Segunda-feira, 28 de março de 2022 - 07h11
Bagé, 28.03.2022
Os primeiros habitantes da
região foram os índios das tribos dos xapurys [mais numerosa e que deu origem
ao nome da cidade], catianas e moneteris. A excursão de Manuel Urbano da
Encarnação à foz do Rio Xapuri, em 1861, foi o início da colonização da região.
As terras, onde atualmente se localiza a cidade, eram de propriedade do
cearense Manuel Raimundo, seringalista que chegou à região durante o Ciclo da
Borracha. Os seringais da região do atual município de Xapuri eram os mais
produtivos do planeta, fazendo com que a região se tornasse a principal
referência [em termos sociais, culturais e econômicos] do Acre em outras
regiões do país e também do mundo.
oda essa importância fez com que
a região fosse palco de intensos conflitos com a Bolívia e os moradores que ali
habitavam, sendo grande parte composta por brasileiros oriundos do Nordeste. O
povoado surgiu logo depois de Volta da Empreza [Rio Branco], no ano de 1883, em
um local estratégico na confluência do Rio Xapuri com o Rio Acre. A localidade
tornou-se um dos principais entrepostos comerciais do Acre no Ciclo da
Borracha. Durante o período da Revolução Acreana, Xapuri foi ocupada por
autoridades bolivianas que passaram a chamá-la de Mariscal Sucre. Em
06.08.1903, as tropas do Coronel Plácido de Castro tomaram o povoado marcando o
início da última vitoriosa etapa da Revolução Acreana, que culminou com a
Anexação do Acre ao Brasil. Na década de 1980 a cidade também foi palco do
movimento de resistência dos seringueiros em defesa dos seringais nativos da
região. O principal líder desse movimento, cuja luta culminou na criação das
reservas extrativistas, foi o sindicalista xapuriense Francisco Alves Mendes
Filho. (www.xapuri.ac.gov.br)
O
patrulhamento ideológico dos sites oficiais acreanos eliminou da história do
Acre e de Xapuri, em especial, a carismática figura do ilustre militar e
político brasileiro Jarbas Gonçalves Passarinho, nascido em Xapuri, nos idos de
11.01.1920. Passarinho foi Governador do Estado do Pará, Ministro do Trabalho,
da Educação, da Previdência Social, da Justiça e Presidente do Senado Federal.
11.09.2017 – Conhecendo Xapuri
Na
segunda-feira de manhã, a Diretora de Cultura da Prefeitura Municipal de Xapuri
Sr.ª Alarice Botelho Nunes e o seu Secretário de Esporte e Cultura Sr. Jorge
Alves Ferreira vieram até o Quartel da 1ª Cia do 5ª BEPCIF para nos acompanhar
em um tour cultural pela cidade em que fomos gentilmente conduzidos, na viatura
dos bombeiros, pelo Ten BM Marcelo Melo de Andrade.
Museu Casa Branca
Ainda
em reforma, consta ter sido sede da antiga intendência boliviana e abriga no
seu acervo pinturas, documentos, armas, máquinas e livros históricos. Foi
tombada como patrimônio histórico em 17.01.1985.
Igreja de São Sebastião
A
construção da igreja teve início em 1910. Foi projetada pelos Padres Felipe
Gallerane e Carlos Zucchini.
Seu
acervo mais importante é a imagem de São Sebastião manufaturada na Itália e
doada à igreja pelo Dr. Epaminondas Jácome em 1915. Depois de passar por uma
grande reforma foi reinaugurada em 1953. Anos depois, recebeu os sinos da torre
e as estátuas Santa Inês e de São Sebastião, que guarnecem a Igreja.
Museu Chico Mendes
Instalado
na casa onde viveu e foi assassinado Chico Mendes.
Rua do Comércio (06 de agosto)
Região
mais antiga da cidade e recentemente restaurada. Nesta rua localizavam-se as
grandes casas comerciais do Alto Acre. No apogeu da borracha foi importante
palco comercial de produtos provenientes de Belém, Manaus e do exterior. Aqui
ancoravam as embarcações abarrotadas de mercadorias destinadas aos seringais da
região.
Museu Particular Cezar Zaine
O
Ten BM Marcelo notou minha relutância em adentrar ao Museu cujo cadeado aberto
permitia sem maiores empecilhos o acesso. A Sr.ª Alarice tranquilizou-me
afirmando que a família franqueava a entrada ao Museu a todos interessados.
Princípios Éticos
Minha
relutância em adentrar ao Museu Cezar Zaine me fez engarupar na memória e
lembrar da última Fase da Expedição Centenária Roosevelt-Rondon percorrendo as
águas do Rio Paraguai há um mês atrás.
Ao
percorrermos, de madrugada, as instalações históricas dos Descalvados, nas
proximidades de Cáceres, sentimos uma compulsão quase incontrolável de adentrar
nas históricas instalações.
