Segunda-feira, 17 de outubro de 2022 - 06h05
Bagé, 17.10.2022
Um grandioso acontecimento se está preparando no céu para
fazer pasmar as gentes. Far-se-á uma grande
A preservação de grupos
étnicos em redomas que os mantenham distantes de contatos humanos não passa de
uma tentativa de fazer parar o tempo, como se isso fosse possível, em zonas
cujas dimensões e natureza tornam impossível um policiamento protetor. O
artificialismo condena esse equívoco, e o resultado final ameaça ser a
contaminação dos grupos primitivos pela ação clandestina do que há de pior na
sociedade moderna, enquanto o que há de melhor é mantido à distância pelo
respeito à lei.
(Editorial “A Redoma Fatal” – Jornal “O Globo”)
Repercussão Internacional e a Cegueira Nacional
Em 19.01.2004, a
revista inglesa “The Economist”
publicou um artigo com o título “Um novo
Israel” que retrata o clima de segregação entre índios e não-índios em
Roraima. Segundo a revista, a Reserva dividiu o estado. Essa divisão levou o
autor do artigo a traçar um paralelo com a antiga Iugoslávia: “Boa Vista tem um clima etnicamente
carregado, mais característico dos Bálcãs do que do Brasil”. A Revista
antevia conflitos indígenas, falava em “Balkanização”
o que a imprensa nacional, sectária e comprometida, evitava publicar,
preferindo utilizar termos mais sutis.
Perseguição Racial
Os últimos
governos foram responsáveis e a história os julgará por incentivar a
segregação e o racismo criando imensas reservas, privilegiando minorias
indígenas e estimulando contravenções e cisões.
Movimentos Raciais
Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um
povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime
ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Assim foi até se
definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros. (Darcy
Ribeiro)
Diversos
movimentos, de todos os matizes, continuam tomando corpo, buscando privilégios
especiais, esquecendo que a grande maioria do povo brasileiro é mestiça. As
identidades étnicas tendem a desaparecer no processo histórico e todas
tentativas históricas de “congelá-las”
fracassaram. O brasileiro é por definição um ser mestiço e que abrange as
diversas manifestações de um mesmo processo. A identidade mestiça brasileira é
dinâmica e tem como origem o amálgama de diversos povos que se encontraram no
espaço e tempo da nação brasileira.
Perseguição Religiosa
A FUNAI acionou até o Supremo
Tribunal Federal (STF) para retirar os missionários brasileiros da denominada
Assembleia de Deus, argumentando que os evangélicos devem sair ue vivem nessa área
são estrangeiros e estão incentivando os índios a lutar contra os evangélicos
que não concordam com o monopólio do catolicismo na área. (Deputado Márcio
Junqueira)
A Fundação
Nacional de Assistência ao Índio (FUNAI), proíbe a presença de missionários
evangélicos nas tribos indígenas de Pacaraima-RR, mas não toma a mesma atitude
em relação aos padres e freiras estrangeiros enviados pela Igreja Católica.
The Economist ‒ Jan 15th 2004
Índios do Brasil: as
Guerras Indígenas da Amazônia (Tradução Livre de Hiram Reis e Silva)
O Estado de
Roraima exala um ar de conflito civil iminente. No início deste mês, elementos
contrários à demarcação contínua da reserva indígena bloquearam as estradas de
acesso à Boa Vista, capital do Estado, e ocuparam os escritórios das agências
de reforma agrária federal e assuntos indígenas. A disputa não acirrou os
ânimos apenas em Roraima, mas chamou a atenção, também, sobre os conflitos
radicais entre os ambientalistas e defensores da cultura tradicional, de um
lado, e aqueles que defendem o progresso e o crescimento econômico, de outro.
O Brasil está salpicado de reservas indígenas. Geralmente, são vastas
áreas contendo poucos indivíduos, mas com recursos abundantes, da madeira ao
ouro e à água. A terra e o subsolo pertencem ao Governo Federal, mas os índios
controlam o acesso e a atividade econômica. A maioria dos estrangeiros, que se
preocupam com isso, consideram isso correto. Essas gigantescas reservas parecem
ser baluartes contra as forças que podem colocar em risco tanto a Amazônia,
quanto os direitos de uma minoria nativa indefesa. Esta visão tem adeptos
influentes, como ONGs internacionais e a Igreja Católica do Brasil.
