Sexta-feira, 8 de abril de 2022 - 06h00
Bagé, 08.04.2022
Porque
toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo. (Gálatas – S. Paulo – 5:14)
Deem
e será dado a vocês: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será
dada a vocês. Pois a medida que usarem também será usada para medir vocês.
(Lucas – 6:38)
Tudo
quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a lei e os profetas. (Mateus – 7:12)
Vivemos dias
tensos, resultado não apenas dos desmandos políticos que mergulharam a nação
numa verdadeira “saeculum obscurum” ([1]),
inundada de interesses espúrios e ações vis. Nossos representantes possuem as
virtudes, defeitos e vícios da sociedade a que pertencem, não são diferentes da
maioria de nós mesmos como alguns pretendem afirmar.
A
cortesia é irmã da caridade, que apaga o ódio e fomenta o amor. (São Francisco
de Assis)
Nossa sociedade
está terrivelmente enferma, é necessário que receba dosagens massivas de honra,
civismo, desprendimento, compaixão dentre outros tantos atributos há muito
olvidados.
A maioria dos
indivíduos que hoje esbravejam, lutam e defendem tão apaixonadamente seus
direitos é egoísta e não cumpre suas mais simples obrigações esquecendo-se que
“o direito de cada um termina onde começa
o dos demais”.
Os cidadãos parecem
ter perdido a fé uns nos outros e tratam-se com indiferença e muitas vezes
escárnio. Embora todos reconheçam o valor da cortesia, poucos a praticam
preferindo semear e cultivar o individualismo, o egoísmo ou mesmo a indiferença
em relação ao seu próximo.
A cortesia se
manifesta nas ações mais simples, como dar prioridade aos idosos, gestantes e
crianças, cumprimentar as pessoas com um aceno ou sorriso, dar o destino
correto ao lixo, não bloquear acessos públicos, amparar, doar, ceder.
24.09.2017 – Porto Acre – AC 08ª
Acordei às 04h00,
tinha deitado cedo me preparando para mais esta jornada. Precisava esticar um pouco
o primeiro tiro para chegar na manhã da terça-feira na Boca do Acre. Na
programação original marcara apenas 51 km para hoje. Arrumei com calma meu
material, tomei uma ducha fria, me hidratei bastante e arrumei o quarto.
Às 04h30, me dirigi
para o local onde combinara com o Cb Rogério da Silva Ribeiro – casa do Sr.
Admilson e da Sr.ª Maria José onde ancorara o nobre Argo (meu veterano
Caiaque).
O Cabo Rogério e
seu irmão Rovede da Silva Ribeiro chegaram, de moto, pontualmente, às 05h00,
como havíamos acordado. Carregamos o material e o caiaque para o porto e, às
05h20, parti deixando para trás dois grandes amigos. A receptividade por parte
do Prefeito e o pessoal de seu gabinete, o carinho com que fomos tratados pelo
Sr. Artur Sena (sem “h” mesmo, como
ele enfatiza) coordenador da Sala Memória, na pensão em que pernoitamos e
almoçamos, pela D. Chica e sua fiel escudeira Sr.ª Raquel ficará guardada
eternamente na nossa memória e materializado nas páginas do livro “Descendo o Acre”, ainda em elaboração.
O céu estava
fechado, garantindo uma manhã amena com bom rendimento. Quando adentrava nos
trechos do Rio voltados para o Poente, uma doce e refrescante brisa envolvia
ternamente meu corpo. Cumprimentei três ribeirinhos, dois piloteiros e um outro
encarapitado no alto de um barranco a mirar o Rio. Todos corresponderam
educadamente ao meu aceno e eu me surpreendi com isso.
Mais adiante, um
mulato simpático ou seria um “afrodescendente”,
deixa pra lá! Além de me desejar um bom dia, entabulou uma rápida conversação
em que me identifiquei, falando de minha descida. O Eduardo, esse era seu nome,
me ofereceu café e um cacho de bananas. Agradeci emocionado a gentileza
desejando-lhe uma boa jornada até Porto Acre e continuei a navegação. Ganhei
meu dia, uma confiança e uma alegria intensa invadiram todo meu ser e deram
novo ânimo à minha combalida alma, este é o valor da cortesia que tão
insistentemente apregoo.
Obrigado Eduardo,
você é um ser humano diferenciado, guarde esta alegria de ser e este poder de
se comunicar com o próximo como um bem precioso e tente ensinar isto aos
demais.
Os botos e
pescadores estavam muito agitados com a piracema dos mandis e uma garoa fina
caia tornando mais fresca e agradável a manhã.
Passei, pelo AC 08,
antes do meio-dia e continuei remando. Aportei, às 13h00, no AC 08a
(09°14’10,7” S / 67°26’27,1” O). Uma bela praia com uma grande plantação de
melancias. Um simpático ribeirinho veio prosear e indagar um pouco. Contou que
há alguns anos passaram por aqui dois canoístas, segundo ele peruanos. Antes de
partir o gentil senhor disse que se eu quisesse podia colher uma melancia para
comer.