Nelas
tinham pernoitado há cem anos o ex-Presidente Theodore Roosevelt e o então
Coronel Rondon, que mais tarde seria conhecido internacionalmente como o
Marechal da Paz, mas como não tínhamos conseguido autorização isto
caracterizaria invasão de propriedade privada. Minha educação familiar não me
permitia adotar tal procedimento. A formação recebida na caserna apenas
reforçara aquilo que aprendera de meus saudosos pais.
Em
1972, o Capitão Wantuil Ferreira de Camargo, Comandante da 2ª Companhia do
Curso Básico da Academia militar das Agulhas Negras, afirmava:
Aqui não corrigimos “Defeitos”,
apenas aprimoramos “Virtudes”.
Aqueles
que tiveram o privilégio de dar os primeiros passos no caminho da honra e do
dever com seus progenitores sabem do que estou falando. Sou do tempo, graças a
Deus, em que a palavra de um Homem valia mais do que qualquer documento oficial
‒ um compromisso assumido era cumprido a qualquer custo.
Temos
a obrigação de nortear nossas ações de maneira a respeitar, acima de tudo, os
direitos do nosso próximo em qualquer circunstância, principalmente quando não
estamos sendo vigiados ou observados, sendo assim, só adentramos nas
Centenárias instalações depois que o caseiro Jeferson acordou e nos acompanhou
na visita.
12.09.2017 – Entrevista com Duda Mendes
O
Ten BM Marcelo agendou uma entrevista com o Sr. Antônio Teixeira Mendes, primo
de Chico Mendes no Seringal Cachoeira:
Antônio Teixeira Mendes
Eu sou Antônio Teixeira Mendes,
conhecido como “Duda”, nasci no dia
19.04.1960, no Seringal Santa Fé, onde hoje é uma fazenda, numa colocação ([1])
chamada “Cachorra Magra”, de lá fui
para outra colocação, do mesmo Seringal, mais próxima daqui, chamada “Jubaia”, mais tarde vim para cá quando
tinha nove anos de idade. Meu pai é cearense e minha acreana, descendente dos
Colhas, minha vó era da etnia Colha, de La Paz, Bolívia. Meu pai sempre
procurava um patrão bom, porque naquela época a maioria deles tratava mal os
seringueiros. Ele teve notícia, então, de que o patrão do Seringal Cachoeira
era bom e resolveu vir para cá e comprou a colocação. Este local onde moro hoje
era a sede do Seringal. Aqui nos criamos eu e meus irmãos, eu cortava seringa
desde os nove anos de idade. O patrão realmente era o melhor que ele tinha
encontrado até então, pagava salário, aviava bem seus seringueiros e a
mercadoria era em conta.
Este Seringal é chamado hoje de
“Pai Chico Mendes”, um Projeto,
criado em 1990, que, através das lutas, a gente conseguiu tirar da mão dos
fazendeiros. O Governo Federal desapropriou a terra e deixou a gente morando,
sem delimitar as áreas de cada um.
Na época eram 55 famílias e hoje
são 88 porque a gente vai casando formando família, e ao lado de uma colocação
grande vai abrindo outra. É um projeto com 24.000 hectares, um Seringal
chapadão, não é muito acidentado, tem dois Igarapés, Chora Menino e Grande que
o cruzam e deságuam em um terceiro que faz a extrema da Bolívia que é o Rio
Xipamano.
Extrativismo e Manejo
A principal renda do Projeto
continua sendo o extrativismo, aqui todo mundo sobrevive do látex, da seringa e
da castanha, só que hoje a gente cria um pouco de gado, planta também um milho,
arroz que vai vendendo além do manejo florestal. No manejo só se retorna à
mesma área após 25 anos, e se todo mundo trabalhar conscientemente pra mim é a
coisa mais importante que tem porque a gente vende legalmente. A minha casa de
Xapuri foi comprada praticamente com os recursos advindos do manejo florestal.
No
manejo florestal, a floresta tem mais vida, você vai retirando as árvores mais velhas deixando as mais novas e com
isso você vai ganhando dinheiro com a sua sabedoria. Só que lidar com gente
é complicado, alguns no meio do caminho começam a achar que estão ganhando
pouco e resolvem vender ilegalmente. O manejo florestal que nós implantamos
aqui não foi para deixar ninguém rico, mas apenas para complementar a renda
familiar, mas muitos não veem as coisas dessa maneira e resolvem ganhar
dinheiro.
Eu gosto muito de morar aqui,
tenho casa na cidade, mas só vou até lá para buscar algo e volto para cá. Eu e
minha esposa temos sete filhas, ela nasceu no Seringal Cachoeira e o resto da
minha família mora aqui no Seringal, em Rio Branco e Xapuri.
Minha propriedade produz muita
castanha, umas 1.000 latas de castanha por safra e hoje a castanha está com um
preço muito bom. Nosso Seringal é talvez o que apresenta a melhor qualidade de
vida de todo o estado do Acre, isso significa dizer que o nosso Projeto deu
certo. Atualmente estamos pensando em reflorestar mais, porque a terra não
cresce, mas a população sim, por exemplo, a minha família é de sete filhos e alguns
vão querer vir morar com a gente, mas como eu tenho só três estradas de seringa
isso só dá para sustentar uma família, mas se eu plantar cinco ou seis hectares
de seringa e de castanha, estarei dando condições de sustento para mais umas
três famílias. Embora a propriedade permaneça do mesmo tamanho eu consigo com a
minha sabedoria tornar aquela área mais produtiva e, com certeza, com isto eu estou contribuindo para com o meio
ambiente porque em vez de derrubar a floresta eu estou plantando.
