Segunda-feira, 11 de abril de 2022 - 06h05
Bagé, 11.04.2022
No
final da década de sessenta, o então aluno Reis, do Colégio Militar de Porto
Alegre (CMPA), perambulava pelos sebos de Porto Alegre à procura de sua
literatura teosófica preferida: ‒ Helena Petrovna Blavatsky, Éliphas Lévi,
Papus (Gérard Anaclet Vincent Encausse); de romances iniciáticos: Edward
Bulwer-Lytton, Jorge Enrique Adoum e obras literárias: Herman Karl Hesse,
Lobsang Rampa (Cyril Hoskins), Gibran Khalil Gibran, dentre outros. Nessas
leituras um tema, em especial, despertou a atenção daquele jovem inquisitivo ‒
o Registro Akáshico, a Memória Ancestral da Humanidade.
Foi
então que tomei conhecimento, também, da teoria de Carl Gustav Jung denominada
“Inconsciente Coletivo” ‒ um
reservatório de imagens latentes, primordiais, ou melhor, arquétipos, que cada
ser humano herda de seus antepassados. Entusiasmado com Jung e reconhecendo na
sua teoria, apartada apenas de uma sutil semântica, os mesmos fundamentos do
Registro Akáshico tibetano continuei pesquisando até chegar à teoria da “Sincronicidade”. Na “Sincronicidade” de Jung o significado
dos eventos deve ser profundo, não apenas meras coincidências, algo que amplie
nossa consciência mostrando-nos um novo caminho a ser percorrido, um novo
objetivo a ser alcançado. Descrevamos a “Sincronicidade”.
Fui
iniciado Aprendiz maçom, na loja Caridade Rosariense (GORGS), em 1976, e
elevado ao Grau de Companheiro em 1977, permanecendo “adormecido” por 41 anos. Incitado pelos caríssimos Irmãos Mário
Scherer e Orci Paulino Bretanha Teixeira a voltar à Ordem fui convidado pelo
amigo e Irmão Carlos Athanasio a fazer parte de sua loja, a Venerável Mestre
Marcelo Moreira Tostes (GORGS).
Presenteei
alguns Irmãos, mais antigos da Loja com meu livro “Descendo o Negro” e, um deles, o Poeta e Ir\ Thales Bastos Chaves, ao ler o
título da obra começou a declamar a poesia “Encontro
das águas” de Quintino Cunha, seu conterrâneo, de Itapajé (Ceará), que
reproduzo na página 191 do mesmo livro. Como se não bastasse a feliz
coincidência o Poeta contou um dos famosos “causos”
de Quintino, intitulado “A Paciência do
Juiz”, que igualmente reproduzo na página 194 do mesmo livro. Embalado pela
simpatia do querido Irmão Thales e estimulado pela sua paixão por minhas amazônicas
jornadas narrei minha rotina matinal:
Acordo cedo e fico aguardando a penumbra lentamente se dissipar,
partindo bem antes de o Sol nascer. Gosto de navegar solitariamente usufruindo
das belezas naturais que me cercam e enfrentar todo tipo de obstáculos
acompanhado de longe pelo Grande Arquiteto. Saindo antes do amanhecer tenho a
rara oportunidade de me entranhar nos sutis meandros aquáticos, de imergir
literalmente no momento mágico que é o despertar de um novo dia.
A uniformidade da flora vai ganhando novos contrastes, novas cores, novas
luzes, numa invulgar explosão que apresenta progressivamente a pujança extrema
da biodiversidade tropical.
A fauna preguiçosa acorda e entoa uma ode maravilhosa sob a batuta do
Astro Rei ‒ tons diversificados, emitidos pelas mais diversas gargantas,
irmanadas numa sinfonia única acompanhada de longe pelo som melancólico dos
bugios. Meu coração e minha mente seguem a par e passo as estrofes da “Litania das Horas Mortas” de Antônio
Francisco da Costa e Silva, o Príncipe dos Poetas Piauienses e autor da letra
do Hino do Piauí.
Ato
contínuo o Poeta declama a poesia “Litania
das Horas Mortas” de “Da Costa e Silva”, que ele homenageia no seu
belo livro “Noturno” ‒ coincidências?
Prefiro
crer na teoria de Jung.