Mas para os fazendeiros, mineiros e madeireiros, isso tem cara de
conspiração para impedir o progresso. Paulo Cesar Quartiero, arrozeiro, afirma
que a polêmica reserva em Roraima é um ato de “extermínio”, faltando apenas os crematórios. Embora discussões
sobre os recursos naturais muitas vezes possam ser sangrentas [acredita-se que
vários líderes indígenas tenham sido mortos no ano passado por causa dessas
riquezas], elas geralmente são setorizadas, mas essa disputa, no entanto, está
chamando a atenção de todo o Estado.
O gatilho é a
iminente declaração do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de uma
nova Terra Indígena que cobre 8% de Roraima, a Raposa/Serra do Sol, com mais de
1,7 milhões de hectares de extensão. A “Desintrusão”
deve vir logo a seguir. Isso significa remover a população não índia de várias
aldeias e de uma pequena cidade – o número de pessoas é controverso – além de
diversas plantações de arroz, entre as quais a de Quartiero. Para seus
defensores, Raposa/Serra do Sol é uma restauração e não expropriação.
Por décadas,
os 15.000 indígenas da área tentam recuperar suas terras de mineradores e
agricultores, que trouxeram consigo a bebida, a sujeira e prostituição. Manuel
Tavares, da FUNAI, a agência federal dos índios, mostra pacotes de veneno
agrícola que, segundo ele, foram encontrados em uma das fazendas de arroz. A
limpeza final ocorrerá quando a reserva for aprovada. Essa perspectiva não
invoca nenhuma simpatia em Boa Vista, residência de mais da metade da população
do estado. Um magnífico monumento na Praça Principal não personaliza o indígena
brasileiro, mas seu arqui-inimigo, o garimpeiro, que poluiu e extraiu das
terras indígenas o ouro e diamantes nas décadas de 1930 a 1980, e agora resiste
apenas como um monumento dourado em Boa Vista. O governador, Flamarion Portela,
reclama de administrar um “estado virtual”,
onde metade da terra é indígena e a maioria do restante é controlada por
agências federais. Isso frustra os sonhos de participar do boom da soja no
Brasil e de explorar as conexões rodoviárias à Venezuela, Guiana e além.
Boa Vista tem uma atmosfera etnicamente carregada, mais característica dos
Bálcãs do que do Brasil. “As pessoas ou
gostam dos índios ou os odeiam”, diz Ana Paula Souto Maior, advogada
pró-indígena. “Não existe opção
intermediária”. A ideia de colocar áreas do estado fora dos limites para os
não-índios parece não-brasileira para muitos. No entanto, alguns indígenas
estão entre os críticos mais radicais da demarcação da reserva em área
contínua. Os apoiadores dessa forma de demarcação afirmam que os adversários
são pagos pelos plantadores de arroz, mas esses, por sua vez, acusam a igreja e
as ONGs de lhes impor um tipo de vida e isolamento que eles não desejam mais.
Em vez disso,
eles querem “TVs, carros, tudo”, diz
Gilberto Macuxí, presidente da Arikom, um grupo indígena. Se Raposa for
demarcada como planejado, ele acrescenta: “haverá
uma guerra entre nós”. Os problemas mais graves do estado são
auto-infligidos. Sua população passou de 41.000, em 1970, para 360.000 hoje. As
riquezas minerais atraíram alguns mineradores, mas a maioria da população atual
veio atrás de empregos e subsídios do governo. Metade da força de trabalho está
na folha de pagamento do governo e muitos “funcionários
fantasmas” foram “demitidos” ([1]).
A economia do
Estado depende de sua lavoura de arroz, uma indústria responsável por 10% da
renda do estado.
19.01.2004, a revista inglesa “The
Economist” publicou um artigo com o título “Um novo Israel” Os fazendeiros e seus aliados indígenas querem
excluir os arrozais, estradas e assentamentos da área demarcada para a reserva.
Portela espera que o Governo Federal entregue terras federais não indígenas ao
Estado. Mas isso não salvaria a lavoura de Quartiero. Os apoiadores da
demarcação contínua da Raposa esperam que a luta termine assim que a reserva
for declarada. Seus oponentes dizem que é quando ela realmente começará. (THE
ECONOMIST)
Bibliografia
THE ECONOMIST. Brazil’s
Indians: The Amazon’s Indian Wars ‒ Inglaterra ‒ Londres, 15.01.2004
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Escândalo dos
gafanhotos: o salário de servidores fantasmas era desviado para políticos
locais. (Hiram Reis)
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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