Queimadas
O que a gente vê muito nesse
período é queimada, tem dias que até para abrir os olhos de tardezinha é
difícil, Vai chegar a hora de morrermos todos sufocados com fumaça – acho isso
um absurdo. Nosso povo não tem consciência, ele não sabe que queimando está
prejudicando a saúde de todo mundo, mas eu espero que os jovens cresçam com
certa consciência. Porque se vacilarmos vamos ter seca no Acre, porque se você
só abre e não planta nada, primeiro vão secar os igarapés e vai virar um
sertão. A solução pra mim é o manejo, a palavra
manejo para mim significa muito.
Tenho
discutido com doutores que falam mal do manejo e eu peço para eles
apontarem qual o manejo que eles condenam. O manejo a gente emprega na
própria casa, para não ter muitos filhos, na criação de galinhas – sacrificando
aquela que não bota ovos, de gado – quando uma vaca não é boa de leite ou de
cria, tudo é manejo. Então não se pode de antemão dizer que se tem raiva de
manejo. Todo mundo precisa de madeira, porque então ter raiva do manejo
florestal? A maioria das casas da região são de madeira que não foram retiradas
através do manejo. O nosso manejo é certificado pelo Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola [Imaflora] e orientado pela Cooperafloresta.
[…]
Chico Mendes
Chico Mendes era meu primo, uma
pessoa muito humilde, nasceu no Seringal Equador, cortava seringa numa
colocação aqui ao lado. Na década de 70, ele começou a participar do movimento
sindical e fundaram, entre 1970 e 1977, o Sindicato de Brasileia e depois
Xapuri. Estes Sindicatos foram fundados porque os patrões tinham vendido suas
propriedades para os fazendeiros e eles não queriam trabalhar com extrativismo,
queriam derrubar a mata para botar o boi e isso desencadeou um movimento pra
garantir o futuro dos moradores das colocações.
Graças a isso conseguimos a
demarcação de uma reserva livre dos fazendeiros lá do outro lado e o Seringal
Cachoeira foi criado na base da união, dos “empates”
([2])
porque os fazendeiros queriam derrubar o Seringal todinho.
Eram cinco proprietários, cada
um com sua parte, cada um querendo derribar a mata da sua parte e nós
resolvemos, através do sindicato, dar um basta a isso, para poder assegurar um
meio de sobrevivência para esse povo.
Podemos dizer que o Chico Mendes
morreu para dar uma vida digna para todos nós, porque só depois da morte dele
que o Governo Federal se viu obrigado a regularizar a questão fundiária dos
extrativistas, criando a Reserva Chico Mendes com um milhão de hectares para
1.500 famílias.
Darcy A. da Silva – Assassino de Chico Mendes
Eles vão me matar. O nome
deles eu digo: Darly e Alvarino Alves da Silva. Eles já mandaram matar mais de
trinta trabalhadores e a Polícia Federal não fez nada. Se descesse um enviado
dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que
valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver.
Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia.
Quero viver. (Chico Mendes)
O Darly, pai do Darcy, não tinha
comprado nenhuma colocação aqui dentro. Os fazendeiros tinham medo de enfrentar
os extrativistas e resolveram usar o Darly para tirar o povo à força. Na época
contrariamos até Ordens Judiciais, veio um oficial de justiça com a Ordem para
deixar o pessoal passar e nós impedimos. Até que um Decreto criou o Projeto, e,
logo em seguida, assassinaram o Chico e aí sim as coisas começaram a melhorar
para nós.
Chico sempre dizia não vamos
atirar nem bater em ninguém vamos apenas impedir a derribada, tomar a foice dos
peões e tentar explicar pra eles.
Eles também não tinham culpa
porque estavam ganhando o dinheirinho deles. Mas graças a Deus, depois que
tiraram a vida do Chico eles começaram a entender.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do Instituto
de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
[1] Colocação: trecho de seringal, constando de barraca e algumas
estradas de seringa. Cada seringueiro trabalha em três estradas. Às vezes, na
mesma colocação moram dois seringueiros, que trabalham de sociedade.
(POTYGUARA)
[2] Empates: estratégia de luta criada pelos seringueiros para evitar
o desmatamento. Era uma manifestação pacífica – a comunidade, sob as ordens do
sindicato, deslocava-se para a área onde os pecuaristas pretendiam desmatar,
bloqueavam o acesso colocando-se à frente dos peões com suas famílias e, logo
em seguida, as lideranças do movimento tentavam mostrar a eles como o
desmatamento da floresta, colocaria a vida de todos em risco. Chico Mendes
achava que o discurso dissuadiria os peões de cumprir as ordens dos seus
patrões. (Hiram Reis)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H