Segunda-feira, 18 de abril de 2022 - 10h59
Bagé, 18.04.2022
Nasceu, em 1745, na
Quinta de Santo Antonio da Urmeira, entre Odivelas e Pontinha, na Grande Lisboa
em Portugal. Foi batizado em 06.02.1745. Nunca foi, como afirmado por muitos,
um Engenheiro Militar, embora tenha sido quem assinou os mapas de
reconhecimentos por ele realizados. Na idade adulta tinha 1,73 m de altura,
cabelos castanhos escuros e olhos azuis.
Jurou Bandeira em
14.02.1764, com 19 anos, no 1° Regimento da Armada, Unidade que fornecia
militares de Infantaria para os navios da Marinha. Com formação Marinheira foi
destinado à Companhia de granadeiros, que era a tropa naval de elite, com o
título nobiliárquico de Cadete. Passou a navegar em missões de Guarda ‒
Costeira, tendo sido elogiado por seu comandante pelo interesse e conhecimentos
que revelava nas lições de pilotagem, mesmo não sendo esse o seu
direcionamento, pois era da infantaria naval.
Preso por conflito
com civis, foi destinado a servir em Mazagão, no Marrocos, onde fora por
comutação de pena emanada de ordem real. Nomeado Ajudante das Suas Ordens pelo
Capitão-General e Governador do Mazagão, Dinis Gregório de Melo e Castro
Mendonça, sobrinho dos irmãos Sebastião José de Carvalho e Melo [Conde de
Oeiras, depois Marquês de Pombal], Francisco Xavier de Mendonça Furtado
[Secretário da Marinha e Domínios Ultramarinos] e Paulo de Carvalho e Mendonça
[Comissário da Bula da Cruzada].
Ganhara, também, o
respeito e a veneração dos experimentados guerreiros da guarnição e seus
familiares com os quais partiu para Lisboa em 11.03.1769, data do abandono da
Praça. Nessa capital, em 01.04.1769, recolheu-se à sua Companhia no 1°
Regimento da Armada.
Em 5 de setembro
desse ano foi promovido a Sargento-Mor [hoje posto de Major] de Infantaria de
Marinha e nomeado Governador da Praça de São José de Macapá. Ainda nesse ano,
em 15 de setembro, partiu para Belém, comandando o mais rápido dos 10 navios [e
não 3 como se tem escrito], que de forma forçada transportaram os manzaganistas
para aquela cidade, a fim de fundarem uma Vila na margem Norte do Amazonas.
Em Macapá teve
grave e melindrosa desavença resultante de problemas de jurisdição com o
Sargento-mor engenheiro Gronfeld que dirigia as obras da Fortaleza. Apesar da
rixa com o alemão e ainda devido a seu heroísmo em Mazagão, foi promovido a
Tenente-Coronel da Infantaria Naval.
Em virtude de
problemas previstos por Mendonça Furtado em Vila Nova Mazagão entre os deslocados
do Marrocos e o comandante militar, Capitão-General e Governador do Pará,
Fernando da Costa de Ataíde Queive, lembrando-se da sugestão do tio, enviou
Lobo de Almada a pacificá-los e apoiá-los na instalação e início das atividades
agrícolas, o que fez com grande êxito e satisfação geral.
A partir daí, sob
as ordens do novo Capitão-General e Governador do Pará, João Pereira Caldas,
antigo ajudante de ordens do Almirante Mendonça Furtado ex-governador do Piauí
por 10 anos, que posse em final de 1772, iniciou uma fabulosa carreira
amazônica, podendo ser levantados seguintes tópicos:
– Governador da Praça de
Macapá por 11 anos;
– Desenvolveu a criação de gado e a produção do arroz, do anil, e
do algodão nas Vilas de Macapá, Vistosa e Nova Mazagão que passaram por grande
surto de progresso sob sua administração;
– Disciplinou e instruiu
a tropa de linha para evitar os ataques dos franceses;
– Em março de 1780,
assume o novo Governador do Pará, o Capitão-General José de Nápoles Telo de
Meneses que propôs a promoção a Coronel de Lobo de Almada;
– Como as demarcações de
limites não iam bem, o Secretário de Estado da Marinha e do Ultramar, Martinho
de Melo e Castro, decide lançar mão de Lobo de Almada, em termos que eram uma
crítica, a Pereira Caldas e seus técnicos:
– Foi-lhe atribuído o
Comandamento do Alto Rio Negro onde se situavam os Fortes de São José das
Marabitanas e São Gabriel da Cachoeira com a missão de reconhecer as 5 ou mais
ligações que se dizia existir entre os Rios Negro e Japurá.