Nos
meus livros, como adoro poesia, reproduzo várias delas em cada livro de autores
os mais variados, mas neste que reportará minha próxima descida pelos Rios
Tacutu, Branco e Negro, desde a cidade de Bonfim (Roraima), na fronteira com a
República Cooperativa da Guiana, até Manaus (Amazonas) vou repercutir, também,
as poesias de meu jovem amigo de quem faço uma breve apresentação, prólogo de
seu livro Noturno:
Thales Bastos Chaves
O poeta nasceu em Itapajé, Ceará, filho de Augusto de Araújo Chaves e Judith
Bastos de Araújo Chaves [ambos falecidos]. Ocupava, então, Augusto o cargo de
Tabelião. Teve Itapajé, na figura dele um dos homens mais raros. Para
evidenciar melhor, tivemos a oportunidade de ler, há poucos meses, num jornal
de Fortaleza, uma reportagem completa sobre Itapajé, a qual referindo-se ao pai
do poeta, frisava bem: “Itapajé se
lembrará, sempre, deste filho ilustre”.
Passou o poeta sua Infância, ali. Cidade curiosa, como se sabe,
principalmente por isto é uma ilha, com a diferença de que, em lugar de água
por todos os lados, a gente vê somente montanhas. É lá que existem, entre
outros caprichos da natureza, uma pedra enorme, na forma exata de um Monge;
outra que recebeu o nome de “Caveira de
Adão e Eva”, e a famosa “Noiva de
Pedra”. Em virtude dessas esculturas singulares foi que mudaram o nome da
cidade de São Francisco de Uruburetama para Itapajé.
O poeta, com a perda dos “velhos”,
ficou nos “cueiros”, Encontrou, no
entanto, no desvelo de Raimundo Avelino Freitas [falecido no ano passado] e
Florência Bastos Freitas, que o criaram como a um verdadeiro filho, o carinho
que não teve de seus pais, tão cedo arrebatados pela morte. O poeta tem-lhes
por isso, verdadeira loucura. Fez o primário no Grupo Escolar São Francisco de
Uruburetama ‒ hoje Grupo Escolar Itapajé. Depois seguiu para Fortaleza, Capital
do Estado, onde ingressou no Colégio Cearense, dos Irmãos Maristas. Ali fez até
o quarto ginasial, não o terminando, porém.
Em outubro de 1948, volve à terra natal, onde passou umas férias muito
prolongadas, escravo dócil das musas locais: o céu de turquesa imaculado, os
horizontes longínquos, a destilar-lhe n’alma uma suave melancolia; as
silhuetas das montanhas; a cidadezinha, enfim, e nela, muitos pássaros e
borboletas, borboletas humanas, também, leves, graciosas, mas tiranas que
sempre fascinaram o jovem bardo, tendo sobre o seu coração um irresistível
domínio. Em 1951, o poeta chega ao Rio de Janeiro, ingressando no conhecido e
conceituado estabelecimento de ensino do Largo de São Francisco ‒ Instituto Santa
Rosa. Aí reiniciou seus estudos. Atualmente faz O terceiro ano científico.
Pretende estudar Direito.
Foi sócio e colaborador, por longo tempo, da revista RONDA, propriedade e
direção do inteligente moço cearense Francisco de Magalhães Portela. Em RONDA,
entre outras publicações, tivemos “A Casa
Abandonada” ‒ poema de profundo realismo e notável beleza.
Colaborou, também na Gazeta de Notícias, fundada por Ferreira de Araújo,
contemporâneo e amigo particular de Rui Barbosa. Lá gozou da estima do ilustre
Professor Astério de Campos, outro da velha guarda, também amigo e colega de
Rui quando este colaborava na Gazeta.
Hoje trabalha na “Cruzeiro do Sul”
– Companhia de aviação comercial, na parte de aerofoto, ocupando o cargo de fotogrametrista
Estão admirados? Pois não é para menos. Talvez o poeta acabe como o Van Jafa:
burilando poemas sobre aviação, meteoros, o Diabo! Aliás, o poeta, já gosta
muito das coisas do céu: veja-se:
Há penumbra no céu. E a
treva embaça
Dos astros nus as
pulverizações.
..............................
E assim me vou, fugindo aos
próprios rastros,
Rondando solitário à luz dos
astros,
Embuçado no pranto das
estrelas.
..............................
A noite é turva. A Lua já
não nasce...
As estrelas não brilham, se
apagaram...