Minha fé na
humanidade crescera no dia de hoje. Logo que ele se afastou entrei rapidamente
na barraca para digitar o diário de bordo e fugir dos famigerados maruins ou
muruins que infestam a área. Até agora eu me considerara a salvo destas
ferinhas aladas, que, diferentemente dos outros mosquitos, picam sem injetar na
vítima nenhum elemento analgésico provocando muita dor, coceira e inchaço.
Total 12° Dia ‒ Porto Acre /
AC 08a = 61,2 km
25.09.2017 – AC 08a – AC 09ª
Como sempre acordei
antes do despertador tocar o alarme. Comecei a arrumação às 04h00 e parti às
04h50. As poucas nuvens no firmamento prenunciavam forte canícula.
Encontrei o Sr.
Amâncio empoleirado no 2° piso de sua embarcação, aportada na margem esquerda
do Rio Acre, Trocamos algumas palavras e ele reportou nunca ter visto um
caiaque por estas bandas. Surgiram também os primeiros alegres e travessos
botos tucuxis (Sotalia fluviatilis). Parei para fotografar uns botos e mais
adiante um bando de cabeças-secas (Mycteria americana), os primeiros que
avistei desde Assis Brasil.
Avistei três
gaivotas Talha-mar (Rynchops niger), também pela primeira vez. O avistamento de
jacarés tornou-se mais frequente e os animais ao contrário dos encontrados a
montante de Porto Acre entravam n’água calmamente sem grande estardalhaço, por
certo não são objeto de caça desenfreada por estas bandas.
O tempo foi
agradável até às 09h00, quando então o Sol forte começou a castigar sem dó nem
piedade. Passei pelo ponto de Acampamento programado – AC 09, Vila Antimary e
Foz do Rio Antimary (09°04’10,13” S / 67°24’00,63” O), depois de percorrer
apenas 38,9 km, às 11h00. Continuei a viagem com o objetivo de abreviar ao
máximo a última jornada até Boca do Acre. A partir das 13h00, comecei a
analisar as opções de acampamento e, por fim, aportei em uma pequena prainha à
jusante de Senápolis (AC 09a – 08°59’02,0” S / 67°19’34,7” O) por volta das
13h30.
Recebi a visita do
Josiel e seu irmão que são filhos do Sr. Chiquinho, dono da plantação de
melancias onde estacionei. Ficamos conversando longamente e por mais de uma vez
os dois insistiram que eu aceitasse uma melancia de presente, agradeci a oferta
tentadora e gentil dos jovens.
Eu dispunha apenas
de um canivete e comer melancia debaixo de um Sol escaldante atacado pelos
minúsculos maruins não fazia sinceramente parte de meu cardápio. Após a visita
entrei para minha escaldante barraca aguardando o pôr do Sol.
Total 13° Dia – AC 8a – AC
09a = 65,2 km
Total Parcial – Porto Acre – AC 09a = 126,4
km
26.09.2017 – AC 09a – Boca do Acre
Acordei às 03h30,
com alguns relâmpagos ao longe, mas nenhum trovão. Às 04h00, comecei a arrumar
a tralha preocupado que a chuva chegasse quando eu ainda estivesse desmontado o
acampamento.
Parti às 04h40,
tempo nublado, fresco e sem chuva. Avistei mais duas gaivotas Talha-mar e
alguns pequenos jacarés.
As 08h30
(08°50’23,9” S / 67°19’37,7” O), estava navegando seguindo a rota traçada no
mapa de número 21, o derradeiro. Lembrei-me então de meus fiéis escudeiros
Mário e Marçal que acompanhavam a par e passo a troca dos mapas na nossa
Descida pelo Rio Juruá e vibravam quando chegávamos ao último mapa antes de
cada uma das cinco cidades amazônicas separadas, em média, por mais de 500 km
umas das outras.
Aportei, às 11h00,
na Boca do Acre (08°45’11,67” S / 67°23’58,10” O) e fui imediatamente orientado
aonde aportar pelos amigos da Marinha do Brasil comandados pelo Capitão-Tenente
(AA) Gerson Garcia de Carvalho.
Após o banho, meu
contato em Boca do Acre, indicado pelo Cel BM Roney, Antônio Jony da Costa
Noronha me levou para almoçar no Hotel e Churrascaria Pantanal, administrado
pela Sr.ª Maria Lígia Perdigão Pantoja, que fora gentilmente disponibilizado
pelo Prefeito José Maria Silva da Cruz para meu pernoite e refeições.
MISSÃO CUMPRIDA!!!
Agradecemos
sinceramente o apoio de cada uma das amigas e amigos de Assis Brasil à Boca do
Acre que tão gentilmente nos receberam.
Total 14° Dia – AC 09a – Boca do Acre = 45,7
km
Total Parcial – Porto Acre / Boca do Acre = 172,1
km
Total Parcial ‒ Iñapari /
Epitaciolândia = 188,2 km
Total Parcial ‒
Epitaciolândia / Xapuri = 105,2 km
Total Parcial ‒ Xapuri / Rio
Branco = 232,3 km
Total Geral – Iñapari – Boca do Acre = 815,2
km
27.09.2017 – Boca do Acre – Rio Branco
Retornei para o 7°
Batalhão de Engenharia de Construção, em Rio Branco, em uma viatura do 7° BEC
conduzida, mais uma vez, pelo Cabo Alexandre Soares Peixoto.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H