Em 25.08.1786, foi
nomeado Governador da Capitânia de São José do rio Negro. Antes que chegassem
os documentos para a tomada de posse, foi cumprir a missão de reconhecer o Rio
Branco, pois, segundo o Secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Martinho de
Melo e Castro:
ninguém poderá desempenhar melhor uma
comissão de tanta importância.
Nesse trabalho foi
vítima de um naufrágio que o lançou contra as pedras de uma cachoeira. Só foi
salvo pela intervenção de 2 soldados, ficando com o corpo todo ferido de escoriações
e contusões. Pereira Caldas temendo continuasse a exploração sem ter sarado as
feridas e convalescido, permitiu-lhe e aconselhou-o a regressar a Barcelos,
sendo a diligência concluída pelos engenheiros que o acompanhavam.
E como o Coronel
tivesse optado por continuar, ainda lhe escreveu:
Uma vez que V.S.ª, com a sua costumada honra
e constância, se dispunha de prosseguir pessoalmente nas diligências que lhe
são confiadas, só me resta o desejo de que, por ir pouco convalescido dos
passados trabalhos, lhe não sobrevenha algum maior e mais funesto incômodo.
[...]
Em 25.11.1788, foi
nomeado para substituir João Pereira Caldas como Encarregado da Demarcação das
Fronteiras. Nessa situação decidiu dar fim aos abusos do Comissário Espanhol
Francisco Requena que há anos residia na Vila nomeada de Tefé pela Partida
[Representação] castelhana e da Ega pela Partida portuguesa. Sabia que
expulsá-lo significaria reação de Requena ao regressar ao território espanhol. Para
impedir essa retaliação Lobo de Almada determinou aos Representantes
Portugueses que mudassem a sede de seus trabalhos para Tabatinga e impedissem o
regresso dos vizinhos a Ega [Tefé]. Com essa decisão de alto risco, da sua
exclusiva iniciativa deu ao Brasil a imensa faixa territorial que vai da hoje
cidade de Tefé até a cidade de Tabatinga. Com sua habitual persistência e
espírito progressista operou grande desenvolvimento na Capitania de São José do
Rio Negro, obtendo resultados verdadeiramente milagrosos. Para isso, face à
distância de Belém e de Lisboa, foi obrigado a deixar de cumprir normas
administrativas de que são exemplos a constituição de dívidas para pagar
artigos indispensáveis, tais como:
– Empréstimos para os
soldados com soldos atrasados há anos;
– Fornecer aos militares sob a sua ordem, tecidos
de algodão produzidos nos teares que implantara, em substituição às fardas que
não chegavam nunca. Padecia ao ver que Belém sofria de idêntica situação mas
nada fazia;
– Desenvolveu a
agricultura, introduziu o arado, criou várias indústrias e iniciou a criação de
gado nos férteis campos do Rio Branco;
– Aldeou índios,
mostrando-se muito orgulhoso de, ter seduzido e pacificado os Mundurucus, que
lançavam o pânico sobre os navios que singravam grandes extensões do Amazonas.
Em 1790 assumiu o
Governo da Província do Grão-Pará, o Capitão General D. Francisco de Souza
Moutinho. Com esse novo Governador rapidamente as relações com Lobo de Almada
se deterioraram.
O Coronel respondia
com altivez e frontalidade aos reparos que lhe eram feitos e aos quais não
estava habituado. Achando-se despojado de fé e crédito assim se queixou ao
Secretário de Estado da Marinha:
“Eu não peço à Sua Alteza acrescentamento,
nem tamanho soldo como tenho, bastando que me dê muito menos aonde eu o sirva
mais”.
Elaborou e jurou
uma relação de seus parcos bens e, desgostoso, viu agravarem-se as sequelas do
paludismo, adoecendo gravemente.
Foi promovido a
Brigadeiro da Infantaria de Marinha, mas não era isso que nessa altura mais
ambicionava.
Junto a um dos seus
requerimentos está um lembrete que diz:
“Para se guardar e para se lhe deferir logo
que este Governador se ache restabelecido.”
Não chegou a
acontecer... Poucos meses antes de falecer Lobo de Almada voltou a residir em
Barcelos, cumprindo ordem transmitida pelo Governador do Pará que a propusera a
Lisboa.
Depois de sua morte
em Barcelos, em 27.10.1799, cumpriu-se a sua vontade e, em 1804, voltou a
capital para o Lugar da Barra, atestando a justeza da escolha de Almada.
Lobo de Almada
recusou-se alimentar-se, tomar remédios e até receber o apoio espiritual do
Vigário de Barcelos. (1ª Bda Inf Sl)
Morreu
de paixão
por sua Missão!!!
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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