Há tanta ânsia de amplidão, de movimento livre, de voos infinitos, neste
seu primeiro livro; há, nele, tantos rasgos felizes de inspiração, tantas
imagens fascinantes, que temos de proclamar Thales Chaves um ardoroso
apaixonado da liberdade e um poeta de real mérito. (CHAVES)
O escritor, jornalista, doutor em Direito e
diretor da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) Paulo Magalhães
escreveu na sua coluna “Bate Papo”,
do Correio da Manhã:
Correio da Manhã, n° 19.640
Rio de Janeiro, RJ ‒ Sexta-feira, 05.04.1957
Bate
Papo
Paulo
Magalhães
Eu tenho sincera ternura pelos “novos”.
A vida tem sido boa comigo e eu
estou envelhecendo alegre e feliz porque vivo entre os moços rejuvenescendo,
todo dia, pela simples ação de presença de cada um deles... Todos os dias, na “Praça 11 da A.B.I. ([1])” eles me procuram, vindos, alguns, dos
Estados mais longínquos, trazendo-me seus livros de estreia, suas peças de
teatro, seus projetos, suas esperanças...
O arruído permanente em torno do
meu nome, por esse Brasil em fora, dá-lhes a impressão, aumentada pela
repercussão da distância, de que eu sou alguém muito importante...
Recebo-os com este meu “jeitão” cordial, de blusão e calças
esportivas; abro-lhes os braços e o coração, apresento-os a todo o mundo,
ambiento-os com simplicidade e eles sentem-se “importantes” também...
E comovo-me, sinceramente,
quando eles me aparecem, anos depois do nosso primeiro encontro, dizendo que
a minha palavra boa ajudou-os na sua carreira...
Thales Bastos Chaves – aspecto
de colegial ‒ apareceu na “Praça 11 da
A.B.I.”, trazido pelo meu colega Maurício Dias da “Tevê”, com um livro de versos: “Noturno”.
Abri uma página, ao acaso, e
senti logo o grande poeta que ele é. Disse-me que tem 23, apesar de aparentar
18, que é cearense e que “precisava”
da minha palavra sobre o seu livro... Li outras páginas, em voz alta, para os
colegas presentes e todos cercaram o poeta nortista com ar de compunção e de
respeito.
Aquele rapazola tímido, através
da espontaneidade do seu estro, da musicalidade do seu verso, da correnteza da
sua inspiração, foi um impacto emocional para todos nós!
“Noturno”, de Thales Bastos Chaves, tem verdadeira poesia em cada
página, essa poesia que é eterna porque é um relâmpago de beleza pura! (CORREIO
DA MANHÃ, N° 19.640)
(Thales Bastos Chaves)
“Voz de ferro! Desperta as almas
grandes
Do Sul ao Norte... Do Oceano aos
Andes” Castro Alves)
‒ Chamaram-me? Quem foi?
Não viste porventura,
Sombra amiga, essa voz tão
cheia de ternura,
Que comigo falou?
“E a estranha severa,
altipotente ([2]) e pura, Misturada de
amor, de tédio e de candura, Sibilante passou...
‒ Conhece-a, amigo ‒ Não.
Ouço-a falar, contudo,
Permaneço inativo,
esquerdamente ([3]) mudo
Só falatório dela.
E em toda a parte onde eu
procuro a calma,
Sinto-a viva e latente
entranhada em minh’alma,
Extremamente bela.
E não sabes quem seja, não
conheces ainda?!
Apenas pela voz tão
penetrante e linda,
Apenas pelo olhar,
Que eu nunca vi igual, tão
puro e tão sensível,
Por quem meu coração sente
um desejo incrível,
De sentir e de amar.
Dize-me sombra amiga, em
que lugar do mundo
Pode existir tal voz de
timbre tão profundo,
Com solfejos de amor;
Imperativa e bela,
uníssona, fecunda,
Que nas ondas do som, todo
o meu ser inunda
De mágico esplendor?!
Oh dize-me quem é?! Vamos!
Fala! Responde!
Onde mora essa voz, onde
essa voz se esconde
Esteja onde estiver...
[...]
Bibliografia
PAULO
MAGALHÃES. Bate Papo – Brasil – Rio
de Janeiro, RJ ‒ Correio da
Manhã, n° 19.640, Sexta-feira, 05.04.1957.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de
Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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