caçar os animais em fuga é bárbaro e só possível onde não há
nenhuma lei protetora das florestas. No tempo seco, sobretudo, quando o Sol
tropical torra com seus raios abrasadores os campos e o mato baixo, ateiam-lhe
fogo, e emboscam a caça em lugar onde o elemento destruidor não os pode
atingir. Aí é fácil abater a caça que, em desabalada fuga, corre para a única
vereda salvadora. (CANSTATT)
Narloch apresenta, também, evidências que desfazem a imagem
preservacionista do indígena brasileiro e mostra a preocupação dos colonizadores
com a manutenção e a exploração sustentável das florestas.
O mito do índio como homem puro e em harmonia com a natureza já caiu há
muito tempo, mas é incrível como ele sempre volta. [...] As tribos que
habitavam a região da mata atlântica botavam o mato abaixo com facilidade,
usando uma ferramenta muito eficaz, o fogo. [...] Os portugueses criaram leis
ambientais para o território brasileiro já no século XVI. [...] No Brasil, essa
lei protegeu centenas de espécies nativas. Em 1605, o regimento do Pau-Brasil
estabeleceu punições para os madeireiros que derrubassem mais árvores do que o
previsto na licença. [...] Escreveu o biólogo Evaristo Eduardo de Miranda: “Essa legislação garantiu a manutenção e a
exploração sustentável das florestas de Pau-Brasil até 1875, quando entrou no
mercado a anilina. Ao contrário do
que muitos pensam e propagam, a exploração racional do Pau-Brasil manteve boa
parte da mata atlântica até o final do século XIX e não foi a causa do seu
desmatamento, fato bem posterior”. (NARLOCH)
Escravidão e os “Paradisíacos”
Quilombos
Já que estamos
falando de minorias, vamos estender nossa preleção tratando de outra minoria
racial que vem pleiteando e conseguindo benesses especiais baseadas neste mesmo
“Resgate Histórico”: os negros.A
origem da escravidão deve igualmente ser revista para que o pretenso resgate
proposto, sistemas de cotas, Comunidades Quilombolas, não acabe fomentando, no
país, um “Apharteid Étnico” idêntico
ao que se vê hoje implantado pelos indígenas da Raposa e Serra do Sol, em
relação aos não índios. O costume de vender os prisioneiros de guerra era
bastante comum entre as diversas etnias africanas; a escravidão foi durante
muito tempo uma prática corriqueira em todas as civilizações, independentemente da cor da pele.
Se algum escravo fugia dos
Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado
pela “severa justiça” do Quilombo. (CARNEIRO)
Os negros
africanos foram, de longe, os maiores traficantes de escravos negros. A
tradição estava tão arraigada que um escravo liberto, imediatamente, buscava
adquirir um escravo para si mesmo numa demonstração inequívoca de “status”.
O “herói” Zumbi dos Palmares, personagem
que virou símbolo da luta contra o racismo no país, tinha seus próprios
escravos. Os escravos que se negavam a fugir das fazendas e ir para os
Quilombos eram capturados e transformados em cativos dos quilombolas. Palmares
lutava contra a escravidão própria, mas não pela escravidão alheia.
Para reforçar a
ideia de que os escravos brasileiros, talvez, tenham sobrevivido somente porque
vieram para o Brasil, vamos lembrar que os países
da “Mãe
África” foram
os últimos a abolir a escravidão e que os genocídios étnicos, na região, continuam acontecendo nos dias de hoje. Certamente,
os grupos capturados,
na época,
caso não fossem vendidos, teriam sido sumariamente exterminados lá mesmo.
Jornalista Leandro Narloch
[...] Ao
longo dos séculos, Zumbi se tornou uma figura mítica, festejado como o herói da
luta contra a escravidão. O que realmente se sabe dele, como personagem
histórico, é muito pouco. [...] Como ocorre com Tiradentes e outros heróis
históricos que servem à celebração de uma causa, a figura de Zumbi que passou à
posteridade é idealizada.
Ao longo do século XX, principalmente nos anos 60 e 70, sob a influência
do pensamento marxista, Palmares foi retratada por muitos historiadores como
uma sociedade igualitária, com uso livre da terra e poder de decisão
compartilhado entre os habitantes dos povoados. Uma série de pesquisas
elaboradas nos últimos anos mostra que a
história de Zumbi e do Quilombo dos Palmares ensinada nos livros didáticos tem muitas
distorções.
Muito do que
se conta sobre sua atuação à frente do Quilombo é incompatível com as
circunstâncias históricas da época. O objetivo desses estudos não é colocar em
xeque a figura simbólica de Zumbi, mas traçar um quadro realista, documentado,
do homem e de seu tempo. Os novos estudos sobre Palmares concluem que o
Quilombo, situado onde hoje é o estado de Alagoas, não era um Paraíso de Liberdade,
não lutava contra o sistema de escravidão nem era tão isolado da sociedade
colonial quanto se pensava.
O retrato que emerge de Zumbi é o de um Rei guerreiro que, como muitos
líderes africanos do século XVII, tinha um séquito de escravos para uso próprio.
“É uma mistificação dizer que havia
igualdade em Palmares”, afirma o historiador Ronaldo Vainfas, Professor da
Universidade Federal Fluminense e autor do Dicionário do Brasil Colonial. “Zumbi e os grandes Generais do quilombo
lutavam contra a escravidão de si próprios, mas também possuíam escravos”,
ele completa. Não faz muito sentido falar em igualdade e liberdade numa
sociedade do século XVII porque, nessa época, esses
conceitos não estavam consolidados entre os europeus. Nas culturas africanas, eram impensáveis.
Desde a Antiguidade e principalmente depois da conquista árabe no Norte da
África, a partir do século VII, os africanos vendiam escravos em grandes
caravanas que cruzavam o Deserto do Saara.
Na época de Zumbi, a região do Congo e de Angola, de onde veio a maioria
dos escravos de Palmares, tinha Reis venerados como se fossem divinos. Muitos desses monarcas se aliavam aos portugueses e
enriqueciam com a venda de súditos
destinados à escravidão. “Não se sabe
a proporção de escravos que serviam os Quilombolas, mas é muito natural que
eles tenham existido, já que a escravidão era um costume fortíssimo na cultura
da África”, diz o historiador carioca Manolo Florentino autor do livro “Em Costas Negras”, uma das primeiras
obras a analisar a história do Brasil com base nos costumes africanos.
Zumbi, segundo os novos estudos sobre Palmares, seria descendente de uma
classe de guerreiros africanos que ora ajudava os portugueses na captura de
escravos, ora os combatia.
Quando
enviados ao Brasil como escravos, os nobres africanos frequentemente formavam
sociedades próprias ‒ uma delas pode ter sido Palmares.
Para chegar a esse novo retrato de Zumbi e do Quilombo, os historiadores
analisaram as revoltas escravas partindo de modelos parecidos que ocorreram em outros
lugares da América e da África.
Também voltaram às cartas, relatos e documentos da época, mostrando como
cada historiografia montou o Quilombo que queria. O principal historiador a
reinterpretar o que ocorreu nos Quilombos é o carioca Flávio dos Santos Gomes.
Ele escreve no livro Histórias de Quilombolas:
Ao contrário de muitos estudos dos anos 1960 e 1970, as investigações
mais recentes procuraram se aproximar do diálogo com a literatura internacional
sobre o tema, ressaltando reflexões sobre cultura, família e protesto escravo
no Caribe e no Sul dos Estados Unidos.
Atendo-se às fontes primárias e ao modo de pensar da época, os
historiadores agora podem garimpar os mitos de Palmares que foram construídos
no século XX. (NARLOCH)
Narloch mostra no seu livro como o viés ideológico
pode tentar, de qualquer maneira, ferindo todos os princípios éticos, se
sobrepor à pesquisa documental dos fatos.
A imaginação sobre Zumbi foi mais criativa na obra do jornalista gaúcho
Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart.
No livro “Palmares: A Guerra dos
Escravos”, Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o “herói” cresceu num Convento de Alagoas,
onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar latim e português.
Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o
Quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo Padre
Antônio Melo, da Vila alagoana de Porto Calvo, para um Padre de Portugal, onde
Décio as teria encontrado.
Ele nunca mostrou as mensagens para os
historiadores que insistiram em ver o
material. A mesma suspeita recai sobre outro livro “O Maior Crime da Terra”.
O historiador Cláudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum
vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não
encontrou nenhum. “Tenho razões para
acreditar que ele inventou as fontes e que pode ter feito o mesmo em outras
obras”, disse-me Cláudio no fim de 2008. O
nome de Francisco, pura cascata de Décio Freitas, consta até hoje
no Livro dos Heróis da Pátria da Presidência da República.
O Novo Quilombo dos Palmares
O Que se Pensava:
² O Quilombo era uma sociedade
igualitária, com uso livre da terra e poder de decisão compartilhado;
² Zumbi lutava contra a escravidão;
² Zumbi foi criado por um Padre,
recebeu o nome de Francisco e aprendeu Latim;
² Ganga-Zumba, líder que antecedeu
Zumbi, traiu o Quilombo ao fechar acordo com os portugueses.
O Que se Pensa Hoje:
N Havia em
Palmares uma hierarquia, com servos e reis tão poderosos quanto os da África;
N Zumbi e outros
chefes tinham seus próprios escravos;
N As cartas em que um Padre
daria detalhes da infância de Zumbi foram forjadas;
N Ao romper o acordo com Portugal, Zumbi precipitou a destruição do
Quilombo. (NARLOCH)
Bibliografia
CANSTATT, Oskar. Brasilien,
Land und Leute – Alemanha – Berlim – E.S. Mittler und Sohn, 1877.
CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares – Brasil –
Rio de Janeiro, RJ – Civilização Brasileira, S/A 1937.
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. Quando o Amazonas Corria para o Pacífico – Brasil – Rio de Janeiro,
RJ – Ed. Vozes, 2007.
NARLOCH, Leandro. Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil – Portugal – Lisboa – Ed.
Leya, 2009.
THEVET, D'andré.
Histoire de André Thevet Angoumoisin Cosmographe du Roy de Deux Voyages par lui
Faits aux Indes Australes et Occidentales, in Le Brésil et les Brésiliens –
França – Paris, 1953.
WARREN DEAN. A
Ferro e Fogo – Brasil – São Paulo – Companhia das Letras, 1997.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H